Nota Prévia. O presente resumo
resulta de uma abordagem na óptica de sociomuseologia, documentação e
informação, em torno de um título e obra como «O Nome da Rosa» do semiólogo Umberto Eco e
das envolvências históricas, mentais e sociais.
(*)
Palavras chave:
agostiniano, antiguidade clássica, aristotélico, beneditino, franciscano, neoplatonismo
As memórias guardadas nos
grandes conventos e abadias da Baixa Idade Média (séc. XI a XV) levam o
semiólogo Umberto Eco e os seus personagens a descobrir segredos da Idade
Clássica que haviam recolhido e guardado “a sete chaves” É aqui que entra o frade
franciscano William (representado por Sean Connery no filme). Com a sua nova
mentalidade pré humanista, filósofo e racional, aristotélico e agostiniano, vai
desvendar mortes misteriosas ocorridas na abadia.
Este novo monge, novo no
sentido de moderno, ou pelo menos pré-moderno, baseia-se nas memórias de Santo
Agostinho (354-430) que apesar de não ser da Idade Clássica, ainda assim,
estava perto das memórias de Platão, na versão do pensamento neo-platónico.
Memórias inclusivamente transmitidas
por árabes: Avicena, Averróis e
Al-Farabi; pelo judeu Moisés Maimonides; pelos cristãos: Santo Agostinho e São
Tomás de Aquino; por Amonio Sacas, o alexandrino; pelo Pseudo-Dionísio,
o areopagita, quiçá sírio; por João Escoto Erígena, irlandês; entre outros.
Na biblioteca do mosteiro,
camuflada / escondida por causa do receio que o uso deste património provocaria nas mentalidades,
nomeadamente nos monges degenerados ou obstipados pelo tempo; são incapazes de disponibilizar
e difundir a cultura dos clássicos.
Mas eis que chegam novos actores.
No caso, os franciscanos Guilherme e Melk, os quais representam n´ “O Nome da
Rosa” a pré aurora renascentista. Quanto à interpretação dos pergaminhos,
inclusivamente das memórias neoplatónicas de Santo Agostinho, deixo aqui uma ligeira
frase:
«[…] que os cristãos podem e devem tomar da filosofia grega pagã tudo
aquilo que for importante e útil para o desenvolvimento da doutrina cristã [;] desde
que seja compatível com a fé » (Livro II, B, Cap. 41)
Os velhos bibliotecários tinham
na sua mentalidade conservadora que: se as pessoas lessem os clássicos, perdiam
“o temor a Deus”. Contudo, pelo sim e pelo não, esses patrimónios, inclusivamente do filósofo
Aristóteles são acautelados e alguns valorizados/traduzidos. Careciam agora, no
século XIV, de ser divulgados, até porque os pensadores das ciências e das
letras, como o caso dos filósofos árabes começavam a rarear,
nomeadamente com as guerras de reconquista.
Alguns bibliófilos sentiam,
portanto, o perigo da literatura memorial da biblioteca se começar a perder, na
época que emergem nações europeias e despontam brisas de renascimento na península itálica, onde se passa a trama d` “O Nome
da Rosa”, no ano de 1327. Enquanto isso, franciscanos, beneditinos e agostinhos
travam disputas teo/ideológicas com diferentes interpretações da forma de ser e
de estar no mundo, reflectindo uns, e debitando outros, ideias feitas, outras novas,
ou de conveniência, sobre os caminhos da salvação.
Os franciscanos são a favor da
simplicidade e, de certo modo, da aceitação dos clássicos, sobretudo através dos
neo-platónicos, agostinhos, tomistas e aristotélicos.
A velha Ordem de frades, cuja
genuinidade já alterada com os tempos, encontram-se em fase de modorra. O frades
ficam mais inquietos com medo dos novos tempos, inclusivamente dos processos inquisitoriais.
Note-se que o próprio emblema
da ordem agostinha tem como signo, um livro. Este livro é um sinal; representará
o Livro dos livros (a Bíblia). É deste Livro
dos livros que tem raiz o conceito de
Biblioteca (lugar seguro para livros). O outro elemento do emblema é o
coração flamejante, representando, porventura, que a Bíblia e o saber se
(entre)cruzam (ainda o conceito de
cruz) com o fogo (energia) que aquece e modifica; porém com a presença de uma
flecha que significa dor. O saber e a experiência alcançam-se com sofrimento.
Contudo, o tempo já é de
mudanças substanciais. A ainda jovem Ordem dos Franciscanos, nas pessoas de
Williams (Guilherme) de Baskerville e seu pupilo Adso, na sua visita à abadia deparam-se
com mortes misteriosas entre o frades. No seu labor, para tentarem
descortinar a origem dessas mortes estranhas, acabam por se perder em labirintos
que, no entanto, os levam à descoberta dos tesouros bibliotecários e
arquivísticos.
Neste ponto de vista
Baskerville e Melk são símbolos/prenúncio:
-De que o Renascimento está para breve,
-De que baseados nos saberes
clássicos irão, pela ciência, pelas letras e pela técnica, trilhar caminhos
novos;
De que a Europa conquistará novos
mundos.
Mas como diz o adágio: “não há
bela sem senão”. Estes prenúncios de renascença trazem, não só progressos e
liberdades. Paralelamente:
-Verificam-se reacções que geram
novas crises e novas guerras;
-Interesses individuais e
corporativos; o Poder temporal e a Inquisição lançam os seus braços de morte.
É entre este confronto de oportunidades
e de mentalidades: medievais e pré renascimento que o jovem frade Adso Melk
descobre a sensualidade e a luxúria; e que o seu mestre Guilherme de Baskerville
descobre e/ou reforça o amor ao saber consubstanciado nas memórias,
não permitidas e ocultas na abadia.
No confronto, Guilherme é
acusado de orgulho intelectual ao querer ter acesso à Biblioteca. Não tendo
conseguido tal permissão, Baskerville e seu pupilo entram clandestinamente nos
labirintos de uma das maiores reservas documentais da Europa. Ao mesmo tempo
que se perdem, ficam extasiados com os tesouros da Antiguidade.
Ao abrir um livro, o jovem Melk
pronuncia as seguintes palavras:
-«o amor não é uma doença
[apenas …] se transforma em tal, quando começa a obcessão […]».
É o racionalismo
clássico que entra em acção.
Extrapolando algo, é ainda, graças a
estes saberes/patrimónios que o Mundo se vai expandir e globalizar. Aqui entra
o papel das Ordens dos Templários e de Cristo, o Jesuítico e o da Portugalidade
através de achamentos/descobrimentos; da expansão territorial, da leitura de velhos
e novos documentos que farão parte das memória e património colectivo para que
possamos avaliar os Homens em que nos tornámos, também os homens que não
queremos ser e os Homens que ambicionamos Ser.
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(*)
Nota final: Deixo aqui um reconhecimento de
fratrimónio a:
-A
Associação de BAD – dos Bibliotecários Arquivistas e Documentalistas;
-FPC
MC – Fundação Portuguesa das Comunicações e Museu;
-GAM-C
– Grupo de Amigos do Museu das Comunicações;
-MINOM
– Movimento Internacional para uma Nova Museologia de que é actual Presidente
Mário de Souza Chagas, e a quem devo o conhecimento do novo conceito fratrimónio
-USMMA
– Universidade Sénior de Massamá e Monte Abraão.
Fontes:
-ECO,
Humberto – O Nome da Rosa; PINTO, Maria Celeste (trad.). s.l.: Gruppo
Editoriale Fabrori-Bompiani; creacíon editorial, s.l., 2009
Em
Linha –
-COMMONS,
Creative; Wikipédia et al. - https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Escoto_Er%C3%ADgena ; --- https://pt.wikipedia.org/wiki/Neoplatonismo ; --- https://pt.wikipedia.org/wiki/Neoplatonismo ; --- https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Nome_da_Rosa ; -https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Nome_da_Rosa_(filme) ; --- https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_de_Santo_Agostinho ; - https://pt.wikipedia.org/wiki/Pseudo-Dion%C3%ADsio,_o_Areopagita ; --- https://pt.wikipedia.org/wiki/Tomismo
-FILHO,
Miguel Attie; GALLI, Marcelo, Editora Escala - http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/66/artigo244834-1.asp ;
É AINDA, GRAÇAS A ESTES SABERES/PATRIMÓNIOS que o Mundo se vai expandir e globalizar. Aqui entra o papel das Ordens dos Templários e de Cristo, o Jesuítico e o da Portugalidade através de achamentos/descobrimentos; da expansão territorial, da leitura de velhos e novos documentos ...
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