RESCALDOS DE UMA VISITA. PERSPECTIVA SOCIOMUSEOLÓGICA
Retrato de Miguel de Cervantes. Gentileza in httpspt.wikipedia.orgwikiMiguel_de_Cervantes.
Como uma galeria de arte ao
ar livre serve para aprendizagem, inspiração, conhecimento, saber e integração.
Pormenor da obra de Slap na Quinta do Mocho. FT AA
julho 2019
A ave que dá o nome à Quinta
do Mocho. Autoria? FT AA julho 2019
Composição de Miguel Brum na Quinta do Mocho. FT AA,
julho 2019
D. Quixote investe contra monstros,
ou obstáculos opositores, confundidos com moinhos de vento;
Em princípio uma luta contra
moinhos de vento deixaria o idealista tardo-medieval em desvantagem;
Mas Cervantes é também um moderno
analista social, um precursor do realismo que critica a sociedade e, para isso,
faz-se de louco na personagem do D. Quixote até que chega à imaginária Ilha da
Barataria. Nesta Ilha, Cervantes dá a volta ao personagem Sancho Pança,
fazendo-o transitar da tradicional condição de mero e rude labrego, para o
estatuto de sábio, governador.
Para isso Cervantes muda as
condições do habitat: terra relativamente pouco fértil, da região espanhola de
La Mancha, em que vivem, longe do mar; transitando para uma Ilha pródiga.
O camponês, visto primeiramente
como labrego vai brilhar acompanhando fielmente D. Quixote que carece de pragmatismo e
modernidade para se inserir no Mundo do Renascimento.
Assim também os habitantes
da Quinta do Mocho
não desistem de lutar. Estas populações têm um ideal, batalham por melhores
condições de dignidade social e económica. A obra de D. Quixote é moderna,
embora, em primeira análise, pareça um quadro romanesco da antiga cavalaria.
O aparente medievalismo
da obra D. Quixote de La Mancha surge sob um véu satírico.
Também na Quinta do Mocho, a obra
de grafitação que
parecia uma improvável escolha vai ao Renascimento buscar inspiração. A razão,
em nosso entender, é que D. Quixote e Sancho Pança representam três vertentes:
-Sonho, realidade e esperança.
O quadro realizado pelo
artista Slap cujo nome vem do inglês e significa palmada é, em nossa
opinião, uma escolha excelente, uma palmada com luva que desperta do sonho e
convida à ação.
A população ganha esperança num mundo generoso: de trabalho, habitação,
alimentação e cultura.
Estamos perante uma arte e
museografia social de intervenção: Parecendo, aos mais distraídos uma escolha
indiferente; D. Quixote é, ao invés, uma obra significativa – uma galeria de
arte, de aprendizagem, inspiração e saber.
A grafitação é arte e veículo por excelência que chama visitantes. Permite
o despontar de bom orgulho na população, sentimento de integração, interesse
pelo trabalho e pela relação social com o mundo exterior à Quinta.
Parabéns aos artistas da
grafitação; à população, aos órgãos autárquicos / senhorios dos prédios, às
empresas de materiais e equipamentos: tintas e meios elevatórios que têm
apoiado esta galeria de arte ao ar livre.
Alguém disse algures que
“paredes brancas significam povo ausente”. Para lá disso há as paredes velhas
que sugerem derrocada ou estão mesmo em perigo real.
Como museólogos,
reconhecemos que a grafitação é uma arte e disciplina de aprendizagem: do
desenho, da pintura, do belo, do informativo, do desvio das drogas e do mau
ócio/preguiça; do conhecimento do mundo, como se estivéssemos na aurora dum
novo Renascimento, à semelhança do tempo de Camões e Cervantes.
A grafitação estranha-se
primeiro e entranha-se depois, arrastando a esfera legislativa para aprovar,
regular e integrar, permitindo a Democracia funcionar.
As paisagens urbanas
carecem de ser livres de excessos de autoritarismos e da sensação de que as
cidades são, predominantemente, malhas de propriedades privadas, onde não nos reconhecemos
como usufrutuários, como visitantes ou como turistas.
A grafitação (a ; b) é uma arte ao
serviço dos cidadãos. Daí uma crescente integração nos bens culturais e nos
roteiros turísticos, apoiados pelas autarquias para o desiderato de um mundo
plural, mais igualitário nas oportunidades e mais multicolor.
Aproveitar as crises e
mudar é sage e preciso. A museologia social como ciência, inspiração,
organização e divulgação dos bens culturais e naturais não pode ficar
indiferente às novas formas de arte e organização.
Palavras-chave: grafite, sociomuseologia, pichação,
Quinta do Mocho
(a)Não confundir com “pichação” individualista e
irresponsável.
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