119. LIGAR OU RELIGAR EM NOVOS TEMPOS
O título
deste artigo deriva do latim “religio” que significará voltar a ligar ou
religar e religião. Segundo a “ciência” dos positivistas (1) parece não haver transcendência no
que toca ao género humano e ao cosmos (2);
na época pós-moderna os cientistas admitem que quanto mais portas se
abrem nas investigações, outras mais se apresentam para abrir; quer isto dizer
que foi perdida a arrogância “científica” dos finais do século XIX e inícios do
XXº.
Se interpretarmos a vida como uma
sequência de fases entre nascimento, evolução e morte, teremos uma explicação
simplista da existência e da evolução, porém, a maioria dos seres humanos
parece não se satisfazer com a hipótese da vida poder ser apenas uma sequência
simples de três estádios evolutivos. Daí que, de uma forma geral, quanto mais
evoluímos mais questões colocamos. Não nos contentamos com explicações simples
e redutoras e, por isso, continuamos à procura de significados; o bem, o mal, a
existência, a religião e a transcendência.
À medida que o mal evolui as
sociedades procuram o equilíbrio no bem, condenando aquele, corrigindo
comportamentos iníquos e ilegítimos, recorrendo à religião e à Lei. Não é por
acaso que às antigas Escrituras correspondentes ao Antigo Testamento e à Tora
se chama Lei; e o Corão contém um conjunto de Normas e Leis.
Na vida civil e democrática existem
conjuntos de leis, a começar pelas Constituições. Contudo percebemos que a
Constituição ou Carta Magna não é suficiente para a ordem pública e a
eliminação das desigualdades. Segundo a “Lei do pêndulo” (3) o comportamento humano oscila
entre uma situação de religiosidade ou teísmo e a situação oposta, isto é, de
ateísmo. Numa situação intermédia há um período de abrandamento de crenças. Por
vezes chama-se a esse posicionamento uma atitude agnóstica.
A teoria do pêndulo induz-nos a
pensar que, a uma situação de grande religiosidade, sucede o enfraquecimento, o
descrédito até cair para o lado da incredulidade ou mesmo de oposição que pode
ser ostensiva, dos que se tornaram ateus, sobre os que praticam uma religião.
Acontece que o ser humano ainda não conseguiu uma forma de vivência baseada na
justiça social; daí a procura de consolos na religião, como uma forma de voltar
a ligar o que outrora se desligou pela ganância do ter e desrespeito pelo
semelhante como forma de violação da “Lei divina”. (4)
Não será por acaso que após as crises mundiais
dos mundos, capitalista e socialista, há quem interprete que estamos atualmente
no dealbar da “Terceira Igreja” de que fala Frei Bento Domingos (5). A educação
é a esfera social/cultural que mais tempo leva a ser interiorizada e assumida,
daí que não é de estranhar o tempo de crises atuais, religiosas e
económicas/financeiras, motivo que nos leva a crer que, pela mesma teoria do
pêndulo, esta se encontra próxima da posição superior/negativa, não podendo
quedar-se neste ponto.
O advento da “III Igreja” e de um Papa que
está a revelar-se próximo dos cidadãos (Leigos, na expressão tradicional da
Igreja) irá provocar mudanças no seio do papado e das estruturas eclesiais,
como também a nível social; esperamos que também ocorram boas notícias na
economia e na finança.
«Esta economia mata». A expressão pode ser encontrada na
“Alegria do Evangelho” (Evangeli Gaudium), 53 do Papa Francisco, uma das
expressões que mais tem sido divulgada, após a eleição do Papa e publicação da
exortação apostólica: «Por conseguinte, ninguém pode exigir-nos que releguemos
a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na
vida social e nacional, sem nos preocuparmos com a saúde das instituições da
sociedade civil, sem nos preocuparmos com os acontecimentos que interessam aos
cidadãos […]». (7).
Se estivermos atentos às novas
publicações biblioteconómicas e jornalísticas encontramos uma grande procura
pela divulgação do pensamento de Francisco I que, para lá da sua se baseia em
precursores. Digamos que Francisco veio expor a mensagem com frescura, coragem,
resiliência, inovação e frontalidade. Se interpretarmos o tempo ou a História
como um tempo estrutural de longa duração, verificamos que o “Advento da
Terceira Igreja” não é um fenómeno exclusivo deste novo Papa, embora ele tenha
imprimido uma novidade e aceleração do processo, incluído um retomar da Rerum
Novarum.
(8). Este marco da DSI – Doutrina Social
da Igreja, levado à letra teria evitado crises e revoluções nos países. Logo, a
posição, a insistência e a inovação por parte do Papa Francisco corresponde no
fenómeno religioso a um reforço e readaptação da mensagem para voltar a ligar o
equilíbrio que se perdeu. Será, porventura, o tempo de retoma do diálogo,
consciencialização e luta, esperemos que justa e pacífica.
Tags: Doutrina
Social da Igreja, Economia Social, Evangelho, Papa Francisco, Religião.
………………………..
(1) Sistema filosófico de que Augusto Comte foi o principal impulsionador,
baseado em factos e experiências. Exclui a metafísica e o sobrenatural.
(2) «A partir da renascença scientifica do seculo XV, o espirito humano
recebeu um alimento abundante e fortificante. A educação do espirito humano,
começada anteriormente pelos gregos, tinha sido interrompida por um tempo de
estacionamento, um longo sommno intelectual de quatorze seculos. Onde se
origina esse tempo de estacionamento? Não procurarei aqui sabel-o, ainda que a
causa d`ele seja evidente para quem conhece a historia real e não essa outra
historia fabricada intencionalmente pelos theologos e philosophos». (cf. O
Homem segundo a Sciencia / Luiz Büchner. Porto: Livraria Chardron de Lelo &
Irmão, Ldª, 1912, p.2.- o texto original data de Darmstadt, maio, 1869).(3) Cf. “Lei do Pêndulo” pelo Prof. Maurício da Silva in http://www.agsaw.com.br/2012cp20.html, acedido em 23.12.2013)
(4) Cf. “Lei Divina e Leis Morais” in http://pt.wikipedia.org/wiki/Leis_morais, acedido em 23.12.2013.
(5) Sobre a “Terceira Igreja” Por cf. Jornal “O Público” de 15.12.2013, disponível também em http://www.publico.pt/sociedade/noticia/o-advento-da-terceira-igreja-1616280, acedido em 25.12.2013.
(6) Papa Francisco – A Alegria do Evangelho: Exortação Apostólica Evangeli Gaudium. Prior Velho: Paulinas Editora, 183.
(7) “Das Coisas Novas”, encíclica do Papa Leão XIII, 1891), sobre as condições das classes trabalhadoras (cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Rerum_Novarum, acedido em 25.12.2013.
Fontes:
-LEÃO XIII, Papa – Rerum Novarum. Vaticano: 1891
Em linha -
-DOMINGOS, Frei Bento – “O
Advento da Terceira Igreja” https://www.publico.pt/2013/12/15/sociedade/noticia/o-advento-da-terceira-igreja-1616280
-SILVA, Maurício da - Lei do Pêndulo
http://www.agsaw.com.br/2012cp20.html
-WIKIMEDIA, et al – “Classes Trabalhadoras”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_trabalhadora
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