01.Carta da Rota do Cabo do Século XVI
Quando os navegadores de Quatrocentos e de Quinhentos se
aventuram no caminho da Índia, improvisam uma forma de comutação inédita de correio.
Em 1488 Bartolomeu Dias dobra o Cabo das Tormentas, logo designado pelo rei D. João II por Cabo da Boa Esperança. Após alguns dias pelo mar tormentoso, eis que chegam a uma Baía amena, onde encontram condições para descanso e reabastecimento.
Em 1488 Bartolomeu Dias dobra o Cabo das Tormentas, logo designado pelo rei D. João II por Cabo da Boa Esperança. Após alguns dias pelo mar tormentoso, eis que chegam a uma Baía amena, onde encontram condições para descanso e reabastecimento.
Qual célebre recompensa dos deuses, aos ousados e esforçados
marinheiros!
No outro lado do mundo, o da costa oriental, onde ninguém ocidental ousara chegar
por mar, a Baía é batizada com o nome do santo
daquele dia. A designação de São
Brás continua, não só pela tradição, como pelo tributo da República da
África do Sul à História e à amizade com Portugal, quer antes, quer depois do "apartheid" (cujo marco fundamental e civilizacional se concretizou em 1994).
A importância do local determina a utilidade como sítio de interesse estratégico para a escala Ocidente / Oriente e vice-versa.
Quando a armada de Cabral se dirige à Índia, em 1501, após a Descoberta
do Brasil, encontra novamente o mar revolto. Ao aproximar-se do Cabo (agora
da Boa Esperança) Bartolomeu Dias cede
a vida ao mar na segunda vez que aqui chega. Algumas naus dispersam-se,
como causa do tempo e do mar em fúria. Uma dessas embarcações é a comandada por
Pedro de Ataíde, acidentalmente perdida das restantes, indo até à Baía
de S. Brás , onde lança âncoras.
Verificam que é um sítio propício para abastecer, deixar e
levantar mensagens de e para outros
marinheiros. Como não há ali quaisquer estruturas de
correio, logo a improvisação se
impõe.
E ter-se-ão questionado, porque não deixar uma mensagem neste
bom ancoradouro para que outros nossos compatriotas saibam novas de cá e de lá?
Mas onde preservar avisos/documentos, até que os
novos viajantes ali passem?
É então que surgirá a ideia. Uma bota, também dita botim, de
cabedal, certamente invertida da sua função normal, por causa das chuvas e dos cacimbos
tropicais.
A bota é capaz de preservar
um pergaminho ou outro suporte de escrita. Procura-se a copa de uma árvore,
onde não seja fácil o extravio.
Bartolomeu Dias que tivera o primeiro acesso ao local, em 1488, viaja, também, naquele comboio
naval, no ano de 1501, sob o comandado superior de Pedro Álvares Cabral.
Estaria destinado o navegador Dias a ali permanecer para a eternidade?
Tratou-se, porém, duma coincidência, quiçá um aviso ou uma marca
para o futuro, o facto do primeiro herói da chegada ao Cabo tormentoso falecer
ali, 13 anos após a primeira dobragem
pelo próprio Bartolomeu Dias comandada.
Se Bartolomeu Dias tem que passar para o Reino do Além, como
todos nós; esse local é o que lhe dá a maior celebridade, atendendo ao facto da
memória como primeiro Homem ocidental a desbravar caminho marítimo, naquelas
geografias, onde e agora está a sua memória em permanência.
Com efeito, na Baía de S. Brás da localidade de Mossel Bay
projeta-se a imagem deste português de Quatrocentos e início de Quinhentos, no
complexo museológico da Região, a que os próprios Sul-Africanos gentilmente adotam
o nome de «Bartolomeu
Dias Museum”.
A primeira mensagem ali depositada, e recebida, é para informar o
desaparecimento de Bartolomeu Dias e do seu navio. O recetor da mensagem
é outro célebre marinheiro – o João da Nova que partira em direção à
Índia, ao serviço do Rei D. Manuel I no mesmo ano de 1501.
Quanto à bota original do correio, a mesma não sobreviveu, por isso se manufaturou uma imaginada "réplica".
E quanto à árvore designada “do correio” construíram junto à
mesma um monumento evocativo. Os Sul-Africanos da Região atestam que "é a árvore original do correio”
do tempo dos primeiros navegadores de Portugal e do Ocidente que documentalmente aqui chegaram.
02.Réplica da conjeturada imagem da bota do correio exposta
no Museu das Comunicações. Património museológico da Fundação Portuguesa das
Comunicações, em Lisboa.
Fontes:
-ANCIÃES, Alfredo Ramos – “133.Geopovos,
Geolocais, Achamentos e Descobrimentos” - http://cumpriraterra.blogspot.pt/2017/03/133-geopovos-amizade-uma-historia-um.html
-ANCIÃES, Alfredo;
MOURA, Fernando et al – Documentos e
catálogo da Exposição Permanente : Vencer
a Distância - Cinco Séculos de Comunicações em Portugal. Lisboa: Fundação
Portuguesa das Comunicações, 2005
Para que serve um Museu?
ResponderEliminarCom efeito, na Baía de S. Brás da localidade de Mossel Bay projeta-se a imagem deste português de Quatrocentos e início de Quinhentos, no complexo museológico da Região, a que os próprios Sul-Africanos gentilmente, e sem complexos, adotam o nome de «Bartolomeu Dias Museum”.