Quanto aos equipamentos telefónicos, uma
Companhia norte americana passa a invocar a titularidade de patentes:
«A Edison Gower Bell Telephone Company of Europe Limited unicos
proprietários em Portugal das patentes [...] perseguirá judicialmente toda e
qualquer pessoa que fabrique, forneça ou use quaisquer instrumentos [...]» (Diário de Notícias, 18 e 19 de Março
de 1882).
Antes da concessão oficial, os
telefones utilizados eram os de modelo Bell, logo modificados com melhorias,
por Maximiliano Augusto Herrmann natural de Lisboa (1838-1913). Este artesão e
industrial foi construtor de aparelhos de precisão, inventor e inovador,
inspetor das linhas telegráficas dos Caminhos-de-Ferro; instalou alguns dos
primeiros equipamentos de luz elétrica em Lisboa; frequentou a Escola do
Instituto Industrial; colaborou na Escola Politécnica como formador e lecionou
Física na Escola Marquês de Pombal.
Consta que Maximiliano concorreu
juntamente com Cristiano ao contrato de exploração da telefonia em Portugal mas
a economia liberal dos EUA, Inglaterra, Alemanha e, em parte, da França vão
impor-se. A fase de tipo artesanal, por mais qualidade que tivesse, cederia
perante a fabricação em série. Seguem-se os contratos de fornecimento de tecnologias
e serviços, por parte de sociedades e capitais cada vez menos centrados nas
pessoas e mais nas empresas de responsabilidade limitada.
Maximiliano e Cristiano não estavam
preparados para esta economia, nem residiam no centro das grandes atenções,
isto é, nos espaços geográficos em moda (Paris, Londres, Berlim) ou nas cidades
de empreendedores e capitais da América do Norte. Eis porque a qualidade de
Maximiliano, Cristiano e outros bons técnicos portugueses não fizeram negócios de
monta com os seus equipamentos, invenções e inovações; sendo, porém, que
algumas tecnologias foram aproveitadas no exterior sem o devido reconhecimento.
Da autoria de Maximiliano é o telefone
seguinte:
001 Telefone
português de Maximiliano Augusto Herrmann - modelo privilegiado
É igualmente de destacar o telefone inovador
de Cristiano:
002 Telefone
de Cristiano Augusto Bramão, 1879
Cristiano Augusto Bramão natural de
Elvas (1840- +Lisboa 1881). Oficial experiente nas tecnologias de telegrafia. É
chefe de estações telégrafo-postais. Destacado para a Repartição Técnica do
Material, onde leciona teoria e prática de eletricidade, telegrafia e
telefonia. Torna-se inovador e inventor de aparelhos telegráficos e
telefónicos. O Journal Télégraphique e os
Annales Télégraphiques de 1878 (Suíça e França) dão eco da sua contribuição
no evento universal. A Direcção-Geral dos
Telégrafos Portugueses recebeu pelo seu trabalho um Diploma de Honra equivalente a uma Grande Medalha pela presença na Grande
Exposição Universal de Paris, de 1878. Ali foi apresentado um telégrafo
inovador, entre várias outras peças.
003 Telégrafo
de Cristiano Augusto Bramão
Cristiano teve como colaborador o técnico e
construtor Maximiliano Augusto Herrmann. Ambos fizeram uma dupla interessante
do ponto de vista qualitativo de equipamentos. Contudo os tempos já haviam
mudado e são as grandes empresas com os capitais competitivos que vão vencer,
expandindo os novos negócios e tecnologias.
É de notar que Portugal, no último quartel
do século XIX, andava ocupado e fragilizado com a questão de África. A intensão
de unir a costa ocidental atlântica, nomeadamente Angola, com a contracosta -
Moçambique e os países vizinhos, no Índico, estava na mente e nas pretensões
dos britânicos. Assim, para travar estas ambições, seguidas por outras, de
países europeus, sem tradição naquelas geografias, impunha-se o
desbravamento e o conhecimento dos territórios.
As crises relacionadas com o
“Ultimato” e a míngua de capitais, iriam desembocar na queda do regime monárquico,
absorvendo os Governos e os portugueses deixando-os fragilizados para os
negócios.
Verifica-se que não são sempre os
melhores equipamentos e as melhores ideias que entram ao serviço. São o misto de
tecnologias das empresas que conseguem impor-se no registo de patentes (ideias,
por vezes, gratuitamente copiadas, ou compradas). É a Era do desenvolvimento dos
grandes países, sobretudo do hemisfério nórdico. A telefonia em Portugal
vai evoluir mas não tão rapidamente como acontecera com a telegrafia.
Apesar de tudo, a arquivologia, a biblioteconomia
e a museologia guardam e demonstram uma interessante história das
tecnologias em Portugal. Não chegámos, porém, ao fabrico de material em série, capaz de
fornecer as necessidades internas e a de potenciais compradores no exterior. Eis,
em nosso entender, uma outra razão, porque o liberalismo económico falhou. Apostar no alheio não foi a melhor opção para desenvolver Portugal.
Palavras-chave: Cristiano Augusto Bramão,
História, liberalismo económico, Maximiliano Augusto Herrmann, Portugal, tecnologias,
telecomunicações,
Fontes:
-ANCIÃES, Alfredo Ramos – Para-Guião
Expo` Permanente. Secção Patrimonial de Telecomunicações. Lisboa: FPC
Património Museológico, 2001 (Policopiado)
-MUSEU dos CTT et al. Bramão e Outros Inventores Portugueses no Museu dos CTT /
TLP. Exposição Comemorativa do 1º Centenário do Telefone Bramão 1879-1979.
Lisboa: CTT / Nova Gráfica, Ldª, 1979
-PORTUGAL, AG-CTT -
Administração-Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones. Concessão do Serviço
Telefónico, 1879 a 1901 - 1955
-SERRÃO, Joaquim Veríssimo – História
de Portugal, vol. IX (O Terceiro Liberalismo – 1851-1890). Lisboa: Verbo,
p.239-241
Periódicos -
-Boletim Telegrapgho-Postal, nº 17,
maio, 1895
-Diario de Noticias, 21 jan; 10 e 11
fevereiro, 18-19 março; 23-29 abril; 2-6 maio 1882
-O António Maria, 2 agosto, 1883
-O Comercio do Porto, 1 julho 1882
-O Século, 20 abril; 6-7, julho, 1882;
Em linha -
-RUANO, António Lisboa - "O
Mapa Cor-de-Rosa e o Ultimato Inglês". Lisboa: RTP, 1973 in http://ensina.rtp.pt/artigo/ultimato-ingles/
Imagens gentileza -
001 Grupo de Trabalhadores, Célula do
PCP ;
002 e 003 Fundação Portuguesa das
Comunicações
178 AA Cumprir a Terra My Fich CRISTIANO E MAXIMILIANO NOS PRIMÓRDIOS
DAS TELECOMUNICAÇÕES E ELETRIFICAÇÃO DO PAÍS
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