segunda-feira, 26 de dezembro de 2016


119. LIGAR OU RELIGAR EM NOVOS TEMPOS

O título deste artigo deriva do latim “religio” que significará voltar a ligar ou religar e religião. Segundo a “ciência” dos positivistas (1) parece não haver transcendência no que toca ao género humano e ao cosmos (2); na época pós-moderna os cientistas admitem que quanto mais portas se abrem nas investigações, outras mais se apresentam para abrir; quer isto dizer que foi perdida a arrogância “científica” dos finais do século XIX e inícios do XXº.

Se interpretarmos a vida como uma sequência de fases entre nascimento, evolução e morte, teremos uma explicação simplista da existência e da evolução, porém, a maioria dos seres humanos parece não se satisfazer com a hipótese da vida poder ser apenas uma sequência simples de três estádios evolutivos. Daí que, de uma forma geral, quanto mais evoluímos mais questões colocamos. Não nos contentamos com explicações simples e redutoras e, por isso, continuamos à procura de significados; o bem, o mal, a existência, a religião e a transcendência.

À medida que o mal evolui as sociedades procuram o equilíbrio no bem, condenando aquele, corrigindo comportamentos iníquos e ilegítimos, recorrendo à religião e à Lei. Não é por acaso que às antigas Escrituras correspondentes ao Antigo Testamento e à Tora se chama Lei; e o Corão contém um conjunto de Normas e Leis.

Na vida civil e democrática existem conjuntos de leis, a começar pelas Constituições. Contudo percebemos que a Constituição ou Carta Magna não é suficiente para a ordem pública e a eliminação das desigualdades. Segundo a “Lei do pêndulo” (3) o comportamento humano oscila entre uma situação de religiosidade ou teísmo e a situação oposta, isto é, de ateísmo. Numa situação intermédia há um período de abrandamento de crenças. Por vezes chama-se a esse posicionamento uma atitude agnóstica.

A teoria do pêndulo induz-nos a pensar que, a uma situação de grande religiosidade, sucede o enfraquecimento, o descrédito até cair para o lado da incredulidade ou mesmo de oposição que pode ser ostensiva, dos que se tornaram ateus, sobre os que praticam uma religião. Acontece que o ser humano ainda não conseguiu uma forma de vivência baseada na justiça social; daí a procura de consolos na religião, como uma forma de voltar a ligar o que outrora se desligou pela ganância do ter e desrespeito pelo semelhante como forma de violação da “Lei divina”. (4)

Não será por acaso que após as crises mundiais dos mundos, capitalista e socialista, há quem interprete que estamos atualmente no dealbar da “Terceira Igreja” de que fala Frei Bento Domingos (5). A educação é a esfera social/cultural que mais tempo leva a ser interiorizada e assumida, daí que não é de estranhar o tempo de crises atuais, religiosas e económicas/financeiras, motivo que nos leva a crer que, pela mesma teoria do pêndulo, esta se encontra próxima da posição superior/negativa, não podendo quedar-se neste ponto.

 O advento da “III Igreja” e de um Papa que está a revelar-se próximo dos cidadãos (Leigos, na expressão tradicional da Igreja) irá provocar mudanças no seio do papado e das estruturas eclesiais, como também a nível social; esperamos que também ocorram boas notícias na economia e na finança.

«Esta economia mata». A expressão pode ser encontrada na “Alegria do Evangelho” (Evangeli Gaudium), 53 do Papa Francisco, uma das expressões que mais tem sido divulgada, após a eleição do Papa e publicação da exortação apostólica: «Por conseguinte, ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocuparmos com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos preocuparmos com os acontecimentos que interessam aos cidadãos […]». (7).

Se estivermos atentos às novas publicações biblioteconómicas e jornalísticas encontramos uma grande procura pela divulgação do pensamento de Francisco I que, para lá da sua se baseia em precursores. Digamos que Francisco veio expor a mensagem com frescura, coragem, resiliência, inovação e frontalidade. Se interpretarmos o tempo ou a História como um tempo estrutural de longa duração, verificamos que o “Advento da Terceira Igreja” não é um fenómeno exclusivo deste novo Papa, embora ele tenha imprimido uma novidade e aceleração do processo, incluído um retomar da Rerum Novarum.

(8). Este marco da DSI – Doutrina Social da Igreja, levado à letra teria evitado crises e revoluções nos países. Logo, a posição, a insistência e a inovação por parte do Papa Francisco corresponde no fenómeno religioso a um reforço e readaptação da mensagem para voltar a ligar o equilíbrio que se perdeu. Será, porventura, o tempo de retoma do diálogo, consciencialização e luta, esperemos que justa e pacífica.

Tags: Doutrina Social da Igreja, Economia Social, Evangelho, Papa Francisco, Religião.
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(1) Sistema filosófico de que Augusto Comte foi o principal impulsionador, baseado em  factos e experiências. Exclui a metafísica e o sobrenatural.
(2) «A partir da renascença scientifica do seculo XV, o espirito humano recebeu um alimento abundante e fortificante. A educação do espirito humano, começada anteriormente pelos gregos, tinha sido interrompida por um tempo de estacionamento, um longo sommno intelectual de quatorze seculos. Onde se origina esse tempo de estacionamento? Não procurarei aqui sabel-o, ainda que a causa d`ele seja evidente para quem conhece a historia real e não essa outra historia fabricada intencionalmente pelos theologos e philosophos». (cf. O Homem segundo a Sciencia / Luiz Büchner. Porto: Livraria Chardron de Lelo & Irmão, Ldª, 1912, p.2.- o texto original data de Darmstadt, maio, 1869).
(3) Cf. “Lei do Pêndulo” pelo Prof. Maurício da Silva in http://www.agsaw.com.br/2012cp20.html, acedido em 23.12.2013)
(4) Cf. “Lei Divina e Leis Morais” in http://pt.wikipedia.org/wiki/Leis_morais, acedido em 23.12.2013.
(5) Sobre a “Terceira Igreja” Por cf. Jornal “O Público” de  15.12.2013, disponível também em http://www.publico.pt/sociedade/noticia/o-advento-da-terceira-igreja-1616280, acedido em 25.12.2013.
(6) Papa Francisco – A Alegria do Evangelho: Exortação Apostólica Evangeli Gaudium. Prior Velho: Paulinas Editora, 183.
(7) “Das Coisas Novas”, encíclica do Papa Leão XIII, 1891), sobre as condições das classes trabalhadoras (cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Rerum_Novarum, acedido em 25.12.2013.
Fontes:
-LEÃO XIII, Papa – Rerum Novarum. Vaticano: 1891

Em linha -
-DOMINGOS, Frei Bento – “O Advento da Terceira Igreja” https://www.publico.pt/2013/12/15/sociedade/noticia/o-advento-da-terceira-igreja-1616280

-SILVA, Maurício da - Lei do Pêndulo http://www.agsaw.com.br/2012cp20.html
-WIKIMEDIA, et al – “Classes Trabalhadoras”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_trabalhadora

--------------  “Leis Morais” https://pt.wikipedia.org/wiki/Leis_morais

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