quinta-feira, 7 de julho de 2016

44. OS DESCOBRIMENTOS E A VOCAÇÃO DE PORTUGAL

ÍNDICE:
1)Um Jardim Botânico de referência
2)Os Jesuítas e o ensino científico
3)A Toponímia no Chiado
4)O exemplo dum Naturalista
5)O exemplo dum Bandeirante.
 
1)JARDIM BOTÂNICO DE REFERÊNCIA
 
O Jardim Botânico da Escola Politécnica, em Lisboa, junto da Rua do mesmo nome, surge como resposta a um novo ambiente social, económico e científico. Proporciona além destas valências, a fruição de uma atmosfera romântica, o recreio e o lazer, apresentando uma arquitetura paisagística em socalcos, veredas, cascatas e pequenos lagos.
Neste Jardim foram introduzidas espécies de África, Austrália, Nova Zelândia, China, Japão e América do Sul, procurando uma representação de várias geografias, sobretudo dos locais por onde Portugal cunhou caminhos e permanências na sua História.

Uma árvore histórica - do correio - a acacia karroo heyne.


Trata-se
Domingos Vandelli que adotou Portugal e aqui foi adotado, também esteve na base do plano da concentração em museus dos vários patrimónios de exploração dos territórios ultramarinos a fim de instruir os alunos da História Natural. Nos reinados de D. José e D. Maria I foram enviadas expedições para recolher dezenas de milhares de peças e documentação. Domingos Vandelli expõe a suas ideias de que não há nação “[…] que mais necessite de um Museu Nacional, para nele conhecer as produções da natureza, e seus usos, do que aquela que possua tão vastos domínios em Ásia, África e América”, como é o caso de Portugal.
duma espécie que, possivelmente, o acaso e o processo histórico marcaram com um sinal distintivo ligado às comunicações marítimas dos Descobrimentos e primeiras viagens entre continentes. Para reforço e validação desta marca histórica das comunicações e do correio, a própria República da África do Sul erigiu nos finais do século XX, um monumento para evocar este entreposto postal, baseado nos elementos da Natureza e na arte dos navegantes. Numa destas espécies, originária da República da África do Sul e suas imediações (Moçambique e Zimbabwe -ex-Rodésia) os portugueses colocavam as suas correspondências, abrigadas dentro dum botim, servindo como caixa postal. Deixavam e recolhiam nesta árvore e botim do correio, informações importantes sobre a viagem, a rota marítima e outras informações, quiçá, de caráter mais doméstico, entre famílias e a corte portuguesa.

Uma destas árvores - a acacia karroo heyne - encontrava-se próxima do Cabo da Boa Esperança, na Baía de São Brás, atual Mosselbay, onde a Comunidade da África do Sul mandou construir um monumento in situ. O Património Museológico de Correio, da Fundação Portuguesa das Comunicações não podia ficar indiferente a este memorial e mandou executar uma réplica do referido botim do correio que era, não sei ao certo, se colocado na ramagem, ou enterrado junto ao tronco para que os navegadores, pré-avisados soubessem novas do seu interesse e do Reino. O certo é que a árvore, o botim e o local da Baía de São Brás estão associados às comunicações pioneiras entre continentes: Ásia, África e Europa. Por sua vez, o Grupo dos Amigos do Museu das Comunicações apadrinhou uma destas espécies da acacia karroo heyne, existente no Jardim Botânico da Escola Politécnica, onde pode ser apreciada, e o modelo de botim pode ser visitado na Exposição Permanente do Museu das Comunicações na Rua do Instituto Industrial nº 16, 1200-225 Lisboa, telefone 21 393 5000
 
2-OS JESUITAS E O AMBIENTE CIENTÍFICO NA SEQUÊNCIA DAS PRIMEIRAS VIAGENS INTERCONTINENTAIS
 
A comunidade esteve primeiro em Santo Antão, na atual Baixa Pombalina. Mas quando as instalações começaram a ser exíguas, mudaram-se para oConvento de Santo Antão-o-Novo, correspondente ao atual Hospital de S. José. Ali funcionou uma espécie de Universidade para a comunidade religiosa e civil. Como os Descobrimentos portugueses tinham aberto novos desafios e novos espaços geográficos, a Companhia preparou-se para tais desafios, investindo numa  formação cuidada, incluindo matérias de: Astronomia, Matemática, Botânica e Zoologia, além das tradicionais Humanidades. Continuando a crescer, foi preciso pensar em novas instalações: A Trindade e o Alto da Cotovia foram os sítios escolhidos para a expansão. No Noviciado da Cotovia (A Cotovia era o nome dado a esta zona de Lisboa, junto à atual Rua da Escola Politécnica) construíram um Colégio, onde hoje figuram os museus da Politécnica, incluindo o Jardim Botânico. Com o aumento numérico da comunidade lisboeta sentiram falta de instalações, por isso, solicitaram ajuda ao Rei D. João III. Foi-lhes destinada, então, a Ermida da Confraria de S. Roque.
Irmandades de S. Roque e outras ali existentes: Estas irmandades aceitaram a vinda dos Jesuítas que instalaram aqui uma Casa Professa e se responsabilizaram em manter uma capela - a de São Roque e a respetiva designação que permanece até ao presente com arquivo autónomo e instalações junto à sacristia. As restantes irmandades ali residentes também realizaram a inventariação dos bens no seguimento da extinção dos Jesuítas.

A AULA DA ESFERA
Resumo a partir de uma visita guiada do Prof. Henrique Leitão (Fac. Ciências U. L.) e Paula Moura Pinheiro (RTP).
Ensino ligado aos Descobrimentos, explorações e viagens marítimas, antes da reforma do Marquês de Pombal. Não obstante a Reforma do Ensino promovida pelo Marquês de Pombal, as novas investigações têm vido a revelar que a dita Reforma Pombalina foi implementada sobre (ou cortando com) uma lenta Revolução do ensino em curso pelos Jesuítas. Cerca de 20.000 alunos estariam envolvidos no ensino jesuítico que incluía: Náutica, em geral, cartografia, engenharia militar, cosmografia, álgebra, religião e conhecimentos diversos.
Para conseguir os seus desígnios, o Marquês de Pombal implementou uma “propaganda” em como os Jesuítas “atrasavam o ensino científico”, quando era precisamente o contrário. Esta opção de propaganda foi uma opção política para dar substância à centralização do poder real. Houve “um momento de fulgor”, uma rede de cerca de 800 estabelecimentos de ensino em todo o mundo, segundo Rómulo de Carvalho e o prof. Henrique Leitão.
“Caso único na História da ciência europeia. […] Podia-se chegar a Deus pela Bíblia ou pelo livro da Natureza”. O processo do caso de Galileu e, poucos mais, parecem ter sido casos pontuais. Este centro seria no século XVII “o centro mais importante de ciência do mundo”. Rómulo de Carvalho, secundado pelo prof. Henrique Leitão, dizem ainda que “o ensino científico acabou abruptamente em Portugal depois da expulsão dos Jesuítas” […]. No complexo do Hospital de São José, hoje sala com imensa História, houve “170 anos ininterruptos [1690-1759] de aulas”, o que parece ser uma situação rara, senão única, em termos mundiais da História da Ciência.
Ali se divulgaram os primeiros instrumentos náuticos, telescópios, os cursos de mecânica etc. O flamengo / belga Gerhard Mercator (1512 – 1594), considerado o maior cientista da cartografia moderna, tal como outros, eram ali estudados com aulas em português e abertas à população. A acusação do Marquês de Pombal de que não havia ensino científico em Portugal, era totalmente falsa. O Marquês utilizou essa “arma de arremesso político”. Os riquíssimos azulejos da Aula da Esfera, que podem ser revisitados, revelam os diversos equipamentos de ciência e técnica e o e ensino ali implementado.
Fonte: in  http://www.rtp.pt/play/p1623/e172050/visita-guiada, acedida em 28.5.2015
 
AS AULAS MAYNENSES
O padre José Mayne. Também as aulas maynenses do padre José Mayne no Convento de Jesus, atual Academia de Ciências revelam o ensino científico e religiosos dos Jesuítas. Neste local do Convento de Jesus funcionou o primeiro Museu Nacional com peças diversas, inclusivamente as provenientes do Brasil, recolhidas nas célebres explorações do Naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira {1756 – S. Salvador da Baía, Brasil (com formação em Coimbra) e falecido em Lisboa, 1815}.
 
3-A TOPONÍMIA DO CHIADO LIGADA ÀS EXPLORAÇÕES CIENTÍFICAS AFRICANAS
 
Serpa Pinto: (1846, Cinfães + 1900) foi militar, cientista, governador e explorador nas terras de África, no contexto do conhecimento do continente africano das terras “entre Angola e a Contra-Costa” na sequência da apresentação do mapa português Cor-de-Rosa que precedeu o ultimatuminglês a Portugal.
Homenagens: Em recompensa pelos seus serviços no conhecimento dos territórios portugueses, Serpa Pinto bem como outros exploradores e cientistas: Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e José de Anchieta foram homenageados com a atribuição dos seus nomes a ruas da zona do Chiado. Muitos dos intervenientes destes feitos históricos que levaram à exploração geográfica e científica entre Angola e a Contra-Costa morreram ou desertaram durante este feito.
As missões de conhecimento muito difíceis juntaram: Além de elementos da população que serviam como carregadores, pisteiros e ajudantes, as expedições contavam com: Cartógrafos, geógrafos, meteorologistas, colectores de materiais da Natureza para estudo. Chegaram a andar perdidos por diversas vezes, numa ocasião por mais de 40 dias seguidos, entre a selva e os pântanos. Percorreram, em situações extremamente adversas, mais de 8.300 km o que lhes valeu terem sido recebidos como heróis em Portugal e Espanha onde Ivens e Capelo deram conferências e também em França onde receberam a Grande Medalha de Honra.
 
4-O EXEMPLO DUM NATURALISTA NA EXPANSÃO DO MUNDO LUSÓFONO
 
O Naturalista luso-brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira colaborou no envio de peças do Museu de História Natural de Lisboa à Universidade de Coimbra, que recebeu uma lista e acervo de produtos naturais e industriais provenientes de diferentes partes do Império. Entre os itens recolhidos e tratados, estão ornamentos, armas de tiro, instrumentos das artes e ofícios e muitos espécimes e documentos de Zoologia, Botânica, Ciência e Técnica, hoje espalhados por Lisboa, Coimbra e outras cidades europeias.
Fontes:
-ARQUIVO HISTÓRICO do Museu Bocage (Lisboa) – ARF – 26a Alexandre Rodrigues Ferreira. Relação de produtos naturaes e industriaes que deste Real Museu se remetterão para Universidade de Coimbra em 1806
-COUTINHO, D. Rodrigo de Souza - Memória sobre o melhoramento dos domínios de Sua Majestade na América (1797 ou 1798) in: Textos políticos, económicos e financeiros (1783-1811). Intr. e org. de Andrée Mansuy Diniz Silva. Lisboa: Banco de Portugal, 1993. v. 2
-NOVAIS, Fernando A. - Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial – 1777-1808. São Paulo: Hucitec, 1983.
-CARDOSO, José Luís (coord.) - A economia política e os dilemas do Império Luso-brasileiro (1790-1822). Lisboa: CNPCDP, 2001  
-RAMINELLI, Ronald - Viagens ultramarinas; monarcas, vassalos e governo a distância. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2008. cap.6
-VANDELLI, Domenico Vandelli. Memória sobre a utilidade dos museus de História Natural In: memórias de História Natural – Domingos Vandelli. Introd. e coord. editorial de José Luís Cardoso. Porto: 2009-05-19.
 
5-O EXEMPLO DUM BANDEIRANTE EXEMPLAR NA HISTÓRIA DA EXPANSÃO DO BRASIL

Pedro Teixeira é ainda pouco conhecido, quer nos programas escolares, quer no senso comum ou histórico dos portugueses. Contudo esta figura é das mais relevantes na estirpe dos heróis que fizeram o Brasil. Felizmente, também, esta figura tem vindo recentemente a ser recuperada. "Vale mais tarde do que nunca", como diz a gíria popular.

Foto da Estátua em Cantanhede no "Largo Pedro Teixeira" Gentileza de


Pedro Teixeira  nasceu, cerca de 1585 em Cantanhede e rumou ao Brasil em 1607, onde entregou todo um esforço de mais de trinta anos da sua vida, tendo falecido no ano de 1641, pouco tempo após Portugal ter retomado a independência em relação à Corte dos Filipes de Espanha.
Pedro Teixeira não é o único nome sobre o qual devem repousar os louros do acréscimo de cerca de metade da área territorial do Brasil mas foi o principal organizador e o lider do desbravamento do rio Amazonas, afluentes e regiões afins, nas quais fez reconhecimentos e marcação do território em nome do Reino de Portugal, pese embora o facto de, na altura, Portugal estar sob o domínio dos Filipes.
Do Governador da Capitania do Maranhão, Jácome Raimundo de Noronha recebeu ordens e alguns meios que lhe permitiram completar a exploração, Amazonas acima, até à cidade de Quito, já na capital do atual Equador. Com uma frota composta por cerca de 50  grandes canoas, setenta soldados e 1200 Índios com flechas. Índios estes que viram em Pedro Teixeira um lider reto e humano, tendo cativado este povo com a sua personalidade e hospitalidade, sendo que ficou conhecido na comunidade como o «Homem Branco, Bom e Amigo».
Como militar participou nas lutas contra os franceses, holandeses e ingleses que disputavam negócios e terras no Brasil. Recentemente, em finais de 2009, a sua figura foi homenageada no Senado Brasileiro. Por esta altura Aloízio Mercadante, Senador, implementou "um movimento para resgatar a memória de Pedro Teixeira". A sessão de homenagem teve lugar em Brasília no Senado Federal para comemorar os 370 anos da expedição de Teixeira, o "desbravador" da Amazónia. Diz Mercadante, lider da bancada do PT que "A Pedro Teixeira se deve quase metade do território" do imenso Brasil.
Além da comemoração dos 370 anos Mercadante liderou o Projecto Lei para que o nome de Pedro Teixeira venha a ser inscrito no chamado Livro de Aço, situado no Panteão da Liberdade e Democracia em Brasília, bem como propõe a inclusão nos curriculos escolares. Sendo inconcebível esta lacuna, sobretudo em Portugal. Honra seja feita a Mercadante promotor da proposta, revelando-se um patriota que reconhece os heróis do seu país que proporcionaram um dos maiores países do mundo; que está em progresso e é dos mais respeitáveis, muito por causa do valor da Amazónia no contexto mundial.
Em relação a marcas distintivas de memória e existentes em Portugal referentes a Pedro Teixeira, tenho conhecimento do "Casal Pedro Teixeira", situado na Rua de Nossa Senhora da Ajuda em Lisboa, lugar onde foram construídas as denominadas cozinhas D`El Rei. Não sei ao certo se este Casal fora  propriedade do próprio Pedro Teixeira ou se em sua memória lhe deram este nome. Acrescente-se que as Cozinhas D`El Rei e Rua do mesmo nome se encontram em Ruas e terrenos contíguos ao "Casal e Estrada Pedro Teixeira" no Alto da Ajuda.
Toponímia: Além do Casal "Pedro Teixeira" no Alto da Ajuda, há ainda a "Rua Capitão-Mor / Pedro Teixeira / Conquistador do Amazonas / Século XVII" no Restelo. Para lá destes distintivos de memórias, em Lisboa; no município de Cantanhede encontra-se a estátua de grandes dimensões, situada no Largo do mesmo nome (V. imagem). Em Cantanhede encontra-se ainda uma escola com o nome "Escola Pedro Teixeira". A empresa de telecomunicações Portugal Telecom  estabeleceu um protocolo com vista a premiar os melhores trabalhos sobre a vida e obra deste explorador. Os prémios serão dados aos melhores trabalhos, quer realizados em Portugal, quer no Brasil. Que seja feita a devida homenagem e justiça.

Fontes:
-PINTO, Orlando da Rocha - Cronologia da Construção do Brasil  1500-1889. Lisboa: Livros Horizonte, Ldª, 1987
-AMARAL, Manuel; TORRES, João Romano - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico", Vol III, 2000-2009
-PINTO, Pedro - O Último Bandeirante / Lisboa: A Esfera dos Livros, 3ª ed., Abril 2009.

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Comentário de Alfredo Ramos Anciães em 6 junho 2015 às 12:07
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QUE SE CUMPRA NOVAMENTE O MAR. A par das extraordinárias memórias de Portugal, dos Portugueses e da Lusofonia devemos tentar fazer jus às mesmas, procurando sempre novas realizações positivas. Que o fado seja um FADO sentido e renovado no sentido etnográfico e musical de VALORIZAÇÃO permanente com a ALMA de todas as BOAS MEMÓRIAS.
Comentário de Alfredo Ramos Anciães em 4 junho 2015 às 0:06
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"Pedro Teixeira, o "Curiuá Catu" (homem branco bom e amigo, como o cognominaram os Índios). O seu túmulo, sito na catedral de Belém do Pará ainda hoje é visitado pelos Índios."

Comentário enviado via e-mail por Jorge Paz Rodrigues

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