domingo, 15 de outubro de 2017

CAPICUA 101


Junto reponho o post editado no próximo passado e que coincidiu com o nº 101. Nele se refere o “O mito é o nada que é tudo” (PESSOA, F.).

Museion, Musa, Música e Museologia são palavras com o mesmo radical e segundo tudo parece indicar estão relacionadas aos preceitos do Museion enquanto figura humana, real ou mitológica, e ao Museion já como instituição.

Consta que, na Grécia Antiga e Pré-Clássica, uma personagem mitológica do género masculino andava de terra em terra levando música, poesia e aconselhamento. Essa personagem - o Museion relaciona-se com os deuses da mitologia. Reflete saberes que nos chegam, essencialmente, por via lendária.

Quando os filósofos gregos iniciam as suas reflexões contribuindo para a formação educacional da cultura grega - a Paideia - já o Museion existia como instituição informal.

Presume-se mesmo que terá sido uma das primeiras instituições, para lá do clã e da família, a ter existência.

De modo que ao Museion terão recorrido os filósofos da antiguidade e pessoas ligadas aos processos de cidadania, cultura, ciência, artes da governação, defesa/guerra e do bem público.

Como instituição de preservação, conservação, representação e exposição de saberes, o Museion terá sido frequentado por Platão, pois este filósofo «[…] identifica a sabedoria com a felicidade [contudo Platão não vivia apenas no mundo ideal e das ideias - passe o que parece ser um pleonasmo - pois ele]  acredita na desigualdade das inclinações dos homens para a prática da virtude;

uns se contentariam com a coragem, outros com a temperança; poucos, no entanto, buscariam à virtude perfeita;

esses possuiriam o germe divino da sabedoria.» (cf. PIMENTA, Felipe, ob. cit.)–

É precisamente no Museion, à procura desse «germe divino da sabedoria» que os pensadores clássicos ou de cultura clássica buscam inspiração.

 “O mito é o nada que é tudo” (Fernando Pessoa) (1) e que permite versar sobre a natureza, o homem e o mundo.

(1)Trata-se de um aforismo (pensamento) que funciona como uma regra, ou um princípio validado pelo tempo.

Pessoa faz uso dessa cultura clássica, baseada nas lendas, na mitologia e na filosofia, de que o Museion, a Literatura e a Museologia se servem para ajudar a refletir:

«A Europa jaz, posta nos cotovelos:

De Oriente a Occidente jaz, fitando,

E toldam-lhe românticos cabelos

Olhos gregos, lembrando.

[/…]

Fita, com olhar sphyngico e fatal,

O Occidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.» (in Mensagem, texto original, p. 15)

Na página 19 da mesma obra - «Mensagem» Pessoa recorre de forma explícita ao fundo cultural que enformou os primeiros saberes de que temos “ressonâncias”, inclusivamente na origem da denominação de Lisboa. E recorre a:

«ULYSSES

O mytho é o nada que é tudo.

O mesmo sol que abre os céus

É um mytho brilhante e muso[ 2]

[2]*muso = que inspira o bem-querer … cf.  https://pt.wiktionary.org/wiki/muso)]

[/…]

Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade,

E a fecundal-a decorre. […]»

[Mensagem, grafia/texto original, p. 19]

 

Consta que Museion era parente ou próximo do deus Orpheu, médico, poeta e filho de Calíope (precisamente a musa da boa voz) e de Apolo (deus da luz e do sol);

Orpheu, filho de Calíope, um dos mais dotados deuses, inclusivamente na música. Quando Orfeu atua com a sua lira, as aves e os animais selvagens param para escutar. As árvores debruçam seus ramos para se deleitarem com os sons. E com a música Orpheu cura doenças.

Na transição da Idade Pré Clássica para a Clássica, já encontramos a palavra Museion associada a uma Instituição e a um edifício - a casa das musas, o sítio onde residem as nove musas, representantes dos saberes e das inspirações; Museion este, que vem acolher também a representação dos 12 deuses no Olimpo.

As nove Musas são filhas de duas personagens mitológicas relevantes na Instituição museística. Trata-se do pai Zeus, também pai de outros deuses muito divulgados (3) e da mãe Mnemosine, a deusa da memória.

 

(3)Exemplo de outros deuses e/ou personagens mitológicas, entre as mais conhecidas: Apolo (luz e sol);   Ártemis (vida selvagem, caça, lua, magia), filha de Zeus, irmã de Apolo é Diana em Roma);   Hermes (filho de Zeus, estradas e viagens, mensageiro dos deuses et al, patrono dos ladrões, diplomatas, comerciantes, astronomia, eloquência e guia das almas para o reino de Hades);  Ulisses (Ulisses em Roma; Odisseu – Grécia, personagem da Ilíada e da Odisseia escrita por Homero, principal na Guerra de Troia);   Perséfone (Filha de Zeus - ervas, flores, frutos, perfumes, agricultura, estações do ano); . .Héracles (Hércules em romano, semideus, filho de Zeus), podia usar a força mesmo contra a natureza);  Neptuno (fontes, correntes de água, terramotos, mar, inspirado em Poseidon, grego) ;   Vénus (no panteão romano, Afrodite no panteão grego, representam o amor e a beleza);   Marte, romano (guerra e agricultura);   Helena de Tróia (filha de Zeus, mulher mais bela, protegida por Odisseu (Ulisses em romano) casou-se com Menelau, rei de Esparta).

 

Palavras-chave relacionadas: musa, museion, música, museologia, muso, poesia, Pessoa F.

 

Fontes:

--ANCIÃES, Alfredo Ramos – “101 Sobre as Origens da Explicação do Mundo” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/10/sobre-as-origens-da-explicalao-do-mundo.html

 



 

101; 168 AA Cumprir a Terra

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