001 Aeroporto da Horta
É o título dum poema de Pedro Laureano Mendonça da Silveira
(1922, Flores - +2003, Lisboa). Pouco conhecido em Portugal continental, apesar
de ter aqui vivido a maior parte da sua vida. Contudo, nos Açores, faz parte do
“Plano Regional de Leitura” destacado pela sua obra "Fui ao Mar Buscar Laranjas".
002 Iconografia de rua na cidade
Quando Pedro da Silveira no seu périplo pelas ilhas passou pela
cidade da Horta, Faial, nos anos 40`, ali foi inspirado sobre a tradicional “centralidade”
da urbe. Contudo, verificou que a mesma cidade estava então em ciclo descendente.
003 Logótipo do Café Tradicional da Horta
Vivia-se ainda na eminente agitação, técnica, social e cultural
dos cabos submarinos da telegrafia elétrica que fazia escala no Faial, para,
dali, as telecomunicações ganharem novo fôlego e poderem alcançar outros mundos.
004 Arte alemã em vitral no ex bairro da comunidade cabográfica
Pedro Laureano conseguiu traçar um retrato poético e, tudo
indica que, realista da efervescência da Horta que lhe pareceu estar em fase de
acalmação. Ao que tudo indica, nem mesmo os residentes, naturais, ou das várias
nacionalidades ligadas às telecomunicações conseguiram, nesses anos,
traçar uma análise tão fiel do que se vivia.
005 Pintura em mural do Porto da Horta
Do conjunto desses poemas reunidos em “Fui ao
Mar Buscar Laranjas”, selecionei o que me pareceu pertinente para
descrever o porto da Horta, vizinho da central de cabos telegráficos e das
urbanizações expressamente construídas para as residências dos técnicos das
várias nações do mundo.
006 Pintura em mural do Porto da Horta
Se
Pedro da Silveira tivesse sido (na época) lido e apreciado nos seus versos
neorrealistas, possivelmente, ter-se-iam construído alternativas antecipadas para
colmatar o definhamento que se seguiu.
007 Pintura em mural do Porto da Horta
Porém,
hoje em dia, os Açores e a Horta estão a conseguir essas alternativas,
sobretudo as baseadas no turismo. E é um turismo que, em boa parte, se baseia
nos tempos áureos: Justamente na centralidade mundial dos Açores, se vistos na análise
do saber adquirido e nos patrimónios herdados com base nas memórias do acolhimento:
008 Portal de um Império do Espírito Santo na Horta
a)Dos
navios que vinham do Oriente e eram forçados pelas condições atmosféricas a
fazer a “volta pelo largo”, tocando / repousando nos Açores;
b)Nos
navios a vapor quando os mesmos não tinham autonomia suficiente para alcançarem
diferentes continentes; c)Na receção e retransmissão das comunicações
telegráficas, de e para o mundo;
d)Na
escala dos hidroaviões (e de pistas terrestres) regionais e intercontinentais
quando as aeronaves não tinham autonomia para as grandes distâncias,
e)No
centro de pescas e transformação de subprodutos para iluminação de cidades americanas;
nos produtos comestíveis e de suporte para produção de arte.
Estes
foram os principais vetores que reverteram os Açores, de periferia, em
centralidade. Como quase tudo, tem os seus altos e baixos, os Açores voltarão a
ganhar interesses, que se vislumbram através de novos visitantes: os tradicionais
turistas e os aventureiros dos mares.
Também Pedro da Silveira, ao traçar o
retrato do ciclo descendente do porto da Horta se mostra esperançado em novo
renascimento “O passado que esperas / em futuro renasça […]”
Vejamos nos versos infra o retrato que selecionei (1)
«[De] Horta Quase Réquiem” [a Fénix renascida]
Como isto foi grande, dinâmico, mercantil, aventureiro!
Homens de todas as raças no porto da Horta,
todas as línguas bandeiras […] e navios à carga, vozes,
gritos,
o gemer dos guindastes […]
Era a mais alegre, a maior cidade pequena do Mundo!
Era riqueza de Londres
e de Nova York!
Era o requinte de Paris, o luxo
de Sanpetersburgo!
Todos mercavam, vendiam.
Embarcavam.
Tornavam.
[Estimada e desejada Horta]
O passado que esperas
em futuro renasça […]»
(1)Apenas
lhe fiz ligeiras adaptações, perfeitamente assinaladas em parêntesis retos e
sem alterar o significado original. Os sublinhas também são meus.
Fontes:
-Associação dos Antigos Alunos do Liceu
da Horta -O Tempo dos Cabos
Submarinos na Ilha do Faial -Valor Universal do Património Local
-Evocação de Marconi nos 90 Anos de Cidadão Honorário da Horta.
Horta: Gráfica O Telégrapho, 2013
-Associação dos Antigos Alunos do Liceu
da Horta -Boletins:
Nº 23, dezembro, 2010; Nº 24, junho, 2011; Nº 25, dezembro, 2011; Nº 26,
dezembro, 2012; Nº 27, janeiro-junho, 2013; Nº 28, julho-dezembro, 2013.
-BARREIROS, Henrique Melo (professor
colaborador da Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta), a quem
agradeço documentos e informações pessoais e o guiamento no percurso que
fizemos em torno das marcas de “O Tempo dos Cabos Submarinos”.
-Museu da Horta; Associação dos Antigos
Alunos do Liceu da Horta -O
Porto da Horta na História do Atlântico: O Tempo dos Cabos Submarinos,
Ed. do Museu da Horta; Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta.
Impressão: Gráfica O Telégrafo. Criação Gráfica: JCS/Açores. Horta, 2011.
Em
linha, acedidas em 25.04.2017
-ANCIÃES, Alfredo Ramos – “16 Faial das Comunicações e do Santo Espírito” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2014/10/16-faial-das-comunicacoes-e-do-santo.html
-COSTA, Ricardo Manuel – “Breve Esboço sobre a História do Faial”
in http://www.inventario.iacultura.pt/faial/horta/historia.html, 2007
-GLOVER, Bill – History of the Atlantic & Undersea
Communications from the first submarine cable to the worldwide fiber optic
network, 2010 in http://atlantic-cable.com/CableCos/WesternUnion/index.htm, acedido em 22.8.2014
-ROLDÃO, Helena et al – “Pedro Laureano Mendonça da Silveira” https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Laureano_Mendon%C3%A7a_da_Silveira
Vivia-se ainda na eminente agitação, técnica, social e cultural dos cabos submarinos da telegrafia elétrica que fazia escala no Faial, para, dali, as telecomunicações ganharem novo fôlego e poderem alcançar outros Mundos.
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