terça-feira, 14 de janeiro de 2020

MEDICINA PSI & NARRATIVA


-Assinatura de S. João de Deus): Há pelo menos duas versões do significado.
«EU FREI (OU IRMÃO) ZERO» e «JESUS» (em Grego Antigo)


-Capela-mor - hoje integrada no Museu do Instituto de S. João de Deus
no Telhal - Sintra).
 

Fotos recolhidas no Telhal em 2018; na sua maioria pelos 125 anos da recriação da Ordem de S. João de Deus na Península Ibérica
 

 
 

Verifica-se no século XIX / XX e na atualidade um novo enroupamento dos métodos curativos de João Cidade (S. João de Deus).

Esta figura ibérica nasce nos finais do século XV em Montemor-o-Novo – Alentejo - Portugal, tendo como segunda Pátria o país vizinho - Espanha.

Há uma certa analogia entre João Cidade (S. João de Deus) com Fernão de Magalhães, que estudámos no âmbito dos 500 Anos da viagem de circum-navegação.
Afinal:
Ambos são Portugueses que se destacaram em Espanha;
Ambos são do tempo do Renascimento;
Ambos são praticamente contemporâneos e
Ambos, cada um à sua maneira, tiveram um papel importante a nível global ou quase global.

Contudo, verifica-se que os métodos de S. João de Deus, mormente nos processos curativos das pessoas com disfunções da área “Psi” foram, praticamente, esquecidos entre a sociedade civil. O mesmo, não dizemos na esfera da instituição religiosa (assistencial e hospitalar) onde continua a ser prosseguido um trabalho importante.  

Outros avanços nesta área datam do século XIX e até à atualidade 

Sigmund Freud (Áustria, 1856 – Londres, 1939):

Em “Além da Alma Humana”, constatamos na figura de Freud o estudo das relações afetivas e do ciúme. Freud analisa sentimentos recalcados, entre pessoas.

O conceito de sublimação seria para Freud algo relacionado com a pulsão dos desejos e a sua transferência para uma atividade criadora, socialmente aceite e não reprimida, mesmo falando a nível pessoal ou psicológico.

Enquanto Freud se situa na análise da pulsão de teor sexual; outros especialistas da área das relações humanas propõem mudanças educacionais para ultrapassarem problemas. Assim e após a satisfação das necessidades básicas alimentares, S. João de Deus muda o paradigma (ainda que intuitivamente e também a partir de experiência própria quando esteve forçadamente internado) da relação entre doente e assistente. Trata-se de enorme feito para a época, pois no século XVI o doente mental (hoje diríamos da área da “Psi”) era tratado com métodos brutais, até por via das mentalidades que viam nestes doentes a “ação do maligno”. Para ser mais prosaico, viam nestes doentes a ação do diabo. Deste modo, pensava-se que quanto mais batessem no doente mental, quando entrava em crise, mais necessidade havia de espancar o maligno, atingindo assim o infeliz e geralmente inofensivo doente.

Consideramos que uma filosofia e/ou uma religião, associadas a práticas na saúde - podem ser a base necessária para a diminuição dos sintomas das doenças e da redução de carências entre os pacientes, quer sejam carências alimentares, de afeto, amor, ou comunicação. Aliás, S. João de Deus pensava isto mesmo (ainda que intuitivamente) entre a relação doente/doença e religião. Foi esta base de fé e religião que fez da ação de João Cidade um dos maiores sucessos de sempre na área da Medicina. A dar credibilidade a este pensamento, basta avaliar a História dos progressos e das ações deste cidadão e seus sucessores. 

Já na área civil e no século XX:

Carl Rogers (EUA, 1902-1987) e seus seguidores tratam da “teoria da personalidade centrada na pessoa”, abordando a Terapia de validação afetiva(cf. https://amenteemaravilhosa.com.br/psicologia-humanista-carl-rogers/ )  

Rita Charon (EUA, 1949--…) alarga o leque e vai buscar saberes de outras disciplinas (exemplo: à literatura).

Charon é recebida em Portugal, em 2019, por Maria de Jesus Cabral e pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É ainda em Lisboa que recebe a distinção de doutoramento. Porém, em dezenas de entradas documentais que já investigámos, referentes a esta investigadora, ainda não vimos, em relação à autora e sua formação, quaisquer citações das fontes da Obra de S. João de Deus. Idem em relação a Freud ou Carl Rogers. No entanto todos eles contribuíram para o desenvolvimento da “empatia”, das “relações cooperantes”, e da “comunicação” - temas que a “medicina narrativa” da autoria de Rita Charon terá de explorar para ter sucesso. A ser assim, Rita Charon deverá citar as fontes em que se baseia.
Humanismo

Hoje há milhares, senão dezenas de milhares, de pessoas no mundo que prosseguem a Obra - Hospitaleir@s da Ordem de S. João de Deus. Os seus métodos são, de certo modo, prosseguidos por outrem, com novos chavões analíticos.

Agora, tal como outrora, o carinho e o respeito pelos doentes são indicadores do sucesso nas áreas da Psicologia, Psiquiatria, Psicanálise e Gerontologia. Mais uma vez, há que olhar para a História da Medicina e respeitar os saberes transmitidos, entre gerações e instituições.

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Em relação à visita à Casa de Saúde do Telhal constatámos alguns dos processos históricos e com a visita à Casa de Saúde da Idanha teremos a oportunidade de conhecer outras valências e, pelo menos, uma unidade em funcionamento. Assim compreenderemos melhor a Obra iniciada no século XVI, que tem todo o sentido e funcionalidade no presente.  

Concluímos que a designada e recente medicina narrativa é, em nosso entender, um longo processo, mais que uma simples narrativa do século XXI.  

Feliz Ano 2020 com a cidadania de João Cidade. 

Nomes e palavras-chave: Carl Rogers, Elizabeth Cochrane, História da Medicina, João Cidade / S. João de Deus, Medicina narrativa, Psicanálise, Psicologia, Psiquiatria, Sigmund Freud, Rita Charon 

Uma seleção de referências documentais: 

--S. João de Deus Um Herói Português do Séc. XVI / Raquel Jardim de Castro
--S. João de Deus. Um Homem Que Soube Amar / Nuno Ferreira Filipe 

Em linha:

--Cumprir a Terra https://cumpriraterra.blogspot.com/2020/01/um-precursor-portugues-na-medicina-area.html

-- Elizabeth Cochrane: https://www.womenshistory.org/education-resources/biographies/elizabeth-cochrane
-- cf. https://amenteemaravilhosa.com.br/psicologia-humanista-carl-rogers/

Massamá / Sintra, Janeiro de 2020

Alfredo Anciães

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