terça-feira, 25 de abril de 2017

077 152 PORTUGAL EM CRESCENDO “FUI AO MAR BUSCAR LARANJAS”


001 Aeroporto da Horta

É o título dum poema de Pedro Laureano Mendonça da Silveira (1922, Flores - +2003, Lisboa). Pouco conhecido em Portugal continental, apesar de ter aqui vivido a maior parte da sua vida. Contudo, nos Açores, faz parte do “Plano Regional de Leitura” destacado pela sua obra "Fui ao Mar Buscar Laranjas".

002 Iconografia de rua na cidade

Quando Pedro da Silveira no seu périplo pelas ilhas passou pela cidade da Horta, Faial, nos anos 40`, ali foi inspirado sobre a tradicional “centralidade” da urbe. Contudo, verificou que a mesma cidade estava então em ciclo descendente.

003 Logótipo do Café Tradicional da Horta

Vivia-se ainda na eminente agitação, técnica, social e cultural dos cabos submarinos da telegrafia elétrica que fazia escala no Faial, para, dali, as telecomunicações ganharem novo fôlego e poderem alcançar outros mundos.

004 Arte alemã em vitral no ex bairro da comunidade cabográfica

Pedro Laureano conseguiu traçar um retrato poético e, tudo indica que, realista da efervescência da Horta que lhe pareceu estar em fase de acalmação. Ao que tudo indica, nem mesmo os residentes, naturais, ou das várias nacionalidades ligadas às telecomunicações conseguiram, nesses anos, traçar uma análise tão fiel do que se vivia.

005 Pintura em mural do Porto da Horta

Do conjunto desses poemas reunidos em Fui ao Mar Buscar Laranjas”, selecionei o que me pareceu pertinente para descrever o porto da Horta, vizinho da central de cabos telegráficos e das urbanizações expressamente construídas para as residências dos técnicos das várias nações do mundo.

006 Pintura em mural do Porto da Horta

Se Pedro da Silveira tivesse sido (na época) lido e apreciado nos seus versos neorrealistas, possivelmente, ter-se-iam construído alternativas antecipadas para colmatar o definhamento que se seguiu.

007 Pintura em mural do Porto da Horta

Porém, hoje em dia, os Açores e a Horta estão a conseguir essas alternativas, sobretudo as baseadas no turismo. E é um turismo que, em boa parte, se baseia nos tempos áureos: Justamente na centralidade mundial dos Açores, se vistos na análise do saber adquirido e nos patrimónios herdados com base nas memórias do acolhimento:

008 Portal de um Império do Espírito Santo na Horta

a)Dos navios que vinham do Oriente e eram forçados pelas condições atmosféricas a fazer a “volta pelo largo”, tocando / repousando nos Açores;

b)Nos navios a vapor quando os mesmos não tinham autonomia suficiente para alcançarem diferentes continentes; c)Na receção e retransmissão das comunicações telegráficas, de e para o mundo;

d)Na escala dos hidroaviões (e de pistas terrestres) regionais e intercontinentais quando as aeronaves não tinham autonomia para as grandes distâncias,

e)No centro de pescas e transformação de subprodutos para iluminação de cidades americanas; nos produtos comestíveis e de suporte para produção de arte.

Estes foram os principais vetores que reverteram os Açores, de periferia, em centralidade. Como quase tudo, tem os seus altos e baixos, os Açores voltarão a ganhar interesses, que se vislumbram através de novos visitantes: os tradicionais turistas e os aventureiros dos mares.

Também Pedro da Silveira, ao traçar o retrato do ciclo descendente do porto da Horta se mostra esperançado em novo renascimento O passado que esperas / em futuro renasça […]”



Vejamos nos versos infra o retrato que selecionei (1)

«[De] Horta Quase Réquiem” [a Fénix renascida]

 

Como isto foi grande, dinâmico, mercantil, aventureiro!

Homens de todas as raças no porto da Horta,

todas as línguas bandeiras […] e navios à carga, vozes, gritos,

o gemer dos guindastes […]

Era a mais alegre, a maior cidade pequena do Mundo!

Era riqueza de Londres

e de Nova York!

Era o requinte de Paris, o luxo

de Sanpetersburgo!

Todos mercavam, vendiam.

Embarcavam.

Tornavam.

[Estimada e desejada Horta]

O passado que esperas

em futuro renasça […]»



(1)Apenas lhe fiz ligeiras adaptações, perfeitamente assinaladas em parêntesis retos e sem alterar o significado original. Os sublinhas também são meus.

Fontes:

-Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta -O Tempo dos Cabos Submarinos na Ilha do Faial  -Valor Universal do Património Local -Evocação de Marconi nos 90 Anos de Cidadão Honorário da Horta. Horta: Gráfica O Telégrapho, 2013

-Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta -Boletins: Nº 23, dezembro, 2010; Nº 24, junho, 2011; Nº 25, dezembro, 2011; Nº 26, dezembro, 2012; Nº 27, janeiro-junho, 2013; Nº 28, julho-dezembro, 2013.

-BARREIROS, Henrique Melo (professor colaborador da Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta), a quem agradeço documentos e informações pessoais e o guiamento no percurso que fizemos em torno das marcas de “O Tempo dos Cabos Submarinos”.

-Museu da Horta; Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta -O Porto da Horta na História do Atlântico: O Tempo dos Cabos Submarinos, Ed. do Museu da Horta; Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta. Impressão: Gráfica O Telégrafo. Criação Gráfica: JCS/Açores. Horta, 2011.

 

Em linha, acedidas em 25.04.2017

-ANCIÃES, Alfredo Ramos – “16 Faial das Comunicações e do Santo Espíritohttp://cumpriraterra.blogspot.pt/2014/10/16-faial-das-comunicacoes-e-do-santo.html

-COSTA, Ricardo Manuel – “Breve Esboço sobre a História do Faial” in http://www.inventario.iacultura.pt/faial/horta/historia.html, 2007

-GLOVER, Bill – History of the Atlantic & Undersea Communications from the first submarine cable to the worldwide fiber optic network, 2010 in http://atlantic-cable.com/CableCos/WesternUnion/index.htm, acedido em 22.8.2014

-ROLDÃO, Helena et al – “Pedro Laureano Mendonça da Silveira” https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Laureano_Mendon%C3%A7a_da_Silveira  

1 comentário:

  1. Vivia-se ainda na eminente agitação, técnica, social e cultural dos cabos submarinos da telegrafia elétrica que fazia escala no Faial, para, dali, as telecomunicações ganharem novo fôlego e poderem alcançar outros Mundos.

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