quinta-feira, 26 de maio de 2016

73. 157 FARÓIS DE PORTUGAL - SERVIÇO PÚBLICO DE SINALIZAÇÃO E COMUNICAÇÃO

O mês de maio, especialmente o dia 17, é dedicados às “telecomunicações e à sociedade da informação”. Passei este dia em visita ao Farol do Cabo da Roca; daí as linhas que se seguem, em respeito a uma atividade que marcou e ainda influencia a gente ligada ao mar e, em parte, à aviação, bem como as populações costeiras ou que se deslocam próximo à orla marítima.



Os primeiros faróis em Portugal, de que tenho conhecimento, são: O do Cabo de São Vicente, em Sagres e o de Nossa Senhora da Guia, no Cabo da Guia, Cascais. Ambos datam do século XVI, no que se reporta à primeira instalação, sendo posteriormente reedificados.


 
Há quem considere o farol de Nossa Senhora da Luz na Foz do Douro o primeiro, mas foi-o no sentido, apenas, de farol mandado edificar pelo poder público, pela intervenção do Marquês de Pombal, no século XVIII, 1761(1), contudo este farol já havia sido criado anteriormente e gerido por Instituição particular de solidariedade. Na altura da edificação pública, os equipamentos de faróis foram entregues a uma Junta de Comércio que começou com os faróis de: Nossa Senhora da Guia, 1761; Cabo da Roca, 1772; S. Julião e Bugio (na foz do Tejo) e o da Serra da Arrábida, 1775; Cabo Carvoeiro e Cabo Espichel, em 1790.

 
Em 1835 o serviço público de faróis já se encontra na dependência doMinistério da Fazenda que manda edificar cinco outros faróis: Berlenga, 1840; Cabo de São Vicente, 1846; Cabo de Santa Maria, 1851 e Cabo Mondego, 1858.
 
Em 1852 com a criação do Ministério das Obras Públicas, os faróis passam para a alçada deste Ministério.
 
Em 1864 o engenheiro hidrógrafo Francisco Maria Pereira da Silva faz o estudo do serviço e fica responsável pelos faróis no Ministério da Marinha; contudo permanecem pouco tempo na alçada desta Instituição.
 
Em 1868 já se encontram novamente dependentes das Obras Públicas, criando-se uma Direcção-Geral para os telégrafos e os faróis
 
Em 1880 a Direcção-Geral é reestruturada e acaba por ser fundida com a Direcção dos Correios, formando a Direcção-Geral dos Correios, Telégrafos e Faróis.
 
Em 1881 o prestigiado Director-Geral dos Correios, Telegraphos e Pharoes, Dr. Guilhermino Augusto de Barros (que também dera início ao primeiro projeto museológico das atividades de correios, telégrafos e faróis) assume a responsabilidade da gestão de uma Comissão de Faróis e Balizas.
 
Em 1892 os faróis passam novamente do Ministério das Obras Públicas para aMarinha, Instituição que gere ainda estes serviços de sinalização, comunicação e assistência à navegação marítima e, em parte, à sinalização aérea.   

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O Farol do Cabo da Roca, no lugar da Azóia, freguesia de Colares, Concelho de Sintra foi inaugurado em 1772, edificado sob proposta do Marquês de Pombal, faz agora 244 anos em 2016; porém, em 1843 são-lhe introduzidas várias modificações. Em 1990, o seu funcionamento é automatizado, podendo ser comandado à distância.  
O engenheiro e arquiteto desta reedificação, tal como de várias outras estruturas de comunicações, foi Gaudêncio Fontana.
 
A altitude é de 165 m acima do nível das águas; a ótica de iluminação é de cristal, direcional e rotativa; a lente é do tipo Fresnel; o alcance luminoso é 25,92 milhas náuticas, cerca de 48 km; Tem edifícios anexos que serviam essencialmente de habitação aos faroleiros, bem como para depósitos e mesmo uma fábrica de gaz acetileno para energia deste farol, e para vários outros faróis do Continente, Ilhas e alguns Territórios das ex-agregações ultramarinas.
 
É o farol mais ocidental do bloco continental euroasiático, bem como o Cabo, por isso se fazem aqui excursões de várias partes do mundo, incluindo as frequentes excursões de motares; porque há algo que os atrai ao ponto mais extremo, para onde o mundo converge, possivelmente a caminho de uma nova pangeia.

Fez parte dos seis faróis constantes em alvará pombalino de 1758.
Ligado à rede elétrica pública em 1982. Nesta altura a lâmpada de 3000W é substituída por uma mais económica de 1000W a halogénio. Atualmente conta com três lâmpadas ainda mais económicas.
 
Consta ter sido o primeiro a ser construído, especificamente e de raiz, para farol no tempo do Marquês de Pombal. Anteriormente existiam outros, geralmente geridos / alimentados por irmandades religiosas e com sistemas de iluminação a combustível de azeite ou fachos de outros materiais combustíveis. Outrora era coadjuvado com um sistema sonoro a vapor e a partir de 1917 o sistema elétrico é alterado para gerador de acetileno; por sua vez o som passa a ser produzido por ar comprimido (cf.https://www.geocaching.com/geocache/GC1WPW2_cabo-da-roca-ii-farois-de-portugal )
 
Em 1892 a Marinha assume a responsabilidade de cuidar e gerir os faróis, na Direcção-Geral de Marinha, cujo serviço é restruturado em 1924, criando-se a Direcção de Faróis que passa a gerir “50 faróis, 316 farolins, 167 bóias e 28 sinais sonoros”, bem como um sistema de “radioajudas”, tanto no Continente, como nas Ilhas.

A sede da Direcção-Geral de Faróis situa-se na marginal de Paço de Arcos, em edifício junto à parte nordeste da praia. Ali se localizam as oficinas, o Núcleo Museológico e o Núcleo de Formação de Faroleiros.
Além de vário equipamento de substituição de peças e oficinal, a Direcção de Faróis tem contado com cerca de cinco embarcações, incluindo um navio balizador; conta ainda com cerca de uma dezena de viaturas. A Direcção de Faróis tem cooperado com os PALOPS`s e existe uma Associação Internacional de Sinalização Marítima, de que faz parte Portugal (2).



«EU ELREI. Faço saber aos que este Alvará com força de Lei virem, que sendo-me presentes: Por huma parte o grande perigo, que correm os Navios, que buscaõ a Barra de Lisboa; as Costas a ellas adjacentes, as entradas da Foz do Rio Tejo, e da mesma Barra de Lisboa; da de Setubal; Pórtos do Algarve, e Barras da Cidade do Porto , e Villa de Vianna, por falta de Faróes, que possaõ servir aos Navegantes de Marca, e de Guia, para se desviarem opportunamente de fazerem naufragio; na mesma forma, que se pratíca util, e necessáriamente nos outros lugares Maritimos da Europa, onde se temem  similhantes perigos: Por outra parte o grave prejuizo, que sentem os sobreditos Navegantes na forma dos despachos dos seus  respectivos Navios pelo numero, e diversidade de trinta e cinco  diferentes Estações, por onde saõ obrigados a tirar Bilhetes em  muitos lugares distantes huns dos outros, e perante diversos Mi-nistros, e Officiaaes, que os dilataõ tantos dias, que chegaõ a  contar a mezes, por accidentes, humas vezes necessarios, e outras affectados: E pela outra parte as grandes vexações, que  também resultaõ aos Homens do Mar, que navegaõ para os meus Dominios Ultramarinos, pelos abusos, que se tem introduzido nos exames, qualificações, e coacções, que se lhes fazem, para delles se alistarem os que haõ de servir no troço, que foi estabelecido pelo Alvará de quatro de Junho de mil seiscentos e sete; com grandes inconvenientes, que experiência tem mostrado, que se seguem da observância delle: Para que huma vez cessem todos os sobreditos detrimenttos da Navegaçaõ, e dos Navegantes, que tanto procuro proteger em comum beneficio: Ordeno, (comparecer das Pessoas do meu Concelho, e de outros Ministros doutos e zelosos, que mandei ouvir sobre estas importantes materias) que logo se levantem seis competentes Faróes para guia da Navegaçaõ das referidas Costas, e Barras, a saber: Hum nas Ilhas das Berlengas, e no lugar dellas, que parecer mais proprio: outro no sitio de Nossa Senhora da Guia, ou no mesmo lugar, onde antes o houve, ou em qualquer outro, que mais accommodado seja: outro na Fortaleza de S. Lourenço: outro na de S. Ju-[liaõ] [...]»
(imagem recolhida in Farol do Cabo da Roca.- AA 17.5.2016)










ENVOLVÊNCIA DE UMA FAROL:
No exterior do corpo principal de um farol há como que uma mini aldeia de edifícios que serviam: para morada dos faroleiros e famílias (antes da automatização), casas de banho, arrumos e, no caso específico do Farol do Cabo da Roca, havia uma fábrica de gás acetileno que funcionou antes da utilização sistemática da energia eléctrica. Este gás aqui fabricado e apurado, era também fornecido e aplicado para alumiar outros faróis do espaço nacional do Continente Ilhas e Ultramar.


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Notas:
(1)Este farol já não funciona, contudo está preservado e patrimoniado.
(2)“A 09 de julho de 1957, com a adesão de 20 países, foi criada a Associação Internacional de Autoridades de Sinalização Náutica – IALA/AISM (International Association of Lighthouse Authorities ou Association Internationale de Signalisation Maritime), organização técnica internacional, sem fins lucrativos, dedicada a atividades técnicas e normativas no campo de auxílios à navegação marítima. Sua sede foi estabelecida em Saint Germain-em-Laye, nas cercanias de Paris, França, país de acentuada tradição marítima e reconhecida cultura na área de auxílios à navegação. INhttps://www1.mar.mil.br/dhn/node/32

Fontes:
-BARROS, Guilhermino Augusto de – Memória Histórica Acerca da Telegrafia Eléctrica em Portugal, 2ª ed., ampliada com notas, gravuras e retratos coligidos por Godofredo Ferreira, Lisboa, 1944 ;
-  ----------------------------------------  - Relatório do Ano Económico de 1877-1878, Procedido de uma Memória Relativa aos Correios Portugueses desde o Tempo de D. Manuel até aos Nossos Dias, Lisboa, AH  FPC
-LOURO, Maria Regina; Vilhena, João Francisco - Faróis de Portugal. Lisboa: Gradiva, 1995
-PORTUGAL, Marinha, Direção de Faróis. Faróis de Portugal. desdobrável (sd., sl.) ;
Em linha -
--Lifecooler et al. – Farol do Cabo da Roca in http://www.lifecooler.com/artigo/passear/farol-do-cabo-da-roca/356842/
-wiki et al - Farol do Cabo da Roca in https://pt.wikipedia.org/wiki/Farol_do_Cabo_da_Roca