«Namorei-me do sítio por modo, que ali passei
o Verão todo: e dali fiz deliciosas excursões pelas vizinhanças […]. Foi neste
próprio e apropriado sítio que a srª Francisca, lavadeira bem conhecida do
lugar, me deu a última […]. Em outras partes do reino traz ele o título de
Pastorinha; aqui era justo e natural que se lhe desse o de Linda-a-Pastora, que
assentei conservar-lhe. […] O fundo é de uma verdadeira pastorela do género
provençal […] Tem muitas variantes […]»: (Almeida Garret)
Aqui vai uma.
«LINDA-A-PASTORA»
–«Linda
pastorinha, que fazeis aqui?»
–«Procuro
o meu gado que por aqui perdi.»
–«Tão
gentil senhora a guardar o gado!»
–«Senhor,
já nascemos para esse fado.»
–«Por
estas montanhas em tão grande p’rigo! Diga-me, ó menina, se quer vir comigo.»
–«Um
senhor tão guapo dar tão mau conselho. Querer que se perca o gado alheio!»
–«Não
tenha esse medo que o gado se perca. Por aqui passarmos uma hora de sesta.»
–«Tal
razão como essa não na ouvirei, Já dirão meus amos que de mais tardei.»
–«Diga-lhe,
menina, que se demorou com esta nuvem d’água que tudo molhou.»
–«Falarei
verdade, que mentir não sei: À volta do gado eu me descudei.» –«Pastorinha,
escute, que oiço balar gado...»
–
«Serão as ovelhas que me tem faltado.»
–«Eu
lhas vou buscar já muito depressa, Mas que me espedace por essa charneca.»
–«Ai
como vai grave de meias de seda! Olhe não as rompa por essa resteva.»
–«Meias
e sapatos, tudo romperei. Só por lhe dar gosto, minha alma, meu bem.»
–«Ei-lo
aqui vem; é todo o meu gado.» – «Meu destino foi ser vosso criado.»
–«Senhor,
vá-se embora, não me dê mais pena, Que há-de vir meu amo trazer-me a merenda.»
–«Se
vier seu amo, venha muito embora; Diremos, menina, que cheguei agora.»
–«Senhor,
vá-se, vá-se, não me dê tormento: Já não quero vê-lo nem em pensamento.»
–«Pois
adeus, ingrata da Linda-a-Pastora! Fica-te, eu me vou pela serra fora.»
–«Venha
cá, senhor, torne atrás correndo... Que amor é cego, já está rendendo.»
«Sentaram-se
à sombra... tudo estava ardendo... »
«Quando
elas não querem, então ‘stão querendo.»
Palavras-chave: estória, geoestória, lenda,
Linda-A-Pastora
Fontes:
Recolha -GARRET, Almeida – Romanceiro
(III). Lisboa: Imp. Nacional, 1851 “Linda -A-Pastora”, cap. XXXII;
também disponível em - https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1829280/mod_resource/content/1/Romanceiro_Garrett.pdf
acedidos em 04.04.2018 )
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