001.Telégrafo quádruplo sistema de Emile Baudot, L.
Doignon e J. Carpentier de
Paris. Inovado em Portugal pelos técnicos: Mendonça, Oliveira e, segundo tudo parece indicar,
com a colaboração de António dos Santos. Este telégrafo rompe com a tecnologia
até então utilizada, de apenas uma transmissão por cada circuito telegráfico.
Palavras-chave: ciência e técnica da
comunicação, filosofia da ciência, filosofia da telecomunicação, Portugal, rádio, telegrafia, televisão .
Contextualização:
Passada a I Guerra Mundial, a República apoia o desenvolvimento das inovações sobre
os equipamentos telegráficos da marca Hughes
e Baudot. Estas inovações portuguesas
partem de um aluno da Casa Pia de Lisboa, António dos Santos, que exerceu
funções de técnico nos Correios e Telégrafos. Pelos bons resultados, as suas inovações
nos reguladores de velocidade aplicados nos recetores telegráficos, foram adotadas
em Portugal e exportadas para a Europa.
002.Pormenor
da capa do livro de António dos Santos, inovador, casapiano e técnico nos
Correios Telégrafos e Telefones de Portugal
O Estado Novo coloca sob o seu controlo e propriedade os meios de comunicações. Criam-se
condições no sentido de ampliar, remodelar e criar redes telegráficas e telefónicas, com fio ou cabo, bem como a telegrafia e telefonia sem fios (TSF) e a radiodifusão.
003.Pormenor
da capa do livro de António dos Santos
Em 1935
é inaugurada a Rádio Pública (Emissora Nacional) e em 1936 é criado o IST Instituto
Superior Técnico que viria também lecionar matérias atinentes às
telecomunicações. Recorde-se que o IST provém do ex—Instituto Industrial de
Lisboa, com sede no local onde atualmente se situa a Fundação Portuguesa das Comunicações, o museu
e a casa do futuro.
004.Pormenor
do regulador de velocidade inventado em Portugal pelos técnicos Mendonça,
Oliveira e, em meu entender, com a participação de António dos Santos. Esta inovação foi exportada para vários países do mundo.
A
partir de 1937, os CTT – Correios Telégrafos e Telefones iniciam a construção
de vários edifícios de correios e telecomunicações por todo o País. O serviço telefónico
via radioelétrica para a Europa (Paris, Londres e Berlim) tem início em 1937,
altura em que a transmissão é pensada, também para contornar os impedimentos no
território de Espanha, a braços com uma guerra civil.
Desde o
início o Estado Novo procura, a par da organização das finanças públicas, o
desenvolvimento das infraestruturas. Contudo, a introdução da caixinha de Televisão faz-se com algum atraso, só em
1957, faz ora 60 anos.
006.Logótipo
da Administração-geral dos CTT, de 1936. A modernidade e a nova imagem das
telecomunicações implicam uma nova marca que substitui o antigo logótipo, o
mesmo que inclui o homem da posta a cavalo, isto é, o oficial condutor do correio, também designado por postilhão. A
presente imagem encontra-se no solo / largo, frente aos CTT da Horta - Faial
A
década de 40 começa com a Exposição do Mundo Português, onde o pavilhão das
comunicações ocupa lugar de destaque. Por esta altura a CPRM Companhia
Portuguesa Radio Marconi assina um convénio para facilitar as comunicações com
os territórios ultramarinos portugueses. Em 1942 começa o serviço telefónico
automático no grupo de redes de Coimbra e, em 1943, os adeptos do clássico
sistema de Morse assistem à introdução das redes de teleimpressores,
vulgarmente designadas por redes gentex e telex. É o princípio da queda do sistema Morse,
mas não a sua morte. Durante as décadas de 30 a 60 a APT Anglo-Portuguese
Telephone automatiza várias centrais nas redes telefónicas de Lisboa e Porto.
007.APT
publicidade com o modelo de telefone que inaugurou a automatização em Portugal
A
primeira é a Central da Trindade - Lisboa, automatizada em 1930 e inaugurada pelo
presidente da República General António Óscar Fragoso Carmona. Os CTT tinham o
seu organismo próprio de tutela no Ministério das Comunicações. Muitas vilas e
aldeias começam a ter o serviço telefónico, graças ao desenvolvimento dos projetos
do GECA Gabinete de Estudos de Comutação Automática dos CTT que, em 1972, é
restruturado e passa a receber o nome de CET Centro de Estudos de Telecomunicações.
008.Engrª
Teresa Soares procedendo a ensaios na «ELD - Estação Local Digital» inovada e
construída em Portugal com a colaboração do CET, da SISTEL e da Automática
Eléctrica Portuguesa
O CET
instalado em Aveiro é embrião da atual Universidade local. Contudo este Centro
de Estudos de Telecomunicações prossegue o seu curso, mesmo depois do início da
autonomia entre Universidade / CTT e do fim das tecnologias analógicas. Com o cair
do pano do império português e as concorrências das tecnologias digitais, o CET
passa por alguma turbulência mas acaba por se desenvolver em órgão da PT com a designação de PT Inovação,
uma peça-chave da ciência e técnica das telecomunicações.
009.A
Engª Lusitana Fonseca da PT Inovação procede a ensaios com o «sistema MIC 30» que é um
dispositivo de «Multiplexagem por Impulsos Codificados» concebido em Portugal pelo Centro de Estudos de Telecomunicações da PT, tendo colaborado também a SISTEL e a Standard
Eléctrica, empresas nacionais. (cf. PT Inovação [ex CET de Aveiro]; NORDENTE,
Paulo et al., ob. cit. p. 14-15).
Para
facilitar a automatização, o País é dividido em cinquenta grupos de redes. Porém, só em 1985 se
conclui totalmente a passagem da comutação manual a automática, ainda pelo sistema analógico, quando já estavam
passados mais de dez anos da instauração do Regime Democrático de Abril.
&&&
Voltando
à televisão. Ainda no século XIX
alguns dotados e habilidosos, entre eles o francês Constantin S.; Karl Braun
e Paul Nipkow (alemães) fazem
experiências e conseguem projetar imagens através de aparelhos que eles
próprios inventam. - o teletroscópio e
o tubo de raios catódicos.
Constantin pensa
em projetar as imagens dos corpos físicos através da corrente elétrica. A ideia
deve-lhe ter surgido a partir da filosofia platónica. Para os platónicos a
imagem de uma pessoa ou objeto é passível de ser projetada.
Para os aristotélicos e os materialistas a imagem é uma representação das coisas, corpos, objetos. E nós questionamos: será
que a imagem é mesmo uma representação? Se levarmos à letra a palavra
representação, vemos que há aqui uma questão difícil, ou mesmo impossível, de
resolver, uma vez que o termo representação
é constituído pelo prefixo re
que significa repetição ou reforço + presentação
que significa estar presente.
Em
tentativa de resolução destes dados, achamos que as imagens não são corpos, são apenas projeções que a nossa mente processa da natureza ou mesmo de uma ideia. Para os platónicos não há representações, visto que as mesmas coisas, os mesmos
projetos, as mesmas ideias não se conseguem reproduzir (tal como a mesma água nunca passa uma segunda vez sob
a mesma ponte). Consegue-se, sim, é idealizar, projetar, replicar,
substituir, imitar e não propriamente representar.
Visto,
pois, que a ideia é o que mais conta para um adepto do platonismo, sendo possível a
projeção do imaterial, logo é exequível a transmissão do não tangível. Neste conceito, os
grandes impulsionadores da teletransmissão da imagem e da projeção da voz à
distância têm muito da filosofia platónica. Por exemplo, um livro digital num computador,
um programa na televisão, não têm existência material. No entanto entram em casa
de cada pessoa. Trata-se de projeções e nem precisamos da presença da matéria para comunicar a imagem, a escrita e a voz.
Pelos
finais do século XIX, não obstante a propensão para a progressividade do
desenvolvimento dos materialismos, através da exaltação das coisas (do ter em
vez do ser), os cientistas mais profundos e abrangentes sabem que, se é
possível transmitir a escrita (através das imagens) das letras ou das figuras (exemplo
dos telégrafos semafóricos, aéreos ou visuais); se é possível transmitir a
própria voz através do processo da luz (eletromagnetismo), então também deveria
ser possível transmitir / projetar a imagem, tal como as imagens dos
corpos são transmitidas para o interior de uma caverna através da luz solar,
onde são processadas na mente dos habitantes (cf. “alegoria [e teoria] da
caverna”).
010.Electroíman
associado a um besouro que poderá servir inclusive como recetor de sinais Morse
Nos
finais do século XIX em que se pensa na projeção de imagens televisivas, já se
comunicava à distância pelo telégrafo e pelo telefone e já com algumas experiências
da transmissão da voz por via etérea (radioelétrica, sem fios nem cabos). A corrente elétrica por pilhas e por
geradores de corrente, também já estava ao alcance.
011.Pilhas
de tipo Leclanché e de Daniel, junto a um eletroíman
Os fios
e os cabos de suspensão aérea em postes, ou assentes no subsolo terrestre e nos
fundos marítimos e fluviais serviam de condutores. Faltava enviar regularmente a
imagem televisiva e isso pareceu possível a quem acreditou e persistiu numa espécie
de alegoria da caverna. No caso, as cavernas são as nossas casas em relação ao
espaço terrestre, etéreo e sideral.
Os
telefones já funcionavam com microfones/auscultadores de cápsulas onde no
interior vibram partículas finíssimas de mineral (selénio e grafite, por
exemplo), quando essas partículas são impulsionadas pela corrente elétrica. Só
faltava, pois, aplicar os conceitos de teletransmissão de eletrões, sombras, e
vibrações que compõem a luz e a voz em superfícies acolhedoras (isto é,
recetoras), nos teletroscópios ou tubos de raios catódicos. São estas
superfícies acolhedoras que permitem o “milagre” da receção tele-transmitida
pelo emissor.
Televisão em Portugal
A RTP – Radiotelevisão de Portugal tem existência
legal em finais de 1955, após a publicação do Decreto-Lei nº 40341. Em 1956 é
instalado um emissor de potência regional e num pavilhão em Palhavã – Lisboa é
instalado o equipamento de realização e emissão. A instalação era precária, o
que não impediu que no pavilhão de Palhavã fossem transmitidos programas de
teatro, cinema, música, desporto e notícias. De Palhavã, o equipamento e
emissões passam para um estúdio cinematográfico existente no Lumiar. Em 1957
começam as emissões regulares a partir da sede do Lumiar.
Por esta altura a RTP cria serviços móveis de gravação
e emissão. Em 1959 entra em função a RTP no Porto. Em 1964 a RTP começa a
utilizar a tecnologia video-tape pela qual faz gravações para posterior
emissão. O emissor do Mendro fica activo em 1965 e a partir deste ano
possibilita-se a ligação para o continente europeu, começando por Espanha. O
ano de 1967 costuma ser referido como uma marca na produção e emissão de uma
das mais importantes visitas de um chefe de Estado e da Igreja, na pessoa de
Paulo VI com a visita assistida pela única estação de televisão então existente
em Portugal. Em 1969 a RTP difunde e guarda em Arquivo a alunagem dos primeiros
homens. Em 1972 inaugura as instalações e o equipamento de emissão da Madeira. Em 1974 têm início as emissões dos Açores e surgem os acontecimentos da Revolução de 25 de Abril cobertos, em parte, pela
televisão estatal. Contudo, os estúdios da sede do Lumiar são inicialmente ocupados
pelas forças da Revolução. Em 1980 são inauguradas as tecnologias e as emissões
a cores. Até 1991 a receção do sinal de televisão para os dois únicos canais
estatais, então existentes, necessitava de uma licença, a qual era concedida
mediante o pagamento de uma taxa. Neste mesmo ano a taxa é abolida e entra a
televisão privada, igualmente sem exigência de taxa. A RTP passa, neste ano de
1991, a dedicar-se exclusivamente à produção e emissão, ficando as funções de
difusão do sinal, instalação e manutenção do equipamento de teledifusão
espalhado por todo o país, entregue à empresa constituída para esse efeito.
Chamou-se a esta empresa TDP Teledifusora de Portugal
que se incumbiu de garantir, não só da difusão dos canais públicos, como da
difusão da SIC Sociedade de Informação e Comunicação que começa a operar em
1992. Neste ano a RTP, EP passa ao estatuto de RTP, S. A., ficando esta
obrigada a exercer o serviço público de televisão. A RTP Internacional começa
as emissões baseadas na difusão por satélite e a TVI inicia as suas emissões em
1993.
Em 1994 a teledifusão deixa de ser feita
exclusivamente por feixes hertzianos, passando o sinal a ser disponibilizado também
por via cabo, constituindo-se, para isso, uma empresa para o fornecimento deste
serviço até aos lares aderentes, sendo este serviço pago e proporcionado
através de contrato de adesão.
Em 1997 é disponibilizado o serviço de teletexto e em 1998
foi a vez do lançamento do canal RTP África. Em 2003 a RDP Radiodifusão
Portuguesa e a RTP, juntamente com a Radiodigital Portuguesa, a RTP Meios de
Produção e a Media Parque passam a constituir um Grupo – a RTP SGPS – Rádio e
Televisão de Portugal, Sociedade Gestora de Participações Sociais.
As rádios Antena 1 e Antena 2 como canais públicos ficam
associados na RTP - Rádio e Televisão de Portugal. Os patrimónios museológicos
e documentais destas entidades são reunidos. Porém, o ex Museu da Rádio na Rua do
Quelhas, 21 de que o meu amigo Jacinto Leal foi, especial co-criador, gestor e
coletor de equipamentos é extinto, ou dito de outro modo, integrado no Museu da RTP. Hoje podemos ver uma selecção de peças
deste "extinto" museu na nova sede da RTP com sede na Rua Marechal Gomes da Costa
nos Olivais / Chelas – Lisboa; também no Porto, Madeira e Açores.
Fontes:
-ANCIÃES, Alfredo Ramos; et al – Comunicar na República: 100 Anos de Inovação Tecnológica. Lisboa:
Fundação Portuguesa das Comunicações, [2010]
-ANCIÃES,
Alfredo Ramos; Fundação Portuguesa das Comunicações - “A
Telegrafia Multiplex e a Inovação de Francisco Mendonça, Cassiano de Oliveira e
António dos Santos”.in «150 Anos da
Telegrafia Eléctrica em Portugal». Lisboa: Fundação Portuguesa das
Comunicações, 2005-FPC Fundação Portuguesa das Comunicações; BÁRTOLO, Carlos - "Arquitectura e equipamento do modernismo ao Estado Novo: as estações de Correio do Plano Geral de Edificações". Catálogo e Exposição de 10 de Novembro de 1998 a 30 de Janeiro de 1999 no Museu das Comunicações
-NORDESTE, Paulo; PT Inovação et al. – PT Inovação 50 Anos ao Serviço da Investigação e Desenvolvimento em Telecomunicações: Uma exposição em Retrospectiva. 12 de Maio a 2 de Junho de 2000. Aveiro: PT Inovação; Officina Digital, 2000.
-PT et al - "A empresa privada que mais investe em Portugal". in é NOTÍCIA: Newsleter do Grupo Portugal Telecom , nº 33, Janeiro 2006
-KINDERSLEY, Dorling; SILVA, Sebastião C. (trad.) et al – Enciclopédia Visual: As Grandes Invenções. Lisboa: Verbo, 1992
Imagens -
001 a 005; 007 a 011; 014 - Gentileza da FPC - Fundação Portuguesa das Comunicações . -
006; 012 e 013 - Pessoal AA . -
015 - Gentileza do ex Museu da Rádio, também disponível em desdobrável do mesmo Museu
001 a 005; 007 a 011; 014 - Gentileza da FPC - Fundação Portuguesa das Comunicações . -
006; 012 e 013 - Pessoal AA . -
015 - Gentileza do ex Museu da Rádio, também disponível em desdobrável do mesmo Museu
Em linha, acedidas em 10.03.2017 –
-PLATÃO, Clássico Ateniense;
CABRAL, João Francisco P.; CHAUÍ, Marilena. et
al – “Alegoria da Caverna” https://pt.wikipedia.org/wiki/Alegoria_da_Caverna -DIAMOND et al – “A História da Televisão” http://www.ahistoria.com.br/televisao-invencao/
- MAGEE, Bryan, et al – “Platão” https://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o
-Sofisica, et al - “História da física e o Surgimento da televisão”
-VIVIAN, Lourenço et al – “Da descoberta do selénio ao sistema digital” http://www2.faac.unesp.br/pesquisa/lecotec/projetos/revista/index.php/memoria/74-tv-da-descoberta-do-selenio-ao-sistema-digital
Sem comentários:
Enviar um comentário