Crédito imagem 001: Diário de Notícias, 13.12.2015, p. 36-37; também disponível em http://www.dn.pt/mundo/interior/o-telefone-portugues-que-ajudou-a-bosnia-a-nascer-4927279.html, aced. 21.3.2017
Gentileza da imagem 002:
Fundação Portuguesa das Comunicações, encontrando-se esta peça no
Museu das Comunicações.
Museu das Comunicações.
Nota de contexto: A República
da Bósnia-Herzegovina nasce nos anos 90`após uma feroz guerra civil de cariz
étnico, político e religioso. O colapso do comunismo na URSS e Europa de Leste
leva ao enfraquecimento, queda de regimes e poderes. Com a morte do marechal
Tito da Jugoslávia, em 1980, os sentimentos e as tensões nacionalistas começam
a vir ao de cima.
Uma década após, em 1990, Slobodan
Milosovic, representante sérvio, trás a terreiro, a ideia e proposta da
restauração da Grande Sérvia. Esta ideia, como é evidente, implicaria a
conquista de territórios e a subjugação de povos. Em casos extremos, foi
tentada e, em parte, realizada, uma “limpeza étnica”.
É assim que nos anos 90`
começa a guerra na região da Bósnia-Herzegovina, onde a maioria da população é
de maioria muçulmana, em resultado das conquistas pelos Turcos Otomanos, desde
o século XV. Em 1992 Serajevo é sitiada
por um período que se alonga por quatro anos, tendo sido o cerco mais longo da
História Contemporânea, durando até 1996. Não foi uma guerra de somenos
importância. Só no dia mais explosivo desses quatro anos, a 22 de julho de
1993, deflagram em Serajevo 3777 bombas, tendo sido a cidade praticamente toda
destruída.
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Posto este contexto, cabe o
destaque para o telefone via satélite. É ele que dá origem a esta descrição e à
musealização de uma peça chave, hoje no Museu Histórico de Sarajevo. É contudo
oportunidade para referir que temos uma peça semelhante no Museu das
Comunicações, em Lisboa. Esteve ao serviço da equipa da Radiodifusão Portuguesa,
igualmente em teatro de guerra.
Construída a peça 001 pela empresa Omnitécnica, com sede em Alfragide. O fabricante de um dos primeiros telefones de ligação ao satélite, ao conceber este espécime, nunca terá pensado que o mesmo iria contribuir para o emergir de uma Nação / Estado no espaço europeu.
Construída a peça 001 pela empresa Omnitécnica, com sede em Alfragide. O fabricante de um dos primeiros telefones de ligação ao satélite, ao conceber este espécime, nunca terá pensado que o mesmo iria contribuir para o emergir de uma Nação / Estado no espaço europeu.
Obs: Quanto à peça
002 não podemos, por ora, confirmar se também foi construída em Portugal.
Tecnologia utilizada
entre o deflagrar de bombas ao redor de Sarajevo na primeira metade dos anos
90´. O percurso leva a peça 001 ao gabinete do membro da
presidência da Bósnia, Ejup Ganic.
Durante meses este telefone permite o contacto do Poder com o exterior, sendo
mesmo a única forma disponível de comunicação à distância.
Este telefone conserva uma legenda atestando a presença portuguesa
naquelas paragens: «property of the
portuguese government”, atesta, pois, a propriedade original.
O professor Ejup Ganic é atualmente um homem mais
tranquilo do que nos anos 90` mas nem por isso menos ocupado. Trata-se do reitor da
Universidade de Sarajevo. Disponibilizou-se para falar da história do telefone que
lhe ajudara a salvar a vida e a conquistar o território da nação bósnia. Ao ser
entrevistado pelo jornalista José Fialho Gouveia do Diário de Notícias - o
professor não hesita em responder:
«Esse telefone por
satélite desempenhou um papel histórico. Foi absolutamente determinante a
vários níveis. Depois dos sérvios terem bombardeado o edifício dos correios e
de cortarem as vias de comunicação, foi o nosso único meio de contacto com o
exterior».
Após muitos sacrifícios a
Bósnia-Herzegovina foi admitida na ONU em 1992. Contudo «[…] obrigou a uma
grande campanha diplomática, implicou falar com muitos países. Todos esses
contactos fiz através do telefone português. No fundo foi a chave para a nossa
admissão nas Nações Unidas. Teve um papel histórico na independência da Bósnia
[…].
O inimigo não sabia que nós tínhamos o aparelho […]. Foi através dele que negociámos a compra e a entrada de muito material de guerra e de bens de primeira necessidade […]».
O inimigo não sabia que nós tínhamos o aparelho […]. Foi através dele que negociámos a compra e a entrada de muito material de guerra e de bens de primeira necessidade […]».
Este telefone português também serviu para reunir famílias
que, com a guerra, se haviam disperso. «As pessoas […] choravam quando ouviam
as vozes do outro lado [...]. Sim, o telefone foi muito importante a nível
diplomático, mas também numa dimensão humana […]. A minha mulher e os meus
filhos tinham saído de Sarajevo e estavam em Génova, em casa de uma tia. Foi
através [do telefone português] que tive possibilidade de comunicar com eles.
Em tempo de guerra e nas condições em que vivíamos, foi de uma importância
determinante a nível psicológico».
Entretanto Ganic perde o rasto ao telefone. Certo
dia, questiona-se sobre o destino desta peça, absolutamente referencial e
essencial, como testemunho da luta para a nova nação Bósnia. Numa outra ocasião
Ganic tem a felicidade de voltar a
contactar com o telefone quando faz uma visita aos monitores portugueses em missão
da CEE em Serajevo. Os perigos ainda não tinham passado e Ganic com receio de que o Exército sérvio viesse novamente a
constituir séria ameaça aos bósnios, envia dois colaboradores para «confiscar o
telefone». “Dei-lhes um recibo para entregar aos militares portugueses. No
fundo era um documento que lhes permitiria justificar o facto de terem deixado
para trás o telefone. Eles já estavam a fazer as malas para ser irem embora,
quando os meus guarda-costas foram lá e trouxeram o aparelho”.
Neste aparte há uma certa
discordância entre o que alega Ganic
e os técnicos portugueses. Diz José Trigueiros da missão portuguesa. «Estávamos
sitiados num território controlado pelos sérvios e nessa altura os combates já
eram ferozes. De certeza que foi um de nós a ir entregar o aparelho. É possível
que tenha sido o tenente-coronel Soares dos Santos, mas que infelizmente já
morreu. O que me recordo é de eu próprio ter escrito um papel em inglês para
que eles pudessem trabalhar com aquilo».
Joaquim Cuba, técnico da
missão portuguesa recorda as suas memórias: «Palavra de honra que muitas vezes
me pergunto que seria feito desse telefone […] confidencia num café junto ao
Tejo, em Vila Nova da Barquinha, a terra onde hoje vive e acrescenta: “[…] não
fazia ideia que estava num museu.»”
Em 1995 com os Acordos
de Dayton a paz chega à Bósnia-Herzegovina – Nação que ressurge e Estado que nasce com a ajuda do telefone satélite
português. Esta peça patrimonial de excelência faz parte do acervo do Museu
Histórico de Sarajevo.
Palavras-chave: Bósnia-Herzegovina, património museológico de telecomunicações, telefone via satélite
Fontes:
-GOUVEIA, José Fialho
(jornalista do D.N. em Serajevo); GANIC, Ejup; BALTIC, Selma (intérprete) – “O
telefone português que ajudou a Bósnia a nascer”. Diários de Notícias,
13.12.2015 ; também disponível em -
Outros documentos em linha,
acedidos em 21.3.2017 -
-TRIPADVISOR, et al – “Museo de Historia de Sarajevo” https://www.tripadvisor.es/Attraction_Review-g294450-d447590-Reviews-or20-History_Museum_of_Bosnia_and_Herzegovina-Sarajevo_Sarajevo_Canton.html#REVIEWS
-WIKIMEDIA et al – “Federação da Bósnia-Herzegovina”
https://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%B3snia_e_Herzegovina
-WIKIMEDIA et al – “Nota biográfica sobre Ejup
Ganic” –https://hr.wikipedia.org/wiki/Ejup_Gani%C4%87
; --------- https://bs.wikipedia.org/wiki/Ejup_Gani%C4%87
; --------- https://sh.wikipedia.org/wiki/Ejup_Gani%C4%87
; --------- https://translate.google.pt/translate?hl=pt-PT&sl=hr&u=https://hr.wikipedia.org/wiki/Ejup_Gani%25C4%2587&prev=search
; -------- https://en.wikipedia.org/wiki/Ejup_Gani%C4%87
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