Esta estória ao jeito de conto baseia-se
nas lendas das pastorinhas. Firma-se no final da época sarracena e no interstício das consequentes
reconquistas e refluxos, em que as culturas do sul (mundo mediterrânico) se
aliam, quanto possível, com as do norte e sul da Península Ibérica, Europa e vice-versa.
O trovadorismo é uma das fontes (entre outras) que parece pesar na elaboração
da lenda de Linda-A-Pastora.
As teses seguintes creditarão
estas possibilidades:
«São admitidas quatro teses fundamentais para explicar a origem do
trovadorismo: a tese arábica,
que considera a cultura arábica como sua velha raiz; a tese folclórica, que a julga criada pelo
próprio povo; a tese médio-latinista,
segundo a qual essa poesia teria origem na literatura latina produzida durante a Idade Média; e, por fim, a tese litúrgica, que a considera fruto da
poesia litúrgico-cristã elaborada na mesma época. Todavia, nenhuma das teses
citadas é suficiente em si mesma, deixando-nos na posição de aceitá-las
conjuntamente, a fim de melhor abarcar os aspectos constantes desta poesia.» (cf. WIKI… https://pt.wikipedia.org/wiki/Trovadorismo , acedido em 04.04.2018)
LINDA-A-PASTORA
OU LINDAS-AS-PASTORAS?
Era
uma vez uma linda pastora que apascentava o seu rebanho nas terras do vale do
Jamor (extensivamente J[esus é]Amor). Num tempo escaldante, situado
entre os séculos XII e XIII, um senhor forasteiro passa o Verão entre as frescas e
leves brisas que percorrem o vale. Num dos passeios, o senhor encontra
uma pastora de beleza inconfundível e indizível. Tenta conquistá-la. A
pastora rejeita a sedução. Porém, o senhor fica desiludido e dirige-se a
Linda Pastora:
--Vou-me embora, já que a menina não crê nas minhas nobres intenções!
Já
de partida, quando a Linda Pastora o chama:
--Espere aí; algo me diz que não devo molestá-lo nestas terras do Jamor e Carnaxide
(*). Não devo fazê-lo sofrer, venha cá:
(*) Carnaxide parece provir de “origem árabe: Carna-axide: Monte de
terra vermelha; origem celta:
Carn-ushold: Carn (monte de pedras, memorial); Ushold (de cima) (cf. tb. Wikiwand http://www.wikiwand.com/pt/Carnaxide).
E
assim iniciam uma relação que resulta no nascimento duma menina ao fim de 7 meses.
O senhor fica confuso. Acha que a pastorinha o traiu. Vai-se embora para um
reino onde ninguém sabe das suas mágoas. Antes de deixar estas terras passa pelos
lugares que viriam a chamar-se de Linda-a-Velha e Cruz-Quebrada. É aqui na foz
do Jamor, que o senhor ruma a sul; no entanto, faz erigir uma cruz como
sinal da paixão e do sofrimento com a linda pastora moçárabe. Lá no novo reino, o
senhor procura a corte local. Nos tempos ali passados, a rainha fica grávida e
dá à luz um filho que também lhe parece prematuro. Depois de indagar, fica a
saber que é possível nascer uma criança viva e saudável, ao fim de 7 meses e
até menos. É então que o forasteiro sonha sucessivamente com a Linda Pastora, a
tal ponto que já não pode com as saudades. Regressa ao Vale do Jamor. Procura
Linda-a-Pastora. Mas quem encontra é uma jovem e linda pastorinha. O senhor pergunta:
--A
menina sabe dizer-me se ainda reside nestas paisagens uma Linda
Pastora, que há anos apascentava um rebanho nestas terras do Jamor?
--Sim
conheço …
A
nova pastorinha indica a residência da velha pastora.
--Esse lugar fica mais além.
O senhor
encontra a pastora, já com cabelos brancos. Era agora Linda-Velha. Tenta
chegar ao diálogo e reconciliação com Linda-a-Velha. Linda-a-Velha não o
recebe! O senhor fica revoltado. Vai ao lugar onde colocara a cruz como
recordação dos tempos aqui passados e quebra a cruz, pensando que fora este sinal,
o causador da sua infelicidade. Após o acto de profanação da cruz, este lugar passa a chamar-se
Cruz Quebrada; ainda hoje assim se chama, uma freguesia cerca de Algés, nas faldas
do Jamor.
Ao saber do
sucedido a nova pastorinha corre após o forasteiro. Ao avistá-lo chama-o.
--Pai! - Quero que venhas viver perto de nós.
--Como assim! Ainda há pouco me repudiaram. Agora chamas-me de pai. Eu não sou digno de ninguém, nem da
vossa caridade, não mereço nada, não valho nada, não quero nada.
--Vem, não sejas ridículo e lamechas. Eu e a mãe vamos criar uma
comunidade, à semelhança dum mosteiro. Poderás viver dentro, obedecendo às
regras, ou nas terras ao redor se preferires.
O
senhor escolhe viver no mosteiro; ele aceita redimir-se, desde que lhe deixem
ver a família de vez em quando. E assim a lenda terá prosseguido com conversões
e adesões aos freires de São Domingos (1170-1221), os quais ocuparam este preciso sítio nas
encostas do Jamor, possivelmente, sob os alicerces da actual CONFHIC –
Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, sede principal
de mais de mil irmãs hospitaleiras espalhadas por Portugal e pelo mundo.
O vale do Jamor tem inspirado
Poetas: Cesário Verde, Almeida Garrett, Tomás Ribeiro, entre outros. As
lendas de pastorinhas divulgadas na Europa, ao estilo trovadoresco e na zona do
Jamor têm influenciado estórias em Cruz Quebrada, Carnaxide, Linda-a-Velha,
Linda-a-Pastora e Queijas.
Da lenda, à estória, ao conto e à
história. Temos mais um filão a investigar, coadjuvando documentos de arquivos,
bibliotecas e arqueologia.
……………………….
Palavras-chave: Carnaxide, CONFHIC, Cruz Quebrada,
fratrimónio, Jamor, Linda-a-Pastora, Linda-a-Velha, Queijas,
Fontes acedidas em acedidas
em 04.04.2018)
--ANCIÃES, Alfredo Ramos – “D.
Libânia – Linda Pastora” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/03/blog-post_24.html
-------------------------------------
– “Estre Lindas Pastoras
Fratrimonializar” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/04/entre-lindas-pastoras-fratrimonializar.html
----------------------------------- – “Linda-a-Pastora: Adaptação de Uma Variante
da Lenda” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2018/04/linda-pastora-adaptacao-de-uma-variante.html
--CANÇÃO NOVA et al.”São Domingos de Gusmão” https://santo.cancaonova.com/santo/sao-domingos-de-gusmao-homem-de-oracao/
--CUTILEIRO, José
“Linda-a-Pastora [com] variantes [regionais] http://retrovisor.blogs.sapo.pt/61468.html
--GARRET, Almeida – Romanceiro (III). Lisboa: Imp. Nacional, 1851 “Linda -A-Pastora”, cap. XXXII;
também disponível em - https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1829280/mod_resource/content/1/Romanceiro_Garrett.pdf
acedidos em 04.04.2018 )
--LISBOA, Isa “Casa de Cesário
Verde | Linda –a-Pastora” http://comjeitoearte.blogspot.pt/2017/02/cesario-verde-i-casa-de-linda-pastora.html
---------------------------- – “Monumento
em Honra de Madre Maria Clara e “Vária - Queijas” https://luzdequeijas.blogs.sapo.pt/2012/01/14/ ; https://oentardecer.blogs.sapo.pt/monumento-em-honra-de-madre-maria-clara-340194
--MIRANDA,
Jorge Viagem pelas Lendas do
Concelho de Oeiras Oeiras, Câmara Municipal de
Oeiras, 1998 , p.30 IN http://www.lendarium.org/narrative/linda-a-pastora/?tag=628
--WIKIPEDIA. et al. “Cesário Verde” https://pt.wikipedia.org/wiki/Ces%C3%A1rio_Verde
-----------------------------– “João
Baptista Verde” https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Baptista_Verde
Alfredo Ramos Anciães, Território
Massabraense / Sintra, 22.03.2018
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