sexta-feira, 27 de abril de 2018

LINDA-A-PASTORA - TERRAS DO JAMOR - UMA VISITA DE REFERÊNCIA


   

Nesta apresentação vamos passar em revista alguns aspectos que apenas foram levemente (ou não foram)  abordados durante a visita.

Quanto às heranças culturais tratámos:

1)da CONFHIC: Organização religiosa de direito pontifício / católico, denominada extensivamente por: Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição.

2)da sua fundadora, Madre Maria Clara do Menino Jesus, nascida na Amadora, entre famílias nobres do século XIX; contudo vimos como a menina Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles e Albuquerque teve a infelicidade de ficar órfã de mãe e pai por volta dos 13 anos. Por consequência, vai viver em internato na Ajuda, dedicado a órfãs provenientes da Nobreza. Depois ingressou no Pensionato de São Patrício que veio a ter também a designação de Colégio de São Patrício; Convento dos Irlandeses e convento de S. Patrício. Este pensionato era presidido pelo Padre franciscano, Raimundo dos Anjos Beirão que fora expulso do Convento de Nossa Senhora de Jesus por altura de encerramento dos Conventos pelo Regime Liberal.

Como vimos, o padre Beirão repousa na mesma cripta de Linda-a-Pastora, junto à Madre Maria Clara, onde as suas sepulturas e os seus restos mortais são visitados anualmente por milhares de pessoas de Portugal e de outros países.
Entretanto como «A Casa de S. Patrício não era suficiente e não apresentava condições de espaço e salubridade necessárias ao desenvolvimento da comunidade. Após muitos pedidos e influências, o Governo cedeu o Convento das Trinas do Mocambo que passou a ser a Casa-Mãe das Hospitaleiras, conhecidas como Irmãs da Caridade, por terem continuado a missão das Filhas de Caridade francesas. / Depois do falecimento do P. Beirão, em 13 Julho de 1878, a Irmã Maria Clara assumiu sozinha a orientação do Instituto com as inúmeras dificuldades internas e externas inerentes a este cargo: perigos, perseguições, mal-entendidos, rejeições e críticas.» (cf. o interessante documento in http://www.confhic.com/congregacao/historia/sintese-historica:162 e artigo sobre o padre Beirão in http://www.confhic.com/destaques/padre-raimundo-beirao:133 ))

3)da herança cultural e natural, consubstanciadas:

a)no edifício de Linda-a-Pastora;

b)na via sacra em quadros / cenários das Estações da Paixão distribuídos no espaço exterior envolvente ao edifício da CONFHIC, tendo estes quadros, sido esculpidos em relevo na pedra. Trata-se, ao que tudo parece indicar, de uma inovação, por esta arte se basear, essencialmente, no design apenas das mãos para expressar a Paixão do Senhor;

c)na Capela em design de tenda, com desenhos de vitrais que, segundo parece, tiveram a colaboração da Ir. Adelina Alves e do polivalente Fernando Marques (autoria a reconfirmar). Também nesta interessante capela vimos uma escultura da mestre Maria Vilar com seu estilo basado em ondulados, característicos de movimentos, de misticismo e espiritualismo, quiçá inspirados na velha arte barroca. Ainda nesta capela pudemos apreciar uma lucerna com formato caraterístico onde é destacado não só o tema da luz, como o da portugalidade através dos sinais da cruz e de uma barca.

d)na cripta através da obra de Irene Vilar (escultura) e da Ir. Adelina Alves (pintura)

e)no exterior apreciámos a escultura de Fernando Marques, peça representando a Madre Maria Clara protegendo a infância e a terceira idade.

f)na envolvência do jardim apreciámos a inédita via sacra com as Estações. A escultura assenta fundamentalmente na representação de mãos, em vez da expressão total, dejá vu, das cenas da paixão.

g)ainda no jardim, pudemos apreciar uma escultura de São Francisco, primeiro patrono da CONFHIC, e as esculturas alegóricas das quatro estações do ano, sendo estas obras das poucas que ficaram na ex Quinta da família Verde (Cesário Verde). A maioria das peças foi retirada desta Quinta (agora CONFHIC) para o Parque dos Poetas, em Oeiras, onde também poderão ser apreciadas.

h)na toponímia destacamos a «RUA MADRE MARIA CLARA (15-6-1843   1-12-1889) FUNDADORA DA CONFHIC»
i)em Cesário Verde referimos a Quinta, a toponímia e a obra que pode ser, em parte, caraterizada através de dois quadros:

-uma mulher urbana «[…] tipo feminino calculista, destrutivo e frívolo, associado com a aristocracia e a sociedade citadina» (cf. Retrato equestre de Ana de Áustria", por Jean de Saint-Igny) in https://pt.wikipedia.org/wiki/Cesário_Verde ),

-quanto à mulher do povo referimos «[…] A vendedeira de "Num Bairro Moderno" (1877) […] desgraçada, trabalhadora e inocente. (cf. "Rapariga com cesto ao ombro", por Teresa de Saldanha)(1). In https://pt.wikipedia.org/wiki/Cesário_Verde);  

(1) É de notar que se trata da Ir. Teresa de Saldanha que estudámos acerca da visita ao convento dos Cardaes, filha de Isabel Maria de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos, Condessa de Rio Maior, duas outras referências de primeiríssimo nível na assistência social a desvalidos e invisuais na segunda metade do século XIX.

j)quanto à “Pastorinha” e sua lenda que terá dado o nome à localidade de Linda-a-Pastora, extrapolando chegámos, teoricamente, à denominação da origem de Linda-a-Velha, Cruz Quebrada, Carnaxide e Queijas, todas estas localidades são vizinhas e estão na influência da bacia hidrográfica do Jamor.

k)exteriormente à CONFHIC referimos um monumento na ex serra de Linda-a-Pastora que só posteriormente fotografámos. Estas imagens serão projectadas na próxima aula.

l)referente às localidades de Linda-a-Pastora e Queijas, referimos a antiga construção, também a toponímia e a arte ligada ao pastoreio, à religiosidade e a Madre Maria Clara.

m)quanto à inspiração artística, especialmente na literatura, escultura e pintura, referimos Almeida Garrett (o Homem das “Viagens na Minha Terra”, bem como viagens nesta micro região), Cesário Verde, Hein Semke, Almada Negreiros, Abel Manta, Fernando Pessoa, Vieira da Silva e Árpád Szenes.

n)finalmente, quanto à herança natural (matrizmónio), referimos a inter influência entre esta micro região, o povoamento, vias de comunicação e o turismo que data, pelo menos, do século XIX, tal como Almeida Garrett no lo expressa em prosa e com a recolha de uma lenda:

«Namorei-me do sítio por modo, que ali passei o Verão todo: e dali fiz deliciosas excursões pelas vizinhanças […]. Foi neste próprio e apropriado sítio que a srª Francisca, lavadeira bem conhecida do lugar, me deu a última […]. Em outras partes do reino traz […] o título de Pastorinha; aqui era justo e natural que se lhe desse o de Linda-a-Pastora, que assentei conservar-lhe. […] O fundo é de uma verdadeira pastorela do género provençal […]»: (cf. a este propósito GARRET, Almeida – Romanceiro (III). Lisboa: Imp. Nacional, 1851 “Linda -A-Pastora”, cap. XXXII; também disponível em - https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1829280/mod_resource/content/1/Romanceiro_Garrett.pdf acedidos em 04.04.2018 ) 

Tags: Almeida Garrett, CONFHIC, escultor Fernando Marques, fratrimónio, herança cultural, Ir. Adelina Alves,  Madre Maria Clara do Menino Jesus,  Maria Vilar, pe. Raimundo Beirão

sexta-feira, 13 de abril de 2018

VISITA COM DEGUSTAÇÃO DE MIMINHOS



      Em nova e pós nova museologia, conta muito o pretexto, o contexto e as envolvências. Em 13.04.2018, fizemos uma pré visita a Linda a Pastora, muito especialmente à CONFHIC - Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras, onde abordámos com a Ir. Maria da Glória alguma informação. Sairemos da USMMA – Universidade Sénior de Massamá e Monte Abraão, segunda-feira, 23.04.2018 pela manhã. 

Trata-se de uma oportunidade, não só para conhecer parte desta “micro região”, a bacia hidrográfica e as margens do Jamor, que fazem parte dos concelhos de Oeiras, Amadora e Sintra, mais particularmente Linda-a-Pastora, Carnaxide, Queijas, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada.

A este preceito refere-se a herança cultural, o território e a toponímica. Foi sobre os alicerces da Casa e Quinta de Cesário Verde  que veio a ser instalada a Casa Mãe das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras.

Refere-se ainda a figura de Tomás Ribeiro que adorava este rincão de território para onde canalizou investimentos, nomeadamente vias de comunicação e defendeu em tempos difíceis a construção do templo que acolhe Nossa Senhora da Conceição da Rocha.

Tomás Ribeiro foi uma figura respeitável, ligada ao poder governamental, às Cortes e ao Conselho de Estado. Escritor com diversa obra, tendo ficado conhecido como “o Tomás da Aparecida”, por ter acautelado e apoiado a preservação da imagem Senhora da Rocha.

O templo e a gruta desta devoção deixaram marcas de notoriedade nesta micro “região”, vizinha da Congregação que vamos visitar. 


Haverá um foco quanto ao jubileu do nascimento (175 anos) de D. Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles e Albuquerque, natural da Amadora, estando na origem da Obra divulgada em diversos países do mundo. A sede geral é em Portugal, a qual vamos visitar. Obra e estrutura com interesse social, cultural e artístico, onde poderemos apreciar peças de interesse histórico, estético e acervo inovador.  


Uma visita também com interesse gastronómico.



Imagens 1 a 7 Arq. pessoal AA; 8-9 Gentileza CONFHIC, pormenores de vitrais da capela / "tenda" de Linda-a-Pastora in Boletim Ano XXI, nº 85, jul-set, 2015
Tags: Carnaxide, fratrimónio, herança cultural, Linda-a-Pastora, Queijas, CONFHIC


sábado, 7 de abril de 2018

DA LENDA AO CONTO E À ESTÓRIA COM LINDAS PASTORAS


Esta estória ao jeito de conto baseia-se nas lendas das pastorinhas. Firma-se no final da época sarracena e no interstício das consequentes reconquistas e refluxos, em que as culturas do sul (mundo mediterrânico) se aliam, quanto possível, com as do norte e sul da Península Ibérica, Europa e vice-versa. O trovadorismo é uma das fontes (entre outras) que parece pesar na elaboração da lenda de Linda-A-Pastora.

 As teses seguintes creditarão estas possibilidades:

 «São admitidas quatro teses fundamentais para explicar a origem do trovadorismo: a tese arábica, que considera a cultura arábica como sua velha raiz; a tese folclórica, que a julga criada pelo próprio povo; a tese médio-latinista, segundo a qual essa poesia teria origem na literatura latina produzida durante a Idade Média; e, por fim, a tese litúrgica, que a considera fruto da poesia litúrgico-cristã elaborada na mesma época. Todavia, nenhuma das teses citadas é suficiente em si mesma, deixando-nos na posição de aceitá-las conjuntamente, a fim de melhor abarcar os aspectos constantes desta poesia.» (cf. WIKIhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Trovadorismo , acedido em 04.04.2018)


LINDA-A-PASTORA OU LINDAS-AS-PASTORAS?

Era uma vez uma linda pastora que apascentava o seu rebanho nas terras do vale do Jamor (extensivamente J[esus é]Amor). Num tempo escaldante, situado entre os séculos XII e XIII, um senhor forasteiro passa o Verão entre as frescas e leves brisas que percorrem o vale. Num dos passeios, o senhor encontra uma pastora de beleza inconfundível e indizível. Tenta conquistá-la. A pastora rejeita a sedução. Porém, o senhor fica desiludido e dirige-se a Linda Pastora:

--Vou-me embora, já que a menina não crê nas minhas nobres intenções!

Já de partida, quando a Linda Pastora o chama:

--Espere aí; algo me diz que não devo molestá-lo nestas terras do Jamor e Carnaxide (*). Não devo fazê-lo sofrer, venha cá:

(*) Carnaxide parece provir de “origem árabe: Carna-axide: Monte de terra vermelha; origem celta: Carn-ushold: Carn (monte de pedras, memorial); Ushold (de cima) (cf. tb.  Wikiwand http://www.wikiwand.com/pt/Carnaxide).

E assim iniciam uma relação que resulta no nascimento duma menina ao fim de 7 meses. O senhor fica confuso. Acha que a pastorinha o traiu. Vai-se embora para um reino onde ninguém sabe das suas mágoas. Antes de deixar estas terras passa pelos lugares que viriam a chamar-se de Linda-a-Velha e Cruz-Quebrada. É aqui na foz do Jamor, que o senhor ruma a sul; no entanto, faz erigir uma cruz como sinal da paixão e do sofrimento com a linda pastora moçárabe. Lá no novo reino, o senhor procura a corte local. Nos tempos ali passados, a rainha fica grávida e dá à luz um filho que também lhe parece prematuro. Depois de indagar, fica a saber que é possível nascer uma criança viva e saudável, ao fim de 7 meses e até menos. É então que o forasteiro sonha sucessivamente com a Linda Pastora, a tal ponto que já não pode com as saudades. Regressa ao Vale do Jamor. Procura Linda-a-Pastora. Mas quem encontra é uma jovem e linda pastorinha. O senhor pergunta:

--A menina sabe dizer-me se ainda reside nestas paisagens uma Linda Pastora, que há anos apascentava um rebanho nestas terras do Jamor?

--Sim conheço …

A nova pastorinha indica a residência da velha pastora.

--Esse lugar fica mais além.

O senhor encontra a pastora, já com cabelos brancos. Era agora Linda-Velha. Tenta chegar ao diálogo e reconciliação com Linda-a-Velha. Linda-a-Velha não o recebe! O senhor fica revoltado. Vai ao lugar onde colocara a cruz como recordação dos tempos aqui passados e quebra a cruz, pensando que fora este sinal, o causador da sua infelicidade. Após o acto de profanação da cruz, este lugar passa a chamar-se Cruz Quebrada; ainda hoje assim se chama, uma freguesia cerca de Algés, nas faldas do Jamor.

Ao saber do sucedido a nova pastorinha corre após o forasteiro. Ao avistá-lo chama-o.

--Pai! - Quero que venhas viver perto de nós.

--Como assim! Ainda há pouco me repudiaram. Agora chamas-me de pai. Eu não sou digno de ninguém, nem da vossa caridade, não mereço nada, não valho nada, não quero nada.

--Vem, não sejas ridículo e lamechas. Eu e a mãe vamos criar uma comunidade, à semelhança dum mosteiro. Poderás viver dentro, obedecendo às regras, ou nas terras ao redor se preferires.

O senhor escolhe viver no mosteiro; ele aceita redimir-se, desde que lhe deixem ver a família de vez em quando. E assim a lenda terá prosseguido com conversões e adesões aos freires de São Domingos (1170-1221), os quais ocuparam este preciso sítio nas encostas do Jamor, possivelmente, sob os alicerces da actual CONFHIC – Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, sede principal de mais de mil irmãs hospitaleiras espalhadas por Portugal e pelo mundo.

 O vale do Jamor tem inspirado Poetas: Cesário Verde, Almeida Garrett, Tomás Ribeiro, entre outros. As lendas de pastorinhas divulgadas na Europa, ao estilo trovadoresco e na zona do Jamor têm influenciado estórias em Cruz Quebrada, Carnaxide, Linda-a-Velha, Linda-a-Pastora e Queijas.

Da lenda, à estória, ao conto e à história. Temos mais um filão a investigar, coadjuvando documentos de arquivos, bibliotecas e arqueologia.

……………………….

Palavras-chave: Carnaxide, CONFHIC, Cruz Quebrada, fratrimónio, Jamor, Linda-a-Pastora, Linda-a-Velha, Queijas,

 Fontes acedidas em acedidas em 04.04.2018)


--ANCIÃES, Alfredo Ramos – “D. Libânia – Linda Pastora” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/03/blog-post_24.html

-------------------------------------  – “Estre Lindas Pastoras Fratrimonializar” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/04/entre-lindas-pastoras-fratrimonializar.html

-----------------------------------  – “Linda-a-Pastora: Adaptação de Uma Variante da Lenda”  http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/04/linda-pastora-adaptacao-de-uma-variante.html


--CANÇÃO NOVA et al.”São Domingos de Gusmão”  https://santo.cancaonova.com/santo/sao-domingos-de-gusmao-homem-de-oracao/

--CUTILEIRO, José “Linda-a-Pastora [com] variantes [regionais] http://retrovisor.blogs.sapo.pt/61468.html 

--GARRET, Almeida – Romanceiro (III). Lisboa: Imp. Nacional, 1851 “Linda -A-Pastora”, cap. XXXII; também disponível em - https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1829280/mod_resource/content/1/Romanceiro_Garrett.pdf acedidos em 04.04.2018 )

--LISBOA, Isa “Casa de Cesário Verde | Linda –a-Pastora” http://comjeitoearte.blogspot.pt/2017/02/cesario-verde-i-casa-de-linda-pastora.html


--LUZ, António Reis, et al.  “As Quintas de Recreio” http://luzdequeijas.blogs.sapo.pt/2069763.html

---------------------------- – “Monumento em Honra de Madre Maria Clara e “Vária - Queijas” https://luzdequeijas.blogs.sapo.pt/2012/01/14/ ;  https://oentardecer.blogs.sapo.pt/monumento-em-honra-de-madre-maria-clara-340194


--MIRANDA, Jorge Viagem pelas Lendas do Concelho de Oeiras Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, 1998 , p.30  IN http://www.lendarium.org/narrative/linda-a-pastora/?tag=628

--WIKIWAND et al – “Carnaxide etimologia” http://www.wikiwand.com/pt/Carnaxide


--WIKIPEDIA. et al. “Cesário Verde” https://pt.wikipedia.org/wiki/Ces%C3%A1rio_Verde

-----------------------------  “João Baptista Verde” https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Baptista_Verde


----------------------------- “Conto”  https://pt.wikipedia.org/wiki/Conto


-----------------------------– “Trovadorismo” https://pt.wikipedia.org/wiki/Trovadorismo


Alfredo Ramos Anciães, Território Massabraense / Sintra, 22.03.2018

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Linda-A-Pastora: ADAPTAÇÃO DE UMA VARIANTE DA LENDA


«Namorei-me do sítio por modo, que ali passei o Verão todo: e dali fiz deliciosas excursões pelas vizinhanças […]. Foi neste próprio e apropriado sítio que a srª Francisca, lavadeira bem conhecida do lugar, me deu a última […]. Em outras partes do reino traz ele o título de Pastorinha; aqui era justo e natural que se lhe desse o de Linda-a-Pastora, que assentei conservar-lhe. […] O fundo é de uma verdadeira pastorela do género provençal […] Tem muitas variantes […]»: (Almeida Garret)

Aqui vai uma.

«LINDA-A-PASTORA»

–«Linda pastorinha, que fazeis aqui?»

–«Procuro o meu gado que por aqui perdi.»

–«Tão gentil senhora a guardar o gado!»

–«Senhor, já nascemos para esse fado.»

–«Por estas montanhas em tão grande p’rigo! Diga-me, ó menina, se quer vir comigo.»

–«Um senhor tão guapo dar tão mau conselho. Querer que se perca o gado alheio!»

–«Não tenha esse medo que o gado se perca. Por aqui passarmos uma hora de sesta.»

–«Tal razão como essa não na ouvirei, Já dirão meus amos que de mais tardei.»

–«Diga-lhe, menina, que se demorou com esta nuvem d’água que tudo molhou.»

–«Falarei verdade, que mentir não sei: À volta do gado eu me descudei.» –«Pastorinha, escute, que oiço balar gado...»

– «Serão as ovelhas que me tem faltado.»

–«Eu lhas vou buscar já muito depressa, Mas que me espedace por essa charneca.»

–«Ai como vai grave de meias de seda! Olhe não as rompa por essa resteva.»

–«Meias e sapatos, tudo romperei. Só por lhe dar gosto, minha alma, meu bem.»

–«Ei-lo aqui vem; é todo o meu gado.» – «Meu destino foi ser vosso criado.»

–«Senhor, vá-se embora, não me dê mais pena, Que há-de vir meu amo trazer-me a merenda.»

–«Se vier seu amo, venha muito embora; Diremos, menina, que cheguei agora.»

–«Senhor, vá-se, vá-se, não me dê tormento: Já não quero vê-lo nem em pensamento.»

–«Pois adeus, ingrata da Linda-a-Pastora! Fica-te, eu me vou pela serra fora.»

–«Venha cá, senhor, torne atrás correndo... Que amor é cego, já está rendendo.»

«Sentaram-se à sombra... tudo estava ardendo... »

«Quando elas não querem, então ‘stão querendo.»

 Palavras-chave: estória, geoestória, lenda, Linda-A-Pastora

Fontes:

Recolha -GARRET, Almeida – Romanceiro (III). Lisboa: Imp. Nacional, 1851 “Linda -A-Pastora”, cap. XXXII; também disponível em - https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1829280/mod_resource/content/1/Romanceiro_Garrett.pdf acedidos em 04.04.2018 )

quarta-feira, 4 de abril de 2018

ENTRE LINDAS PASTORAS FRATRIMONIALIZAR


001

Trata-se de uma comunidade representante de fratrimónios por excelência, não só imateriais, do bem-fazer, mas também do convencionado património: artístico, memorial, literário, gastronómico ….

002

São mais de mil e duzentas as novas “lindas-pastoras” espalhadas por Portugal: Braga, Caminha, Fátima, Lamego, Lisboa, Ferreira do Alentejo, Leiria, Oleiros Paredes-Lousada, Vila Nova de Gaia, Porto, Vila Real, e outros países, tais como: Angola, Brasil, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, Guiné, Índia, Itália, México, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor.

Todas estas “novas pastoras” têm a origem/matriz em Portugal, muito particularmente na Amadora, seguida de Lisboa, Linda-a-Pastora …. Trata-se de uma comunidade representante de fratrimónios por excelência, não só imateriais, do bem-fazer, mas também dos convencionados patrimónios: artístico, memorial, literário e gastronómico.

003

Nós acrescentaríamos a ligação ao património lendário, como demonstraremos, embora este seja difícil de atestar quanto à origem, temporalidade e autoridade. É possível, porém, mencionar e tratar todos estes testemunhos em visita a um dos locais de referência, tal como o de Linda-a-Pastora: Encastoado num sítio outrora considerado um dos mais belos de Portugal e que preserva ainda formosuras, a par de Sintra e de Lisboa, tal como no-lo descreve Almeida Garret no seu Romanceiro:

004

«Quem desce Tejo abaixo, por esta margem do Norte onde está Lisboa, e tendo saudado o precioso monumento de Belém, a sua torre não menos bela […], tem dado o mais bonito passeio que se pode dar nas vizinhanças da capital, e visitado os sítios que, depois de Cintra, mais frequenta a sociedade elegante da nossa terra. […] Quem tiver porém o bom gosto de resistir ao despotismo tarifeiro da moda, e se abalançar em Maio ou Junho a este largo passeio […], creia que há-de ser pago de sua nobre ousadia. Não há palavras que digam todas as belezas daquela terra, daquele céu […]» (cf. GARRET, op. cit, “Linda-A-Pastora”, cap. XXXII).

005

É um destes locais, de fratimónios e patrimónios (incluindo os gastronómicos, se houver inscrições que o justifiquem) que teremos oportunidade de visitar, fruir e degustar, valorizando terra, gentes e valores.
A não perder.

 Palavras-chave: fratrimónio, imaterial, material, matrizmónio, património

Fontes:

--ANCIÃES, Alfredo Ramos – “D. Libânia – Linda-A-Pastora”  http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/03/blog-post_24.html

--GARRET, Almeida – Romanceiro. Lisboa: Imp. Nacional, 1851 “Linda -A-Pastora”, cap. XXXII; também disponível em - https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1829280/mod_resource/content/1/Romanceiro_Garrett.pdf acedidos em 04.04.2018

 

AA