Da Semiótica e dos Patrimónios
Bibliotecários e Arquivísticos na Abadia d` “O Nome da Rosa. ” (cf. http://cumpriraterra.blogspot.com/2016/08/89-d-o-nome-da-rosa-aos-padroes-de.html )
Nota Prévia. O presente resumo resulta
de uma abordagem na óptica de socio-museologia, documentação e informação, em
torno de um título e obra como «O Nome da
Rosa» do semiólogo Umberto Eco e
das envolvências históricas, mentais e sociais.
As memórias guardadas nos grandes
conventos e abadias da Baixa Idade Média (séc. XI a XV) levam o semiólogo Umberto Eco e os seus personagens a
descobrir segredos da Idade Clássica que haviam recolhido e guardado “a sete
chaves” É aqui que entra o frade franciscano William (representado por Sean
Connery no filme). Com a sua nova mentalidade pré humanista, filósofo e
racional, aristotélico e agostiniano, vai desvendar mortes misteriosas
ocorridas na abadia.
Este novo monge, novo no sentido de
moderno, ou pelo menos pré-moderno, baseia-se nas memórias de Santo Agostinho (354-430)
que apesar de não ser contemporâneo da Idade
Clássica, ainda assim, estava perto das memórias de Platão, na versão do
pensamento neo-platónico.
Memórias inclusivamente transmitidas por
árabes: Avicena,
Averróis e Al-Farabi; pelo judeu Moisés Maimonides; pelos cristãos: Santo Agostinho e São Tomás de
Aquino; por Amonio Sacas, o
alexandrino; pelo Pseudo-Dionísio,
o areopagita, quiçá sírio; por João
Escoto Erígena, irlandês; entre
outros.
Na biblioteca do mosteiro, camuflada /
escondida por causa do receio que o uso deste bem cultural provocaria nas
mentalidades, nomeadamente nos monges degenerados ou obstipados pelo tempo; são
incapazes de disponibilizar e difundir a cultura dos clássicos.
Mas eis que chegam novos actores. No
caso, os franciscanos Guilherme e Melk,
os quais representam n´ “O Nome da Rosa” a
pré aurora renascentista. Quanto à interpretação dos pergaminhos,
inclusivamente das memórias neoplatónicas de Santo Agostinho, deixo aqui uma
ligeira frase:
«[…] que os cristãos podem e devem tomar da filosofia
grega pagã tudo aquilo que for importante e útil para o desenvolvimento da
doutrina cristã [;] desde que seja compatível com a fé » (Livro II, B, Cap. 41)
Os velhos bibliotecários tinham na sua
mentalidade conservadora que: se as pessoas lessem os autores clássicos,
perdiam “o temor a Deus”. Contudo,
pelo sim e pelo não, esses bens culturais, inclusivamente do filósofo Aristóteles
são acautelados e alguns até traduzidos e valorizados. Careciam agora, no
século XIV, de ser divulgados, até porque os pensadores das ciências e das
letras, como o caso dos filósofos árabes começavam a rarear, nomeadamente com
as guerras de reconquista.
Alguns bibliófilos sentiam, portanto, o
perigo da literatura memorial da biblioteca se começar a perder, na época que
emergem nações europeias e despontam brisas de renascimento na península itálica, onde se passa a trama d` “O Nome
da Rosa”, no ano de 1327. Enquanto isso, franciscanos, beneditinos e agostinhos
travam disputas teo/ideológicas com diferentes interpretações sobre a forma de
ser e de estar no mundo, reflectindo uns, e debitando outros, ideias feitas,
outras novas, ou de conveniência, em relação aos caminhos da salvação.
Os franciscanos são a favor da
simplicidade e, de certo modo, da aceitação dos clássicos, sobretudo através
dos neo-platónicos, agostinhos, tomistas e aristotélicos.
A velha Ordem de frades, cuja
genuinidade já alterada com os tempos, encontram-se em fase de modorra. O
frades ficam mais inquietos com medo dos novos tempos, inclusivamente dos
processos inquisitoriais.
Note-se que o próprio emblema da ordem
agostinha tem como signo, um livro. Este livro é um sinal que representará o
Livro dos livros (a Bíblia). É deste Livro dos livros que
tem raiz o conceito de Biblioteca (lugar seguro para livros). O
outro elemento do emblema é um coração flamejante, representando, porventura,
que a Bíblia e o saber se (entre)cruzam
(ainda o conceito de cruz) com o fogo (energia) que aquece e modifica;
Porém com a presença de uma flecha que
significa dor. É que, o saber e a experiência são alcançados com sofrimento.
Contudo, o tempo já é de mudanças
substanciais. A ainda jovem Ordem dos
Franciscanos, nas pessoas de Williams
(Guilherme) de Baskerville e seu
pupilo Adso, nas suas visitas à
abadia deparam-se com mortes misteriosas entre os frades. No seu labor, para
tentarem descortinar a origem dessas mortes estranhas, acabam por se perder em
labirintos que, no entanto, os levam à descoberta dos tesouros bibliotecários e arquivísticos.
Neste ponto de vista Baskerville e Melk são
símbolos de prenúncio:
-De que o Renascimento está para breve,
-De que baseados nos saberes clássicos irão, pela
ciência, pelas letras, pela filosofia e pela técnica, alcançar novos caminhos;
-De que a Europa conquistará novos mundos.
Mas como diz o adágio: “não há bela sem senão”. Estes prenúncios de renascença trazem, não
só progressos e liberdades. Paralelamente:
-Verificam-se reacções que geram novas crises e novas
guerras;
-Interesses individuais e corporativos; o Poder
temporal e a Inquisição lançam os seus braços de morte. É entre este confronto de oportunidades
e de mentalidades: medievais e pré renascimento que o jovem frade Adso Melk descobre a sensualidade e a
luxúria; e que o seu mestre Guilherme de
Baskerville descobre e/ou reforça o amor ao saber, consubstanciado nas memórias,
não permitidas e ocultas na abadia.
No confronto, Guilherme é acusado de orgulho intelectual ao querer ter acesso à
Biblioteca. Não tendo conseguido tal permissão, Baskerville e seu pupilo entram clandestinamente nos labirintos de
uma das maiores reservas documentais da Europa. Ao mesmo tempo que se perdem,
ficam extasiados com os tesouros da Antiguidade. Ao abrir um livro, o jovem Melk pronuncia as seguintes palavras:
-«O amor não é uma doença [apenas …] se transforma
em tal, quando começa a obcessão […]».
É, com efeito, o racionalismo clássico que entra em
acção. Extrapolando algo, é ainda, graças a estes saberes que o Mundo se vai
expandir e globalizar. Aqui entra o papel das Ordens dos Templários e de Cristo,
o Jesuítico e o da portugalidade
através de achamentos e descobrimentos; da expansão territorial, da leitura de
velhos e novos documentos que farão parte das memórias e bens culturais para que
possamos avaliar os Homens em que nos tornámos, também os homens que não
queremos ser e os Homens que ambicionamos Ser.
(Palavras-chave: agostiniano, antiguidade clássica, aristotélico,
beneditino, franciscano, neoplatonismo)
------------------------
Nota final: Deixo aqui um reconhecimento fratrimónial a:
-A Associação de BAD –
dos Bibliotecários Arquivistas e Documentalistas;
-FPC MC – Fundação
Portuguesa das Comunicações e Museu;
-GAM-C – Grupo de
Amigos do Museu das Comunicações;
-MINOM – Movimento
Internacional para uma Nova Museologia
de que é actual Presidente Mário de Souza Chagas
-USMMA – Universidade
Sénior de Massamá e Monte Abraão.
Fontes:
-ECO, Humberto – O Nome da Rosa; PINTO, Maria Celeste (trad.). s.l.:
Gruppo Editoriale Fabrori-Bompiani;
creacíon editorial, s.l., 2009
Em Linha –
-COMMONS, Creative;
Wikipédia et al. - https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Escoto_Er%C3%ADgena
; --- https://pt.wikipedia.org/wiki/Neoplatonismo
; --- https://pt.wikipedia.org/wiki/Neoplatonismo
; --- https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Nome_da_Rosa
; -https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Nome_da_Rosa_(filme)
; --- https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_de_Santo_Agostinho
; - https://pt.wikipedia.org/wiki/Pseudo-Dion%C3%ADsio,_o_Areopagita
; --- https://pt.wikipedia.org/wiki/Tomismo
-FILHO, Miguel Attie;
GALLI, Marcelo, Editora Escala - http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/66/artigo244834-1.asp
;
Porque as Organizações da memória são importantes
ResponderEliminar