terça-feira, 30 de julho de 2019

BANCOS DE SEMENTES SERÃO EQUIPARADOS A MUSEUS?

Imagens gentileza do Banco de Sementes António Luís Belo Correia / Museu de História Natural e da Ciência
 
 

Respondendo ao comentário de Maria Teixeira, Téc. Sup. Agronomia, no contexto de análise da Quinta do Mocho - galeria e/ou espaço para-museológico:

Às tantas as câmaras frigoríficas de conservação de sementes de culturas agronómicas, também se podem considerar “Museus”.

Caríssima -

Esses bancos de sementes poderão ser considerados equiparados a museus, desde que não façam apenas ajuntadorísmo e/ou colecionismo, sem atender à função social. Isto é, um Banco desta natureza, museal e social, tem de obedecer ao interesse público das populações. Tem de ser inspirador (uma dos primeiros valores dos museus); têm de fazer salvaguarda, preservação e conservação.

Com alguma frequência, estes bancos estão associados a uma Universidade, a um Museu ou outra Instituição credenciada. Se, ademais, cumprirem a animação, divulgação, exposição e comunicação; se tiverem um carácter permanente de abertura e funcionamento, se tiverem recursos económicos e um corpo de técnicos dedicado a atividade - então estes bancos são aceites na categoria de museus.

Um dos exemplos que podemos indicar é:

O Banco de Sementes “António Luís Belo Correia” do Jardim Botânico /no Museu Nacional de História Natural. Este Banco de Sementes está ainda inserido ou relacionado com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e vem desde 2001 colaborando com as sugestões internacionais da FAO (Food and Agriculture Organization).

Significa que o Banco de Sementes “António Luís Belo Correia” vem desenvolvendo, desde há mais de uma década, as funções: científica, económica, social e museológica.

Funciona como um museu entre os museus de História Natural e da Ciência residentes no espaço da ex Escola Politécnica de Lisboa. Merece uma visita, senão expressa, pelo menos, quando se proporcionar a visita ao: Jardim Botânico e Museus de História Natural e da Ciência (todos no mesmo espaço da ex Escola Politécnica). Funcionam ainda, neste espaço, uma importante biblioteca e um observatório meteorológico e astronómico com tradição e atualidade.

Palavras-chave: bancos de sementes, museologia, museu, Quinta do Mocho

Referências acedidas em 30.07.2019:


-ANCIÃES, Alfredo Ramos – “Gestão de Memórias Museais - Caso de Estudo”. http://cumpriraterra.blogspot.com/2017/02/125-gestao-das-memorias-recursos.html
-ANCIÃES, Alfredo Ramos - "Um `Museu` ao Ar Livre".  https://cumpriraterra.blogspot.com/2019/07/um-museu-ao-ar-livre.html

-DRAPER, David, MARQUES, Isabel, GRAELL, Antònia, COSTA, Fátima, et al. - Conservação de Recursos Genéticos – O Banco de Sementes ‘António Luís Belo Correia’”. Lisboa: Jardim Botânico. Museu Nacional de História Natural, Setembro de 2004

-MUHNAC et al. – “Museu Nacional de História Natural – Objeto do Mês - Sementes da Flora Portuguesa” https://www.facebook.com/MUHNAC/posts/602134839884269/ 

-RIVIÈRE, Georges Henri – “Théorie du Musée”. https://fr.wikipedia.org/wiki/Georges_Henri_Rivière_(muséologue) ;

-VARINE, Hugues de – “ La `nouvelle muséologie` et le rôle social des musées. https://fr.wikipedia.org/wiki/Hugues_de_Varine

domingo, 21 de julho de 2019

QUINTA DO MOCHO - UM “MUSEU” AO AR LIVRE

O Mundo na Palma da Mão demonstra a vontade e a universalidade dos naturais e residentes. Pode ser um exemplo para outras localidades da Grande Lisboa e algures. Que as pessoas se unam. Que as discriminações se dissipem e extingam.

Tão Longe e Tão Perto, foi com este slogan que há cerca de 20 anos iniciámos visitas ao norte do concelho de Loures.

"Museus ao ar Livre" é uma das categorias de museus, onde os bens culturais e económicos estão predominantemente expostos ao tempo. As pessoas participantes nestes museus são parte integrante e principal deste tipo de museologia.
Na Quinta do Mocho a tendência deverá ser a de valorizar cada vez mais os naturais e/ou moradores. A arte local na Quinta do Mocho é importante como meio de comunicação, pelo atrativo da estética e mensagem mas a população, não importa de que origem ou prática legal e de paz, não pode estar em qualquer plano secundário. As pessoas e a vida são ainda mais importantes do que as expressões artísticas.

Consta que o primeiro museu ao ar livre foi o “Museu a Céu Aberto Skansen” situado na Suécia, na envolvência de Estocolmo. Aqui se representavam e representam as casas e as artes de várias regiões distintas. Além da construção, arte e ofícios, o museu tem vários espaços zoológicos.
Este museu data do século XIX, fundado em 1891. Não se trata de um equipamento e museu parado no tempo. Com efeito e só para exemplo: “O padeiro acorda ao romper da aurora para trabalhar com os foles […] o boticário manuseia jarras, garrafas e pipetas […] e no acampamento do povo […], as renas estão sendo ordenhadas […]”  (cf. «klm.com» et al “O Museu ao Ar Livre Mais Antigo do Mundo” inhttps://www.klm.com/destinations/br/br/article/the-worlds-oldest-openair-museum )
 
 
 
 
 
 

Em Portugal também temos museus ao ar livre, alguns com história. Por aqui são, frequentemente, designados como ecomuseus. Não é o caso da Quinta do Mocho, espaço problemático há uns anos e hoje começando, ora, a ser exemplo pelos bons motivos de convivência, integração, arte e curiosidade.

Visitei este espaço e comunidade algumas vezes. Percorri quase todo o bairro, fotografei, sem problemas e sem que tivesse achado nada de estranho. Entrei em estabelecimentos comerciais.
As pessoas não me observaram de forma esquisita. Ninguém se intrometeu na minha visita e reportagem fotográfica. Na terceira e mui recente visita, parei numa rua de Sacavém. Como não ia com atenção suficiente à sinalética, perguntei a um Agente de Polícia o caminho para a Quinta.

-“Olhe que o local é perigoso”.

Já visitei a Quinta algumas; desta vez é que me enganei no caminho. Não houve qualquer problema.

-“Olhe que eu estive ligado lá cerca de 10 anos!”.
Indicou-me, o caminho. Agradeci.

Nesta visita encontro um Guia. Fazia uma apresentação a duas turistas. Abordou-me com simpatia. Conversámos um pouco. Fez questão de me oferecer um desdobrável informativo, onde constam contactos e uma série miniatura de mais de 100 figuras de pinturas murais. Agradeci, dizendo-lhe que iria voltar em visita de grupo.
-“Está bem, quando quiser. Tem aí os contactos. Podemos até organizar um almoço de grupo com iguarias africanas, incluindo animação”.

Muito bem. Perguntei-lhe por um restaurante. Levou-me até à esquina de uma rua e indicou-me o local onde poderia tomar uma refeição.
Além das “galerias murais”, encontrei, painéis com imagens artísticas de exposições temporárias a céu aberto. O bairro parece-me ainda mais típico e organizado do que nas primeiras vezes que o visitei. Mesmo à beirinha dos prédios observo um pequeno rebanho de gado ovino. No fundo da portaria de um prédio, encontro deitada uma cabra leiteira que ali parecia descansar em horas zenitais. Mais adiante, junto a outra portaria, alguns vizinhos, mulheres e homens, bebiam e conversavam. Já não sei quem meteu conversa primeiro, se os vizinhos, se da nossa parte.

- “ Aqui por fora, parece que está tudo bem, mas lá dentro há miséria”.

Diz uma senhora.

-“No entanto temos habitação. Pagamos renda, mas é social”.

Diz outra senhora.

-“Venham visitar-nos quando quiserem. Muito obrigada, muito obrigada!”
&
Porque é que intitulámos este espaço por “museu”, embora entre aspas?

1- Em primeiro lugar: o sítio ainda é algo informal do ponto de vista institucional, embora, cada vez mais organizado. 2- Se não me engano e pelo que investiguei, falta uma sede aberta com permanência, no entanto o local tem vindo a contar com o apoio autárquico e com a Associação Cultural de Sacavém. Esta Organização tem uma sede muito próxima, cerca de uma centena de metros da Quinta; coorganiza visitas de grupo mensais com o apoio e envolvimento da população.

3-Há um Grupo de Guias locais que podem ser contactados pelas redes sociais, ou por telefone (v. infra referencias documentais em link).

4- Este Grupo de Guias, a Associação e Autarquia têm-se desdobrado em colaboração com entidades, instituições de ensino e educação, incluindo Universidades.

5-As populações do Bairro colaboram em informação, restauração e animação e são guardiãs dos valores artísticos.

6-Há cada vez mais um assumir de entidade e valores da Quinta do Mocho, como sociedade multiétnica e multicultural.

7-Os valores da paz e convivência têm vindo a ser implementados. A imagem das populações tem vindo a ser recuperada para o lado positivo. Hoje, em dias, não é mais problemático visitar este bairro, sozinho ou em grupo, do que muitos outros bairros ou localidades da Grande Lisboa e outras regiões.

Logo, há na Quinta do Mocho quase tudo para se poder considerar um Museu ao Ar Livre, um Novo Museu Social, um Ecomuseu ou designação equivalente; porque e em resumo:

-O Bairro trabalha com: 1) Bens artísticos e culturais. 2) Assume-se como Comunidade que vai ganhando identidade. 3) Há uma envolvência territorial em que a Quinta vai adquirindo contextos positivos, quiçá, como que Quinta da Sabedoria, até porque o mocho vai fazendo parte da expressão artística, como um prenúncio e um logótipo associado à sabedoria que a ave representa.

4) Adotam cada vez mais a visão e prática democrática de funcionamento.
5) Esforçam-se, e mui especialmente, com o apoio autárquico, por assumir a modalidade de museu ao ar livre.
6) As populações podem participar em projetos e cada vez mais em decisões, bem como –
7) na gestão e na fruição de bens imateriais e equipamentos.
Notas finais

Além destas definições apresento aqui o essencial sobre o que é um museu na conceção dos ICOM (*) Conselho Internacional de Museus.

(*) Definição de museu segundo os estatutos do ICOM Conselho Internacional de Museus; associação não governamental, ligada à UNESCO/ONU com sede em Paris. (Cf. Estatutos do ICOM in 10º Encontro Nacional de Museologia e Autarquias. Monte Redondo, 19 e 20 junho, 1999 in Biblioteca Victor de Sá, Univ. Lusófona). Entre várias outras funções o ICOM é uma Organização que gere os processos da candidatura dos bens a «Património Cultural da Humanidade» e funciona como um regulador entre os bens culturais e as instituições museológicas. Cada país pode ter o seu próprio ICOM seguido do nome do respetivo país . – tal como o ICOM Portugal).

«Artigo 2. Definições: 1.O museu é uma instituição permanente, sem finalidade lucrativa, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que realiza investigações que dizem respeito aos testemunhos materiais do homem e do seu meio ambiente, adquire os mesmos, conserva-os, transmite-os e expõe-nos especialmente com intenções de estudo, de educação e de deleite.
[…] Além dos “museus” designados como tal, são admitidos como correspondendo a esta definição:  
(i)os sítios e os monumentos naturais, arqueológicos e os sítios e monumentos históricos […]
ii)as instituições que conservam coleções e que apresentam espécimes vivos de vegetais e de animais tais como os jardins botânicos e zoológicos, aquários, viveiros;
iii)os centros científicos [exemplo: o Observatório de Constança, Observatório da Ajuda] e os planetários [exemplo: o Planetário de Belém]; […] »
iv) os institutos de conservação e galerias de exposição que dependem das bibliotecas e dos centros de arquivo;

(v) os parques naturais;

(vi) as organizações nacionais, regionais ou locais de museu, as administrações públicas de tutela dos museus tal como foram acima definidas;

(vii) as instituições ou organizações com fins não lucrativos que exercem atividades de investigação, educativas, de formação, de documentação e outras relacionadas com os museus ou a museologia;

(viii) qualquer outra instituição que o Conselho executivo, segundo opinião da Comissão consultiva, considere como detentoras de algumas ou da totalidade das características de um museu, ou que possibilite aos museus e aos profissionais de museu os meios de fazerem investigações nos domínios da museologia, da educação ou da formação». (os sublinhados nas citações são nossos).
Nota conclusiva: A Quinta do Mocho, na freguesia de Sacavém, concelho de Loures, situa-se num bairro em que o decurso das vivências e segurança não nos parecem mais problemáticos do que em tantos outros bairros e cidades. Esperamos que o espaço e projetos continuem a ser valorizados e dignos de serem considerados, não apenas como galeria de arte a céu aberta mas um espaço social e museal a céu aberto. 

Palavras-chave: economia, desenvolvimento, galeria, museu ao ar livre, participação, Quinta do Mocho, social, território

 Referências documentais:

-ASTROLOGOOBSERVADOR, et al - “Os Aninais e a Cultura – o Mocho, Sabedoria e Augúrios“ https://atuavidanosastros.com/2013/07/os-animais-e-a-cultura-o-mocho-sabedoria-e-augurios/

 -CRUZ, Diogo Balestra “Guias do Mocho – Bairro de Arte Pública”  https://www.facebook.com/dbalestracruz/posts/10155469480382256:0

 
-MUSEU Skansen ao ar livre, Klm.com et al. “O museu ao ar livre mais antigo do Mundo” https://www.klm.com/destinations/br/br/article/the-worlds-oldest-openair-museum

 

terça-feira, 9 de julho de 2019

O LUSO CONTRIBUTO DE FRANCISCO ANTÓNIO CIERA PARA OS BENS CULTURAIS DAS TELECOMUNICAÇÕES

O uso da telegrafia não-elétrica perde-se no tempo. Os sinais de gritos, fumos, fogos, tambores, búzios, trompas…, datam possivelmente dos princípios da organização social de grupos e tribos. Com o evoluir das sociedades foram-se aprimorando e inventando códigos de comunicação e equipamentos capazes de receber e transmitir sinais de e para grandes distâncias. Designada frequentemente por: telegrafia visual, aérea, óptica e semafórica; esta telegrafia não-elétrica permite enviar mensagens à distância, através do espaço aéreo visível, daí a adjetivação de telegrafia visual.

Distingue-se do correio clássico/tradicional porque este implica o transporte das mensagens em suportes físicos (cartas, bilhetes ou quaisquer objetos informativos) por terra, ar ou mar. A telegrafia não-elétrica baseia-se na transmissão e receção de sons (ex.: trompas, tambores); luzes (ex.: fogos, antigos faróis) e imagens de objetos (ex.: balões, bandeirolas, bandeiras, galhardetes, abertura e fecho de persianas, configurados / codificados em sinais geradores de comunicação.

Esta configuração de sinais assenta em códigos de linguagem. O código mais conhecido é o de Samuel Finley Breese Morse, utilizado sobretudo na telegrafia elétrica mas também na telegrafia tradicional não-elétrica na forma de sinais luminosos derivados do sol – isto é, na heliografia com auxílio de espelhos e instrumentos de ótica. O código de Morse foi ainda utilizado em sistemas homográficos, lanternas de sinais, semáforos, bandeirolas.
Outros códigos muito utilizados foram o de bandeiras e galhardetes, especialmente o CIS (Código Internacional de Sinais); códigos de faróis; código de Chappe (francês); código de Edelcrantz (sueco); código de balões ou bolas (inglês) e o não menos importante: código de Francisco António Ciera (português, natural de Lisboa) a que o autor deu o nome de "taboas telegraphicas".
A Torre de Belém, como baluarte de defesa e observação era um dos postos principais do território português. Aqui funcionou, sobretudo entre 1808 e 1855, altura em que a telegrafia visual com instrumentos de ótica (telescópios), começou a ser suplantada pela telegrafia elétrica com código de morse e até que o telex e as novas telecomunicações se sobrepõem e acabam por destronar os velhos sistemas que tanto contribuíram para as civilizações atuais.
Palavras-chave: Francisco António Ciera, ótica, Portugal, telecomunicações, telegrafia

Fontes: ANCIÃES,  Alfredo Ramos – “O LUSO CONTRIBUTO DE FRANCISCO ANTÓNIO CIERA PARA O PATRIMÓNIO DAS TELECOMUNICAÇÕES”  http://cumpriraterra.blogspot.pt/2015/01/30-telegrafia-nao-eletrica-e-o-luso.html, acedido em 09.07.2019