domingo, 29 de julho de 2018

MusealizAndo Poesia de Carlos Carranca (Rocha Beirão)


(001 Desenho do autor (Rocha Beirão)
no poema Amor Clandestino)
Inspirado em dois Miguéis ibéricos - Torga e Unamuno sobre quem Carranca (de seu nome completo - Carlos Alberto Carranca de Oliveira e Sousa - pseudónimo Rocha Beirão).
Carranca realiza uma tese de doutoramento à qual se entrega durante cerca de duas décadas.
Estava eu a arrumar e reorganizar o meu arquivo/biblioteca, quando reencontrei, após quase 30 anos, um livrinho do professor e poeta.
O título dá pela denominação: «à procura do amor perdido». A edição é do autor e está impressa pelas Artes Gráficas, Lisboa, 1982.
(002 página de rosto e apresentação por Isabel Risques)

(003 Prefácio de Eduardo Aroso)

Foi preciso amadurecer no tempo e passar pela inspiração da museologia, onde a poesia tem um lugar peculiar. É esta museologia holística que não se esquece das origens da Grécia Clássica, como fonte inicial, ainda que remota e algo lendária, onde a poesia é género literário de excelência.
A personalidade de um tal Museion, iniciador da museologia, também cultor da música (cujo termo derivará de Museion) e da poesia. Museion andava de Terra em Terra partilhando saberes, inspirações e conhecimentos. Também Carlos Carranca desenvolve a sua obra poética e interpretação musical; difunde-a em vários locais, desde a Universidade, Escolas, Teatro, Autarquias, Associações em que é solicitado; na sua clássica Coimbra, na Lousã - terra que lhe é muito querida, nas Terras de Torga e de Unamuno … e nas redes sociais em linha.
A matriz “telúrica/espiritual» denota-se, por exemplo, no pequeno mas interessante volume «à procura do amor perdido».
No percurso inicial de Carlos Carranca já se assinalam as referências à terra, ao sol, ao tempo, à guitarra, à lua, ao erotismo e ao sexo sublime.
(004 Uma das apresentações do próprio autor “Imortalidade do poeta”)

Carlos Carranca (Rocha Beirão) apresenta-se como que pertencendo a dois mundos. Um: preso à terra, ao material, à sexualidade. Um outro: porventura inspirado numa esfera de gnosticismo, espiritualidade, sexo sublime e amor.
 
A recorrência ao amor chega a ser:

«AMOR CANDESTINO
A minha mão na tua /
E um segredo a enlaçá-las /
Como se a paz /
Nos habitasse /
Amor… /
Se a noite vier nos teus cabelos /
Há-de ser luar. /      
E mesmo que escura /
A noite /
Encontrar-me-á absorto /
No limite sublime das estrelas /
Onde o teu beijo principia.»
 
O poema é acompanhado com o desenho, risco do próprio autor (v. imagem supra) e assinado sob o pseudónimo R[ocha] B[eirão]. Assinatura esta - terminada em traço ondulante e vigoroso, produto de juventude e do seu prevalecente espírito romântico.

Os meus parabéns ao amigo e colega de Faculdade.
 
Tags: à procura do amor perdido, Carlos Carranca, museologia holística, poesia, Rocha Beirão, romantismo
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Fontes bibliográficas:
- CLAUDON, Francis; PUGA, Armandina Henriques, et al. (trad.) – Enciclopédia do Romantismo. S. L. Companhia Editora do Minho, 1986
- Rocha Beirão - à procura do amor perdido. Lisboa: edição do autor, Outono 1992 (poesia)
Fontes em linha acedidas em 26.07.2018
- CARRANCA, Carlos – “Bibliografia” https://www.wook.pt/autor/carlos-carranca/7703
- CARRANCA, Carlos - “Facebook” https://www.facebook.com/carlos.carranca.9
- Notícias de Coimbra “Carlos Carranca apresenta Ibéria na casa de Miguel Torga” - https://www.noticiasdecoimbra.pt/carlos-carranca-apresenta-iberia-na-casa-de-miguel-torga/
- SOUSA, Carlos Alberto Carranca de Oliveira e “Portal da Literatura” https://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=27

terça-feira, 17 de julho de 2018

MEMÓRIAS E MUSEU. UMA DIALÉTICA CULTURAL


Tags: Memória, Museologia Social, Museu, Museu da Descoberta, Museu dos Descobrimentos ; (imagem supra gentileza RTP)

As posições andam extremadas. Que os sistemas de guarda, preservação e difusão da memória não são inócuos verificou-se no programa «Prós e Contras» da RTP1, conduzido pela expertise de informação Fátima Campos Ferreira, em 16.07.2018.

O aceso debate fica inconclusivo pelo melindre histórico e mental, ao que se junta a política de esquerda, direita e moderada.

Os museus, como tantas instituições e pessoas, filiam-se num duo genético: uma organização promovida inicialmente por uma figura masculina que é tradicionalmente detentora do poder, pelo saber acumulado. Os museus foram prosseguidos (pelo menos na tradição), pelas musas. Estas femininas inspiradoras mudam a conduta e a gestão das organizações.

«museus vinculados às musas por herança materna (matrimónio) são "lugares de memória" ; mas por herança paterna (património) são configurações e dispositivos de poder. Assim, os museus são a um só tempo: herdeiros de memória» através das musas e de poder com homens concretos e em divergência.. (cf. Chagas, Mário; versão doc. in Univ. Lusófona, Lisboa, 2000).

Cremos que a instituição Museu será das últimas a perder influência, após a Família e a Religião. Acerca da memória residente nas pessoas, é ainda Chagas a referir (doc. cit) «a memória que foi o dispositivo detonador do novo, agora é utilizada […] para comemorar, para garantir a ordem […] a memória agora é usada pela burguesia e vai penetrar com ou sem sutileza (sic, termo Br.) nas escolas, nos museus, nas bibliotecas, nos arquivos, na produção artística, religiosa, filosófica e científica».

A montante e a jusante dos museus estão as memórias do passado em ebulição com as sensações do presente. Vive-se, em Portugal, mais acentuadamente na capital, uma dialética social, política e museal, porque uma nova síntese é precisa, onde as pessoas, o museu e as memórias são cruciais para um paradigma cultural mais justo, onde os turistas, os investigadores e residentes se respeitem na compreensão mútua do Presente e da História dos Povos.