domingo, 28 de janeiro de 2018

ARTE E MENTALIDADES EM ABORGAGEM PASSEIO A UM FRATRIMÓNIO SINGULAR


 

Quadro de André Gonçalves. Lisboa: (1685-1754) com Nossa Senhora da Conceição

 

Situado no altar-mor da cintilante capela dos Cardaes ao Príncipe Real/Bairro Alto. A cena tem significados vários. Destaco, porém, - a mudança da tradicional estética hispânica do “naturalismo tenebrismo”, ainda influenciada pelo Concílio de Trento, contudo em mudança/adaptação para uma pintura, como a presente, mas mais suave e colorida, uma veia de Arte, então a fazer percurso em Itália, França e Portugal, sem ter abdicado da visão programática do Concílio em referência.

Há como que duas composições na mesma iconografia ou, quiçá, duas faces da mesma moeda. A parte central e superior rejubila de alegria e Esperança com o foco nas Esperanças da Virgem Conceição e nos felizes anjos; enquanto a parte inferior contém elementos considerados perniciosos, ou informativos; não obstante a Senhora Virgem ter sob controlo, debaixo dos seus pés, os referidos elementos.

Há uma carga simbólica adjacente à figuração, para lá da aparente simplicidade do primeiro olhar e da nobreza das cores.

Segundo as fontes da História d`Arte, Religião e Mentalidades tudo parece indicar que existe um mundo intermédio correspondente ao da Virgem e da Terra (planeta solar) onde a mesma Virgem concebe e dá à luz o Salvador. Porém, há ainda um estrato inferir na Terra onde existem perigos e tentações; terreno de “anjos caídos”, orgulhosamente auto comparados ao Altíssimo.

Não obstante a alegria de sermos contemplados por um Salvador, devemos estar vigilantes porque não se sabe; nem o dia, nem a hora em que seremos chamados para prestação de contas dos atos de que somos responsáveis.

A composição revela função didática, numa altura em que os murais das igrejas eram o écran por excelência; um denominador artístico, com interesse na contemporaneidade para avaliarmos as raízes de que nossos pais e, mesmo nós, ainda somos enformados.

Fontes:

--ANCIÃES, Alfredo Ramos – “Convento dos Cardaes”. Lisboa: CICTSUL, 2003

--VÁRIA: Bíblia Sagrada. Lisboa: Difusora Bíblia (Seminários Capuchinhos), 11ª Ed., Lisboa, 1984. Temas: Anjos; Árvore do Bem e do Mal

--VIEIRA, Irmã Ana Maria; RAPOSO, Teresa et al. O Convento dos Cardaes: Veios da Memória. S.L.: Quetzal; Convento dos Cardaes, 2003

Em linha, acedidas em  28.01.2018 -

--ANCIÃES, Alfredo Ramos – “Arte e Mentalidades – Interpretando a Imagem Central do Convento dos Cardaes” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/01/arte-e-mentalidades-em-aborgagem-de.html  ...................

--WIKI.. et al. - “Anjo Caído” https://pt.wikipedia.org/wiki/Anjo_ca%C3%ADdo

-ASTROCENTRO, et al - “Quem são os Anjos Caídos – Nomes e explicações” https://www.astrocentro.com.br/blog/anjos/anjos-caidos-nomes/
.....179 AA Cumprir a Terra My Fich  Arte e Mentalidades em Abordagem Passeio a um Fratrimónio Singular .. http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/01/arte-e-mentalidades-em-aborgagem-de.html  .....

domingo, 21 de janeiro de 2018

CRISTIANO E MAXIMILIANO NOS PRIMÓRDIOS DAS TELECOMUNICAÇÕES E ELETRIFICAÇÃO DO PAÍS


Quanto aos equipamentos telefónicos, uma Companhia norte americana passa a invocar a titularidade de patentes:

«A Edison Gower Bell Telephone Company of Europe Limited unicos proprietários em Portugal das patentes [...] perseguirá judicialmente toda e qualquer pessoa que fabrique, forneça ou use quaisquer instrumentos [...]» (Diário de Notícias, 18 e 19 de Março de 1882).

Antes da concessão oficial, os telefones utilizados eram os de modelo Bell, logo modificados com melhorias, por Maximiliano Augusto Herrmann natural de Lisboa (1838-1913). Este artesão e industrial foi construtor de aparelhos de precisão, inventor e inovador, inspetor das linhas telegráficas dos Caminhos-de-Ferro; instalou alguns dos primeiros equipamentos de luz elétrica em Lisboa; frequentou a Escola do Instituto Industrial; colaborou na Escola Politécnica como formador e lecionou Física na Escola Marquês de Pombal.

Consta que Maximiliano concorreu juntamente com Cristiano ao contrato de exploração da telefonia em Portugal mas a economia liberal dos EUA, Inglaterra, Alemanha e, em parte, da França vão impor-se. A fase de tipo artesanal, por mais qualidade que tivesse, cederia perante a fabricação em série. Seguem-se os contratos de fornecimento de tecnologias e serviços, por parte de sociedades e capitais cada vez menos centrados nas pessoas e mais nas empresas de responsabilidade limitada.

Maximiliano e Cristiano não estavam preparados para esta economia, nem residiam no centro das grandes atenções, isto é, nos espaços geográficos em moda (Paris, Londres, Berlim) ou nas cidades de empreendedores e capitais da América do Norte. Eis porque a qualidade de Maximiliano, Cristiano e outros bons técnicos portugueses não fizeram negócios de monta com os seus equipamentos, invenções e inovações; sendo, porém, que algumas tecnologias foram aproveitadas no exterior sem o devido reconhecimento.

 

Da autoria de Maximiliano é o telefone seguinte:

 



001 Telefone português de Maximiliano Augusto Herrmann - modelo privilegiado

 

É igualmente de destacar o telefone inovador de Cristiano:

 

002 Telefone de Cristiano Augusto Bramão, 1879

 

Cristiano Augusto Bramão natural de Elvas (1840- +Lisboa 1881). Oficial experiente nas tecnologias de telegrafia. É chefe de estações telégrafo-postais. Destacado para a Repartição Técnica do Material, onde leciona teoria e prática de eletricidade, telegrafia e telefonia. Torna-se inovador e inventor de aparelhos telegráficos e telefónicos. O Journal Télégraphique e os Annales Télégraphiques de 1878 (Suíça e França) dão eco da sua contribuição no evento universal. A Direcção-Geral dos Telégrafos Portugueses recebeu pelo seu trabalho um Diploma de Honra equivalente a uma Grande Medalha pela presença na Grande Exposição Universal de Paris, de 1878. Ali foi apresentado um telégrafo inovador, entre várias outras peças.

 


003 Telégrafo de Cristiano Augusto Bramão

 

Cristiano teve como colaborador o técnico e construtor Maximiliano Augusto Herrmann. Ambos fizeram uma dupla interessante do ponto de vista qualitativo de equipamentos. Contudo os tempos já haviam mudado e são as grandes empresas com os capitais competitivos que vão vencer, expandindo os novos negócios e tecnologias.

É de notar que Portugal, no último quartel do século XIX, andava ocupado e fragilizado com a questão de África. A intensão de unir a costa ocidental atlântica, nomeadamente Angola, com a contracosta - Moçambique e os países vizinhos, no Índico, estava na mente e nas pretensões dos britânicos. Assim, para travar estas ambições, seguidas por outras, de países europeus, sem tradição naquelas geografias, impunha-se o desbravamento e o conhecimento dos territórios.

As crises relacionadas com o “Ultimato” e a míngua de capitais, iriam desembocar na queda do regime monárquico, absorvendo os Governos e os portugueses deixando-os fragilizados para os negócios.

Verifica-se que não são sempre os melhores equipamentos e as melhores ideias que entram ao serviço. São o misto de tecnologias das empresas que conseguem impor-se no registo de patentes (ideias, por vezes, gratuitamente copiadas, ou compradas). É a Era do desenvolvimento dos grandes países, sobretudo do hemisfério nórdico. A telefonia em Portugal vai evoluir mas não tão rapidamente como acontecera com a telegrafia.

Apesar de tudo, a arquivologia, a biblioteconomia e a museologia guardam e demonstram uma interessante história das tecnologias em Portugal. Não chegámos, porém, ao fabrico de material em série, capaz de fornecer as necessidades internas e a de potenciais compradores no exterior. Eis, em nosso entender, uma outra razão, porque o liberalismo económico falhou. Apostar no alheio não foi a melhor opção para desenvolver Portugal.

 

Palavras-chave: Cristiano Augusto Bramão, História, liberalismo económico, Maximiliano Augusto Herrmann, Portugal, tecnologias, telecomunicações,

 

Fontes:

-ANCIÃES, Alfredo Ramos – Para-Guião Expo` Permanente. Secção Patrimonial de Telecomunicações. Lisboa: FPC Património Museológico, 2001 (Policopiado)

-MUSEU dos CTT et al. Bramão e Outros Inventores Portugueses no Museu dos CTT / TLP. Exposição Comemorativa do 1º Centenário do Telefone Bramão 1879-1979. Lisboa: CTT / Nova Gráfica, Ldª, 1979

-PORTUGAL, AG-CTT - Administração-Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones. Concessão do Serviço Telefónico, 1879 a 1901 - 1955

-SERRÃO, Joaquim Veríssimo – História de Portugal, vol. IX (O Terceiro Liberalismo – 1851-1890). Lisboa: Verbo, p.239-241

Periódicos -

-Boletim Telegrapgho-Postal, nº 17, maio, 1895

-Diario de Noticias, 21 jan; 10 e 11 fevereiro, 18-19 março; 23-29 abril; 2-6 maio 1882

-O António Maria, 2 agosto, 1883

-O Comercio do Porto, 1 julho 1882

-O Século, 20 abril; 6-7, julho, 1882;

Em linha -

-RUANO, António Lisboa - "O Mapa Cor-de-Rosa e o Ultimato Inglês". Lisboa: RTP, 1973 in http://ensina.rtp.pt/artigo/ultimato-ingles/

Imagens gentileza -

001 Grupo de Trabalhadores, Célula do PCP ;

002 e 003 Fundação Portuguesa das Comunicações

178 AA Cumprir a Terra My Fich CRISTIANO E MAXIMILIANO NOS PRIMÓRDIOS DAS TELECOMUNICAÇÕES E ELETRIFICAÇÃO DO PAÍS

sábado, 6 de janeiro de 2018

OS PRIMEIROS COMUTADORES E CENTRAIS TELEFÓNICAS EM PORTUGAL


(Imagem do Grupo de Telefonistas do Porto. Cª finais séc. XIX, cortesia Fundação Portuguesa das Comunicações)

Um novo serviço público de telecomunicações começa a ser disponibilizado a partir de 1882. O telefone é apresentado como uma nova tecnologia e ganha adeptos pelas suas valências inovadoras: É um meio de comunicação mais intimista e mais informal em relação ao telégrafo. As conversações não precisam ser previamente concebidas e escritas. Os interlocutores comunicam mais rapidamente, em direto e em tempo real.

A licença de atribuição e exploração das redes oficiais, foi atribuída pelo Governo à Companhia –The Edison Gower Bell Telephone of Europe. Em Lisboa a inauguração das centrais telefónicas tem efeito a 26 de abril e no Porto a 1 de julho do mesmo ano de 1882. Cinco anos após, a The Edison Gower Bell Telephone of Europe é comprada pela The Anglo-Portuguese Telephone Company que passa a explorar as redes. Mantém o nome em inglês porque as tecnologias e os capitais são essencialmente ingleses, porém começa a tendência de um maior envolvimento do Governo e dos técnicos portugueses.

É de destacar que antes da inauguração de 1882 já havia centenas de telefones a funcionar em linhas privadas. Considerados à margem da Lei. A Companhia dos telefones – The Edison Gower Bell Telephone Company of Europe Limited, faz publicar anúncios em jornais diários:

«[A] concessionaria das redes telephonicas chama a attenção do respeitavel publico para o facto de que [...] a collocação, e uso de todos os fios para transmissão de correspondência pelo meio da eletricidade (como são os fios telegraphicos e telephonicos), é por lei, em Portugal, monopolio do governo e que só por especial auctorização ou concessão do mesmo é permitido fazel-o. Esta companhia portanto recomenda particularmente ao publico e no reciproco interesse de ambos que se acautele o não infringir a lei, pois assim não incorrerá nas penalidades que a mesma lei impõe.

(Escriptorio da Companhia, rua Nova do Carmo, 90»  in Diário de Notícias, 10 e 11 de Fevereiro de 1882)
Palavras-chave: centrais, comutação, História, Portugal, telecomunicações, telefoniaVeja também:
--[Para Uma História da Ciência e Tecnologias de Telecomunicações:]  https://www.youtube.com/watch?v=8_h4B1PNVyM 
--[Fabricação e preparação de fibra ótica submarina] https://www.youtube.com/watch?v=ZkOILB8dU9E ;
--Lançamento de cabo submarino: https://www.youtube.com/watch?v=MKmJrDs0nnk ;
https://www.youtube.com/watch?v=rJqLL4Pj8cQ ;
--«História do Telefone Celular» in https://www.youtube.com/watch?v=yjiB_Yw05RE ;
--[Redes Globais de Cabos] https://www.youtube.com/watch?v=8_h4B1PNVyM&feature=share
Cumprimentos patrimoniais e fratrimoniais AA
177 AA Cumprir a Terra My FICH “ Os Primeiros Comutadores e Centrais Telefónicas em Portugal ”