001.Anjo Gabriel de Giotto, o anunciador, padroeiro das telecomunicações,
dos mensageiros e dos correios. Imagem gentileza in -»
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Giotto_di_Bondone_-_No._14_Annunciation_-_The_Angel_Gabriel_Sent_by_God_-_WGA09190.jpg
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Giotto_di_Bondone_-_No._14_Annunciation_-_The_Angel_Gabriel_Sent_by_God_-_WGA09190.jpg
As exposições e os desfiles militares
sobre o tema da I Guerra Mundial, não são despiciendos. Afinal trata-se de um
marco fundamental - um centenário com uma capicua inédita (mês, dia, hora =
11.11.11) em que são assinados os compromissos de paz.
A criatividade apela, ou deveria apelar,
não apenas à ideia do marco (data), com as habituais expressões de força:
desfiles e discursos de unidade, patriotismo, demonstração de ciência e técnica.
Porém, carece fazer sobressair as ideias de que as guerras são demasiadamente
caras e cheias de horrores. Fazer tudo para evitar conflitos armados, é preciso.
Esta ideia também pode ser documentada, musealizada, exposta e comunicada.
Os
entendimentos podem e devem ser desenvolvidos. Daí
que: “Falar é uma necessidade, escutar é uma arte.” (1) Frase atribuída a Johann Wolfgang von Goethe, poeta
alemão de referência)
Completou-se no ano de 2014 o centenário do
assassinato do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono do Império
Austro-Húngaro. À partida tratou-se da revolta da parte de nacionalistas anti
imperialistas. Tudo terá começado com o assassinato do herdeiro ao poder e de Sofia, sua esposa, por um estudante sérvio-bósnio de
nome Gavrilo Princip, em Sarajevo,
capital da actual Bósnia e Herzegovina. O
arquiduque era adepto da federação da Áustria e Hungria, o que não agradava a Gravilo Princip, integrado, ao que
algumas fontes indicam, na organização “Mão Negra”, tradicionalmente
considerada uma associação criminosa. Contudo, diferentes interpretações são
plausíveis, tal como acontece com o regicídio do nosso rei d. Carlos e o
príncipe real d. Luís Filipe, em 1908.
002.Casamento de Francisco Fernando com Sofia. Autor desconhecido
– Imagem gentileza in https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2445389
003.Mapa do plano de federalização da Áustria-Hungria com seus Estados era um desejo de Francisco Fernando. In https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/97/Greater_austria.png ; https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Fernando_da_Áustria-Hungria
Entre
outras causas da génese e evolução dos acontecimentos referimos os interesses
da Alemanha; Áustria-Hungria (já mencionados), Rússia, Inglaterra, França,
Itália, Império Otomano e territórios coloniais. Deste cadinho de interesses
geram-se alianças antagónicas e dá-se a tragédia que se estende por quase todo
o planeta, devido à disputa de territórios. O fim da Guerra só se verifica em quase
finais de 1918 depois de perdidos cerca de 19 milhões de pessoas, para lá de um
grande exército de inválidos, destruição de cidades, vilas e aldeias, bem como
um sem número de equipamento militar e civil. A mais lastimável das consequências
da I Grande Guerra foi a semente lançada para o despoletar da II Grande Guerra.
O investimento na paz foi preterido para o de armamento.
004.Soldados da Arma
de Transmissões. Imagem gentileza in doc exposição na Fundação Portuguesa das
Comunicações com a colaboração da Arma de Transmissões Militares
O
transporte de mensagens por estafeta particular e por correio institucionalizado
torna-se particularmente difícil com a destruição ou desativação de equipamentos.
Foi preciso procurar alternativas ao
correio clássico, à telegrafia e à telefonia com fios e cabos. Exemplo: “[…] quando começa a 1ª Guerra
Mundial- Londres corta o cabo alemão na Horta [Faial-Açores] poucos minutos depois da declaração de guerra e passa a usar o cabo [telegráfico] inimigo para os seus fins próprios”(2)
(2) Cf. Museu da Horta; Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta
- O Porto da Horta na
História do Atlântico: O Tempo dos Cabos Submarinos – Ed.
do A. Horta, 2011, p. 19
No contexto de guerra a radiotelegrafia e a
radiotelefonia aparecem como alternativas ou soluções porque dispensam o
equipamento de transmissão (linhas e postes) expostos às intempéries e às
forças inimigas.
Guglielmo Marconi visita três vezes o nosso país. Inicia o primeiro acordo entre o
Governo Republicano e a Companhia Marconi`s
Wireless Telegraph Company Limited; acordo este debatido na Câmara dos
Deputados e no Senado. Estávamos em 1912, porém os estudos e acordos
preliminares encalham com o ambiente tenso da época de pós-revolução
republicana e acabam por não ser cumpridos.
Entretanto
surge a I Grande Guerra. Os dirigentes republicanos portugueses fazem questão
de aderir ao conflito armado, quer para se credibilizarem no contexto das
nações, quer como medida preventiva para, posteriormente, poderem usar de força
reivindicativa em relação à integridade do território de Aquém e Além-mar.
Como
as guerras se ganham essencialmente com organização e equipamento, incluindo o
de telecomunicações. Portugal apresenta algumas evoluções e inovações para o
desenvolvimento das redes, fabricando heliógrafos, lanternas de sinais e telégrafos
morse de campanha e de estação.
005.Lanterna
de sinais morse. Imagem gentileza da Fundação Portuguesa das Comunicações
Especialmente
concebida para de noite, a utilização de lanternas de sinais em meios militares
pressupõe que o inimigo não tem o mesmo acesso à visibilidade dos sinais mas em
caso de dúvida, as mensagens consideradas de importância, podem recorrer à
criptografia.
Vário outro
equipamento é desenvolvido por via da guerra e dos Exércitos que estiveram nos
teatros de operações. O fullerphone (3)
por via radioelétrica e outros equipamentos mistos de fonia e grafia
sucedem-se, compactando-se para proporcionar mobilidade aos especialistas das
transmissões.
(3) Fullerphone. A designação vem do inglês
phone = telefone e Fuller = nome
do Maj Gen inglês de nome Fuller. Trata-se
de um equipamento misto de grafia e fonia, acondicionado numa pequena caixa
compacta e utilizando regra geral o código morse. Como funcionava via
radioelétrica, o sucesso foi garantido, dando origem a várias versões a partir
do modelo original.
Outro
meio de comunicação, especialmente em tempo de guerra é a proporcionada pelos pombos-correios, transportadores de
mensagens, também designadas por pombogramas. (3).
(3)Presume-me que o pombo-correio tenha uma espécie de bússola e/ou
detetor magnético naturais, que permitem regressar ao local de origem, muitas
vezes a várias centenas de quilómetros. Além da orientação os pombos têm
capacidades cognitivas reconhecendo figuras humanas, meios de transporte,
locais e horários dos tratadores.
006;007 Imagem da esquerda: Trata-se
uma gravura artística em que é registado o acto de lançamento dos pombos-correios.
À direita uma imagem real do transporte de pombos-correio. Gentileza Arquivo da
Fundação Portuguesa das Comunicações.
Uma
rede de pombais militares foi criada no território nacional antes da
deflagração da guerra e reforçada depois do início da mesma. “Em 1918, prestes do Armistício Portugal usou pombos-correios para
informar a deteção de submarinos alemães entre a Madeira e o Porto Santo”
(4).
(4) Cf. FARIA, Isabel, ob.
cit., p. 44-46
Com
o fim da guerra, o dispositivo columbófilo militar esmorece e praticamente
morre. Decorrido aproximadamente um século o dispositivo é reintroduzido no
Quartel de Transmissões em Sapadores, Lisboa, vivendo ali estas aves com os cuidados
de limpeza, vacinação e alimentação adequados. Os responsáveis consideram que -
em caso de emergência e catástrofe nos satélites, nas centrais e linhas de
telecomunicações - os pombos-correios podem ser um importante recurso nas
comunicações, coadjuvados, eventualmente, com postos de radioamadores e da
banda do cidadão (CB) (5).
(5)A sigla CB significa Citizen Band, em ingles, ou Banda
do Cidadão em Português. Estes postos funcionam na faixa de frequências
radioelétricas dos 26,965 a 27,405 mhz e podem usar até 120 canais
008.
Um dos monumentos ao Soldado Desconhecido. Imagem gentileza de Pedro Quintela em
Lamego in https://olhares.sapo.pt/soldado-desconhecido-lamego-foto2171101.html
Palavras-chave:
I Guerra Mundial, Armistício, Comunicações, Organizações da Memória
OUTRAS FONTES:
-ANCIÃES, Alfredo Ramos – Patrimónios de Comunicações de Portugal: Em Destaque a Horta – Faial – Açores. Lisboa/Sintra: Turiscon Editora, 2016 ( www.liduinoborba.com ).- (para o presente artigo confira essencialmente as pp. 58-64)
-ANCIÃES,
Alfredo Ramos et al. - FPC: Museu das Comunicações - Vencer a Distância: Cinco séculos de Comunicações em Portugal.
Lisboa: FPC; Norprint, SA, 2005
-FARIA. Isabel - Exército de Pombos-correios em Lisboa - Revista de Domingo do
Correio da Manhã, 29.1.2012
-FARIA, Miguel Ferreira de - Marconi 75 Anos de Comunicações Internacionais. Lisboa: Companhia
Portuguesa Rádio Marconi, SA ; Printer Portuguesa, Ldª, 2000
-FONSECA,
Moura da - As Comunicações Navais e a TSF
na Armada: Subsídios para a sua História (1900-1985). Lisboa: Edições
Culturais da Marinha, 1988
-PAÇO, Afonso do - As Comunicações Militares de Relação em Portugal: Subsídios para a Sua
História. Lisboa: Ottosgráfica. Ltd., 1938 ;
Em Série e/ou em linha, acedidos em 04.11.2018
-ANCIÃES, Alfredo Ramos – Patrimónios de Comunicações de Portugal. Revista triplov.com de Artes, Religiões & Ciências. Nº 55. Dezembro, ISSN 2182-147X, 2015, Disponível in http://www.triplov.com/novaserie.revista/numero_55/index.html
-FULLER, A. C.; LOUIS, Meulstee`s (web
site) – Wireless for the warrior
- http://www.wftw.nl/ful.html
Porque as Organizações da Memória são precisas: Permitem a interpretação do que se passou e prevenir para possíveis e futuros conflitos.
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