sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

121.TRINDADE: A MAIS ANTIGA FÁBRICA DE CERVEJA


No Convento da Santíssima Trindade dos Frades Trinos da Redenção dos Cativos na Rua Nova da Trindade - Lisboa.
(reconstrução de púlpito no antigo e novo local de refeições)

A construção data do século XIII, mais propriamente de 1294. Do tempo do “rei poeta e lavrador” de nome Dinis e Santa Rainha. Nesta altura já D. Dinis havia estabelecido “as pazes com os bispos portugueses, sendo a concórdia sancionada pelo papa em 1289”. Também foi este rei poeta quem instituiu o ensino da formação em Teologia na cidade olisiponense.

Daí estarem criadas as condições propícias à criação de conventos Contudo, D. Dinis estabelece regras: “As ordens religiosas são proibidas de herdar dos seus professos”;  possivelmente para evitar que se concentrem riquezas, influências e poderes excessivos em instituições religiosas. Além disso D. Dinis estabelece que tabeliães fiquem “proibidos de lavrar escrituras de venda de propriedade a religiosos.” E determina ainda as Inquirições para averiguar quais as terras indevidamente apropriadas, quer pela nobreza, quer pelo clero.

(sala no antigo refeitório dos monges. Imagem gentileza Cervejaria Trindade, desdobrável)
Estabelecidas as principais regras, mudam-se as circunstâncias. O rei e a rainha vão, eles próprios, apoiar a Ordem de Cristo, os franciscanos e várias instituições de assistência social e religiosa, incluindo a criação de um Hospital em Santarém.

É neste contexto de apoio a obras assistenciais que o Convento da Santíssima Trindade dos Frades Trinos da Redenção dos Cativos inicia a sua existência. A função desta Ordem Trinitária, onde se inclui o Convento da Trindade (designação abreviada) não se esgota na redenção dos cativos como consta na sua denominação. A Ordem, originária da localidade de Cerfroid, cerca de Paris, criada por São João da Mata e por São Félix de Valois, atua também na hospitalidade, educação, cuidados nas igrejas e evangelização.
O Convento da Trindade passa por várias provações e é, algumas vezes, destruído: Em 1704 por um incêndio; em 1755, pelo grande terramoto, seguido logo no ano imediato por novo incêndio. Finalmente, em 1834 é extinto, como muitos outros.

Parte do património posto a venda, é comprado por Manuel Garcia, industrial galego. Este empreendedor teve visão de negócio, investindo na primeira fábrica de cerveja de Portugal, no local onde já havia boémia vária, reuniões de grupos e um crescendo número de trabalhadores tipográficos, do correio geral, transportes e comércio e muitos residentes no novo Bairro Alto e Baixa - Chiado.

E a Casa – ex-Convento adquirido pelo industrial galego nunca mais fechou, até à atualidade, tornando-se social e típica. Os espaços do refeitório monacal e alguns outros adjacentes foram decorados por Francisco Ferreira (o “Ferreira das Tabuletas”) apresentando simbologia maçónica, os Quatro Elementos” terrestres, as Quatro Estações (tendo uma sido destruída).Também as imagens representantes da Indústria e do Comércio.

Maria Keil, residente por longos anos na proximidade, também foi chamada a intervir na decoração.
003 Imagem AA. decoração signo maçónico

Falta falar da cerveja e das iguarias apresentadas para este local que serve bem, sem se arvorar em formalidades, apresenta salas entre o típico popular, outras mais chiques e intimistas. As iguarias estão de acordo para uma cervejaria e a uma dieta pró mediterrânica.
E bons apetites em espaços de cultura, memória-oração e retiro.

Tags: Convento da Santíssima Trindade dos Frades Trinos da Redenção dos Cativos, Cervejaria Trindade, património decorativo, património edificado

Fontes:
TRINDADE, Cervejaria, et al. – “A História”, desdobrável s.l; s.d.
Em linha -
-BRANQUINHO Isabel – Aproximação ao Convento do Mosteiro da Santa Trindade de Santarém (1208-1500) - http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4423/3/LS_S2_13-14_IsabelBranquinho.pdf

-INÁCIO, Carlos Revez; CABRITA, Fernanda; PEREIRA, Guilherme; SILVA, José António, et al. – “Na Trindade, Nem Sempre Bom Vento, Nem Sempre Convento” in “Congresso Internacional os Trinitários e os Mercedários no Mundo Luso-Hispânico”. Lisboa, 20 a 23 de Julho, 2016 (resumos) - http://antt.dglab.gov.pt/wp-content/uploads/sites/17/2016/07/2016-07-Resumos-Cong-Trinitario.pdf

 -SILVA, Liliana; João Luís Inglês et al - Ordem da Santíssima Trindade http://fundis.cidehus.uevora.pt/fundo/373/Ordem_da_Santissima_Trindade
-WIKIMEDIA, et al https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_da_Sant%C3%ADssima_Trindade

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

120. NATAL COMUNICADO RECEBIDO / CORRESPONDIDO


Natal é quando o emissor

E o mensageiro

Transmitem o sinal



Estrela, fogo, facho, luz, farol, pombo correio,

Tabuinha, pergaminho, papiro;

Acolhido, retransmitido oral,

Gestual, manual;

Telégrafo luso visual,

Francisco Ciera,
 
Maximiliano Herrmann,

Cristiano Bramão,

Sargento Martins,

Heliógrafo.

Quiçá,

O sinal veio/virá

Por Chappe, Bréguet, Baudot, Morse,

Damaskinos, Creed, Siemens,

Telex Évora 1000,

Postal, Carteiro;
 
Telegrama, Boletineiro,

Telefone manivela,

Mensageiro.

Bateria local,

Energia de central,

Vigia, recetor, emissor.

 iPad, iPhone, Smartphone,

Tablet de última geração,

Conversão,

Pombas mensageiras,

Não importa a tecnologia,

Se a PAZ desejamos

Hoje é o DIA.

Tags: Natal, tecnologia, telecomunicação, mensageiro

Fontes:

-ANCIÃES, Alfredo Ramos ; FPC Fundação Portuguesa das Comunicações: Património Museológico – Expo Sesquicentenário da Telegrafia Eléctrica em Portugal. Lisboa: FPC, 2005

-Id. 150 Anos de Peças e Autores de Telegrafia Eléctrica na Expo Sesquicentenário da Telegrafia Eléctrica em Portugal, 2005

-Id. Dossier de Telegrafia Ótica/Visual in FPC Fundação Portuguesa das Comunicações: Património Museologico, 1997-2006

–Id Da História das Telecomunicações na I República in Comunicar na República: 100 Anos de Inovação e Tecnologia. Lisboa: FPC - Fundação Portuguesa das Comunicações, 2010

 Documentos em linha acedidos em 28.12.2014:

 
-Cor. AFONSO, Aniceto; Mgen. ALVES, C.; Cor. CANAVILHAS, J. Manuel; Cor. DIAS, Jorge; Cor. ALVES, J. Martins; Mgen. CASTRO, Pinto de; Cor. FERNANDES, M. da Cruz; 1Sarg. SILVA - Heliógrafo Português in https://historiadastransmissoes.wordpress.com/2013/04/16/heliografo-portugues-m938/ luso

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016


119. LIGAR OU RELIGAR EM NOVOS TEMPOS

O título deste artigo deriva do latim “religio” que significará voltar a ligar ou religar e religião. Segundo a “ciência” dos positivistas (1) parece não haver transcendência no que toca ao género humano e ao cosmos (2); na época pós-moderna os cientistas admitem que quanto mais portas se abrem nas investigações, outras mais se apresentam para abrir; quer isto dizer que foi perdida a arrogância “científica” dos finais do século XIX e inícios do XXº.

Se interpretarmos a vida como uma sequência de fases entre nascimento, evolução e morte, teremos uma explicação simplista da existência e da evolução, porém, a maioria dos seres humanos parece não se satisfazer com a hipótese da vida poder ser apenas uma sequência simples de três estádios evolutivos. Daí que, de uma forma geral, quanto mais evoluímos mais questões colocamos. Não nos contentamos com explicações simples e redutoras e, por isso, continuamos à procura de significados; o bem, o mal, a existência, a religião e a transcendência.

À medida que o mal evolui as sociedades procuram o equilíbrio no bem, condenando aquele, corrigindo comportamentos iníquos e ilegítimos, recorrendo à religião e à Lei. Não é por acaso que às antigas Escrituras correspondentes ao Antigo Testamento e à Tora se chama Lei; e o Corão contém um conjunto de Normas e Leis.

Na vida civil e democrática existem conjuntos de leis, a começar pelas Constituições. Contudo percebemos que a Constituição ou Carta Magna não é suficiente para a ordem pública e a eliminação das desigualdades. Segundo a “Lei do pêndulo” (3) o comportamento humano oscila entre uma situação de religiosidade ou teísmo e a situação oposta, isto é, de ateísmo. Numa situação intermédia há um período de abrandamento de crenças. Por vezes chama-se a esse posicionamento uma atitude agnóstica.

A teoria do pêndulo induz-nos a pensar que, a uma situação de grande religiosidade, sucede o enfraquecimento, o descrédito até cair para o lado da incredulidade ou mesmo de oposição que pode ser ostensiva, dos que se tornaram ateus, sobre os que praticam uma religião. Acontece que o ser humano ainda não conseguiu uma forma de vivência baseada na justiça social; daí a procura de consolos na religião, como uma forma de voltar a ligar o que outrora se desligou pela ganância do ter e desrespeito pelo semelhante como forma de violação da “Lei divina”. (4)

Não será por acaso que após as crises mundiais dos mundos, capitalista e socialista, há quem interprete que estamos atualmente no dealbar da “Terceira Igreja” de que fala Frei Bento Domingos (5). A educação é a esfera social/cultural que mais tempo leva a ser interiorizada e assumida, daí que não é de estranhar o tempo de crises atuais, religiosas e económicas/financeiras, motivo que nos leva a crer que, pela mesma teoria do pêndulo, esta se encontra próxima da posição superior/negativa, não podendo quedar-se neste ponto.

 O advento da “III Igreja” e de um Papa que está a revelar-se próximo dos cidadãos (Leigos, na expressão tradicional da Igreja) irá provocar mudanças no seio do papado e das estruturas eclesiais, como também a nível social; esperamos que também ocorram boas notícias na economia e na finança.

«Esta economia mata». A expressão pode ser encontrada na “Alegria do Evangelho” (Evangeli Gaudium), 53 do Papa Francisco, uma das expressões que mais tem sido divulgada, após a eleição do Papa e publicação da exortação apostólica: «Por conseguinte, ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocuparmos com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos preocuparmos com os acontecimentos que interessam aos cidadãos […]». (7).

Se estivermos atentos às novas publicações biblioteconómicas e jornalísticas encontramos uma grande procura pela divulgação do pensamento de Francisco I que, para lá da sua se baseia em precursores. Digamos que Francisco veio expor a mensagem com frescura, coragem, resiliência, inovação e frontalidade. Se interpretarmos o tempo ou a História como um tempo estrutural de longa duração, verificamos que o “Advento da Terceira Igreja” não é um fenómeno exclusivo deste novo Papa, embora ele tenha imprimido uma novidade e aceleração do processo, incluído um retomar da Rerum Novarum.

(8). Este marco da DSI – Doutrina Social da Igreja, levado à letra teria evitado crises e revoluções nos países. Logo, a posição, a insistência e a inovação por parte do Papa Francisco corresponde no fenómeno religioso a um reforço e readaptação da mensagem para voltar a ligar o equilíbrio que se perdeu. Será, porventura, o tempo de retoma do diálogo, consciencialização e luta, esperemos que justa e pacífica.

Tags: Doutrina Social da Igreja, Economia Social, Evangelho, Papa Francisco, Religião.
………………………..

(1) Sistema filosófico de que Augusto Comte foi o principal impulsionador, baseado em  factos e experiências. Exclui a metafísica e o sobrenatural.
(2) «A partir da renascença scientifica do seculo XV, o espirito humano recebeu um alimento abundante e fortificante. A educação do espirito humano, começada anteriormente pelos gregos, tinha sido interrompida por um tempo de estacionamento, um longo sommno intelectual de quatorze seculos. Onde se origina esse tempo de estacionamento? Não procurarei aqui sabel-o, ainda que a causa d`ele seja evidente para quem conhece a historia real e não essa outra historia fabricada intencionalmente pelos theologos e philosophos». (cf. O Homem segundo a Sciencia / Luiz Büchner. Porto: Livraria Chardron de Lelo & Irmão, Ldª, 1912, p.2.- o texto original data de Darmstadt, maio, 1869).
(3) Cf. “Lei do Pêndulo” pelo Prof. Maurício da Silva in http://www.agsaw.com.br/2012cp20.html, acedido em 23.12.2013)
(4) Cf. “Lei Divina e Leis Morais” in http://pt.wikipedia.org/wiki/Leis_morais, acedido em 23.12.2013.
(5) Sobre a “Terceira Igreja” Por cf. Jornal “O Público” de  15.12.2013, disponível também em http://www.publico.pt/sociedade/noticia/o-advento-da-terceira-igreja-1616280, acedido em 25.12.2013.
(6) Papa Francisco – A Alegria do Evangelho: Exortação Apostólica Evangeli Gaudium. Prior Velho: Paulinas Editora, 183.
(7) “Das Coisas Novas”, encíclica do Papa Leão XIII, 1891), sobre as condições das classes trabalhadoras (cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Rerum_Novarum, acedido em 25.12.2013.
Fontes:
-LEÃO XIII, Papa – Rerum Novarum. Vaticano: 1891

Em linha -
-DOMINGOS, Frei Bento – “O Advento da Terceira Igreja” https://www.publico.pt/2013/12/15/sociedade/noticia/o-advento-da-terceira-igreja-1616280

-SILVA, Maurício da - Lei do Pêndulo http://www.agsaw.com.br/2012cp20.html
-WIKIMEDIA, et al – “Classes Trabalhadoras”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_trabalhadora

--------------  “Leis Morais” https://pt.wikipedia.org/wiki/Leis_morais

domingo, 25 de dezembro de 2016


118. PATRIMÓNIOS E FRATRIMÓNIOS NA COLINA DE SÃO ROQUE
Imagem do logótipo. O fundo do escudo a vermelho, significará vida, o cão com um pão na boca representa a imagem ligada a S. Roque trazendo alimento aos que sofrem de peste e iniquidades. O bastão e a cabaça significam o amparo e a prossecução da viagem / peregrinação. A coroa e a pomba são características da devoção ao Espírito Santo com a presença do ágape eucarístico.
(Gentileza da imagem: PINTO, Helena Gonçalves et al. “Símbolos” https://www.irmandadesaoroque.pt/instituicao/simbolos#ler-mais )

Tudo parece indicar que a Igreja de São Roque, localizada na Trindade / Bairro Alto foi construída sobre antigos alicerces do cemitério dos pestíferos ou da Ermida deste orago.

Quer a Ermida, quer a Igreja foram erguidas em louvor de S. Roque, como premonição contra as pestes em épocas de misérias mil e inexistência de medicinas preventivas.

Para lá da colina de São Roque, na Trindade / Bairro Alto por onde este orago entrou em Portugal, o santo natural de Montpellier - França é venerado em várias localidades da lusofonia, ou levado pelos portugueses. Exemplo: em Abrigada - Alenquer, Açores, Braga, Brasil, Castelo de Vide, Funchal, Goa, Marelim - São Paio - Penafiel, entre tantas outras localidades.

As irmandades religiosas, instituídas a partir da Idade Média para apoio aos deserdados da vida, ou caídos em desgraça por circunstâncias de guerra ou outras, foram uma ajuda essencial para minorar as misérias.

Atualmente e, não obstante, a criação das Organizações de assistência social no âmbito do Estado, dos Seguros e dos Sindicatos, para os quais se descontam quotizações, continua a haver razões para a renovação destas irmandades religiosas, até porque, como consta na “Coluna do irmão provedor” – Notícias da Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa, 2106: “Falta […], estudar a outra parte do Homem, a mais difícil: o seu Espírito […]. No alto das experiências desta Irmandade, afirma-se na mesma “Coluna do Provedor” que:

“A nossa irmandade acompanhou esta evolução nos últimos cinco séculos” e por razões históricas, que são do conhecimento comum, o mesmo Provedor diz-nos que:

“A Irmandade chegou ao IIIº Milénio tão enfraquecida quanto as demais instituições religiosas.[…]”. Contudo:

“Em 2004, um grupo de Irmãos tomou-a nos braços e soergueu-a da letargia em que se encontrava”. (V. Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa, et al -  “A Tragédia do Mundo e a Nossa irmandade” in boletim Notícias da Irmandade, 2016.  
A fachada da igreja de São Roque é simples, mesmo austera, racional, maneirista, portuguesa e jesuítica. Contrasta com o interior barroco na tradição do concílio de Trento (1545-1563) a fim de provocar exaltação no auditório, como reforma ou reação às críticas protestantes, como são exemplo a interposição das 95 teses de Lutero.

O interior é constituído por nove capelas:

1)-Capela Mor, onde figura em plano superior a pintura de Cristo Salvador do Mundo e no plano inferir/central figura a escultura de madeira de São francisco Xavier; executada na primeira metade do século XVII;

2)-Capela de São João Batista.
Retábulo Principal da Capela de São João Batista na Igreja de São Roque

Atestando a importância desta capela afirma-se que o museu local abriu em 1905; estamos ainda na capicua de 111 anos com a designação de Museu do Thesouro da Capela de São João Baptista.

Nesta designação museológica verifico que se tomou a parte pelo todo. Sendo que o todo é o conjunto da Igreja de São Roque, as capelas com as suas irmandades e a antiga Casa Professa da Companhia de Jesus que usou estas instalações.

Esta Capela de São João Batista, mandada executar em Itália por D. João V, foi pré-inaugurada / consagrada pelo Papa Bento XIV em Roma; novamente desmontada e transportada, pedra por pedra, para Lisboa em três naus. Conjuntamente vinham dezenas de alfaias, peças de ourivesaria e ornamentos.

O projeto e a execução foram de Luigi Vanvitelli e Nicola Salvi (1742-1747). Contudo os trabalhos foram acompanhados, mesmo à distância; alterados por D. João V e pelo arquiteto e ourives João Frederico Ludovice, de naturalidade alemã que adotou Portugal como seu país. Em Portugal, Ludovice deixou descendência, amizades com a família real (D. Pedro II, D. João V e D. José), bem como obra vária, inclusivamente no Paço da Ribeira e no Convento de Mafra;
3)-Capela de Nossa Senhora da Doutrina, ou de Santa Ana, mãe de Maria, ligada à confraria do mesmo nome, executada na primeira metade do séc. XVII;

4)-Capela de São Francisco Xavier, o principal jesuíta enviado por D. João III para o Oriente. Esta capela foi patrocinada por António Gomes de Elvas, da família de mercadores e detentores do Ofício de Correio Mor do Reino; executada na primeira metade do século XVII;

5)-Capela de São Roque, orago da ex-Ermida e da atual Igreja. Tem como figura central a escultura de São Roque; executada na segunda metade do século XVI;
6)-Capela do Santíssimo Sacramento, ou de Nossa Senhora da Conceição, patrocinada por Luísa Fróis, benemérita dos Jesuítas;

7)-Capela de Nossa Senhora da Piedade. Patrocinada pelo escrivão de D. Sebastião, Martim Gonçalves da Câmara, onde se encontra sepultado. Esteve ao cuidado da Irmandade de Nossa Senhora da Piedade. Data da segunda metade do século XVII, terminada em 1711. Tem como figura central a escultura de uma Pietá;

8)-Capela de Santo António. Patrocinada por Pedro Machado de Brito, com indicação de que deveria servir para sua sepultura e descendentes. Tem como figura central a escultura de Santo António com o menino. Data da segunda metade do século XVII;

9)-Capela da Sagrada Família. Patrocinada pela Congregação de Amor e Graça dos Nobres. Data da primeira metade do século XVII.

Tags: Bairro Alto, Trindade, irmandades, jesuítas, maneirismo, barroco

Fontes:

-BRITO, Maria Filomena, et al – Igreja de São Roque. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia, 2008

-MANTAS, Helena Alexandra Soares, et al – Museu de São Roque. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia, 2008

Em linha, acedidas em 22.12.2016

ANCIÃES, Alfredo Ramos – “Bairro Alto – Sétima Colina Curiosidades” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/12/115-bairro-alto-setima-colina.html

-CANELAS, Lucinda - “D. João V quis um Vaticano em Lisboa” https://www.publico.pt/culturaipsilon/jornal/d-joao-v-quis-um-va-ticano-em-lisboa-26550701

-COUTINHO, Maria João Pereira; FERREIRA, Sílvia - “As irmandades da Igreja de São Roque […]”  file:///C:/Users/Utilizador/AppData/Local/Microsoft/Windows/INetCache/IE/1ECY7F6B/4587-1-15164-1-10-20140717.pdf

-GUEDES, José Benard, PINTO; Helena Gonçalves et al. “Símbolos” https://www.irmandadesaoroque.pt/instituicao/simbolos#ler-mais

-MORNA, Teresa Freitas - Lisboa: Capela de São João Baptista revela esplendor - http://www.agencia.ecclesia.pt/noticias/dossier/lisboa-capela-de-sao-joao-baptista-revela-esplendor/

-PENTEADO, Pedro – “Confrarias Portuguesas […]” http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4930/1/LS_S2_07_PedroPenteado.pdf 

-PINTO, Helena Gonçalves – “Irmandade da Misericórdia e de São Roque” https://www.irmandadesaoroque.pt/patrimonio/historia/as-festas-em-honra-de-sao-roque/49-as-festas-em-honra-de-sao-roque 

-SANTA CASA da Misericórdia, et al. - “Santa Casa Da Misericórdia: A Fundação da Irmandade” http://www.scms.pt/index.php/a-irmandade.html

-SUA PESQUISA.com, et al - “Concílio de Trento” http://www.suapesquisa.com/resumos/concilio_trento.htm  

-WIKIMEDIA, et al - “Confraria Religiosa” https://pt.wikipedia.org/wiki/Confraria

sábado, 24 de dezembro de 2016

NATAL EM PENEDONO - TERRAS DE MAGRIÇO E DO DEMO

 

Imagem in sítio C.M.Penedono
Com a vinda de Jesus
Haja paz, haja alegria
Cubra-se o Mundo de luz
Com mil raios de poesia.
 .................................................................
Extrato do poema “Vai Nascer [nasceu] o Menino”. Autoria de Rama Lyon.
Terras de Magriço e do Demo in Progresso de Penedono,
nº 180, 16 dezembro 2016.
Não é hábito editar ou reeditar trabalhos de outrem, contudo há exceções.
A obra deste autor e o Concelho de Penedono merecem ser divulgados.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

117. PORTUGALIDADE: RELAÇÃO COM PATRIMÓNIOS CULTURAIS E ASSISTENCIAIS

Quando D. Afonso Henriques chega a Lisboa, em 1 de julho de 1147, o rei tem já importantes feitos na sua história, em prol de um reino independente, fora da órbita leonesa de pendor centralista.
Reconstituição imagem com assinatura do Tratado de Zamora in TORRÃO, Cristina -  http://andancasmedievais.blogspot.pt/2011/05/tratado-de-zamora.html
Afonso nasce no ano de 1109. Não se sabe ao certo se viu a primeira luz do dia em Guimarães, em Coimbra ou em Viseu. Morre em 1185 com a proveta idade de 76 anos, caso raríssimo na época. Os seus restos mortais encontram-se na igreja do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

Perde o pai aos três anos de idade. Porém, tudo indica que, desde o berço, sempre fora criado e educado na casa de Egas Moniz, senhor nas terras de Riba Douro e rico-homem que esteve, de alma e coração, a favor da independência de Portugal. Há mesmo algumas teses que consideram Afonso Henriques como sendo filho natural de Egas Moniz.
Segundo algumas memórias documentais, o futuro rei foi criado com o sentimento genuíno das terras portucalenses, sem que o coração hesitasse entre estas terras e as do reino de Leão de onde era natural a mãe de Afonso Henriques.

Aos 14 anos de idade arma-se, a ele próprio, cavaleiro numa atitude de quem não deseja esperar, pelo que a normalidade da vida lhe destinaria, isto é, ser conde, certinho e direitinho, dependente de seu primo Afonso VII e do reino de Leão.
Assim, Afonso Henriques corta com esta normalidade para se tornar independente e, consigo, as terras portucalenses, alargando-as para sul, pela faixa ou orla atlântica.

Entre os vários marcos da sua vida contam-se a batalha contra o partido da sua própria mãe, em São Mamede (1128) ainda com o intuito de se afastar do reino de Leão e da influência do nobre Fernão Peres de Trava, amigo ou amante da condessa D. Teresa, sua mãe.
Certo era que a dupla D. Teresa e o amigo Trava se distanciam da tradicional para-nação de raiz atlântica, ou “Extrímnica”, também dita “Ora Marítima” pelos gregos e romanos (cf. “Ora Marítima” de Rufo Festo Avieno)

Em 1131 Afonso Henriques sobe a Galiza e enfrenta as tropas do seu primo Afonso VII na Batalha de Cerneja, servindo como aviso: de coragem, e organização, tendo Afonso Henriques e as suas tropas portucalenses saído vencedoras.
Perante as insistências de retaliação do seu primo Afonso VII em amarrar Afonso Henriques à vassalagem e dependência, acordam ambos em fazer um torneio em Arcos de Valdevez (1137) para, desta feita, poupar tropas e desastres de guerra maior. Selecionam-se cavaleiros das duas fações (de Afonso Henriques e Afonso VII). Uma vez mais ganha Afonso Henriques.
 
Em Ourique (1139) vence os reis mouros (de Sevilha; Badajoz; Évora; Beja e de Santarém ou de Elvas). Pensa-se inclusive que as cinco quinas na iconografia da bandeira nacional são uma evocação da vitória contra estes cinco reis. A partir deste momento, Afonso Henriques assume com toda a convicção o título de rei.
O 25 de outubro de1143 culmina no sentimento para-nacional portucalense com o Tratado de Zamora onde Afonso Henriques é oficialmente reconhecido como rei perante uma testemunha chave - o cardeal Guido de Vico. (Vide imagem supra).
Segue-se o processo da reconquista aos mouros. Depois da conquista de várias localidades para sul do Rio Mondego, surge a vez de Lisboa.
Entre muitas táticas e negociações para obter apoios, conta-se a ajuda do bispo do Porto que, a pedido de Afonso Henriques, tenta convencer os cruzados vindos do norte em direção à Terra Santa, participando na conquista da cidade olisiponense, dita das sete colinas ou do estuário do Tejo.
A reconquista de Lisboa, apenas por tropas portuguesas, não era nada fácil, pois os mouros ocupavam a Península Ibérica havia mais de 400 anos.
Como bom estratega Afonso Henriques não compromete os seus 7000 seguidores numa batalha contra 15.000 da parte moura, que contavam ademais com uma cerca, considerada quase inexpugnável e com muitos bens armazenados.

Afonso Henriques estabelece conversações com o bispo do Porto, contando com a sua capacidade persuasiva de envolver os chamados cruzados: ingleses, alemães, francos e flamengos, entre outros, recém chegados à Foz do Douro, em número que rondava os 13.000 combatentes.
Dirigiam-se em mais de 160 navios para a Terra Santa, a fim de a libertarem dos turcos, precursores do Império Otomano, que haviam tomado Jerusalém; cidade entretanto limitada/cerceada de liberdades e da visita de peregrinos. Contudo, para lá deste ideal de libertação, verificou-se que os espólios de guerra foram, na altura, motivos conducentes à guerra, quer entre cristãos, quer entre muçulmanos.

O bispo do Porto não terá convencido convenientemente os cruzados na reconquista de Lisboa, de modo que tem de ser o próprio Afonso Henriques nas imediações da cidade da luz e do estuário do Tejo a renegociar o envolvimento e colaboração dos cruzados. Porém, os acordos verbais, a autoridade e a disciplina não se mostraram totalmente eficientes.
Imagem da torre de assalto a Lisboa, 1147. Reconstituição de Roque Gameiro in http://portugalglorioso.blogspot.com/2014/10/25-de-outubro-de-1147-dafonso-henriques.html

Há relatos de incumprimentos da parte de vários elementos dos cruzados no que toca aos espólios e à clemência e proteção perante os vencidos.
Estes procedimentos resultantes da guerra terão contribuído, desde cedo, para a ideia de que era necessária uma instituição capaz de dar apoio aos espoliados, aos caídos em desgraça e aos cativos.

Segundo relatos coevos Afonso Henriques foi contrariado por vários cruzados que inclusivamente chacinaram moçárabes, isto é cristãos que desde as conquistas mouriscas viviam entre a comunidade muçulmana.

Ainda no ano da conquista da cidade, em 1147, Afonso Henriques contribui para a fundação do Mosteiro de São Vicente de Fora, seguiu-se a edificação da Sé de Lisboa; a Ermida de Nossa Senhora dos Mártires (ao Chiado) datada dos primeiros tempos após conquista da cidade, e a reconstrução do templo em honra dos santos mártires de Lisboa (Máxima, Júlia e Veríssimo) em Santos-o-Velho.
A ideia da criação da Ordem da Santíssima Trindade do Resgate (ou da Redenção) dos Cativos, que deu o nome à zona da Trindade, junto ao Bairro Alto terá surgido logo após o início da reconquista e visava o resgate e apoio humanitário aos que caíam na desgraça da captura dos cristãos pelos muçulmanos e, possivelmente, vice-versa.
 
No século XIII/XIV a Rainha Santa Isabel apoia, sobremaneira, os conventos assistenciais através do ágape (1), da piedade e da misericórdia através de organizações ligadas à ordem franciscana.
Estas organizações prosseguem a sua ação até ao século XIX, altura em que são extintos os conventos pelo regime liberal.
Contudo, depois da extinção destes conventos criam-se, no seu encalço e, em parte, em sua substituição, vários institutos, não só com a colaboração da Igreja, mas também com a preciosa colaboração da Santa Casa da Misericórdia.
Hoje em dia, estas instituições continuam a ser fundamentais para a ajuda à coesão social e a uma sociedade de vida com menos desigualdades.
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(1) Do grego, “amor, doação incondicional”. Esta forma de doação foi especialmente exercida em nome da devoção ao Espírito Santo, ou Santo Espírito, onde: franciscanos, o frei Joaquim de Fiore, a rainha santa Isabel de Portugal e seu marido, d. Dinis, estiveram envolvidos, pelo exemplo e por testemunhos que passaram para a posteridade, com exemplos e práticas de fratrimónios e patrimónios.
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Fontes:

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AMARAL, Domingos – D. Afonso Henriques: Assim Nasceu Portugal II. Alfragide: Casa das Letras, 2016

 
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-------“Torneio de Arcos de Valdevez” https://pt.wikipedia.org/wiki/Torneio_de_Arcos_de_Valdevez