segunda-feira, 5 de novembro de 2018

O 1º GRANDE CONFLITO DO SÉCULO XX: COMUNICAÇÕES ARTE E ARMISTÍCIO


 

001.Anjo Gabriel de Giotto, o anunciador,  padroeiro das telecomunicações, dos mensageiros e dos correios. Imagem gentileza in -»
 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Giotto_di_Bondone_-_No._14_Annunciation_-_The_Angel_Gabriel_Sent_by_God_-_WGA09190.jpg 

As exposições e os desfiles militares sobre o tema da I Guerra Mundial, não são despiciendos. Afinal trata-se de um marco fundamental - um centenário com uma capicua inédita (mês, dia, hora = 11.11.11) em que são assinados os compromissos de paz.

A criatividade apela, ou deveria apelar, não apenas à ideia do marco (data), com as habituais expressões de força: desfiles e discursos de unidade, patriotismo, demonstração de ciência e técnica. Porém, carece fazer sobressair as ideias de que as guerras são demasiadamente caras e cheias de horrores. Fazer tudo para evitar conflitos armados, é preciso. Esta ideia também pode ser documentada, musealizada, exposta e comunicada.

Os entendimentos podem e devem ser desenvolvidos. Daí que: “Falar é uma necessidade, escutar é uma arte.” (1) Frase atribuída a Johann Wolfgang von Goethe, poeta alemão de referência)

 Completou-se no ano de 2014 o centenário do assassinato do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro. À partida tratou-se da revolta da parte de nacionalistas anti imperialistas. Tudo terá começado com o assassinato do herdeiro ao poder e de Sofia, sua esposa, por um estudante sérvio-bósnio de nome Gavrilo Princip, em Sarajevo, capital da actual Bósnia e Herzegovina. O arquiduque era adepto da federação da Áustria e Hungria, o que não agradava a Gravilo Princip, integrado, ao que algumas fontes indicam, na organização “Mão Negra”, tradicionalmente considerada uma associação criminosa. Contudo, diferentes interpretações são plausíveis, tal como acontece com o regicídio do nosso rei d. Carlos e o príncipe real d. Luís Filipe, em 1908.


002.Casamento de Francisco Fernando com Sofia. Autor desconhecido – Imagem gentileza in https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2445389



003.Mapa do plano de federalização da Áustria-Hungria com seus Estados era um desejo de Francisco Fernando. In https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/97/Greater_austria.png ; https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Fernando_da_Áustria-Hungria

Entre outras causas da génese e evolução dos acontecimentos referimos os interesses da Alemanha; Áustria-Hungria (já mencionados), Rússia, Inglaterra, França, Itália, Império Otomano e territórios coloniais. Deste cadinho de interesses geram-se alianças antagónicas e dá-se a tragédia que se estende por quase todo o planeta, devido à disputa de territórios. O fim da Guerra só se verifica em quase finais de 1918 depois de perdidos cerca de 19 milhões de pessoas, para lá de um grande exército de inválidos, destruição de cidades, vilas e aldeias, bem como um sem número de equipamento militar e civil. A mais lastimável das consequências da I Grande Guerra foi a semente lançada para o despoletar da II Grande Guerra. O investimento na paz foi preterido para o de armamento.



004.Soldados da Arma de Transmissões. Imagem gentileza in doc exposição na Fundação Portuguesa das Comunicações com a colaboração da Arma de Transmissões Militares

O transporte de mensagens por estafeta particular e por correio institucionalizado torna-se particularmente difícil com a destruição ou desativação de equipamentos. Foi preciso procurar alternativas ao correio clássico, à telegrafia e à telefonia com fios e cabos. Exemplo: “[…] quando começa a 1ª Guerra Mundial- Londres corta o cabo alemão na Horta [Faial-Açores] poucos minutos depois da declaração de guerra e passa a usar o cabo [telegráfico] inimigo para os seus fins próprios(2)

(2) Cf. Museu da Horta; Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta - O Porto da Horta na História do Atlântico: O Tempo dos Cabos SubmarinosEd. do A. Horta, 2011, p. 19

 No contexto de guerra a radiotelegrafia e a radiotelefonia aparecem como alternativas ou soluções porque dispensam o equipamento de transmissão (linhas e postes) expostos às intempéries e às forças inimigas.

Guglielmo Marconi visita três vezes o nosso país. Inicia o primeiro acordo entre o Governo Republicano e a Companhia Marconi`s Wireless Telegraph Company Limited; acordo este debatido na Câmara dos Deputados e no Senado. Estávamos em 1912, porém os estudos e acordos preliminares encalham com o ambiente tenso da época de pós-revolução republicana e acabam por não ser cumpridos.

Entretanto surge a I Grande Guerra. Os dirigentes republicanos portugueses fazem questão de aderir ao conflito armado, quer para se credibilizarem no contexto das nações, quer como medida preventiva para, posteriormente, poderem usar de força reivindicativa em relação à integridade do território de Aquém e Além-mar.

Como as guerras se ganham essencialmente com organização e equipamento, incluindo o de telecomunicações. Portugal apresenta algumas evoluções e inovações para o desenvolvimento das redes, fabricando heliógrafos, lanternas de sinais e telégrafos morse de campanha e de estação.



005.Lanterna de sinais morse. Imagem gentileza da Fundação Portuguesa das Comunicações

Especialmente concebida para de noite, a utilização de lanternas de sinais em meios militares pressupõe que o inimigo não tem o mesmo acesso à visibilidade dos sinais mas em caso de dúvida, as mensagens consideradas de importância, podem recorrer à criptografia.

Vário outro equipamento é desenvolvido por via da guerra e dos Exércitos que estiveram nos teatros de operações. O fullerphone (3) por via radioelétrica e outros equipamentos mistos de fonia e grafia sucedem-se, compactando-se para proporcionar mobilidade aos especialistas das transmissões.

(3) Fullerphone. A designação vem do inglês phone = telefone e Fuller = nome do Maj Gen inglês de nome Fuller. Trata-se de um equipamento misto de grafia e fonia, acondicionado numa pequena caixa compacta e utilizando regra geral o código morse. Como funcionava via radioelétrica, o sucesso foi garantido, dando origem a várias versões a partir do modelo original.

Outro meio de comunicação, especialmente em tempo de guerra é a proporcionada pelos pombos-correios, transportadores de mensagens, também designadas por pombogramas. (3).

(3)Presume-me que o pombo-correio tenha uma espécie de bússola e/ou detetor magnético naturais, que permitem regressar ao local de origem, muitas vezes a várias centenas de quilómetros. Além da orientação os pombos têm capacidades cognitivas reconhecendo figuras humanas, meios de transporte, locais e horários dos tratadores.



006;007 Imagem da esquerda: Trata-se uma gravura artística em que é registado o acto de lançamento dos pombos-correios. À direita uma imagem real do transporte de pombos-correio. Gentileza Arquivo da Fundação Portuguesa das Comunicações.

Uma rede de pombais militares foi criada no território nacional antes da deflagração da guerra e reforçada depois do início da mesma. Em 1918, prestes do Armistício Portugal usou pombos-correios para informar a deteção de submarinos alemães entre a Madeira e o Porto Santo (4).

(4) Cf. FARIA, Isabel, ob. cit., p. 44-46

Com o fim da guerra, o dispositivo columbófilo militar esmorece e praticamente morre. Decorrido aproximadamente um século o dispositivo é reintroduzido no Quartel de Transmissões em Sapadores, Lisboa, vivendo ali estas aves com os cuidados de limpeza, vacinação e alimentação adequados. Os responsáveis consideram que - em caso de emergência e catástrofe nos satélites, nas centrais e linhas de telecomunicações - os pombos-correios podem ser um importante recurso nas comunicações, coadjuvados, eventualmente, com postos de radioamadores e da banda do cidadão (CB) (5).

 (5)A sigla CB significa Citizen Band, em ingles, ou Banda do Cidadão em Português. Estes postos funcionam na faixa de frequências radioelétricas dos 26,965 a 27,405 mhz e podem usar até 120 canais



008. Um dos monumentos ao Soldado Desconhecido. Imagem gentileza de Pedro Quintela em Lamego in https://olhares.sapo.pt/soldado-desconhecido-lamego-foto2171101.html  

Palavras-chave: I Guerra Mundial, Armistício, Comunicações, Organizações da Memória

OUTRAS FONTES:

-ANCIÃES, Alfredo Ramos – Patrimónios de Comunicações de Portugal: Em Destaque a Horta – Faial – Açores. Lisboa/Sintra: Turiscon Editora, 2016 ( www.liduinoborba.com ).- (para o presente artigo confira essencialmente as pp. 58-64)


-ANCIÃES, Alfredo Ramos et al. - FPC: Museu das Comunicações - Vencer a Distância: Cinco séculos de Comunicações em Portugal. Lisboa: FPC; Norprint, SA, 2005

-FARIA. Isabel - Exército de Pombos-correios em Lisboa - Revista de Domingo do Correio da Manhã, 29.1.2012

-FARIA, Miguel Ferreira de - Marconi 75 Anos de Comunicações Internacionais. Lisboa: Companhia Portuguesa Rádio Marconi, SA ; Printer Portuguesa, Ldª, 2000

-FONSECA, Moura da - As Comunicações Navais e a TSF na Armada: Subsídios para a sua História (1900-1985). Lisboa: Edições Culturais da Marinha, 1988

-PAÇO, Afonso do - As Comunicações Militares de Relação em Portugal: Subsídios para a Sua História. Lisboa: Ottosgráfica. Ltd., 1938 ;


Em Série e/ou em linha, acedidos em 04.11.2018

-ANCIÃES, Alfredo Ramos – Patrimónios de Comunicações de Portugal. Revista triplov.com de Artes, Religiões & Ciências. Nº 55. Dezembro, ISSN 2182-147X, 2015, Disponível in http://www.triplov.com/novaserie.revista/numero_55/index.html


-FULLER, A. C.; LOUIS, Meulstee`s (web site) – Wireless for the warrior  -  http://www.wftw.nl/ful.html

-Wiki .. et al - A I Guerra Mundial – in http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_Mundial

1 comentário:

  1. Porque as Organizações da Memória são precisas: Permitem a interpretação do que se passou e prevenir para possíveis e futuros conflitos.

    ResponderEliminar