quarta-feira, 25 de novembro de 2015

57. MINHA PRIMEIRA MONOGRAFIA EM LINHA


PATRIMÓNIOS DE TELECOMUNICAÇÕES


 DE PORTUGAL


Alfredo Ramos Anciães

Lisboa / Sintra, 2015

in


TriploV de Artes, Religiões & Ciências . nº 55 . dezembro 2015
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EDITOR | TRIPLOV
 
 
ISSN 2182-147X
 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

55. PORTO E LISBOA - LISBOA E PORTO A PALAVRA PELOS FIOS COMUNICAM

Primeiras Ligações Telefónicas entre a Invicta e a Capital

 
Uma nota prévia
      
       Por esta altura, há 11 anos, figurava no Museu das Comunicações a exposição sobre o Centenário da Primeira Ligação Telefónica Entre Lisboa e Porto. Feitas as contas, faz agora 111 anos (1904-2015) que as duas cidades passaram a telecomunicar, por voz,  entre si.

       As duas capicuas 11 + 111 são interessantes, do ponto de vista simbólico. Esta foi mais uma razão para resgatar esta memória e refletir sobre o processo de comunicar através da luz.

       Falar em luz ou em vibrações telefónicas através de fios elétricos, pelos quais se transmitem feixes elétricos ou feixes de luz, vai dar no mesmo. Acontece que neste ano de 2015 vários países do mundo comemoram o milésimo ano dos estudos do cientista árabe Ibn al-Haytham. Este filósofo e investigador  legou à Humanidade o primeiro estudo sistemático sobre a ótica e a luz, através dum tratado em sete volumes (cf. http://museologiaporto.ning.com/profiles/blogs/mil-anos-de-luz).

       Deixar passar este evento em vão não me parecia boa política; daí o trazer para a esfera pública este assunto que, aliás, também devia ser tomado pelas instituições: Escolas, Museus, Bibliotecas ...

O movimento regenerador e a telefonia
 
       O movimento regenerador havia contemplado as comunicações dos caminhos-de-ferro, mala-posta e telégrafos; também várias pontes e vias terrestres. A telegrafia elétrica beneficiara da conjuntura favorável. Já a telefonia, por ter sido inventada após os finais do período regenerador, não logrou uma introdução rápida no território nacional.

        Após o invento oficial do telefone, com registo de patente por Alexander Graham Bell, em 1876; Portugal não tardou a adotá-lo e mesmo em melhorá-lo com inovações. Contudo foi necessário esperar pelo ano de 1904 para que as duas primeiras redes oficiais de Lisboa e do Porto, existentes isoladamente, desde 1882, fossem conectadas entre si, através de uma linha própria construída para o efeito.

        A influência da telegrafia sobre a telefonia contribuíra para o atraso da transmissão por voz. Os poderes institucionais estavam bem servidos com o telégrafo. Porém, a telecomunicação de voz era um meio mais intimista, mais direto e menos formal do que a transmissão da escrita que, maioritariamente passava pelo processo do código de Samuel Morse, envolvendo pessoal técnico na transmissão e na receção.

       Iniciado o século XX, começa a ser mais evidente uma atitude de mudança na sociedade, a par de uma Imprensa mais visível, que usa e divulga as telecomunicações.

Num anúncio, em grande plano, publicado no jornal `O Século` de 16 de Abril de 1904, é incluída uma imagem de um cavalheiro e de uma dama ao telefone. Uma legenda, entre os dois interlocutores, começa assim:

   «Está lá?

§  Estou.

§  Recebeste?

§  Recebi.

§  Olha Mathilde o nosso encontro no Chiado não póde têr logar hoje.

§  […]».

 
       E o diálogo passa à publicidade de uma nova retrosaria e, obviamente, ao telefone. Assim se vai criando, psicologicamente, a apetência por um novo meio. Ideia a passar: comunicar pelo telefone é chique, lúdico e prático. Assim a nova retrosaria ganhava imagem com a associação ao novíssimo meio.

 Primeira fase de experiências

        Com vista à ligação telefónica de Lisboa ao Porto, tiveram lugar em 1879, em plena época precursora da telefonia as primeiras experiências consideradas de longa distância.

        Os ensaios foram feitos com um telefone inovador - made in Portugal, da autoria de Cristiano Augusto Bramão, oficial dos Serviços Telegráficos e de Maximiliano Augusto Herrmann, inventor e construtor de equipamentos de telecomunicações, linhas de caminhos-de-ferro e iluminação pública.

       O telefone inovado e construído em Lisboa era precoce para a época. Tão precoce, que alguns dos seus atributos, só mais tarde foram retomados na indústria, em série, da telefonia.

        Os atributos do telefone de Cristiano Bramão, são os seguintes:

-Design do microfone e auscultador num bloco só. Antes ouvia-se e falava-se em peças ligadas por um cordão elétrico e o telefone propriamente dito, ficava fixo na parede.

-Formato para utilização em mesa e de reduzidas dimensões, em relação aos telefones de parede da época;

-Capacidade técnica de modo a permitir um método precursor de fonoconferência. É de notar que a alta voz só veio posteriormente a ser desenvolvida, já no século XXI;

-Comodidade de utilização, em mesa, com facilidade para fazer anotações enquanto em função;

-Possibilidades de afinação e regulação;

-Chamada do destinatário através dum manipulador de sinais, associado ao código morse, podendo também servir como telégrafo em caso, por exemplo, de avaria dos componentes telefónicos.
Imagem nº 1. Telefone concebido por Cristiano Augusto Bramão e Maximiliano Augusto Herrmann. Portugal. Dimensões da peça, aprox. 32x20x25 cm.


       Segundo as palavras do autor, Cristiano Augusto Bramão, apresentadas à `ilustre associação dos engenheiros civis portuguezes`:

 
«[…]Parece-me haver creado um apparelho absolutamente pratico, hoje que a telephonia por toda a parte parece ainda aguardar, apesar dos importantes trabalhos de que tem sido objecto, uma solução acceitavel […]. Desejando ver se seria possível alcançar até ao Porto, foi para ali feita a experiência com bom resultado em parte; o efeito sendo altamente prejudicado pelo serviço dos outros fios. [...] Uma outra experiência feita com o Barreiro e Setúbal, o apparelho achando-se já muito melhorado na parte relativa á articulação, foi plenamente satisfatória […] a voz chegava intensa a ponto de se fazer ouvir de todos os circunstantes, que eram muitos tanto de um como de outro lado.» (Revista de Obras Publicas e Minas, 1879).

        Porém, estas vantagens não foram logo suficientes para a introdução regular da telefonia entre Lisboa e o Porto, tal era a inércia e a fidelização ao telégrafo elétrico que, desde 1855, vinha conquistando todas as comarcas e grande parte dos concelhos.

 
Segunda tentativa de introdução da telefonia de Lisboa para o Porto em 1888/1889

        Tratou-se de uma experiência organizada, na esperança de conseguir o aproveitamento da telefonia sobre as linhas telegráficas. Para o efeito, foram adquiridos os sistemas mistos de telegrafia e telefonia de Van Rysselberghe.

       Para traz ficara o telefone de Cristiano Bramão que parecia tão promissor. Acontece que a concorrência técnica, quer portuguesa, quer do exterior depressa absorvem as novas ideias e constroem novos modelos. 

       Ainda que baseados nos anteriores modelos, os construtores vão-se tornando independentes dos Oficiais e dos Empregados dos Correios, Telégrafos e Telefones. Terá sido assim que o Oficial de Telegrafia - Cristiano Augusto Bramão, concebeu equipamentos, lançou ideias e outros aproveitaram-se das mesmas.

       O sistema integrado de Rysselberghe, também permitia o envio da telegrafia e da telefonia pela mesma linha. Contudo, e dadas as facilidades de comunicação pelo sistema Rysselberghe e com economia de meios - por que motivo não foi este equipamento implementado em 1888/1889 antecipando, assim, em 16 anos, as comunicações telefónicas entre as duas cidades?

       A resposta, podemos encontrá-la, senão no todo, pelo menos em parte, na explanação do mesmo artigo in Novidades, 13 Julho 1893:

«Por vezes, porém, a percepção auditiva diminuia e tornava-se confusa. Este inconveniente resultava, exclusivamente, da má collocação da linha. Tinham-se servido dos postes onde estavam assentes os fios telegraphicos, de maneira que umas vezes, porque a linha telephonica tocava n`estes, outras porque não estava sufficientemente defendida das arvores proximas, que a fustigavam com os ramos impellidos pelo vento, succedia haver uma inducção, e desvio de corrente, que prejudicava a clareza do som transmitido».

        Deste modo, a telefonia interurbana foi protelada e as duas redes telefónicas públicas, já existentes isoladamente em 1882, em Lisboa e no Porto, continuaram incomunicáveis entre si, isto é, não havia ligação entre os telefones de Lisboa com os do Porto.

 
Imagem nº 2. Telefone/Telégrafo de Parede de F. Van Rysselberghe. Bélgica, 1884 (ca.). Dimensões da peça, aprox. 125x35x23 cm.

 
Organização e Regulamentação

        A linha Lisboa - Porto visava também o alargamento a outras cidades do país. Para isso foi criada uma nova entidade pública de comunicações – os CTT – Correios Telégrafos e Telefones:

«O ano de 1901, rico de iniciativas por parte da Direcção Geral dos Correios e Telégrafos, viu começarem-se os estudos para o estabelecimento das redes telefónicas do estado nas cidades de Braga, Coimbra, Porto e Lisboa, e da ligação entre si das quatro cidades. Coube ao Conselheiro Paulo Benjamim Cabral, Inspector-Geral dos Telégrafos, auxiliado [… pelos técnicos portugueses] a tarefa de elaborar um plano de trabalhos que, apesar dos escassos recursos materiais de que dispunham, se executou no decorrer de menos de três anos» (Ferreira, 1955, p.44).

        Houve entretanto vários conflitos entre entidades. Daí a intervenção do poder governamental e legislativo:

«É, outrossim, prohibido ás municipalidades e outras corporações administrativas: Intervir, directamente ou indirectamente na exploração das redes telephonicas pertencentes a emprezas legalmente estabelecidas»  (Art.º 21, Dec. Lei, 24 Dezembro 1901).

 
O corpo legislativo e a intervenção do Governo

        Além da experiência do Telégrafo, foi necessário criar regulamentação que pusesse cobro aos desmandos de alguns representantes do poder local:

«A pirronice da camara do Porto tem tambem como resultado prejudicar fundamentalmente os subscriptores d`aquella cidade que continuarão a ser mal servidos, como actualmente [...]. Ao que nos consta, o ministerio das obras publicas deu participação das ocorrencias ao ministerio do reino e este mandou informar o respectivo governador civil»  (Novidades, 8 Abril 1904).

 
Em relação aos “amigos do alheio" já no início do século XIX temos apresentação de várias queixas

 «Conseguiram aquelles agentes saber que o roubo foi praticado por tres individuos, que ao cair da tarde d`um dos ultimos dias do mês passado foram vistos a enrolar o fio e a escondel-o sob um varino. Mas a pessoa que isto vio não quis approximar-se dos larapios com receio d`alguma agressão. [...] Houve denuncia de que um negociante de ferro velho, residente em Albergaria-a-Velha tinha comprado grande porção de arame de bronze que devia fazer parte do roubo»

(O Primeiro de Janeiro, 13 Abril 1904).

 
Face à situação de furtos, avarias e manutenção, criam-se regulamentos e legislação

  «O governo fez com a Companhia dos Telephones um contracto, que levou ás camaras, e foi convertido em lei, do qual resulta os serviços telephonicos em Portugal serem montados por maneira a excederem, pelo aproveitamento dos mais modernos aparelhos, até os que se encontram nas redes das principaes cidades da Europa. Estabeleceo n`essa lei, que tudo isso seria fiscalizado e aprovado pela repartição dos telegraphos e industrias electricas» (Novidades, 8 Abril 1904);
 

«O estabelecimento das linhas de ligação entre as estações terminaes do Estado, em Lisboa e Porto, e as respectivas estações centraes telephonicas da companhia [The Anglo Portuguese Telephone Company] fica ao cargo do Governo.

A companhia tem por seu lado obrigação não só de estabelecer nestas ultimas estações centraes os aparelhos de ligação com as linhas dos subscritores, como a executar gratuitamente o serviço combinado»

(Regulamento, Artº 2º ; Decreto 10 Março 1904).

 
Renovação do Equipamento e Novas Estéticas

 
       Relativamente à renovação do equipamento, apresenta-se aqui um dos modelos de telefone mais avançados da época, quer em termos de design, quer de tecnologia.

        Com a transição do século XIX para o XX, a nova estética impulsionada pela corrente modernista e uma nova exigência, técnica e funcional (telefones de mesa, mais práticos do que os telefones de parede) motivaram a introdução deste modelo, um dos que mais tempo permaneceu em função, em Portugal, chegando até aos anos cinquenta do século XX.

 
Imagem nº 3. Dimensões da peça, aprox. 30x25x14 cm

 
Mecânicos / Guarda-Fios

        Aos incansáveis Mecânicos/Guarda-Fios couberam tarefas especiais nesta fase de arranque da telefonia de “longa distância”. O Regulamento do Estabelecimento e Conservação das Linhas e Estações Telegraphicas e Telephonicas do Estado, aprovado por decreto de 28 Junho 1902, consagra 53 artigos aos deveres, funções e ética profissional destes Técnicos.
 
       Destaca-se aqui, apenas alguns aspetos para a caracterização desta difícil, mas importante atividade para o exercício de um serviço público. Os Guarda-fios percorriam distâncias intermináveis de paisagens e fios, por entre serras, vales e localidades.

 «Para a vigilancia, policia e reparação das linhas do Estado, serão estas divididas em cantões e sub-secções. Esta divisão será feita pela Direcção Geral dos Correios e Telegraphos [...]. Cada chefe de guarda-fios terá a seu cargo um certo numero de sub-secções, devendo haver, pelo menos, um chefe em cada districto administrativo [...] (Artº. 31.º).

Os cabos de guarda-fios serão escolhidos entre os guarda-fios que saibam ler e escrever e se tenham distinguido pelo seu zêlo, bom comportamento e aptidão [...]. Aos guardas e cabos de guarda-fios não é permitido ter estabelecimento de venda no seu cantão ou secção [...] (Art.º 34.º).

 
Imagem nº 4. Mecânico/Guarda-Fios. Início do Séc. XX

 
«Os guarda-fios qualquer que seja a sua categoria, antes de entrarem ao serviço, devem apresentar as suas nomeações aos juizes de direito das comarcas onde servirem, que lhes deferirão juramento de bem e fielmente cumprirem os deveres dos seus cargos [...] (artº 36º).

Depois dos grandes temporaes, ventanias e nevadas, os guardas percorrerão e visitarão cuidadosamente os seus cantões em ronda extraordinaria [...]. Durante as nevadas os guardas sacudirão os fios para que a accumulação da neve não possa produzir roptura (artº 47º).

Quando sejam feitas avarias ás linhas do estado, quer por malevolência reconhecida, quer por inadvertência, os guardas empregarão todos os esforços para conhecer quem é o responsável por estes factos, lavrando o respectivo auto de noticia (artº 61º).»

        Lisboa e o Porto passam, assim, a contar com mais um meio de telecomunicação, rápido e sobretudo mais cómodo. Já não é de todo necessário ir à Estação - ao já muito usado e institucionalizado Telégrafo Eléctrico para comunicar de forma rápida:
 
«[...] O serviço da estação central diurno e nocturno,  por esta forma podem a qualquer hora communicar os subscriptores entre si e com theatros, hoteis, postos-medicos, caminhos de ferro, companhias de carruagens, hospitaes, policia, bombeiros municipaes e voluntarios,  etc. [...]» (Novidades, 6 Abril 1904).


 

Imagem nº 5. Comutador telefónico com chaves (manípulos) e cavilhas para 50 postos e 10 conversações simultâneas. Também conhecido por Central Telefónica Manual e por "Máquina de Costura" pela semelhança do design na parte inferior. Dimensões da peça, aprox.: 150x60x65

 
       A telefonia manual (não automática) caracteriza-se pela ligação entre os diferentes utilizadores, através de comutadores locais e/ou centrais de comutação. A interligação de um utilizador chamador, com outro utilizador chamado e seus respetivos telefones, tem a intervenção de uma/um Telefonista em cada Posto e/ou Central de Comutação, por onde passa o circuito telefónico.

        Em relação à primeira comunicação documentada da linha, entre o Porto e Lisboa, recolhemos a seguinte informação:

 
«[...] Não havendo a menor difficuldade nem embaraço na emissão do som, e dando as experiências o melhor resultado [...]» foi efectuada uma ligação particular entre um assinante de referência - o Jornal de Notícias, Telefone Nº 314 da rede do Porto, com a Estação Telefónica Central de Lisboa (Jornal de Notícias, 24 Fevereiro 1904 e 25 Fevereiro 2004).

        Esta comunicação foi realizada no dia 24 de Fevereiro de 1904. Preparou e antecipou, cerca de mês e meio, a inauguração oficial, que viria a ocorrer no dia 11 de Abril do mesmo ano.

       Assim se concluiu – depois de tantos trabalhos, experiências e uma vontade inabalável dos técnicos, maioritariamente portugueses, a abertura oficial, entre as redes de LISBOA e do PORTO.

Tags: História das telecomunicações em Portugal, História do telefone entre Lisboa e o Porto

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Imagens:

-Nºs 1 a 3, provenientes de coleção de calendários sobre peças de telecomunicações, 1985;

-Nº 4, Aguarela de Luís Jardim Portela, 1962. Edição dos CTT;

-Nº 5, Iconografia in CDI do Museu dos CTT/Fundação Portuguesa das Comunicações.

 
Fontes:

-ANCIÃES, Alfredo Ramos - «Allô Lisboa». Lisboa: Fundação Portuguesa das Comunicações, 1, ano VII, II série, 2004, pp. 36-45

- ANCIÃES, Alfredo; JANEIRA, Ana Luísa et all. - “Quando os Objectos Falam das Telecomunicações”. O Mundo das Colecções dos Nossos Encantos. Lisboa: CICTSUL UL, 2004.

-BARROS, Guilhermino Augusto de; FERREIRA Godofredo - Memória Histórica Acerca da Telegrafia Eléctrica em Portugal, 2ª ed. ampliada com notas gravuras e retratos. Lisboa: CTT, 1943

-CTT - Museu dos Correios e Telecomunicações de Portugal - Algumas Datas para a História do Telefone em Portugal. Lisboa: Trama. Artes Gráficas, 1976

-CTT / TLP - Bramão e Outros Inventores Portugueses no Museu dos CTT / TLP: Exposição Comemorativa do 1º Centenário do Telefone Bramão 1879-1979. Lisboa: Edição dos CTT / TLP ; Nova Lisboa Gráfica, Ldª, 1979

-FERREIRA, Godofredo - Coisas e Loisas do Correio. Ligeiros Apontamentos Coligidos por Godofredo Ferreira. Lisboa: CTT, 1955

-GAFF, Jackie; NETTO, Filipe (trad.) - Século XX. Arte 1900-10. Novos Modos de Ver a História da Arte Moderna. Londres: David West Childrens`s Books, 2000

 
Legislação:

 - Decreto-Lei de 24 Dezembro 1901

- Regulamento do Estabelecimento e Conservação das Linhas e Estações Telegraphicas e Telephonicas  do Estado. Aprovado por Decreto de 28 de Junho de 1902 / Ministerio das Obras Publicas, Commercio e Industria. Inspecção Geral dos Telegraphos e Industrias Electricas. Lisboa: Imprensa Nacional, 1902

- Regulamento do Serviço  da Linha Telephonica de Lisboa ao Porto. Aprovado por Decreto de 10 de Março de 1904 / Ministerio das Obras Publicas, Commercio e Industria: Inspecção Geral dos Telegraphos e Industrias Eléctricas. Lisboa: Imprensa Nacional, 1904

- Regulamento do Serviço das Redes Telephonicas do Estado. Aprovado por Decreto de 17 de Dezembro de 1904 / Ministerio das Obras Publicas, Commercio e Industria. Inspecção Geral dos Telegraphos e Industrias Electricas. Lisboa: Imprensa Nacional, 1904

Notícias em periódicos:
 
  
-    O Comércio do Porto, Abril 1904

-    Diário de Notícias, Abril 1904

-    Jornal de Notícias, Fevereiro e Abril 1904

-    Novidades, Julho de 1893 e Abril de 1904

-    O Primeiro de Janeiro, Abril 1904

-    O Século, Março e Abril 1904.

-    Revista de Obras Públicas e Minas, 1879

terça-feira, 3 de novembro de 2015

56. DO COMUNITARISMO DE VILARINHO AO DESENVOLVIMENTO DE MOÇAMBIQUE


Novo Livro

“A Dinâmica da População no Desenvolvimento de Moçambique” / Manuel de Azevedo Antunes. Lisboa: Ed. CPES – Centro de Pesquisa e Estudos Sociais da ULHT – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2015; O design da capa é de Ana Moutinho.

 

 
O autor é natural da ex aldeia comunitária Vilarinho da Furna. Como pessoa chega a ser desconcertante pela simplicidade e boa disposição. Valores que só se encontram em figuras de invulgar padrão humano e cultural. Estas palavras podem parecer laudatórias e de conveniência. Contudo trata-se apenas de uma constatação verificada ao longo de mais de duas décadas.

Conheci o professor Manuel Antunes nas lides da Museologia. Desde o primeiro dia em que contactámos pressenti algo de notável na simplicidade e nobreza de caráter. Em princípio ainda pensei que se tratasse apenas de mais uma pessoa bem-disposta mas, com o tempo e a análise da sua obra, vi que a simplicidade se ajustava com o saber que transcende o mero conhecimento da cultura académica.

 
Uma aldeia grande e antiga (como era Vilarinho da Furna) é parecida a uma Universidade, mais pelo saber do que pelo conhecimento. Na aldeia partilhava-se cultura e informação através das artes e ofícios, escola, serviço religioso, junta de freguesia, associações de interesses comunitários; nomeadamente na gestão dos baldios, gados, produtos da terra, festas e resolução de conflitos.

Foi neste cadinho, técnico e cultural, de aldeia comunitária que o professor Manuel Antunes começou a desenvolver o seu saber e personalidade.

Com vária obra publicada, refletida na Sociologia, Demografia, Ciência Política, Ciências da Computação, Informação e Museologia. Três formaturas e um doutoramento; passou por universidades de Lisboa e Paris (a Sorbonne), onde adquiriu um curriculum académico notável, como estudante.

Já como professor e formador passou pela Guiné Bissau, Universidades de Lisboa; de Eduardo Mondlane no Maputo – Moçambique, onde também iniciou os trabalhos que viriam a ser publicados na sua tese de doutoramento. Muitas outras, obras e artigos, publicou.

Sobre a última obra, editada em 2015 "A Dinâmica da População no Desenvolvimento de Moçambique” vou tecer aqui umas ligeiras notas:

Brilhantemente apresentada/moderada “pelo amigo comum – o professor Carlos Carranca na Galeria Tintos e Tintas, Avenida Duque d`Ávila, 120, Lisboa, no dia 29 de outubro.

A edição tem 545 páginas, uma feliz capicua e um volume considerável para um trabalho que levou vários anos com investigações em Arquivos, Universidades e muita pesquisa no terreno junto das pessoas e localidades moçambicanas.

O termo população que entra logo no título, não acontece por acaso. Note-se que o autor dedica a página 7, exclusivamente para a expressão e a bold:

 
«Ao Povo de Moçambique»

 
Nesta obra de desconstrução de algumas ideias feitas, abordam-se novas pistas com o saber, de experiência feito, pela vivência e envolvimento com a Terra e as Populações. O autor parte, certamente, da experiência comunitária a que assistiu nos tempos de infância e juventude em Vilarinho - aldeia que, infelizmente, não sobreviveu à voragem do progresso energético.

Analisa não só o conceito e realidade do desenvolvimento, enquanto crescimento económico tradicional, cuja temática é conhecida dos manuais de economia mas acrescenta-lhe um ponto importante. E fá-lo com inovação, tendo desenvolvido novos métodos de abordagem e computação, com indicadores e índices, de socialização/educação, saúde, demografia e a relação com o “bem-estar da população, em harmonia com a natureza”.

A obra tem a curiosidade de começar na página zero (0), e não 1 (um), e tem também uma parte zero. Referiu o autor na sua apresentação que o zero introduzido aquando da numeração árabe é muito importante, pois tanto o zero, como a restante numeração árabe, pós romana, trouxeram a possibilidade de quantificar e analisar conjuntos de dados que seria difícil ou mesmo impossível com a numeração precedente. Tal atitude  da parte do autor deve-se, possivelmente, à consideração pelo contributo dos povos árabes que, também, passaram por Moçambique.

Descreve vários termos e conceitos, às vezes desconstruindo certos tipos ideográficos, como exemplo a “palavra civilização, mais ou menos eivada de preconceitos etnocentristas” (cf. p. 90-91)

Os apresentadores versaram sobre o que pode ser considerada a informação entrelinhas e sobre o contexto da investigação e realização, por exemplo de que a obra não teria sido possível se o autor não tivesse estado vários anos em Moçambique, na investigação e ensino, depois da independência.

Trata-se de um caso de estudo interessante dos pontos de vista: da geografia humana, recursos naturais, economia e cultura. A finalidade é o estudo relacionado com o desenvolvimento das populações, tendo em conta a meta para a sustentabilidade.

Contudo, o autor finaliza com a expressão de que “Moçambique continua nas encruzilhadas do desenvolvimento.” (cf. p. 433), significando que, face às condições atuais e de globalização crescente, Moçambique ainda tem de recorrer à economia baseada na exploração de produtos e energias não renováveis.

Apresenta uma obra que estudou, social e cientificamente, a contemporaneidade de Moçambique e lança perspetivas de futuro, onde a felicidade das populações e a sustentabilidade da Terra, Pessoas e recursos podem desenvolver-se em harmonia.

Uma nota já fora do contexto da obra. Penso que o autor na realização deste livro também foi influenciado pela Nova Museologia, Social e Comunitária levada a cabo pelo Movimento Internacional para uma Nova Museologia e pela Universidade Lusófona, onde o professor Manuel Antunes tem dado ao longo de cerca de três décadas um importante contributo e assistido a muitas jornadas de formação nas autarquias de Portugal e no exterior.  

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Fontes:

ANTUNES, Manuel de Azevedo - A Dinâmica da População no Desenvolvimento de Moçambique. Lisboa: Ed. CPES – Centro de Pesquisa e Estudos Sociais da ULHT – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2015 ;

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