Ao passar, passear, caminhar e expor o
que importa é o propósito
001 Revestido do sentimento e da Bandeira Nacional. Eu
próprio em Doa, Distrito de Tete, Moçambique
002. Imagem em dia de folga num aquartelamento provisório do mesmo
distrito de Tete, onde exponho o sentimento de liberdade, reforçado com a legenda da
camisola «Freedom». Já lá vão alguns anos, altura em que pensava e ainda penso
ter cumprido, pelo lado militar, o dever para com a Nação, a Portugalidade e a Amizade entre os Povos
da Lusofonia. Sabendo que nos últimos 20 anos do Império, os Territórios de Além Mar,
apesar da Guerra, se desenvolveram mais do que em 100 anos precedentes e sem
a extração desenfreada de recursos; foi / é para mim muito reconfortante ter participado
nesse processo.
&
Quando passamos sobre uma imagem, não
queremos dizer que a desrespeitamos. Já o pisá-la deliberadamente, aproveitando
as câmaras e os holofotes é uma atitude bem diferente.
Ao tomarmos uma hóstia consagrada que
representa o Corpo e o Sangue de Cristo, não estamos a desrespeitar Esse Corpo, nem a
sugerir a ideia de canibalismo.
Assim, também, o episódio de um Hotel do
Porto que queria ilustrar o chão com uma carpete estampada com a Bandeira Nacional,
não teria a intenção de instigar / pisar malévola e deliberadamente o símbolo
nacional por excelência. Aceitam-se, contudo, opiniões dos que pensam o
contrário e de que o símbolo não deve ser plasmado, nem exposto no solo, especialmente se tratando de um espaço gerido por uma
organização de tipo comercial.
003 Antiga Bandeira de Portugal, ainda exposta e apreciada no
Território de Ceuta, em África
Não curam as pessoas extrapolarem ou
deduzirem intenções limitando a liberdade de divulgar. Quando passeamos sobre o
chão fronteiro ao Monumento das Descobertas em Belém – Lisboa, não quer dizer
que estamos a desrespeitar os símbolos e a informação existente no solo, sobre
Portugal e o Mundo. Ao irmos para Belém passear, significará: admiração e
apreço pelo local, pela arte e pela História, e não uma intenção de espezinhar. Os nossos símbolos,
ainda que projectados no solo, também são cultura. Não me chocaria, por
exemplo, ver a Bandeira Nacional na arte das calçadas portuguesas.
004 Bandeira de Portugal 1826-1910
Ao passearmos por cima das flores-de-lis
- símbolos sagrados e até sugestivos dos valores nacionais de alguns países
europeus, não quer dizer que desrespeitamos esses símbolos.
005 Flor-de-Lis no chão, frente
ao Shopping Center de Massamá – Sintra
Nos gestos e nos propósitos, está a
diferença. Não posso condenar, à partida, a divulgação e a exposição destes
símbolos, a menos que queira dar argumentos a ditaduras, as quais fiscalizam,
por tudo e por nada, a nossa conduta; quiçá quase sempre para nos tirarem a
liberdade de ser e de viver.
006 Bandeira Nacional no edifício da Câmara Municipal
de Lisboa
Há dias encontrei, ao pé dos contentores
do lixo, uma imagem de Cristo e um livro com a Bandeira Nacional. Que
interpretação deveria fazer da pessoa que depositou ali estes objectos? Nenhuma;
simplesmente, porque não sei quais as razões e os sentimentos que estiveram na
base da deposição ou exclusão. Nem devo questionar as atitudes que teriam os
funcionários da limpeza. A liberdade é coisa muito bela e deve ser exercida com
o sentido da responsabilidade e, para isso, é preciso apostar ainda mais na
educação.
007 Núcleo central da Bandeira Nacional
Gosto da palavra símbolo, bem como dos
seus significados em termos: artísticos, filosóficos e históricos. Vem isto ainda
a propósito da questão da troca de bandeiras nos paços do concelho, aquando da
efeméride dos 100 Anos da República, bem como do episódio da subtração de uma bandeira
municipal, pelos monárquicos. Retirarem a Bandeira do Município que é tão
simbólica, desde os corvos que acompanharam os restos mortais de São Vicente
nos alvores da nacionalidade, não terá sido curial. Terá havido uma atitude
deliberada, quiçá de “política” subterrânea, de fazer desaparecer a dita bandeira.
Em democracia as “armas” para fazer adeptos devem respeitar as regras.
Por outro lado, experimentando a ideia
de colocar-me no papel dos que praticaram a ação, tudo parece indicar que seria
para questionar a legitimidade moral da retirada de outra Bandeira, a conotada
com a Monarquia, na versão anterior a 1910, dos Paços do Concelho, por parte
dos Republicanos. Com a subtração, os adeptos do Regime Monárquico pensariam
ter exercido um acto de justiça por mãos próprias, dispensando os Tribunais.
A atitude positiva e respeitosa para com
a arte e os símbolos é tudo; estejam a arte e os símbolos: no solo, nos
veículos, nas casas, nas paredes, nos armários, ou simplesmente inacessíveis e velados
em redomas de depósitos, de arquivos e museus tradicionais.
Liberdades com responsabilidades serão
os melhores bens imateriais culturais. Ajudarão a criar as frátrias, herdeiras
das pátrias esgotadas, onde as obras de arte, a produção, os símbolos e os
valores serão integrantes de uma nova comunicação e uma outra redistribuição.
Imagens 001, 002, 005, 006 Arquivo Pessoal;
003, 004, 007, 008 gentileza pt.wikipédia et
al
Palavras-chave: arte, bem cultural, expressão,
fratrimónio, história, liberdade, símbolo
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