terça-feira, 27 de setembro de 2016

098 AGORA DEVEM CRIAR/CONSTRUIR/RESTAURAR


A Câmara Municipal de Sintra e a Grande Lisboa devem criar efetivamente O MUSEU DE CULTURA SALOIA em Alvarinho, que será o representante da cultura mais genuína do Distrito de Lisboa.

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Razões e vantagens são múltiplas:

1.Cultura saloia relacionada com a moura/árabe é ainda uma das formas mais expressivas do Distrito.

2.Cultura saloia foi e é uma forma de vivência e de economia.

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3.Cultura saloia não está para acabar, antes se transformou/transforma e convém não perder as referências memoriais marcantes. Todas as expressões imateriais e as peças características são documentos e, em parte, monumentos que a eventual perda e degradação só podem representar uma diminuição das memórias, das capacidades de comunicação entre as populações e inter-relacionamento com cerca de quatro dezenas de países de cultura árabe e não só.

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4.Depois da I Exposição de 1956 e de uma relativa reposição em 1958; provavelmente por causa das guerras coloniais, a que se seguiu o 25 de Abril de 1974, não mais se voltou a dar a atenção devida e merecida ao povo e território de expressão saloia.

Preconceitos atinentes ao tradicional; às vivências e às novas formas de expressão levaram à dissuasão de manifestações culturais e vivências. Tanto que a evocação neste presente ano de 2016 parece ter acontecido por acaso, como é referido no livro recentemente editado para a Exposição de 2016.

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Consta no livro citado que «Foi no espaço de pouco mais de um mês que se conseguiu recolher alguma informação […]». Henrique Martins refere que «[…] um membro da comunidade de Alvarinhos teve a “sorte” de visualizar um programa na RTP2 onde este facto [da 1ª Exposição Etnográfica Saloia do Concelho de Sintra] foi mencionado» (1).

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O incentivo de atualmente existir um Presidente da República, filho de Baltazar Rebelo de Sousa, que inaugurou a dita 1ª Exposição, parece ter funcionado também como um detonador de energias e de rejeição dos fúteis preconceitos, injustificados e injustificáveis.

5.Os patrimónios, até agora preservados, têm que contar com a institucionalização de um museu de território, sedes condignas para que as peças e as memórias não se deteriorem, entrando em abandono ou no processo de entropia.

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6.É de toda a justiça e direito exigir que se institucionalize um museu e/ou ecomuseu de cultura de raiz moura, até pela razão de:

7.Argumentação perante arabistas e da civilização árabe. Poderemos dizer que respeitamos as raízes, que cultivamos boas relações com o mundo mouro/islâmico mas que somos independentes. Este raciocínio põe-se em relação a qualquer país/nação, tornados independentes e a quem assiste todo o direito de prosseguir como Nações/Estados modernos.

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8.Não faria qualquer sentido hoje, por exemplo: os EUA, o Brasil, Angola, Congo, Malawi, Namíbia, Zimbabué, Perú, México, Austrália, Marrocos, Argélia, etc., etc., serem vistos pelos antigos colonizadores como povos sem direito de se desenvolverem em relação às suas autonomias / independências. O que estou dizendo tem passado pela cabeça de algumas pessoas, nomeadamente sob uma pretensão de voltar a repor califados e reinos do antigamente.

9.Os sinais da contemporaneidade são os de prosseguir livremente as novas vidas, de respeito pelos laços de amizade, entre as nações, especialmente as que tiveram décadas, séculos ou mesmo milénios de inter-relação. A cultura saloia/moura na região de Lisboa, e em Portugal, devem livrar-se de preconceitos em relação ao viver saloio. Mais, os patrimónios e fratrimónios de raiz saloia devem ser, quanto possível, reconhecidos e institucionalizados para que os importantes acervos materiais e imateriais não se percam.

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Na visita que fiz a Alvarinhos no dia 24 de setembro verifiquei grande esforço e empenho por parte da população, não só durante este evento de (re)evocação mas também pelas peças reunidas. Contudo, nota-se que algum acervo necessita de mais cuidados: conservação preventiva, curativa e restauro. Isso só é plenamente conseguido com a instalação dos materiais num local seguro, com controlo de humidades, construção antifogos e outras proteções atinentes à preservação.

Urge não voltar a cair na indiferença, no desdém e nos preconceitos que levaram a que a região metropolitana de Lisboa caísse numa certa indiferença e marasmo cultural. Porque Lisboa e arredores não devem contar apenas com o fado (que parece ter raízes também mouras), bares, ruas, monumentos: católicos, laicos/civis, de guerra e/ou defensivos.

A economia saloia e a ruralidade necessitam voltar a ter mais vida, a vida que lhes foi, de certo modo, impedida pelo desdém e pela falta de apoio.

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Em conclusão: Encontrei em Alvarinhos e envolvências vários nomes de famílias, expressões e topónimos relacionados com a raiz moura e árabe, tais como: taberna do Luís Mouro; outras pessoas com o nome de família Mouro, Louro, Azenha; Azinhaga, o próprio nome (Al)varinhos.

O folclore, a arquitetura tradicional, os trajes, as ferramentas; também a fusão com a cultura de raiz cristã patente na Região, com o dito “Círio dos Saloios”, ou o “Círio do Termo de Lisboa” e as festas da “Senhora do Cabo” que atestam as convivências, entre formas culturais de tipo judeo-cristão e árabe.

Por todas estas razões e mais as que, certamente, com mais tempo, poderia elencar convém que este importante vetor cultural seja urgentemente protegido, como merecido e como desejável.

Sabe a muito pouco e não chega o que se tem feito nas últimas cinco a seis décadas, embora seja de reconhecer e de louvar quem efetivamente preservou, mediante tanta indiferença, em relação ao viver saloio e aos seus patrimónios materiais e imateriais, também ditos intangíveis.

Notas:

(1)MARTINS, 2016, p.1

Fontes:

ANCIÃES, Alfredo Ramos, et al. - Turismo e Museologia em Bucelas / Loures. Âmbito de pós-graduação em Museologia Social do Instituto Superior de Matemáticas e Gestão / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 1994

MARTINS, Henrique; Comissão Organizadora – Sintra Rural. A Comunidade de Alvarinhos e a Cultura Saloia. Comemoração dos 60 Anos da 1ª Exposição Etnográfica Saloia do Concelho de Sintra. Jornadas Europeias do Património. S.L.; S.D., 2016

TOMÉ, Artur Manuel et al. – “Exposição Etnográfica Saloia; Aldeias em Festa” in Jornal de Sintra, ano XXIII, 16 de setembro de 1956

SEBASTIÃO, João Carlos – “Viagem pelo Mundo Saloio de Alvarinhos. I Exposição Etnográfica Realizou-se Há 60 Anos” – Jornal da Região - Sintra, distribuído com o Expresso, 21 a 27 de setembro de 2016, p. 1

sábado, 24 de setembro de 2016

97.COMO NUM MUSEU MODERNO:


Como num museu moderno

 

«A escola Saunalahti, situada na cidade finlandesa de Espoo, decidiu mudar um pouco essa história: para começar [/:],

 

o prédio em que a escola é situada é muito diferente da nossa ideia habitual de escola. Ela está mais para um museu de arte moderna [/

 

ainda e sempre a inspiração no museu que do tempo, e do templo das musas evolui entre uma das poucas instituições mais duradouras de sempre e, a que se presume, irá acompanhar o Homem enquanto de humanidade/civilidade ele se (re)conheça].

 

«O restaurante é o lugar de encontro de todos os participantes do processo educativo, além de contar com espaço [de comunicação, como no novo museu …]».

 


 

Tags: nova escola, nova museologia, novo museu, processo educativo, processo museológico

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

96.PARECE SIMPLES ESTE MUSEU




       Parece simples este museu da “Vida de Cristo”. É simples porque tem 2000 de introdução ao tema; logo, existe ali uma informação e uma apetência prévia em cada visitante. Mas poderiam ser tentadas fórmulas e imagens mais elaboradas do que as apresentadas ou, pelo contrário, mais simples ainda, procurando com uma ou outra escultura ou pintura; com ou sem legendas, apresentando um programa, mais que tradicional, mais que revisto, nas temáticas religiosas. É no equilíbrio e na simplicidade que está o sucesso.
        O realizador e os proponentes do projeto tiveram em mente o objetivo da exposição – que é a COMUNICAÇÃO, cujo termo é, aliás, referido algumas vezes na apresentação do percurso.
        É PELA COMUNICAÇÃO QUE O MUSEU SE DISTINGUE de outros media. O museu está destinado, desde a INSPIRAÇÃO do tempo, e do templo das musas, a ser o meio mais eficaz de comunicação. Procura e vai ter que conseguir entranhar as mensagens, sem a pressa, sem a efemeridade e sem a caducidade de e por outros sistemas e outras organizações.

Tags: comunicação, informação, museologia, museu



sábado, 17 de setembro de 2016

95.NOVA MUSEOLOGIA O QUE É ?

        Tal como o nome indica; proveniente do grego museion (museu) + logia (logos, conhecimento) - é uma disciplina que divulga saberes da instituição museu, sua organização, desde a definição da missão, os projetos e ações.
        A museologia evoluiu muito a partir dos anos 60`s (século xx). De tradicional, maioritariamente elitista, torna-se em social e democrática. Trata de conhecimentos relativos ao Homem / Humanidade e suas manifestações culturais.
        A nova museologia, também dita museologia social, torna-se numa disciplina ou ciência que promove e participa no concreto, nos problemas das sociedades agrícolas, de pastores, de aldeia, de fábrica, de bairro, de grupos sociais discriminados pelo não ter e pelo ser: orientação sexual, religião …
        A história da museologia, especialmente a social, desce do estádio olímpico, atinente ao tempo/templo das musas, ou seja do museion deificado para reis, filósofos, ou para um curto número de cidadãos das democracias atenienses ou outras. Passa pelos gabinetes de curiosidades para a educação dos príncipes e das elites. Vai ao encontro dos problemas educativos, especialmente da educação não formal. Assume a vertente organizadora, documental e conservadora.
        Não menos importante é a matriz comunicadora da nova museologia, abraçada pelos museólogos, populações e colaboradores para fazerem passar as mensagens e os conhecimentos com registo mais eficaz no intelecto/memória/coração (cor + ação), do que através de qualquer outro médium, visto que a nova museologia social/integral insiste/persiste (isto é, faz morada afetiva) na e com a comunicação.
        A museologia social, melhora a qualidade do “aqui e agora” (CHAGAS, 2016), ou seja, a qualidade fratrimonial, procurando, simultaneamente, o registo patrimonial do longo prazo.
        O novo museu e nova museologia social são integrais, não só porque integram pessoas mas porque fazem uso dos vários médiuns para chegar aos fins que são: a comunicação, a valoração/valorização das pessoas e do meio com que se relacionam ou poderão relacionar-se.
      Pelos novos museus integrais passam várias tecnologias / vários médiuns, incluindo os virados à observação / contemplação, isto é, os que contemplam a relação do Homem com as “peças/objetos” da economia, da ciência, tecnologia, letras, memórias e afetos.
        Em conclusão: a nova museologia, social ou integral, é um fórum aglutinador de cidadania, de participação, de fratrimónio, de património e de desenvolvimento sustentado.

        Tags: cidadania, fratrimónio, museologia social, nova museologia, novo museu, participação, património.
       
Fontes biblio-arquivísticas:

MENSCH, P. - “Museus em Movimento: Uma Estimulante Visão Dinâmica Sobre Interrelação museologia-museus”, Cadernos de Sociomuseologia, nº 1, 49-54, 1990

MOUTINHO, Mário. - “A construção do objeto museológico”, Cadernos de Sociomuseologia, nº 4, 1994

PRIMO, Judite  - “Museus locais e Ecomuseologia: Estudos do Projeto para o Ecomuseu da Murtosa2000, in Cadernos de Sociomuseologia, nº 30

Fontes em linha, consultadas em 17.09.2016:

ANCIÃES, Alfredo Ramos 88.Museologia em Acção (Tradicional Nova e Social) --- . 89.D `O Nome da Rosa` Aos Padrões de Memórias: Conservadas e Acesas --- 90.Museus Museion Musas e Epopeias em Um Contexto --- 91.Portugal Social Museal --- 92. Museu em Acção: O Novo Museu é um Museu Integral --- 93.Ritos e Contos Também Entram na Museologia Social em Acção --- 94.Arte e Novas Musealidades, http://cumpriraterra.blogspot.pt/

ANTUNES, Manuel de Azevedo – “Pelos Caminhos da Museologia em Portugal“ Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, Número Especial, p. 142-156, out. 2015, Também disponível em https://www.academia.edu/16918796/Pelos_Caminhos_da_Museologia_em_Portugal ; http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur

GOMES, Maria de Fátima Figueiredo Faria - O Museu Como Vetor da Inclusão Cultural,  http://www.museologia-portugal.net/files/upload/mestrados/maria_fatima_farias.pdf 

QUEROL, Lorena Sancho – “Para Uma Gramática Museológica do (re)Conhecimento: Ideias e Conceitos em Torno do Inventário Participado” Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. XXV, 2013, pág. 165-188, 2013; também disponível em http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/11484.pdf

terça-feira, 13 de setembro de 2016

ARTE DE RUA E NOVAS MUSEALIDADES

(Auto retrato de Addalmajid ou um retrato da Humanidade?)

Novas artes e musealidades para velhas/novas cidades.
Abdalmajid Askari entre bens culturais de inclusão, começa como artista de rua.  Ele assina e executa uma arte de renovação e intervenção.

A arte executada e partilhada pelo jovem Abdalmajid assenta, essencialmente, no pressuposto da crítica à violência. 

Ele destaca valores positivos. Liberta-se pelo acto criativo, simbólico e de respeito para com o seu povo, a sua cultura e também em respeito pela cultura de tipo ocidental, que retrata na arte de rua, também designada por arte urbana.

Abdalmajid, não só comunica mas sublima um estado de espírito, que não é apenas o seu: é um estado de espírito positivo e coletivo.

Este jovem, aos 19 anos incompletos (agora com 23), tem um longo percurso de arte, onde expressa os seus talentos. A arte urbana de Abdalmajid é também uma forma de decoração e comunicação.

Esta arte é permitida e até incentivada pelos poderes autárquicos porque, para além de alindar o espaço público, permite a promoção e a inclusão social.

Encontrei Abdalmajid num mural do facebook que me remeteu para o seu blogue: Tive curiosidade e verifiquei que o seu nome é árabe. Parece-me um livre pensador, no sentido de refletir e agir pela sua cabeça e a sua intuição. Um humanista de pensamento e ação. Veja-se a figura supra com traços e pontos, constituídos pela apresentação de muitas pessoas que dão origem a um só rosto. 
 
 
A primeira letra capital “A” do alfabeto latino, sugere-me uma aliança do geometrismo e do vegetalismo na decoração e no respeito pelo mundo que se expressa por este abecedário. E para destacar, Abdalmajid não se fica pela letra Capital a preto e branco. Ele reforça o mesmo simbolismo através da letra minúscula, o “a”. Mais uma vez a primeira letra do alfabeto, agora, cheia de cor e arte.

Abdalmajid quererá demonstrar que o novo tipo de cultura ocidental é uma dádiva para o mundo e não uma obra iníqua de “cruzados” (a). 
------- (a) “Cruzados” entre aspas, porque não existem na contemporaneidade; só na mente de certos grupos.
 
Em minha interpretação Abdalmajid apresenta:

O Criador em atitude de reprovação de erros contra a Humanidade e a Terra;
 

Mas rapidamente passa a temáticas mais leves, como: Os palhaços felizes no corpo de crianças, que não se levam a sério;
 
 
Também apresenta os trajes e a cultura árabes.
 
E novamente passa para a pintura mural, onde o artista deixa a uma crítica à arte da guerra.
 
Na imagem seguinte apresenta a pomba da paz. Uma mão humana deixa cair munições.  E junto ao ramo de oliveira, transportada pela ave, surge o nome do país de Abdalmajid - o Yemen
 

Uma criança inocente brinca no meio de um mar de destroços de guerra.
 
Junto apresentamos uma seleção de alguns comentários de admiradores da arte de Abdalmajid:

No facebook de Marili Vallina:

-- «Abdalmajid: adoro tu arte y tu capacidad para reflejar en tu pintura lo que están haciéndole a tu querido país. Sigo las noticias de Yemen todos los días y espero que la agresión termine. Saludos.»

Em relação à pintura seguinte, encontrei o comentário de Silvia Ortyz que me parece interessante pela denúncia das mutilações de guerra:


-- «Ests pintura expresa tantas catrastofes que tiene el mundo atraves de las guerras muerte desolacion tristeza y sobre todo la extirpacion de la umanidad , muy bonito mensaje te felicito por tu talento eres un pintor con mucha creacion y sabes expresar los sentimientos en ellas»

 
Deixamos apenas uma pequena seleção de exemplos da arte de cidadania de Abdalmajid.

Com este tipo de arte urbana e regulada, alcançam-se objetivos que visam a consciencialização para uma mudança social e democrática. também permite, em muitos caso, camuflar ruinas e mamarrachos;  
 

Abdalmajid executa uma arte que contribui para a informação e a educação. Expressa valores de liberdade, cidadania; a procura da paz entre as religiões e as nações.

  Palavras-chave: arte de rua, grafite, cidadania, participação
 
Fontes em linha, acedidas em 13.09.2006 :
 
-ASKARI, Abdalmajid, et al. Arte urbana, de cidadania e intervenção –

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=264834693680881&set=ecnf.100004630563038&type=3&theater  ; https://www.facebook.com/photo.php?fbid=155211614643190&set=ecnf.100004630563038&type=3&theater ; -https://www.facebook.com/photo.php?fbid=231414103689607&set=ecnf.100004630563038&type=3&theater ;  https://www.facebook.com/photo.php?fbid=236141886550162&set=ecnf.100004630563038&type=3&theater ;  https://www.facebook.com/photo.php?fbid=663278383836508&set=ecnf.100004630563038&type=3&theaterv ;  https://www.facebook.com/photo.php?fbid=633223330175347&set=ecnf.100004630563038&type=3&theater ;  https://www.facebook.com/photo.php?fbid=562849127212768&set=ecnf.100004630563038&type=3&theater ; https://www.facebook.com/photo.php?fbid=562847807212900&set=ecnf.100004630563038&type=3&theater ; https://pt.pinterest.com/pin/453878468674434107/ )
-BETTENCOURT, José Neves ; COELHO, Priscilla Arigoni - "Musealidade: um Conceito para o Estudo de Cidade". Universidade Federal de Ouro Preto in XI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação Inovação e Inclusão Social: Questões Contemporâneas da Informação, Rio de Janeiro, 25 a 28 de outubro de 2010. Disponível em http://enancib.ibict.br/index.php/enancib/xienancib/paper/viewFile/3621/2745


-WIKIPEDIA et al. "Arte Urbana" - https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_urbana ;
 
-WIKIPEDIA et al. "Iemen o país de Addalmajid"  - https://pt.wikipedia.org/wiki/I%C3%A9men

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

93. RITOS CONTOS MEMÓRIAS TAMBÉM ENTRAM NA MUSEOLOGIA SOCIAL EM ACÇÃO


       O «VERBO RELATAR» em artigo apresentado por Mendonça (in Revista do Expresso, 13.9.2016) também significa fratrimónio partilhado, do “aqui e agora”. (CHAGAS, 2016).

       Relatar significa divulgar memórias recentes e antigas; construídas e reconstruídas, funcionando como um antídoto contra esquecimentos.
       Mendonça conta que «Havia um célebre mestre que tinha um rito para que Deus o atendesse: ele caminhava até um ponto da floresta, acendia uma fogueira, recitava uma prece e Deus atendia-o. As gerações passaram. Primeiro a prece foi esquecida. Mas tinham ainda o ponto da floresta e a fogueira: e Deus atendia-o na mesma. Depois a fogueira caiu no esquecimento, mas restou o lugar na floresta onde Deus os atendia. Por fim, também esse lugar foi esquecido. Já não havia memória da oração, da fogueira e do ponto da floresta. Mas havia o relato da história. E sempre que ela era contada, Deus atendia.»
       Como vemos neste conto, ou relato, como prefere Mendonça; não se salvaram todas as memórias, todos os patrimónios que este rito e estas estórias nos proporcionam, mas salvaguardou-se o essencial nas memórias repetidas, partilhadas e relatadas, à semelhança das memórias e patrimónios transformados em belas lendas, que nos ajudam a viver, interpretando o mundo material e o não tangível; iluminando o conhecimento e o reconhecimento.

sábado, 3 de setembro de 2016

92. MUSEU EM ACÇÃO

O Novo Museu é um Museu Integral

Nota prévia:

Apresenta-se neste pequeno esboço o que é um Novo Museu com uma concepção democrática, participada e integral. Esta Organização teve início à volta dos anos 70 do século XX. Antes desses tempos já havia museus novos. Como hoje há museus com arquitectura e “bilhete de identidade” novos; contudo não são Novos Museus. Atente-se que o adjectivo Novo, no caso do museu democrático e participado pelas populações aparece antes do susbstantivo Museu; ao passo que: o museu novo pode ser tradicional ou mesmo velho; ou porque é restrito nos acessos, nas participações e fruições, ou porque tem um problema comunicacional.


Definições e acções do novo museu

O Novo Museu é uma organização duradoura com um conjunto de recursos e patrimónios de interesse comunitário; que actua num território e numa comunidade envolvente e participativa. É uma instituição que inspira e vela pelo Bem Comum para que todos sejam mais: fruidores, conhecedores, actores e cogestores. Guarda, propõe a salvaguarda legislativa, preserva, valoriza e prossegue ideais de “fratrimónios” (o bem do “aqui e agora” (a). Organiza, projecta, produz e expõe. Tem em conta que os processos são: uma forma sublime de produção e de economia social; de documentação e comunicação, virados para a fruição da população, públicos e memórias futuras.

………………..

(a)Curta definição de fratrimónio: «uma herança que se constrói e se partilha aqui e agora». Chagas, in “tomada de posse de novos corpos sociais do MINOM. Rio de Janeiro, 10.8.2016”


De notar que repeti o termo comunicação e sublinhei os termos população participativa porque sem estes recursos não há Novo Museu. Este Novo Museu pode até ter poucas peças em sede (no sentido de ajuntamento ou colecção tradicional) ou não ter mesmo estas peças (embora seja preferível contar com um bom acervo e em bom estado e que esse acervo não seja um encargo demasiado para a comunidade). Mesmo com poucas peças podemos estar perante um Novo Museu que cumpre os requisitos de defesa das populações, dos patrimónios e fratrimónios; que comunica, formal e informalmente, com permanência ou com muita regularidade, os processos, as mensagens e, também, a comunicação dos afetos fratrimoniais (b).

…………….

(b)Com este semi neologismo - afetos fratrimoniais – expressão baseada na raiz de frater/irmão, destaco a afinidade/proximidade de laços entre a população e/ou participantes do Novo Museu.


Este Novo Museu tem ou pode ter públicos, além da comunidade participante?


Pode e é desejável que os tenha. Mais uma vez destaco o valor da comunicação: formal e informal, consubstanciada nos planos e estratégias do marketing social e das relações públicas para chamar e acender a chama entre os participantes e os públicos.


7(sete) pontos para o desenvolvimento do Novo Museu

Postos estes requisitos, apresento um conjunto de sete pontos que o Novo Museu prosseguirá com maior ou menor relevância, conforme a vocação específica das populações e dos patrimónios que tem à sua guarda:


1-Na vertente da História ou do património imaterial, também dito não-tangível ou intangível. Pode, por exemplo, processar e preservar informação e documentação de feitos relevantes realizados no território da comunidade ou no exterior. Processa e preserva referências, relativas ao folclor, bandas, grupos, língua(s), pronúncia(s). dialecto(s); o que remete, para os patrimónios tangíveis: peças etnográficas, peças soltas ou móveis, edifícios, vias de comunicação, estruturas económicas, que poderão constituir um património e colecções materiais.


2-Na vertente da estória: Oral ou escrita, um mero conto, uma imaginação e uma criação descritiva que tenha a ver com uma ou mais pessoas. No entanto há alguns autores que recomendam apenas o uso do termo História e não estória. É o caso de Maria Celeste Ramilo do ISCTE-IUL que apresenta: O Aurélio - Novo Dicionário da Língua Portuguesa: «[…] Recomenda-se apenas a grafia história, tanto no sentido de ciência histórica, quanto no de narrativa de ficção, conto popular, e demais acepções». Também o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, só indica o termo História; Contudo no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, já aparece a palavra estória como uma «narrativa de cunho popular e tradicional» remetendo a percepção para o «inglês "story"» com o significado de «narrativa em prosa ou verso, fictícia ou não, com o propósito de divertir e/ou instruir o ouvinte ou o leitor […] Talvez por decalque do inglês […] a palavra estória seja utilizada como sinónimo de narração curta, pequena historieta de entretenimento». A estória pode, também ganhar o valor de fratrimónio e este, por sua vez, pode projectar-se/tornar-se em património. Na descrição estórica, também estamos no domínio do património imaterial, o qual pode remeter-nos para patrimónios materiais. A estória pode interessar ao museu como processo de animação, informação, educação, entretenimento, educação e comunicação entre a comunidade e públicos.


3-Na vertente da população (a nossa gente, porque se presume irmanada no valor fratrimonial)


A população faz parte do novo museu, inclusivamente para uma gestão participada. Longe dos tempos em que as próprias pessoas eram expostas como objectos. Exemplo: no século XIX e na primeira metade do século XX chegaram-se a expor pessoas, a par com peças da vida material e etnográfica (exemplo: a “Exposição do Mundo Português”, 1940). Hoje, nem no modelo tradicional, nem no novo museu, faz sentido falar em exposição de pessoas. Contudo apresentam-se as pessoas e grupos e expõem-se os testemunhos materiais. Um rancho folclórico apresenta-se geralmente com os testemunhos materiais nos trajes, adornos, peças de trabalho e produtos do seu labor. A dança é um património imaterial, bem como os discursos comunicacionais ao apresentarem ou representarem ao vivo os seus testemunhos.


4-Marcas/vestígios identitários e representativos de uma população/território(c) com os seus eventos e organizações: grupos, bandas, teatro, escolas, empresas, igrejas; elementos de arte e arquitectura(d); marcos rodoviários, sinaléticas e topónimos antigos; logótipos/brasões; território/freguesia; avenidas, ruas, pracetas, bairros; Unidade de Saúde Familiar Mactamã, seu logótipo e respectiva relação com a freguesia; claraboias, mães d` água; linhas d` água/ribeiras; marcos com ou sem legendas (desde que testemunhem informação relevante; estações: ferro e rodoviárias; estações e objectos arqueológicos; fontes, chafarizes, minas, bicas, poços com história e/ou de interesse comunitário, edifícios comunitários e outros com memória; monumentos, parques, jardins, estufa, horto, hortas, ruas, calçadas, signos/sinais nos espaços públicos e nas fachadas de edifícios, árvores, aves, animais; jardins e sítios relevantes (onde nos divertimos, inspiramos, refrescamos, comunicamos), equipamentos desportivos...

………………………….

(c)Neste caso aplico aqui o ponto 4 a um território concreto, o da União das Freguesias de Massamá e Monte Abraão, e sua envolvência, com quem teve e/ou tem relações de proximidade.

(d)Arte e arquitectura foram como que “dois gémeos siameses”, contudo diferenciados. Cf. http://portalarquitetonico.com.br/arquitetura-e-arte-da-historia-a-problematica-contemporanea/ [acedido em 01.09.2016].


5-Peças: de vestuário, de adereço, de utilidades várias, de colecção, ou únicas, desde que testemunhem vivências, formas didáticas e culturais.


6-Ideias relevantes, estudos e monografias de interesse para a comunidade sob o ponto de vista económico, conforto, conhecimento e cultura.


7-Processos da concepção à realização - exemplo: como se faz um objecto, como se produz, cria, ensaia um grupo folclórico, canto coral, banda de música, grupo teatral, museu e outros; como se criam e desenvolvem formas de vida: fauna e flora, incluindo espécies migratórias, espécies urbanas e campestres, sendo que os processos são, de hoje em dia, cada vez mais valorizados, muselizados e comunicados, especialmente nos novos museus.


Posta a definição e acção sumária do Novo Museu, deixo ainda a interessante e sintética definição do ICOM – International Council of Museums, «O museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite


Em conclusão, o Novo Museu adquire e processa patrimónios e fratrimónios (materiais e imateriais), preserva, conserva, expõe e comunica com permanência. Prossegue ideais de vocação integral. Não exclui, ajuda nas oportunidades; respeita opções pessoais de cultura e de fé, raízes e tradições; mexe com a comunidade, incentiva, activa memórias. Ajuda a fruir e fluir a vida.