quinta-feira, 30 de março de 2017

139. AUDÁCIA E IMPROVISAÇÃO DÃO ORIGEM AO «BARTOLOMEU DIAS MUSEUM COMPLEX” NA ÁFRICA AUSTRAL



01.Carta da Rota do Cabo do Século XVI

       Quando os navegadores de Quatrocentos e de Quinhentos se aventuram no caminho da Índia, improvisam uma forma de comutação inédita de correio.
         Em 1488 Bartolomeu Dias dobra o Cabo das Tormentas, logo designado pelo rei D. João II por Cabo da Boa Esperança. Após alguns dias pelo mar tormentoso, eis que chegam a uma Baía amena, onde encontram condições para descanso e reabastecimento. 

Qual célebre recompensa dos deuses, aos ousados e esforçados marinheiros!
No outro lado do mundo, o da costa oriental, onde ninguém ocidental ousara chegar por mar, a Baía é batizada com o nome do santo daquele dia. A designação de São Brás continua, não só pela tradição, como pelo tributo da República da África do Sul à História e à amizade com Portugal, quer antes, quer depois do "apartheid" (cujo marco fundamental e civilizacional se concretizou em 1994). 
A importância do local determina a utilidade como sítio de interesse estratégico para a escala Ocidente / Oriente e vice-versa.
Quando a armada de Cabral se dirige à Índia, em 1501, após a Descoberta do Brasil, encontra novamente o mar revolto. Ao aproximar-se do Cabo (agora da Boa Esperança) Bartolomeu Dias cede a vida ao mar na segunda vez que aqui chega. Algumas naus dispersam-se, como causa do tempo e do mar em fúria. Uma dessas embarcações é a comandada por Pedro de Ataíde, acidentalmente perdida das restantes, indo até à Baía de S. Brás , onde lança âncoras.
Verificam que é um sítio propício para abastecer, deixar e levantar mensagens de e para outros marinheiros. Como não há ali quaisquer estruturas de correio, logo a improvisação se impõe.
E ter-se-ão questionado, porque não deixar uma mensagem neste bom ancoradouro para que outros nossos compatriotas saibam novas de cá e de lá?
Mas onde preservar avisos/documentos, até que os novos viajantes ali passem?
É então que surgirá a ideia. Uma bota, também dita botim, de cabedal, certamente invertida da sua função normal, por causa das chuvas e dos cacimbos tropicais.
A bota é capaz de preservar um pergaminho ou outro suporte de escrita. Procura-se a copa de uma árvore, onde não seja fácil o extravio.
Bartolomeu Dias que tivera o primeiro acesso ao local, em 1488, viaja, também, naquele comboio naval, no ano de 1501, sob o comandado superior de Pedro Álvares Cabral.  
Estaria destinado o navegador Dias a ali permanecer para a eternidade?
Tratou-se, porém, duma coincidência, quiçá um aviso ou uma marca para o futuro, o facto do primeiro herói da chegada ao Cabo tormentoso falecer ali, 13 anos após a primeira dobragem pelo próprio Bartolomeu Dias comandada.
Se Bartolomeu Dias tem que passar para o Reino do Além, como todos nós; esse local é o que lhe dá a maior celebridade, atendendo ao facto da memória como primeiro Homem ocidental a desbravar caminho marítimo, naquelas geografias, onde e agora está a sua memória em permanência.
Com efeito, na Baía de S. Brás da localidade de Mossel Bay projeta-se a imagem deste português de Quatrocentos e início de Quinhentos, no complexo museológico da Região, a que os próprios Sul-Africanos gentilmente adotam o nome de «Bartolomeu Dias Museum”.
A primeira mensagem ali depositada, e recebida, é para informar o desaparecimento de Bartolomeu Dias e do seu navio. O recetor da mensagem é outro célebre marinheiro – o João da Nova que partira em direção à Índia, ao serviço do Rei D. Manuel I no mesmo ano de 1501.
Quanto à bota original do correio, a mesma não sobreviveu, por isso se manufaturou uma imaginada "réplica".
E quanto à árvore designada “do correio” construíram junto à mesma um monumento evocativo. Os Sul-Africanos da Região atestam que "é a árvore original do correio” do tempo dos primeiros navegadores de Portugal e do Ocidente que documentalmente aqui chegaram.
 


02.Réplica da conjeturada imagem da bota do correio exposta no Museu das Comunicações. Património museológico da Fundação Portuguesa das Comunicações, em Lisboa.

Fontes:

-ANCIÃES, Alfredo Ramos – “133.Geopovos, Geolocais, Achamentos e Descobrimentos” - http://cumpriraterra.blogspot.pt/2017/03/133-geopovos-amizade-uma-historia-um.html 

-ANCIÃES, Alfredo; MOURA, Fernando et al – Documentos e catálogo da Exposição Permanente : Vencer a Distância - Cinco Séculos de Comunicações em Portugal. Lisboa: Fundação Portuguesa das Comunicações, 2005

terça-feira, 28 de março de 2017

138. LUSOFONIA E PRECURSORES DA RÁDIO: A TELEGRAFIA ATRAVÉS DAS ONDAS HERTZIANAS, TAMBÉM DITAS LANDELLIANAS


01.Recetor Slaby & Arco com coesor de Edouard Branly

 Em 1902 a TSF telegrafia sem fios (via radioelétrica) dava ainda os primeiros passos. Contudo, a 26 de maio desse mesmo ano são realizadas experiências em Portugal, na Marinha, entre a Cidadela de Cascais e o navio cruzador D. Carlos. Uma das primeiras peças utilizadas nessa altura foi a que aqui se apresenta. É um equipamento de Adolf Slaby e de Georg Alexander von Arco. Sinteticamente designa-se por recetor Slaby & Arco. Esta peça precursora está à guarda na Fundação Portuguesa das Comunicações / Museu.

As mensagens por essa altura comutadas « […] foram assim as primeiras que, em Portugal, cavalgaram as ondas electromagnéticas nas ligações navio/terra […]» (cf. VALLE, ob cit.).

Porém, outros nomes, além dos acima citados são incontornáveis. Guglielmo Marconi (Bolonha, 1874 ; +Roma, 1937) e Eduard Branlly (Amiens, 1844 ; +Paris 1940), por exemplo. Branly foi titular de um prémio Nobel da Física por ter descoberto o coesor / recetor, tendo o mesmo ficado conhecido por coesor de Branly. O coesor é um pequeno componente parecido com um fusível. No interior do qual existe um filamento e limalha metálica. Foi este pequeno componente que serviu como recetor dos sinais radioelétricos e terá ajudado Guglielmo Marconi a obter um lugar cimeiro na TSF.

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Jagadish Chandra Bose (Índia, 1858 -1937). As investigações de Bose e do físico Édouard Branly são quase simultâneas e, provavelmente, independentes uma da outra. Branly foi pionero, do ponto de vista do registo de patente com o coesor detetor registado com o seu nome.

A peça que acima incluímos contém esse componente simples, mas importante para o início da radiotelegrafia.

Bose (1) inventa peça compatível mas conforma-se com a divulgação no sistema de ensino e no emprego da mesma peça para explodir pedreiras à distância e para campainhas de sinalização. Bose estava mais interessado na segurança de vidas humanas e na divulgação do conhecimento, através do ensino que ministrava, do que em realizar proventos pela venda de serviços e equipamentos.

A sua genialidade como físico, biofísico, botânico, fisiologista e arqueólogo, foi direcionada para a relação humanista. Altruísta, parece ter descurado o desenvolvimento na vertente das comunicações, deixando o caminho aberto para outros investigadores, tal como vem a acontecer, com a evolução das telecomunicações inclusivamente na Era digital. Bose inicia a investigação que viria a dar frutos com os semicondutores, base das comunicações modernas/atuais à distância.

Mais interessado pelos fenómenos da vida e desta com o Absoluto (2), Bose privilegia o estudo da relação homem/meio ambiente como forma de interligação, inclusive com entidade(s) suprema(s). Para Bose, a natureza vegetal não é desprovida de sensações de bem-estar, mal-estar; não é indiferente a estímulos. Uma planta pode sentir a presença de bons e maus fluídos e reage a sensações e comunicações.

Tudo parece indicar, que o reino vegetal comunica com o meio, libertando odores e desenvolvendo-se ou retraindo-se no seu crescimento e morte; na frutificação abundante e generosa, ou no definhamento e esterilidade.

Para comprovar os atributos de sensação/reação, felicidade/bem-estar que a sua intuição e espírito lhe sugeriam, Bose inventa um equipamento a que chama crescógrafo (3) permitindo a ampliação, das manifestações reativas/comunicativas do reino vegetal, até cerca de 10.000 vezes.

Dada a sua personalidade de polígrafo, Bose dedica-se mais ao ensino dos princípios do que às questões formais e autorais. Filho de um magistrado estuda em Calcutá, a partir dos 9 anos, onde conclui uma licenciatura. Em 1880 já se encontra em Londres onde segue Medicina, que não conclui devido a ter desenvolvido uma doença de malária. Muda de curso e licencia-se em Física. Entre vários professores encontra Francis Darwin, filho do célebre Charles Darwin.

Regressa a Calcutá onde trabalha cerca de 30 anos. Leciona e investiga no Presidency College e é nas duas últimas décadas do século XIX que realiza várias investigações, entre elas: sobre ondas eletromagnéticas, precedendo Marconi.

Nestes anos consegue fazer explodir uma carga à distância, através do espaço radioelétrico, isto é, sem o uso de fios e faz tocar uma campainha, também sem o recurso de traçados de transmissões físicas contínuas. Estavam dados os passos essenciais para as radiocomunicações. Em 1896 o Daily Chronicle relata a experiência da sua comunicação à distância, sem fios.

Quase pela mesma altura o russo Alexander Popov (S. Petersburgo, Rússia, 1859-1906) também realiza experiências no sentido de comunicar pela via radioelétrica. Mas Popov escreve em 1895 que mantinha a esperança de comunicar, sem fios; logo, verifica-se que, neste ano de 1895, ainda não tinha conseguido o seu desiderato. Quanto a Marconi, também só em 1897 consegue resultados aceitáveis e encorajadores.

 Bose não tem intenção em manter em segredo a sua investigação. Não o move o desígnio de criação de empresas e de negócios altamente lucrativos, apenas a divulgação científica entre a população interessada. Mas não faltava quem por interesses pessoais, quiçá egoístas, quisesse apresentar inovações. Ele próprio desabafa com um amigo poeta, e igualmente polígrafo de Calcutá – Rabindranath Tagore, em 1901, sobre o “espírito de ganância” pelo dinheiro que encontra em obcecados “concorrentes”.

Bose investiga e trabalha sobre as ondas curtas que estão na base da revolução das comunicações a longas distâncias. Inventa um protótipo de díodo (4) semicondutor de cristais, funcionando como peça transmissora de informação e descobre as micro-ondas.

A este respeito estava tão avançado em relação ao seu tempo que o Prémio Nobel de Física de 1977 – Nevill Mott confirma que Bose estava “60 anos avançado em relação à sua época”(5).

PRECURSORES LUSÓFONOS

Um lusófono precursor nas comunicações à distância, contudo retirou-se para prosseguir o sacerdócio, tal como acontecera com o Pe. Bartolomeu Lourenço de Gusmão, deixando para outros a técnica e a aplicação comercial das suas invenções. Trata-se desta feita de um dos primeiros inventores da telegrafia sem fios - o Padre Roberto Landell de Moura (Porto Alegre - Brasil, 1861 – +1928).

Em 1909 Guglielmo Marconi partilha o Nobel da Física com Karl Ferdinand Braun (Fulda – Alemanha, 1850 ; +1918, Nova Iorque) , porém o Pe. Roberto, que estudara nas escolas de ensino religioso, incluindo em Roma e na Academia Real Militar (fundada por D. Maria I de Portugal) construíra o primeiro transmissor-recetor de ondas hertzianas (pela via etérea). O seu invento data de 1892, antes do de Marconi. Mas faltou a Roberto um meio social incentivador: «Seu laboratório, montado a custo de muito trabalho e suor, foi mais de uma vez destruído […]. Embora me tenham acusado de participante com o diabo e interrompido meus estudos pela destruição de meus aparelhos, hei de sempre afirmar: isto é assim e não pode ser de outro modo... Só agora compreendo Galileu exclamando: ´E pur se muove!`. Em 1900, finalmente, sempre perseguido por toda sorte de vexames e dificuldades financeiras, consegue obter uma patente brasileira, sob o número 3279» (cf. Alencar et al, ob cit) e em 1904 nos EUA. Porém, o seu invento passa a águas mornas. A falta de uma entidade relevante que o apoiasse, levou a que se retirasse, em 1905, desligando-se das reivindicações e da melhoria dos trabalhos científicos.

Um outro lusófono, desta feita, natural de Lisboa – Carlos Viegas Gago Coutinho, o mesmo que foi pioneiro na aviação, também se dedicou a experiências elétricas. Trabalhou na ideia de melhorar um dispositivo transmissor e recetor radioelétrico, tendo conseguido em 1900 chegar a resultados encorajadores. A ideia terá partido da realização, então já conhecida, de Édouard Branly. Em vez do coesor de Branly com limalha, Coutinho substitui o metal moído por um alfinete de ouro e uma fina agulha. Tal como Landel de Moura não terá encontrado um meio social e profissional suficientemente envolvente, com fé inquebrável no progresso e na persistência, e assim o dispositivo não foi aplicado na prática.

 
02. Patente de invenção de Gago Coutinho

Na altura a telegrafia elétrica por fio já estava muito expandida em Portugal e o país vivia em graves crises financeiras. A TSF teve de aguardar, cerca de uma década, até que, enfim, contratam Marconi após várias negociações para introduzir a TSF em Portugal. Convém deixar uma nota de que o tempo protelado na aplicação da TSF nos anos 20 não foi de todo prejudicial, pois teve a vantagem do amadurecimento das ideias e quando foi implementada o equipamento já estava avançado e capaz de comunicar para longas distâncias.

Palavras-chave: Alexander Popov, Edouard Branly, Gago Coutinho, Guglielmo Marconi, Jagadish Chandra Bose, Paramahansa Yogananda, Roberto Landell de Moura, TSF Telegrafia Sem Fios,

Notas:

(1)É interessante o nome / termo Bose por estar associado ao “pequeno e discreto” (cf. http://mundodasmarcas.blogspot.pt/2006/05/bose-better-sound-through-research.htmlhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Condensado_de_Bose-Einstein ).

O BOSÃO, por sua vez, ganhou o significado de “a partícula mais pequena de Deus”. O nome Bose parece ter sido inspirado aos seus progenitores. Bose, originário de um território colonizado tornou-se grande, não só na India, como na Metrópole / Reino Unido, e no Mundo, estando hoje as suas obras, e as que dele falam, traduzidas em cerca de 20 línguas.

(2)A expressão Absoluto é qui empregue em vez de Deus, Javé e Alá, cujas referências estão ainda ligadas a religiões e culturas diferentes, o mais das vezes em competição ou em guerra declarada.

(3)Crescógrafo - substantivo masculino do latim cresco, crescer + grafo, registo, isto é, aparelho amplificador e registador do crescimento das plantas. (cf. Dicio – Dicionário Online português). Diz-nos o guru indiano Paramahansa Yogananda, na sua obra onde se refere a Bose, que este precursor “recebeu o título de Cavaleiro pela Administração Britânica, em 1917, pela invenção do crescógrafo”, entre outros instrumentos. (cf. YOGANANDA: 2007).

(4)Díodos (do grego di e odos = dois caminhos). Trata-se de pequenas peças trabalhando com cristais. Estas pequenas unidades são, hoje em dia, mais conhecidas como semicondutores. Assentam na capacidade variável de conduzir a corrente elétrica. Os cristais foram primeiramente descobertos em 1873-1874 por Frederick Guthrie e Karl Braun. Depois utilizados por Thomas Edison (1880). Pouco tempo após, são aplicados por Édouard Branly e Jagadish Bose, no então chamado coesor de transmissão radioelétrica.

Imagens gentileza:

01.Recetor Slaby & Arco - Fundação Portuguesa das Comunicações

02.Patente de invenção de Gago Coutinho – CDI / MOP

Fontes:

-ANCIÃES, Alfredo Ramos – “Ensaio de Organização da Telegrafia Eléctrica no Museu dos CTT. Lisboa: Museu dos CTT; UAL, 1988- 1989

---------------------- – “Uma (R)evolução nas Telecomunicações”. Lisboa: FPC – Fundação Portuguesa das Comunicações, 2005. – Doc. Apresentação da Exposição “150 Anos da Telegrafia Elétrica em Portugal”. In Património Museológico Postal e Telecomunicações

-COPERÍAS, Enrique M. – O Livro das origens: De onde vem tudo o que nos rodeia, do Universo e da vida aos objetos do quotidiano. Paço de Arcos: Abril Controljornal Edipress, Ldª, 2013

 

Documentos em linha, acedidos em 7.7.2015

-ALENCAR, Marcelo; ALENCAR, Thiago; LOPES, Waslon – “O Fantástico Padre Landell de Moura e a Transmissão sem Fio” http://www.memoriallandelldemoura.com.br/imagen/documentos/fantastico_landell.pdf

-ANCIÃES, Alfredo Ramos – “048. Comunicações d`Outrora _ Perspectivas de Futuro – O Caso de J.C.Bose” http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/07/48-comunicacoes-doutrora-e-uma.html


-BOSE, Jagadish Chandra - Biografia - pioneirismo na pesquisa/deteção de ondas curtas in http://ethw.org/Jagadish_Chandra_Bose


-BOSE - Físico e Fisiologista in http://es.wikipedia.org/wiki/Jagdish_Chandra_Bose


-BOSE; Demerson - Detetor ou coesor radioelétrico inhttps://www.cv.nrao.edu/~demerson/b~ose/bose.html

-CHARDIN – Investigações sobre a energética do pensamento e o respito pela Natureza in http://pt.wikipedia.org/wiki/Teilhard_de_Chardin#Obras_de_Teilhard_de_Chardin

-CHT Comissão das História das Transmissões - BRANLY, Édouard e o coesor detetor de ondas radioelétricas in https://historiadastransmissoes.wordpress.com/tag/coesor-de-branly/ ;https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89douard_Branly;https://en.wikipedia.org/wiki/%C3%89douard_Branly ;

-Diodo semicondutor de cristais in https://pt.wikipedia.org/wiki/Diodo_semicondutor

-COLLINS, A. Frederich – “The Slaby-Arco portable field equipment for wireless telegrapy .http://earlyradiohistory.us/1901sla2.htm

-EMERSON, D. T. – Investigações pioneiras de J. C. Bose: 100 anos de ondas milimétricas e relação com as investigações de Bose in https://www.cv.nrao.edu/~demerson/bose/bose.html

-FIDALGO, Anabela (profª) - Apontamentos aulas de Literatura. Massamá e Monte Abraão: USMMA, 2014/2015

-FIOLHAIS, Carlos; LEONARDO, António José; MARTINS, Décio –“História da Física e ciências afins: A telegrafia eléctrica nas páginas de `O Instituto`. Revista da Academia de Coimbra ; Rev. Bras. Ensino Fís. vol.31 nº2, São Paulo, Abr./Junho, 2009 Também disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172009000200014

-FRANCISCO, Papa – Nova Encíclica “Laudato si, sobre o cuidado da Terra in http://ionline.pt/397268?source=social

-FUNDAZIONE Guglielmo Marconi et al. - “Carl Heinrich Adolf Slabyhttp://www.fgm.it/en/marconi-en/profiles/adolf-slaby.html

-JANEIRA, Ana Luisa – Teilhard de Chardin: a energética como visão de mundo; A energia máxima será sempre o amor in https://teilhardianos.wordpress.com/2012/05/25/teilhard-de-chardin-a-energetica-como-visao-de-mundo/



-PEREIRA, Martha Camargo Vasconcelos - Efeito Branly (Branly's coherer). Campinas: Universidade Estadual de Campinas - Instituto de Física Gleb Wataghin, s. d. -http://www.ifi.unicamp.br/~lunazzi/F530_F590_F690_F809_F895/F809/F809_sem2_2006/MarthaC_Tamashiro_RF1.pdf

-KAMERLINGH-ONNES, Heike – História do forno de micro-ondas inhttp://microwavecooking.com/pt/Microwave_Oven_History_Part3.htm


-VALLE, Auretónio Rodrigues do - “A telegrafia sem fios nos Açores. Notas biográficas [TSF em Portugal / Açores] de Auretónio Rodrigues do Valle” -


-YOGANANDA, Paramahansa ; BOSE, Jagadish in https://pt.wiki


-WIKI et al. – ARCO, Georg Alexander von ; SLABY, Adolf –  [“O papel destes dois cientistas nas radiocomunicações”] https://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Graf_von_Arco

-WIKI, et al.[“O papel Carl Heinrich Adolf Slaby nas radiocomunicações”] https://en.wikipedia.org/wiki/Adolf_Slaby

domingo, 26 de março de 2017

137.OS PRECURSORES DA MÁQUINA FALANTE PORTUGUESA


   Sou um telefone precursor. O primeiro de Alexander Graham Bell, de 1875. Tive existência experimental, antes do meu congénere patenteado alguns meses após, em 1876
01.Telefone experimental de Graham Bell de 1875 com alcance de algumas dezenas ou escassas centenas de metros




02. Imagem do mesmo telefone em posição de funcionamento

   Quando o telefone meu sucessor viu o registo patenteado, em 1876, foi imediatamente contestado por Elisha Gray (EUA) que dera entrada a um requerimento de patente no mesmo dia do meu inventor. Aliás Bell - meu criador e Gray esgrimiram-se longo tempo em Tribunal. Já eramos pelo menos três telefones, de três inventores diferentes.

   O meu criador Alexander Graham Bell ficou reconhecido como o inventor. Mas em Junho de 2002 (126 anos após) o Congresso norte-americano aprova uma resolução relativa à primeira paternidade do telefone. Desta vez a prioridade vai para Antonio Meucci que também se esforçara para que os aparelhos falantes fossem uma útil realidade

   Antonio Meucci (Florença, 1808 +Nova Iorque,1889) construíra o seu modelo, quase 20 anos antes do meu inventor Alexander Bell me ter apresentado como peça de interesse para comunicar com as pessoas e não só como um objeto bibelot e /ou de gabinete de curiosidades.

   As surpresas não ficam por ali. Documentos recentemente publicados vêm reivindicar outro invento e inventor: Phillip Reis (Alemanha) terá construído alguns modelos 13 anos antes de Bell e de Gray . E dizem que os seus protótipos já estavam mais evoluídos.

03. Primeiro telefone patenteado por Graham Bell em 1876

   Polémicas à parte. Estou aqui para me apresentar, enquanto primeira peça de Graham Bell. Fiz História enquanto modelo de experiências em gabinete. Como o meu design é apenas de peça experimental (veja peça supra imagens 01 e 02), não me deram as feições como objeto funcional. Talvez por isso o meu inventor não tenha pensado em pedir o registo de patente para mim, logo em 1875. Se o fizesse, teria evitado o longo processo judicial com Elisha Gray. Na parte que me toca, estou feliz. Fui o primeiro modelo com que Bell realizou as suas experiências de tele-transmissão da voz por meios elétricos. Fui o telefone eureka – o primeiro mecanismo elétrico falante a ser divulgado. Na altura que o termo telefone, nem sequer ainda existia nos dicionários.

   Fico ao dispor para me visitarem, como réplica fidedigna, executada no Museu de Ciência de Londres. Estou na Fundação Portuguesa das Comunicações / Museu, em Lisboa, Rua do Instituto Industrial, nº 16.

   Aproveite para me comparar com alguns dos meus sucessores e telefones mais funcionais, inovados pelos portugueses Cristiano Augusto Bramão (Elvas, 1840 +Lisboa, 1881) e por Maximiliano Augusto Herrmann (Lisboa, 1838 +1913).
04. Telefone dito de Bell, modelo de 1877. Foi melhorado, em Lisboa, por Cristiano Augusto Bramão e pelo industrial Maximiliano Augusto Herrmann, tendo a melhoria sido registada em patente com o número 633 do Instituto Nacional de Propriedade Industrial;
05. Um dos telefones mais inovadores até finais do seculo xx é português, de Cristiano Augusto Bramão, 1879, com a colaboração de Maximiliano Augusto Herrmann.
      Nota final: Portugal vai-nos surpreendendo, desde a formação da nacionalidade, o alargamento de espaços geográficos e a expansão da lusofonia; as navegações arrojadas com caravelas e naus mais capacitadas se sempre: A ciência náutica; a primeira passarola voadora de Bartolomeu Lourenço de Gusmão. As primeiras travessias aéreas, do velho continente para a América do Sul, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral; os telégrafos e os telefones mais fáceis de utilizar e com melhores funcionalidades de  Cristiano Augusto Bramão e de Maximiliano Augusto Herrmann.
   Palavras-chave: Alemanha, Antonio Meucci, Canadá, ciência, Cristiano Augusto Bramão, Estados Unidos da América, Escócia, Itália, Maximiliano Augusto Herrmann, Portugal, técnica, telefone.

Fontes imagens:

   Gentileza CDI / Património e Museu. Lisboa: FPC - Fundação Portuguesa das Comunicações e coleção de calendários de bolso, editados em 1986, da iniciativa da célula PCP dos CTT – Organização Regional de Lisboa.

Fontes bibliografia:

 -ANCIÃES, Alfredo Ramos. – “Telefone Precursor de Bell”. Lisboa: Revista Clube PT2, II série, maio 2004.

 -ANCIÃES, Alfredo Ramos, JANEIRA, Ana Luísa, et al “Quando os Objectos de Colecção Falam das Telecomunicações” - O Mundo das Colecções dos Nossos Encantos. Lisboa: Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CICTSUL) da Fac. Ciências, Univ. Clássica de Lisboa.

 -ANCIÃES, Alfredo Ramos; MOURA, Fernando, et al – 100 Anos de Telefone (1876-1976). Lisboa: Fundação Portuguesa das Comunicações; Estar Editora, Ldª, s.d.

 -CARVALHO, Rómulo de - História do Telefone. Coimbra: Atlântida, 1952 (Ciência para Gente Nova; Nº 1.

 -EINAUDI, et al - ”Colecção” / Krzysztof  POMIAN. Lisboa: INCM ©.- EINAUDI, Vol. 1 História, 1984, pp. 51-86.

 -NASCIMENTO, Rosana - O Objecto Museal, Sua Historicidade: Implicações na Acção Documental e na Dimensão Pedagógica do Museu. Lisboa: Cadernos de Sociomuseologia, 1999. (Centro Estudos Sociomuseologia) ULHT, Nº 13.

 -PÚBLICO, Jornal, et al - “Descobertos no Museu das Ciências de Londres. Novos Documentos Relançam Debate Sobre a Paternidade do Telefone”. Jornal - Público, Quinta-feira, 4 de Dezembro de 2003.

 -WIKI et al “Alexander Graham Bell”  https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_Graham_Bell

sexta-feira, 24 de março de 2017

136.ANACOM: o que é e qual a relação com os patrimónios de comunicações de interesse nacional



edifício da ANACOM, onde nasceu a radiodifusão pública - Emissora Nacional

   ANACOM Autoridade Nacional de Comunicações: É uma Organização criada em 1989 com a designação de ICP – Instituto de Comunicações de Portugal, tendo sido reestruturada e denominada ANACOM. Anteriormente funcionava, na parte relativa às telecomunicações, com a designação de DSR – Direção dos Serviços Radioelétricos dos CTT. Regula os serviços postais e de telecomunicações;
 
  

placa toponímica assinalando a indicação de acesso à ANACOM sobre a estrada militar  Barcarena

   Gere o estudo, a fiscalização e a atribuição de frequências do espectro radioelétrico;
   Fiscaliza a aplicação das leis, dos regulamentos e dos requisitos técnicos exigidos, bem como o cumprimento da parte dos operadores de comunicações;

 Garante a existência e disponibilidade de um serviço universal de correios e telecomunicações;
   Representa o Estado português nos organismos internacionais congéneres;
   Estabelece relações com outras entidades reguladoras;
   Elabora regulamentos e procede à arbitragem para resolução de litígios.
   Faz assessoria ao Governo para a definição das estratégicas e políticas do sector;
   Atua na regulação do comércio eletrónico (Decreto-Lei nº 7/2004, de 7 de Janeiro);
   Recebe anualmente dezenas de milhares de queixas relativas a contratos, serviços e equipamento e dá-lhe o possível seguimento na observância do serviço público;

 Aplica coimas, se necessário, segundo as leis;
   É uma das três entidades cofundadoras da Fundação Portuguesa das Comunicações / Museu das Comunicações. As duas outras entidades são os CTT – Correios de Portugal, S. A. e a PT – Portugal Telecom, S. A.
Palavras-chave: ANACOM, classificação, comunicações, património, preservação, serviço público

 Fontes:

ANCIÃES, Alfredo, MOURA, Fernando et al – Documentos e catálogo da Exposição Permanente : Vencer a Distância - Cinco Séculos de Comunicações em Portugal. Lisboa: Fundação Portuguesa das Comunicações, 2005

Em linha, acedidas em 24.3.2017 -


-ANACOM portal do consumidor http://www.anacom-consumidor.com/

-ANCIÃES, Alfredo Ramos – “135.Em Torno do Futuro do Património de Comunicações de Interesse Nacional http://cumpriraterra.blogspot.pt/2017/03/135.html

RIBEIRO, Sara; Jornal Negócios - “Anacom multa Meo em 120 mil euros” http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/telecomunicacoes/detalhe/anacom-multa-meo-em-120-mil-euros

quinta-feira, 23 de março de 2017

135.EM TORNO DO FUTURO DO PATRIMÓNIO DE COMUNICAÇÕES DE INTERESSE NACIONAL



edifício da ANACOM, onde nasceu a radiodifusão pública - Emissora Nacional
 Palavras-chave: arquivístico, biblioteconómico, comunicações, correios, edificado, imaterial, móvel, património, Portugal, radiocomunicações, telefonia, telegrafia, museológico

 As comunicações organizadas constituem um dos fatores mais relevantes das civilizações. Permitiram e permitem a troca e a difusão do pensamento, cultura, ciência, arte, economia e informação sobre tudo o que se passa no mundo, incluindo meteorologia, condições para a prática de agriculturas, telemedicina, exploração do espaço celeste, navegabilidade náutica/aérea, transportes terrestres...

 As comunicações estiveram presentes nas viagens dos Descobrimentos, no conhecimento e exploração dos continentes, na relação com os povos e nas trocas de produtos. Continuam a estar presentes, quer na forma tradicional de escrita, quer na forma telefónica, telegráfica, dados, vídeo e televisão.

 Nos últimos 20 anos, o setor das comunicações foi o que mais cresceu. A evolução até ao estádio da digitalização foi lenta. Algumas tecnologias não passaram de experimentais, mas outras houve que duraram décadas ou séculos, tal como o transporte das mensagens em suporte físico.

 O correio começou por ser transportado por mensageiros a pé. A maratona, por exemplo, foi um episódio de corrida numa extensão de 42 km para que Feidípedes entregasse a mensagem da vitória dos Gregos sobre os Persas. Estávamos no ano de 490 antes de Cristo. De tão dura prova para transportar a correspondência, o mensageiro morreu logo após a missão da entrega. Deixou-nos, porém, uma marca cultural. A maratona é hoje uma prova de desporto de alta competição. Muitos outros mensageiros anónimos arriscaram e deram a vida para “entregar a carta a Garcia”.

 Aos correios privativos dos reis, senhores, conventos, bispos e instituição papal, sucederam-se os correios públicos, com uso de novos meios de transportes, organização e tecnologias. Até os pombos-correios foram aproveitados para o transporte físico de columbogramas, especialmente no ambiente militar, em que era demasiado arriscado ou mesmo impossível o transporte por via terrestre.

 As telecomunicações começaram com o uso do fogo, fumos e sons, evoluindo para a transmissão de sinais e mensagens elaboradas através da telegrafia visual, com auxílio de instrumentos óticos, para captarem os sinais a longas distâncias.

 Com a descoberta da eletricidade e o invento dos meios de armazenar a energia em pilhas e baterias, as telecomunicações puderam chegar até aos confins do mundo; primeiro com a utilização de fios elétricos, seguiram-se os cabos de cobre e fibra ótica. Mas onde não havia fios nem cabos também o homem e a ciência conseguiram contornar as dificuldades. Hertz e Marconi, para apenas referir dois nomes, foram determinantes na desmaterialização das transmissões, aplicando a via radioelétrica entre os percursos.

 O desenvolvimento das tecnologias de comutação (isto é a possibilidade de troca de mensagens entre os muitos e diferentes números de assinantes do serviço de telecomunicações) também se sucedeu, primeiro com a intervenção de Telefonistas, na era da comutação manual; depois com os vários sistemas automáticos eletromecânicos e atualmente com os sistemas de tecnologia digital.

 O Museu das Comunicações com patrimónios dos CTT, PT (e as empresas nelas fundidas), a ANACOM – Autoridade Nacional de Comunicações e a própria Fundação Portuguesa das Comunicações são proprietários de um acervo museológico de décadas e, em alguns casos de séculos, testemunhos do longo processo das comunicações e de uma parte da nossa identidade.

 Este património, ciosamente guardado e preservado pelos nossos antecessores e pelas gerações atuais, poderá estar em risco devido às privatizações do setor das comunicações, acrescendo às privatizações a possível deslocalização das sedes das empresas, algures para o exterior - Xangai ou Pequim, Cidade do México, Rio de Janeiro ou São Paulo, Nova Iorque, Paris ou Luanda...

 Se este património com centenas de milhares de peças fez parte do nosso desenvolvimento e da nossa ciência, pois que muitas peças foram inventadas ou manufaturadas / fabricadas / editadas em Portugal e são parte das nossas memórias; porque não nacionalizar este património, tal como se fez com a arte (Museu Nacional de Arte Antiga, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Museu Nacional Machado de Castro, Museu Nacional Soares dos Reis, Museu Nacional do Azulejo); com o traje (Museu Nacional do Traje); com o teatro (Museu Nacional do Teatro); com a etnologia (Museu Nacional de Etnologia); com a arqueologia (Museu Nacional de Arqueologia) e com os coches (Museu Nacional dos Coches) - criando-se o Museu Nacional das Comunicações ou uma versão ainda mais lata -  um Museu Nacional das Comunicações, Transportes e Descobertas! porque todos estes itens estão relacionados com as comunicações e tecnologias afins.

 O setor privado, detentor do património, poderá alegar que continuará a apoiar e preservar os valores patrimoniais e museológicos. Contudo, sabemos que a sua vocação está particularmente virada para os negócios onde as estratégias assentam no lucro quanto mais imediato melhor. Deste modo vemos como possíveis algumas formas deste património ser poupado às instabilidades nos negócios, às diferentes sensibilidades na conservação e divulgação. Importa que este valor histórico continue ao serviço da ciência, ensino e lazer, de todas as pessoas que vivem em Portugal e espaço lusófono ou dos que nos visitam em férias e trabalho.

 A solução mais eficaz será o Estado negociar a nacionalização do património com os proprietários - CTT, PT, ANACOM, FPC - Fundação Portuguesa das Comunicações e outras entidades detentoras de acervos relevantes e de interesse nacional. Outra via possível e intermédia permitiria as entidades detentoras de patrimónios continuarem com a propriedade dos mesmos, mas com garantias de que as peças classificadas não sairiam do país e seriam bem preservadas e divulgadas.

 Há outras soluções, aqui não abordadas, que podem ser implementadas para minorar os riscos resultantes das privatizações e entidades particulares que, ou não estão vocacionadas, ou não têm os meios suficientes para proteger os valores de interesse nacional.

 Esperando que, entre o período de estudo, reflexão e decisão, não haja perdas de tempo nem a dispersão dos valores que refletem um dos padrões de identidade que os nossos antepassados nos legaram com muito esforço e carinho.