Junto reponho o post editado
no próximo passado e que coincidiu com o nº 101. Nele se refere o “O mito é o
nada que é tudo” (PESSOA, F.).
Museion, Musa, Música e Museologia são palavras com
o mesmo radical e segundo tudo parece indicar estão relacionadas aos preceitos
do Museion enquanto figura humana, real
ou mitológica, e ao Museion já como instituição.
Consta que, na Grécia Antiga e
Pré-Clássica, uma personagem mitológica do género masculino andava de terra em
terra levando música, poesia e aconselhamento. Essa personagem - o Museion relaciona-se
com os deuses da mitologia. Reflete saberes que nos chegam, essencialmente,
por via lendária.
Quando os filósofos gregos iniciam as
suas reflexões contribuindo para a formação educacional da cultura grega - a Paideia - já o Museion existia como instituição informal.
Presume-se mesmo que terá sido uma das
primeiras instituições, para lá do clã e da família, a ter existência.
De modo que ao Museion terão recorrido os filósofos da antiguidade e pessoas
ligadas aos processos de cidadania, cultura, ciência, artes da governação,
defesa/guerra e do bem público.
Como instituição de preservação,
conservação, representação e exposição de saberes, o Museion terá sido frequentado por Platão, pois este filósofo «[…] identifica a sabedoria com a felicidade [contudo
Platão não vivia apenas no mundo ideal e das ideias - passe o que parece ser um
pleonasmo - pois ele] acredita na
desigualdade das inclinações dos homens para a prática da virtude;
uns se contentariam com a coragem, outros com a temperança; poucos, no
entanto, buscariam à virtude perfeita;
esses possuiriam o germe divino da sabedoria.» (cf. PIMENTA, Felipe, ob. cit.)–
É precisamente no Museion, à procura desse «germe divino da sabedoria» que os
pensadores clássicos ou de cultura clássica buscam inspiração.
“O
mito é o nada que é tudo” (Fernando Pessoa) (1) e que permite versar sobre a
natureza, o homem e o mundo.
(1)Trata-se de um aforismo (pensamento) que funciona
como uma regra, ou um princípio validado pelo tempo.
Pessoa faz uso dessa cultura clássica, baseada nas
lendas, na mitologia e na filosofia, de que o Museion, a Literatura e a Museologia se servem para ajudar a refletir:
«A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Occidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
[/…]
Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Occidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.» (in Mensagem, texto
original, p. 15)
Na página 19 da mesma obra - «Mensagem» Pessoa recorre
de forma explícita ao fundo cultural que enformou os primeiros saberes de que
temos “ressonâncias”, inclusivamente na origem da denominação de Lisboa. E
recorre a:
«ULYSSES
O mytho é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mytho brilhante e muso[ 2]
[2]*muso
= que inspira o bem-querer … cf. https://pt.wiktionary.org/wiki/muso)]
[/…]
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundal-a decorre. […]»
[Mensagem, grafia/texto original, p. 19]
Consta que Museion era parente ou
próximo do deus Orpheu, médico, poeta e filho de Calíope (precisamente a musa
da boa voz)
e de Apolo (deus da luz e do sol);
Orpheu, filho de Calíope, um dos mais dotados
deuses, inclusivamente na música. Quando Orfeu atua com a sua lira, as aves e
os animais selvagens param para escutar. As árvores debruçam seus ramos para se
deleitarem com os sons. E com a música Orpheu cura doenças.
Na transição da Idade Pré Clássica para
a Clássica, já encontramos a palavra Museion
associada a uma Instituição e a um edifício - a casa das musas, o sítio onde residem as nove
musas, representantes dos saberes
e das inspirações; Museion este, que
vem acolher também a representação dos 12 deuses no Olimpo.
As nove Musas são filhas de duas personagens mitológicas relevantes na
Instituição museística. Trata-se do pai Zeus, também pai de outros deuses
muito divulgados (3)
e da mãe Mnemosine, a deusa da memória.
(3)Exemplo
de outros deuses e/ou personagens mitológicas, entre as mais conhecidas: Apolo (luz e sol); Ártemis (vida selvagem, caça, lua, magia), filha de Zeus, irmã de Apolo é Diana em Roma); Hermes (filho de Zeus, estradas e viagens,
mensageiro dos deuses et al, patrono
dos ladrões, diplomatas, comerciantes, astronomia, eloquência e guia das almas
para o reino de Hades);
Ulisses (Ulisses em Roma; Odisseu –
Grécia, personagem da Ilíada e da Odisseia escrita por Homero, principal na Guerra de Troia); Perséfone (Filha
de Zeus - ervas, flores, frutos, perfumes, agricultura, estações
do ano); . .Héracles (Hércules em romano,
semideus, filho de Zeus), podia usar a força mesmo contra a
natureza); Neptuno (fontes, correntes de água, terramotos,
mar, inspirado em Poseidon, grego) ; Vénus (no panteão romano,
Afrodite no panteão grego, representam o amor e a beleza); Marte, romano (guerra e agricultura); Helena
de Tróia (filha de Zeus, mulher mais bela,
protegida por Odisseu (Ulisses em romano) casou-se
com Menelau, rei de Esparta).
Palavras-chave relacionadas: musa, museion, música, museologia, muso, poesia, Pessoa F.
Fontes:
--ANCIÃES, Alfredo Ramos – “101 Sobre as Origens da Explicação do
Mundo” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/10/sobre-as-origens-da-explicalao-do-mundo.html
--PIMENTA, Felipe – “Filosofia e Literatura” https://felipepimenta.com/2013/04/03/resumo-da-filosofia-de-platao-teoria-das-ideias-mundo-sensivel-e-psicologia/ )
--WIKI .. et al – https://pt.wikipedia.org/wiki/Deuses_olímpicos
101; 168 AA Cumprir a Terra
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