01.Recetor Slaby & Arco com coesor
de Edouard Branly
Em
1902 a TSF telegrafia sem fios (via radioelétrica) dava ainda os primeiros passos.
Contudo, a 26 de maio desse mesmo ano são realizadas experiências em Portugal, na
Marinha, entre a Cidadela de Cascais e o navio cruzador D. Carlos. Uma das primeiras peças utilizadas nessa altura foi a
que aqui se apresenta. É um equipamento de Adolf Slaby e de Georg Alexander von Arco.
Sinteticamente designa-se por recetor Slaby & Arco. Esta peça
precursora está à guarda na Fundação Portuguesa das Comunicações / Museu.
As
mensagens por essa altura comutadas « […] foram assim as primeiras que, em
Portugal, cavalgaram as ondas electromagnéticas nas ligações navio/terra […]»
(cf. VALLE,
ob cit.).
Porém,
outros nomes, além dos acima citados são incontornáveis. Guglielmo Marconi (Bolonha,
1874 ; +Roma, 1937) e Eduard Branlly (Amiens,
1844 ; +Paris 1940), por exemplo. Branly foi titular de um prémio Nobel da Física por ter descoberto o
coesor / recetor, tendo o mesmo ficado conhecido por coesor de Branly. O coesor
é um pequeno componente parecido com um fusível. No interior do qual existe um filamento
e limalha metálica. Foi este pequeno componente que serviu como recetor dos
sinais radioelétricos e terá ajudado Guglielmo Marconi a obter um lugar cimeiro
na TSF.
&&&
Jagadish Chandra Bose (Índia, 1858 -1937). As investigações de Bose e do físico
Édouard Branly são quase simultâneas e, provavelmente, independentes uma da
outra. Branly foi pionero, do ponto de vista do registo de patente com o coesor detetor registado com o seu nome.
A peça que acima incluímos contém esse
componente simples, mas importante para o início da radiotelegrafia.
Bose (1) inventa peça compatível mas conforma-se
com a divulgação no sistema de ensino e no emprego da mesma peça para explodir pedreiras
à distância e para campainhas de sinalização. Bose estava mais interessado na
segurança de vidas humanas e na divulgação do conhecimento, através do ensino
que ministrava, do que em realizar proventos pela venda de serviços e
equipamentos.
A sua genialidade como físico,
biofísico, botânico, fisiologista e arqueólogo, foi direcionada para a relação
humanista. Altruísta, parece ter descurado o desenvolvimento na vertente das
comunicações, deixando o caminho aberto para outros investigadores, tal como vem
a acontecer, com a evolução das telecomunicações inclusivamente na Era digital.
Bose inicia a investigação que viria a dar frutos com os semicondutores, base
das comunicações modernas/atuais à distância.
Mais interessado pelos fenómenos da vida
e desta com o Absoluto (2), Bose privilegia o estudo da relação homem/meio
ambiente como forma de interligação, inclusive com entidade(s) suprema(s). Para
Bose, a natureza vegetal não é desprovida de sensações de bem-estar, mal-estar;
não é indiferente a estímulos. Uma planta pode sentir a presença de bons e maus
fluídos e reage a sensações e
comunicações.
Tudo parece indicar, que o reino vegetal
comunica com o meio, libertando odores e desenvolvendo-se ou retraindo-se no
seu crescimento e morte; na frutificação abundante e generosa, ou no
definhamento e esterilidade.
Para comprovar os atributos de
sensação/reação, felicidade/bem-estar que a sua intuição e espírito lhe
sugeriam, Bose inventa um equipamento a que chama crescógrafo (3)
permitindo a ampliação, das manifestações reativas/comunicativas do reino
vegetal, até cerca de 10.000 vezes.
Dada a sua personalidade de polígrafo,
Bose dedica-se mais ao ensino dos princípios do que às questões formais e
autorais. Filho de um magistrado estuda em Calcutá, a partir dos 9 anos, onde
conclui uma licenciatura. Em 1880 já se encontra em Londres onde segue
Medicina, que não conclui devido a ter desenvolvido uma doença de malária. Muda
de curso e licencia-se em Física. Entre vários professores encontra Francis
Darwin, filho do célebre Charles Darwin.
Regressa a Calcutá onde trabalha cerca
de 30 anos. Leciona e investiga no Presidency College e é nas duas
últimas décadas do século XIX que realiza várias investigações, entre elas:
sobre ondas eletromagnéticas,
precedendo Marconi.
Nestes anos consegue fazer explodir uma
carga à distância, através do espaço radioelétrico, isto é, sem o uso de fios e
faz tocar uma campainha, também sem o recurso de traçados de transmissões
físicas contínuas. Estavam dados os passos essenciais para as radiocomunicações. Em 1896 o Daily
Chronicle relata a experiência da sua comunicação à distância, sem fios.
Quase pela mesma altura o russo Alexander Popov (S. Petersburgo, Rússia,
1859-1906) também realiza experiências no sentido de comunicar pela via
radioelétrica. Mas Popov escreve em 1895 que mantinha a esperança de comunicar,
sem fios; logo, verifica-se que, neste ano de 1895, ainda não tinha conseguido
o seu desiderato. Quanto a Marconi,
também só em 1897 consegue resultados aceitáveis e encorajadores.
Bose
não tem intenção em manter em segredo a sua investigação. Não o move o desígnio
de criação de empresas e de negócios altamente lucrativos, apenas a divulgação
científica entre a população interessada. Mas não faltava quem por interesses
pessoais, quiçá egoístas, quisesse apresentar inovações. Ele próprio desabafa
com um amigo poeta, e igualmente polígrafo de Calcutá – Rabindranath Tagore, em
1901, sobre o “espírito de ganância” pelo dinheiro que encontra em obcecados “concorrentes”.
Bose investiga e trabalha sobre as ondas
curtas que estão na base da revolução das comunicações a longas distâncias.
Inventa um protótipo de díodo (4)
semicondutor de cristais, funcionando como peça transmissora de informação e
descobre as micro-ondas.
A este respeito estava tão avançado em
relação ao seu tempo que o Prémio Nobel de Física de 1977 – Nevill Mott
confirma que Bose estava “60 anos avançado em relação à sua época”(5).
PRECURSORES
LUSÓFONOS
Um lusófono precursor nas comunicações à
distância, contudo retirou-se para prosseguir o sacerdócio, tal como acontecera
com o Pe. Bartolomeu Lourenço de Gusmão, deixando para outros a técnica e a
aplicação comercial das suas invenções. Trata-se desta feita de um dos primeiros
inventores da telegrafia sem fios - o Padre Roberto Landell de Moura (Porto Alegre - Brasil, 1861 – +1928).
Em 1909 Guglielmo Marconi
partilha o Nobel da Física com Karl Ferdinand Braun (Fulda – Alemanha, 1850 ; +1918, Nova Iorque) , porém o Pe. Roberto,
que estudara nas escolas de ensino religioso, incluindo em Roma e na Academia
Real Militar (fundada por D. Maria I de Portugal) construíra o primeiro
transmissor-recetor de ondas hertzianas (pela via etérea). O seu invento data
de 1892, antes do de Marconi. Mas faltou a Roberto um meio social incentivador:
«Seu laboratório, montado a custo de muito trabalho e suor,
foi mais de uma vez destruído […]. Embora me tenham acusado de participante com
o diabo e interrompido meus estudos pela destruição de meus aparelhos, hei de
sempre afirmar: isto é assim e não pode ser de outro modo... Só agora
compreendo Galileu exclamando: ´E pur se muove!`. Em 1900, finalmente, sempre perseguido por toda sorte de
vexames e dificuldades financeiras, consegue obter uma patente brasileira, sob
o número 3279» (cf. Alencar et al, ob
cit) e em 1904 nos EUA. Porém, o seu invento
passa a águas mornas. A falta de uma entidade relevante que o apoiasse, levou a
que se retirasse, em 1905, desligando-se das reivindicações e da melhoria dos
trabalhos científicos.
Um outro lusófono, desta feita, natural
de Lisboa – Carlos Viegas Gago Coutinho, o mesmo que foi pioneiro na aviação,
também se dedicou a experiências elétricas. Trabalhou na ideia de melhorar um
dispositivo transmissor e recetor radioelétrico, tendo conseguido em 1900 chegar
a resultados encorajadores. A ideia terá partido da realização, então já
conhecida, de Édouard Branly. Em vez
do coesor de Branly com limalha, Coutinho substitui o metal moído por um
alfinete de ouro e uma fina agulha. Tal como Landel de Moura não terá
encontrado um meio social e profissional suficientemente envolvente, com fé
inquebrável no progresso e na persistência, e assim o dispositivo não foi aplicado
na prática.
02.
Patente de invenção de Gago Coutinho
Na altura a telegrafia elétrica por fio já
estava muito expandida em Portugal e o país vivia em graves crises financeiras.
A TSF teve de aguardar, cerca de uma década, até que, enfim, contratam Marconi após
várias negociações para introduzir a TSF em Portugal. Convém deixar uma nota de
que o tempo protelado na aplicação da TSF nos anos 20 não foi de todo
prejudicial, pois teve a vantagem do amadurecimento das ideias e quando foi
implementada o equipamento já estava avançado e capaz de comunicar para longas
distâncias.
Palavras-chave:
Alexander Popov, Edouard Branly, Gago Coutinho, Guglielmo Marconi, Jagadish
Chandra Bose, Paramahansa Yogananda, Roberto
Landell de Moura, TSF Telegrafia Sem Fios,
Notas:
(1)É interessante o nome / termo Bose por estar associado ao “pequeno e discreto” (cf. http://mundodasmarcas.blogspot.pt/2006/05/bose-better-sound-through-research.html, https://pt.wikipedia.org/wiki/Condensado_de_Bose-Einstein ).
O BOSÃO, por sua vez, ganhou o
significado de “a partícula mais pequena
de Deus”. O nome Bose parece ter sido inspirado aos seus progenitores. Bose,
originário de um território colonizado tornou-se grande, não só na India, como
na Metrópole / Reino Unido, e no Mundo, estando hoje as suas obras, e as que
dele falam, traduzidas em cerca de 20 línguas.
(2)A expressão Absoluto
é qui empregue em vez de Deus, Javé e Alá, cujas referências estão ainda
ligadas a religiões e culturas diferentes, o mais das vezes em competição ou em
guerra declarada.
(3)Crescógrafo - substantivo masculino do latim cresco,
crescer + grafo, registo, isto é, aparelho amplificador e registador do
crescimento das plantas. (cf. Dicio – Dicionário Online português). Diz-nos o
guru indiano Paramahansa Yogananda, na sua obra onde se refere a Bose, que este
precursor “recebeu o título de Cavaleiro pela Administração Britânica, em 1917,
pela invenção do crescógrafo”, entre outros instrumentos. (cf.
YOGANANDA: 2007).
(4)Díodos (do grego di e odos = dois caminhos). Trata-se de pequenas peças trabalhando com
cristais. Estas pequenas unidades são, hoje em dia, mais conhecidas como
semicondutores. Assentam na capacidade
variável de conduzir a corrente elétrica. Os cristais foram primeiramente
descobertos em 1873-1874 por Frederick Guthrie e Karl Braun. Depois utilizados
por Thomas Edison (1880). Pouco
tempo após, são aplicados por Édouard
Branly e Jagadish Bose, no então
chamado coesor de transmissão
radioelétrica.
Imagens gentileza:
01.Recetor Slaby & Arco - Fundação
Portuguesa das Comunicações
02.Patente de invenção de Gago Coutinho –
CDI / MOP
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Comunicações, 2005. – Doc. Apresentação da Exposição “150 Anos da Telegrafia
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origens: De onde vem tudo o que nos rodeia, do Universo e da vida aos objetos
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