Já várias vezes aqui chamei à colação o Arquiteto
paisagista e ambientalista Ribeiro Teles. Houve quem achasse estranho. Agora
com este resumo, com as referências a Aquilino Ribeiro, meu conterrâneo, que se
debateu contra o plantio exagerado de pinheiros e o "roubo" dos
baldios comunitários que alimentavam gados e aldeias;
Com o post que aqui deixei esta tarde
sobre a necessidade da reposição da vereia e dos vereadores que
percorriam veredas no terreno (daí a designação vereadores) ruas, aldeias e propriedades,
detetando maus exemplos e exigindo limpezas, talvez agora contribua de forma
mais eficaz para que alguém mais renitente deixe de apostar nas más políticas,
no comportamento da cigarra em vez da formiguinha, que nomeie Bombeiros e outros competentes, residentes nos locais, para vereadores no terreno, em vez dos vereadores de gabinete e do faz
de conta. É preciso mudar, ontem e hoje e não num hipotético amanhã, criando,
ora, mais gabinetes disto e daquilo para gente se instalar, para debitar mais despesas
sem proveito ou pouca utilidade.
«Gonçalo Ribeiro Telles concedeu ao
semanário «O Diabo», de 17 de Agosto de 2005, uma entrevista. O discurso da
verdade fala por si. Dado o seu interesse e a sua actualidade, fica o texto da
entrevista dada nessa altura.
“Vamos muito brevemente ser um Estado
sem território». O alarme é dado por Gonçalo Ribeiro Telles, que considera
trágico não existir uma política agrícola nacional baseada em matas, sebes e
compartimentação do espaço.
«É urgente fazer o reordenamento do
território "a sério," não para a floresta mas para as árvores em
todas as suas funções», afirma. Tudo porque o nosso País «não é um País
florestal».
«É um abuso inqualificável dizer que
está a arder uma floresta em Portugal. Cientificamente, esta afirmação não tem
qualquer validade». Para o fundador do Movimento Partido da Terra, o que está a
funcionar como um barril de pólvora são povoamentos mono específicos (de uma só
espécie) desprovidos de qualquer variedade biológica. Não se trata de mata ou
de floresta, mas sim de mato, que exige a permanente limpeza para a produção de
madeira destinada à indústria.
Considerado o primeiro ecologista
português, Ribeiro Telles acusa os Governos, os autarcas e as universidades de
«ignorância atroz», por terem uma noção completamente errada do território e
por defenderem «a floresta inexistente». «É uma anedota absurda», lamenta. O
que deve ser feito, então, urgentemente? O ordenamento do território implica o
investimento na mata, que deve funcionar por «zonagem», ao preencher as zonas
frágeis em termos de erosão, ou seja, nos grandes declives e nas barreiras. Ao
mesmo tempo, é importante construir as sebes para a agricultura, com o
objectivo de defender as culturas.
«A sebe é o estádio final da mata para
permitir a agricultura do homem», explica, e «nada disto está a ser feito». A
terceira aposta, deve ser a recuperação dos montados de sobro ou de azinho
(cortiça) ou dos soutos (castanheiros). O montado é uma interface entre a
agricultura e a pecuária, uma pastagem «que raramente arde e que regenera
facilmente». Outro aspecto fundamental no ordenamento do território é a
ocupação do espaço e a recuperação da aldeia. Para o arquitecto paisagista é
necessário valorizar o sistema aldeão, porque corremos o risco de ter o País
despovoado e à mercê dos grandes empreendimentos, idêntico à exploração dos
madeireiros da floresta Amazónica.
«Numa escala diferente, estamos também a
expulsar os índios, como acontece quando vimos as populações a correr quando há
os fogos». Encara como «embuste», a forma recorrente de se responsabilizar os
proprietários por «deixarem os terrenos ao abandono». Diz que os donos das
terras vieram para a cidade e perderam a orientação dos marcos, que foram sendo
retirados ao longo dos tempos. Hoje é impossível reproduzir o cadastro, porque
não sabem quais são os limites da propriedade.
«DESASTRE» COM ORIGEM NOS ANOS 30. Gonçalo
Ribeiro Telles enuncia três etapas que contribuíram para «a destruição do
País». Os erros começaram no século XIX com plantação de pinhal bravo, que
existia apenas nas areias do litoral. O País, que era um carvalhal
compartimentado por culturas, passou a ter uma percentagem excessiva de
pinheiro bravo. Mais tarde, por volta de 1930, assistiu-se à arborização de 400
mil hectares de baldios, no Gerês, com pseudo-tesugas, pinheiros, cedros, faias
e carvalhos-americanos, que acabou por «expulsar» as comunidades de
agropecuária do Norte. Recorda que a política da época está retratada no livro
«Quando os Lobos Uivam» de Aquilino Ribeiro.
A seguir, apareceram os eucaliptos, e
novamente os pinheiros, para satisfazerem as indústrias de celulose e de madeiras
para a construção civil. «Assim desapareceu a agricultura no fundo dos vales, a
cabra que dava leite e cabrito, o leite que dava queijo, ou os matos que davam
o mel e a aguardente de medronho. Um cenário muito diferente daquele que
existe, onde se vê crescer o pau com destino para a celulose».
«Estas produções
podiam não ter grande peso para o Produto Interno Bruto (PIB) mas contribuíam
para a fixação de população no local», sublinha. «Hoje somos um País sem população no
interior - entregue às grandes extensões de povoamentos para a indústria - com
taxas de emprego altíssimas no litoral. Portugal está transformado num
deserto».
O ex-ministro de Estado e da Qualidade de Vida culpa ainda as
autarquias por «não entregarem» as aldeias aos emigrantes que regressam à terra
de origem e responsabiliza-as por disponibilizarem loteamentos, ao longo das
estradas, sem um sistema de planeamento, equipamento e de concentração. «Depois
vê-se as pobres populações aflitas, metidas em casas no meio da chamada
"floresta", quando os culpados são as autarquias que deviam ter
incrementado o desenvolvimento das aldeias».
«A política florestal tem sido
desastrosa», e nenhum Governo, desde a década 30, conseguiu ter consciência das
necessidades do País. «É preciso iniciar imediatamente um verdadeiro
ordenamento do território, o que demoraria menos de uma geração». «A árvore
está a ser perdida todos os dias. Se a árvore deixa de estar na mata, na sebe,
nos pomares, no montado, na cidade, o que temos é uma cultura artificial que pode
dar muito dinheiro durante um curto intervalo de tempo a alguns mas que pode
acabar com o País», conclui, ao lamentar ainda a inexistência do Programa
Nacional de Ordenamento do Território.»
in página facebook do amigo Silvestre PH
Andrade, 20.20.2017
(nota: optei pela
solução de editar novo post em vez de fazer partilha direta da página de facebook citada porque
não encontrei o icon da referida partilha.)
170 AA Cumprir a Terra
170 AA Cumprir a Terra
Sem comentários:
Enviar um comentário