IV - Notas para
um percurso socio-museológico da Quinta do Castelo e Consolata:
Centro Missionário Padre Paulino.
Palavras-chave: África, bem
cultural, Consolata, Centro Missionário Padre Paulino, fratrimónio, Historia, matrizmónio,
Portugal, Ribeira de Barcarena, Ribeira das Jardas
Entre os bens culturais fratrimoniais em que participam
os irmãos da Consolata e a população da envolvência, através da
organização em hortas comunitárias, como se de uma cooperativa informal se
tratasse ; e os bens da natureza que
podemos classificar como matrizmónios, tais como: a Ribeira das Jardas /
São Marcos / Barcarena, os terrenos, vegetação, aves, animais e o próprio clima
do local. No conjunto apresentam-se os bens físicos e imateriais (incluem-se
nestes bens imateriais, o clima e as relações de associação e amizade).
Os
visitantes merecem uma visita, de preferência orientada por um(a) guia
especializado(a) e orientado(a) por uma educação fratrimonial, conhecimentos
básicos de biologia, agricultura, história e/ou museologia social. Através desta Quinta e
da Irmandade da Consolata podemos fruir dos bens locais e até sermos contemplados
com a descrição de viagens históricas ou da atualidade relacionadas com o
espaço da Quinta, a arte plástica e o percurso de vida dos seus ex e atuais
proprietários ou usufrutuários.
Na Quinta
da irmandade da Consolata podemos apreciar os bens aqui produzidos e disponíveis
(físicos ou imateriais), adquirir bens de consumo (mel, licores, informação,
artesanato, …) e até fazer uma viagem
virtual ao Próximo Oriente, África e Ásia. Parece muito o que se propõe com uma
visita à Quinta do Castelo / Consolata: Centro Missionário Padre Paulino. No
mínimo podemos beneficiar de uma apresentação dos temas relacionados com estes
espaços: Economia e organização. Arte, embora com poucas peças, estas são,
em meu entender, muito relevantes. Também podemos saber mais sobre a vida dos residentes e dos proprietários de hoje e de
outrora. (Cf. Quinta do Castelo, Actividades Socioculturais in https://www.facebook.com/groups/1765418447076872/ )
Quanto a Mouzinho de Albuquerque
Encontrámos a
referência, de que estas terras, hoje da Consolata: Centro Missionário
Padre Paulino (t.r. http://www.consolata.pt/onde-estamos/) foram pertença das famílias “Albuquerque”.
(cf. http://www.consolata.pt/1183 ; http://www.consolata.pt/centros-missionarios/)
Nesta condição, referem
algumas fontes (cf. https://rouxinoldepomares.blogs.sapo.pt/tag/agualva) que aqui permaneceu prisioneiro, ainda que pontualmente, o
célebre Gungunhana, ex Régulo ou Imperador da região de Gaza - Moçambique.
Sendo, ao que consta, a família de Mouzinho proprietária nestas terras e ainda
Mouzinho o principal responsável pela “tomada” deste irmão africano na vila de Chaimite. Torna-se, assim, possível e verossímil, o acolhimento deste chefe Moçambicano na Quinta do Castelo, antes de ser
transferido para os Açores.
Mouzinho teve um
percurso de formação: militar, administrador colonial e governador do distrito
de Lourenço Marques (atual Maputo) – Moçambique, o que lhe confere um estatuto
de relevância pessoal e social.
Em África podemos
considerá-lo um distinto africanista,
se comparado com outras figuras de governos europeus que contestaram em finais
do século XIX e inícios do XXº a administração portuguesa. Não que essas figuras europeias
fossem a favor das independências mas porque reivindicaram e, em boa parte conseguiram,
eles próprios, estabelecer-se em África na condição de colonizadores e homens
de negócios.
A questão do
“Mapa-cor-de-Rosa” imposto por países europeus e o “Ultimatum” da Inglaterra a Portugal são dois episódios e dois processos documentais
que ilustram o desiderato do imperialismo. Só que Portugal, mormente em regiões
costeiras, já se encontrava em África, com mais ou menos administração, desde
finais do século XV.
Mouzinho foi uma
figura que prestou serviço público pela nação portuguesa, numa altura muito
difícil e em contexto das políticas europeias - não de uma Europa unida, que ainda
não se vislumbrava mas sim de uma Europa de nações, competitivas e, grosso modo, imperialistas.
Releve-se que
no continente africano havia grandes extensões habitadas por povos ou tribos, que em
muitos casos se opunham, entre si. A indefinição de fronteiras, um certo
fratricídio das famílias de líderes locais; em contraposição a certa cobiça por
nações europeias, são fatores que levam à transferência de comunidades da
Europa que ali se estabelecem e instalam com administrações e equipamentos de
defesa ou bélicos. Os europeus rasgam vias de comunicação e exploram recursos.
Só que, a estes benefícios, bem ou mal, a historiografia veio classificá-los de
obras do colonialismo e imperialismo.
Não estamos aqui
a tecer críticas negativas ao conceito de colonialismo,
até porque esta filosofia administrativa se estendia ao interior dos próprios
territórios europeus. Exemplo: Na primeira metade do século XX e durante
algumas décadas, ainda existia o conceito de “colono” mesmo em relação a
regiões interiores de Portugal Continental Europeu. Nesta ótica foram chamadas,
ainda no século XX, famílias das Beiras para colonizar o sul de Portugal.
O mapa da imagem supra mostra o desígnio
do controlo britânico «a rota do Cabo ao Cairo». Data de 1913. Os ingleses conseguiram o controle de uma boa parte do continente africano. O «Mapa cor-de-rosa» na imagem infra mostra o desígnio da
pretensão de Portugal com uma faixa de «Angola à contracosta». Portugal conseguiu, depois de muita negociação com os países europeus interessados, administrar Angola, Cabinda e Moçambique e não todo a área constante neste «mapa cor-de-rosa» datado de 1886.
Nos contextos de colonização, Cecil John Rhodes (1853-1902) foi um inglês (“homem de negócios, político e explorador” (cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Cecil_Rhodes) que preconizou o imperialismo e o colonialismo. «Organizou a anexação
pelos ingleses de um extenso território. Iniciador da guerra anglo-bóer
(1899-1902).”
Consta ainda que Rhodes doou mil espingardas a Gungunhana para combater os
Portugueses. Contudo Paiva Couceiro e Mouzinho
de Albuquerque conseguiram vitórias, mesmo com homens em muito menor
quantidade. Nestas disputas, Gungunhana, um chefe que alguma historiografia o classifica
como imperador de Gaza - refugia-se (ou abriga-se voluntária e teatralmente) na
localidade de Chaimite, deixando aos Portugueses a possibilidade de administrar
o território, o que veio a acontecer, não obstante a disputa entre Europeus.
A questão da cobiça das extensas reservas naturais estava em
causa, até para ajudar a alimentar as guerras mundiais que se seguiriam. Longe já
iam os tempos da Renascença, da curiosidade em saber que mundos havia em
Além-Mar, da procura de glórias pessoais e da expansão dos valores do Cristianismo.
O poeta moçambicano Mia Couto escreve e edita: «As Areias do Imperador - Mulheres de Cinza», faz
descrições com certo interesse, embora não desprovido do sentimento laudatório
de nacionalismo e de anti colonialismo. Nesta ótica desclassifica Mouzinho de Albuquerque para
dar relevância a Gungunhana e, sobretudo, às resistências populares locais de Moçambique.
Se
Gungunhana voltasse a esta vida, talvez fizesse humor do seu próprio destino. A
forma como foi, ou se deixou capturar, as lutas fratricidas e tribais ; a não
existência de um território de fronteiras definidas ; a não existência do
conceito de Nação e Estado soberano, em África, no século XIX. Tudo isto permitiria a um Gungunhana
"ressuscitado" alguma ironia em relação com o estatuto de atual de herói, embora que a título
póstumo.
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