Magalhães nasce em 1480 no concelho de Sabrosa. Alguns outros autores e localidades têm reivindicado o seu berço, tais como sucede som Ponte da Barca onde teve família e a freguesia da Sé do Porto de onde um dos seus avós era natural. Falece em 27 de Abril de 1521 em combate nas actuais Filipinas durante a primeira viagem de circum-navegação, realizada em sentido contrário às navegações habituais, isto é, rumando para ocidente, a fim de alcançar o oriente.
Monumento a Fernão de
Magalhães na Praça do Chile – Freguesia de Arroios – Lisboa.
Projecto organizado
e liderado por Fernão de Magalhães até ao local do incidente que o vitimou. A viagem fora
iniciada em Setembro de 1519 executada com o
apoio da coroa espanhola, no tempo de Carlos I (Carlos V da Alemanha ou Carlos
de Habsburgo do Sacro Império Romano-Germânico). Os serviços de
Magalhães foram primeiro oferecidos à coroa portuguesa, nomeadamente a D.
Manuel I que na altura vivia rodeado de mordomias, criados, servos,
conselheiros e intriguistas.
D. Manuel,
demonstrou por Magalhães um desprezo e indiferença que terá magoado o Homem
prático do terreno, o soldado, o marinheiro, curioso e estudioso. Mesmo assim,
perante a infiferença do rei, Magalhães aproveita a oportunidade para perguntar
ao monarca se não se importava que oferecesse os serviços a um outro rei
cristão - ao que o rei anuiu, desvalorizando a proposta de Magalhães. Tudo parece
indicar que D. Manuel terá reflectido após a saída de Magalhães do Paço da
Ribeira. O “venturoso” acabou por mandar seguir os passos do navegador em Espanha.
Consta que foi mesmo proposta a sua morte por um determinado bispo português, possivelmente
para agradar ao monarca.
Quando D. Manuel pressente
a viabilidade do projeto de circum-navegação ser realizado sob a administração
e financiamento de Espanha manda convencer o navegador a regressar a Lisboa com
proposta de diversas garantias, para lá do mísero aumento de pensão que em
primeira mão Magalhães solicitara em Lisboa, em presença do rei.
O navegador já
havia assinado o seu nome no projeto de Sevilha, tutelado pelo então jovem
Carlos I quando é abordado para regressar ao reino. Magalhães
não volta atrás à palavra dada e a viagem ao Oriente em sentido contrário ao
habitual tem mesmo início em 20 de Setembro de 1519
Magalhães chega,
enfim ao objectivo –às terras das especiarias, sem passar por mares e terras na
altura propriedade de Portugal. O navegador confiou na sua intuição, no
astrómomo Rui Faleiro, na documentação consultada e nas muitas experiências
anteriores no Oriente, durante quase uma década. Magalhães
confiou, outrossim, no seu companheiro, na altura escravo Henrique que trouxera
do Oriente (atuais Filipinas); confiou na lingua e comunicação do seu servo
para estabelecer negociações. A comprovar a confiança no escravo, Magalhães propõe
o batismo cristão com o nome de Henrique e inclui o mesmo Henrique como
beneficiário em testamento. A proposta de alforria e participação na
herança faz parte da palavra escrita e assinada por Magalhães em relação a Henrique.
Tal não viria a acontecer, por morte prematura de Magalhães e por desabono de
considerações dos homens que poderiam habilitar Henrique.
Ainda a homenagem ao incentivador das descobertas - O Infante D- Henrique. A coroa faz parte do monumento a Fernão de Magalhães
A experiência na
Ásia e a bravura como guerreiro, no Norte de África também incentivam Magalhães
a correr novos perigos e desafios. Mas as
intrigas em Lisboa e em Sevilha pelos seus opositores, portugueses e espanhóis,
ciosos e invejosos, tendo projetado a sua morte, fazem do projecto de Magalhães
uma empresa muito mais delicada do que à partida seria expectável.
Como
pajem e criado do paço em Lisboa, ao tempo de D. João II, Magalhães adquirira
muito tacto e informação que o habilitaria à viagem mais dificil, problemática e
dramática de sempre; algo comparável à empresa de Bartolomeu Dias, mas mais complexa ainda. Tal
como anteriormente foi preciso contar com a competição e as rivalidades das
comunidades islâmicas no Oriente, onde faziam negócios locais e expedições pelas
vias terrestres.
Legenda in expo` «Em demanda da biblioteca de Fernão de Magalhães» na BNP
Note-se que, tanto
Magalhães, como alguns dos seus colaboradores portugueses já haviam navegado entre
milhares de homens de espada e centenas de bombardeiros com artilharia de
canhão. Magalhães participara antecipadamente no
Oriente, entre outras localidades: em Goa, Cochim. Quíloa, Cananor e Malaca),
tendo-se alistado na armada comandada pelo vice-rei dom Francisco de Almeida.
Após a sua morte, por
emboscada e traição, a viagem é dirigida por Juan Sebastian del Cano que fazia
parte da expedição e era à partida uma das últimas escolhas de Carlos I. Remarque-se,
aliás, que Del Cano desobedeceu às ordens de Carlos V ao regressar pela via da
rota do Oriente, concedida a Portugal.
Legenda in expo` «Em demanda da biblioteca de Fernão de Magalhães» na BNP
«Homenagem da República do
Chile em 1950» por reconhecimento do
pioneirismo, trabalhos de ciência, técnica e exploração geográfica da autoria
de Fernão de Magalhães.
Posteriormente
esteve no Norte de África (Azamor) onde ficou ferido e deficiente numa perna.
Alcançou honras pela bravura em combate. Um diferendo com o monarca português
levou-o a oferecer os seus conhecimentos e serviços a Carlos I de Espanha.
Além da experiência
prática nas viagens e localização de Terras Magalhães estudara cartografia em
Lisboa, o que lhe permitiu conhecimentos para alcançar o arquipélago das
Molucas por via contrária à habitual. O principal objectivo era o negócio com a
Ásia. Poder provar que o arquipélago das especiarias seria
alcançado sem passar pelos mares reservados a Portugal por força do Tratado de
Tordesilhas.
A riqueza das
Molucas devia-se à importante fonte de especiarias muito lucrativas. Era, além do mais, preciso saber a quem pertenciam essas
Ilhas, tendo em conta Tordesilhas.
Placa toponímica «Praça do
Chile» em reconhecimento da homenagem desta República, incluido a oferta do
monumento em memória de Fernão de Magalhães
A viagem
de Magalhães, não permitiu apenas o óbvio – comercializar com o Oriente: Tornou evidente a
esfericidade da Terra e deu origem à redefinição dos limites da demarcação dos
direitos de posse e conquista de territórios de além-mar. O arquipélago das
Molucas passou a figurar como referência para Espanha e Portugal por via do
estabelecimento do antimeridiano de Tordesilhas. Daqui resultou mais um Tratado
– o de Saragoça, realizado a 22 de Abril de 1529, onde voltam a ser delimitados
corredores e propriedades entre as duas coroas ibéricas.
Legenda in expo` «Em demanda da biblioteca de Fernão de Magalhães» na BNP
O conhecimento é
por natureza imaterial, volátil e transmissível. Da Ibéria e do Oriente o saber
vai difundir-se e entrecruzar-se com saberes de outros povos, de cá e de lá, tendo
ainda em conta o lastro cultural da Renascença que por essa altura se difunde
pela Europa.
O
prosseguimento dos Tratados foram possíveis porque na altura se geraram relações
propícias entre os dois reinos ibéricos devido à política de casamentos,
nomeadamente de Carlos I com Isabel de Portugal filha de dom Manuel I e de dom
João III com Catarina de Áustria, irmã de Carlos I. E na sequência da “prova” das
Molucas para o lado de Espanha, dom João III negociou os direitos destas ilhas,
comprando-as por 350.000 ducados. Mais uma vez Portugal reforça o controle dos
negócios das especiarias, da arte de marear em longas escalas e do “saber com
experiências feito”, como diria o poeta Luís Vaz de Camões.
Legenda in expo` «Em demanda da biblioteca de Fernão de Magalhães» na BNP
Fontes:
-ALBUQUERQUE, Luís
de – Os Descobrimentos Portugueses. - S.L.: Selecções do Reader`s Digest, SARL;
Publicações Alfa, SARL, 1985
-BNP et al - Expo` "Em demanda da biblioteca de Fernão de Magalhães" de 07.02 a 13.05.2019 na Biblioteca Nacional de Portugal
-BNP et al - Expo` "Em demanda da biblioteca de Fernão de Magalhães" de 07.02 a 13.05.2019 na Biblioteca Nacional de Portugal
-ANCIÃES, Alfredo
Ramos – “Fernão de Magalhães”.- blogs Sol acedidos em 2011 e até à suspensão
desta plataforma por alegados motivos de gestão económica do Jornal.
-DOMIMGUES, Mário –
Fernão de Magalhães.- 3ª ed. - Barcelos: Companhia Editora do Minho; Livraria
Civilização –Editora.- Porto, 1980
Seguem-se comentários na primeira edição do post de Alfredo Ramos Anciães na plataforma do Jornal Sol em 2011:
ProfetaPolitico said: Nestas épocas deu-se o pontapé de saída para a era que agora vivemos, a
globalização, e os Portugueses estiveram presentes. Os mares e os rios eram na
altura as grandes auto-estradas do conhecimento e hoje, as mesmas auto-estradas
transferiram-se para as ondas magnéticas, para o espaço, o conhecimento
tecnológico e nestes campos estamos infelizmente um pouco atrasados. Mas dado a
pre-disposição dos Portugueses em adaptar as mudanças, tenho fé que ainda
possamos apanhar o barco. As energias renováveis foram uma boa e excelente
aposta. Sei, falta a nível das mentalidades, mas vamos ter fé. Abraços P.P. #
Fevereiro 8, 2011 12:11
avomilu said: Amigo. Como sempre continuo
aprendendo contigo. Agradeço as palavras sempre lindas que escreves. Beijo milu
#
Fevereiro 8, 2011 16:39
AlfredoRamosAnciaes said: Olá Profeta, Obg pela visita. Na realidade Magalhães foi um dos mais
valentes soldados, um Homem de ciência e de experiência, um Homem de carácter e
respeito ao contrário do que por vezes possa parecer. Na
realidade ele foi oferecer os seus serviços a Espanha depois de os oferecer
primeiro a ao rei dom Manuel I. Como este tivesse recusado, Magalhães
ainda lhe pergunta se poderia ir oferecer os mesmos serviços a outro monarca
católico. Dom Manuel respondeu-lhe que sim, embora essa não fosse a sua vontade
como mais tarde se veio a reconhecer ao arrepender-se e mandar regressar
Magalhães ao reino. Nesta altura já Magalhães tinha dado a sua palavra ao
monarca espanhol e os preparativos estavam a avançar.Isto prova que na vida as
indecisões podem custar caro. Por outro lado e visto de outro ângulo, porque é
que Portugal haveria de ficar com todos os "louros" na ciência e
Descobrimentos? A ganância desmedida não será também uma iniquidade? #
Fevereiro 8, 2011 18:15
ahbruto said: Meu caro Fred. Magalhães era de um tempo, em que ser português valia alguma
coisa... Um abraço. Ahbruto. #
Fevereiro 8, 2011 21:24
AlfredoRamosAnciaes said: Cara ahbruto. Tem razão. Os
portugueses de Quinhentos, apesar de serem apenas cerca de um milhão, desenvolveram várias ciências náuticas, astrónomas,
matemáticas, cartográficas, linguísticas ... difundiram conhecimentos e
comunicações entre povos, contribuindo para a civilização e
convivências. Não obstante tiveram que sofrer e fazer a
guerra, ser servos e fazer servos. Era inevitável. Ainda hoje no século
XXI isso acontece entre vários povos do mundo. Quanto ao nosso tempo, esperamos
que haja cada vez mais portugueses neste nosso século a fazer a diferença
contribuindo para invenções e criando riquezas e solidariedades. Abraço. Fred. #
Fevereiro 9, 2011 13:04
Zory said: Boa tarde . fred. Não tenho
comentado, mas leio religiosamente e com bastante assiduidade os seus posts.
Leituras essas que me alimentam a alma quando me relembram textos da Bíblia
Sagrada. Grata lhe fico por isso. Como o de hoje, avivando a lembrança da nossa
História com nomes de Gente Grande, figuras notáveis que é bom enaltecer e
recordar, vem mais um exemplo da sua entrega e propósito de valorizar o que é
nosso. Bem haja! Cá voltarei sempre. Cumprimentos. Zory
# Fevereiro 9, 2011
17:01
AlfredoRamosAnciaes said: Olá Zory. Seja bem-vinda e
obrigado pela sua partilha. CMPTS. Fred. #
Fevereiro 9, 2011 22:37
Brutus said: Excelente post! Parabens pelo seu poder de síntese narrativa histórica. Ao
mesmo apenas acrescentaria que, além de primeiro ter oferecido os seus serviços
a D. Manuel, o mesmo pretendia que lhe fosse dado o comando no Oriente e o
correspondente título e honrarias de Vice-rei e como tal lhe foi naturalmente
negado, mas só alguns historiadores o referem. Daí ter-se então oferecido (a
troco de alguma coisa...) ao monarca castelhano, para provar que as Molucas
cabiam na metade que lhe fora conferida pelo Tratado de Tordesilhas. Claro que 'nuestros
hermanos' não possuíam a nossa ciência náutica, designadamente para medir
longitudes, pois, de contrário, o Brasil não seria o que é hoje... Um
abraço.
# Fevereiro 11, 2011
15:04
AlfredoRamosAnciaes said: Olá Brutus. Desconhecia essa reivindicação, em concreto, de Magalhães.
Uma coisa é certa, Magalhães ao tratar com o monarca português fê-lo
educadamente mas sem qualquer subserviência como que se fosse tratar com um
Deus. Já nessa altura Magalhães é
descrito como pessoa que vestia sempre de preto, senhor de si, personalidade
bastante vincada. Sabia do que falava ao querer atingir o Oriente navegando
para Ocidente mas não tinha a certeza nem ninguém, na altura, se ía encontrar
os obstáculos de uma América muito extensa para sul e se na mesma América
haveria ou não comunicação entre os dois Oceanos. O
Estreito de Magalhães foi descoberto e alcançado com imensas dificuldades.
Magalhães teve de enfrentar vários motins a bordo,
várias traições entre uma tripulação de diversas nacionalidades; condenados e
marginais da altura. Venceu todas essas "guerras" menos uma - a da
traição quando foi apanhado numa emboscada de Índios. Enfim, dos cerca
dos 237 homens que seguiam na expedição regressaram apenas "18
espectros" como nos conta o cronista italiano Pigafeta que também seguia a
bordo. Obrigado pela sua intervenção. Abraço. fred
# Fevereiro 11, 2011
17:53
Zory said: Bom dia. Vim aqui ao Seu
espaço e aproveitei fazer leituras de trás, de que sempre gosto e me confortam.
Cá virei sempre. Obrigada. Até breve! Cumprimentos. Zory
# Fevereiro 14, 2011
8:43
AlfredoRamosAnciaes said: Olá Zory. Sempre bemvinda.
Também a visitarei as suas memórias e descrição que considero interessantes. CMPTS.
fred
# Fevereiro 19, 2011
1:59
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