A Câmara Municipal de Sintra e
a Grande Lisboa devem criar efetivamente O MUSEU DE CULTURA SALOIA em
Alvarinho, que será o representante da cultura mais genuína do Distrito de
Lisboa.
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Razões e vantagens são
múltiplas:
1.Cultura saloia relacionada com
a moura/árabe é ainda uma das formas mais expressivas do Distrito.
2.Cultura saloia foi e é uma forma
de vivência e de economia.
3.Cultura saloia não está para
acabar, antes se transformou/transforma e convém não perder as referências
memoriais marcantes. Todas as expressões imateriais e as peças características
são documentos e, em parte, monumentos que a eventual perda e degradação só
podem representar uma diminuição das memórias, das capacidades de comunicação entre
as populações e inter-relacionamento com cerca de quatro dezenas de países de
cultura árabe e não só.
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4.Depois da I Exposição de 1956
e de uma relativa reposição em 1958; provavelmente por causa das guerras
coloniais, a que se seguiu o 25 de Abril de 1974, não mais se voltou a dar a
atenção devida e merecida ao povo e território de expressão saloia.
Preconceitos atinentes ao
tradicional; às vivências e às novas formas de expressão levaram à dissuasão de
manifestações culturais e vivências. Tanto que a evocação neste presente ano de
2016 parece ter acontecido por acaso, como é referido no livro recentemente
editado para a Exposição de 2016.
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Consta no livro citado que «Foi
no espaço de pouco mais de um mês que se conseguiu recolher alguma informação
[…]». Henrique Martins refere que «[…] um membro da comunidade de Alvarinhos teve
a “sorte” de visualizar um programa na RTP2 onde este facto [da 1ª Exposição
Etnográfica Saloia do Concelho de Sintra] foi mencionado» (1).
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O incentivo de atualmente
existir um Presidente da República, filho de Baltazar Rebelo de Sousa, que
inaugurou a dita 1ª Exposição, parece ter funcionado também como um detonador
de energias e de rejeição dos fúteis preconceitos, injustificados e injustificáveis.
5.Os patrimónios, até agora
preservados, têm que contar com a institucionalização de um museu de território,
sedes condignas para que as peças e as memórias não se deteriorem, entrando em
abandono ou no processo de entropia.
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6.É de toda a justiça e direito
exigir que se institucionalize um museu e/ou ecomuseu de cultura de raiz moura,
até pela razão de:
7.Argumentação perante
arabistas e da civilização árabe. Poderemos dizer que respeitamos as raízes,
que cultivamos boas relações com o mundo mouro/islâmico mas que somos
independentes. Este raciocínio põe-se em relação a qualquer país/nação, tornados
independentes e a quem assiste todo o direito de prosseguir como Nações/Estados
modernos.
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8.Não faria qualquer sentido hoje,
por exemplo: os EUA, o Brasil, Angola, Congo, Malawi, Namíbia, Zimbabué, Perú, México,
Austrália, Marrocos, Argélia, etc., etc., serem vistos pelos antigos
colonizadores como povos sem direito de se desenvolverem em relação às suas
autonomias / independências. O que estou dizendo tem passado pela cabeça de
algumas pessoas, nomeadamente sob uma pretensão de voltar a repor califados e
reinos do antigamente.
9.Os sinais da
contemporaneidade são os de prosseguir livremente as novas vidas, de respeito pelos
laços de amizade, entre as nações, especialmente as que tiveram décadas,
séculos ou mesmo milénios de inter-relação. A cultura saloia/moura na região de
Lisboa, e em Portugal, devem livrar-se de preconceitos em relação ao viver saloio.
Mais, os patrimónios e fratrimónios
de raiz saloia devem ser, quanto possível, reconhecidos e institucionalizados
para que os importantes acervos materiais e imateriais não se percam.
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Na visita que fiz a Alvarinhos
no dia 24 de setembro verifiquei grande esforço e empenho por parte da
população, não só durante este evento de (re)evocação mas também pelas peças
reunidas. Contudo, nota-se que algum acervo necessita de mais cuidados: conservação
preventiva, curativa e restauro. Isso só é plenamente conseguido com a instalação
dos materiais num local seguro, com controlo de humidades, construção antifogos
e outras proteções atinentes à preservação.
Urge não voltar a cair na
indiferença, no desdém e nos preconceitos que levaram a que a região metropolitana
de Lisboa caísse numa certa indiferença e marasmo cultural. Porque Lisboa e
arredores não devem contar apenas com o fado (que parece ter raízes também
mouras), bares, ruas, monumentos: católicos, laicos/civis, de guerra e/ou
defensivos.
A economia saloia e a ruralidade
necessitam voltar a ter mais vida, a vida que lhes foi, de certo modo, impedida
pelo desdém e pela falta de apoio.
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Em conclusão: Encontrei em
Alvarinhos e envolvências vários nomes de famílias, expressões e topónimos
relacionados com a raiz moura e árabe, tais como: taberna do Luís Mouro; outras
pessoas com o nome de família Mouro, Louro, Azenha; Azinhaga, o próprio nome (Al)varinhos.
O folclore, a arquitetura
tradicional, os trajes, as ferramentas; também a fusão com a cultura de raiz
cristã patente na Região, com o dito “Círio dos Saloios”, ou o “Círio do Termo
de Lisboa” e as festas da “Senhora do Cabo” que atestam as convivências, entre formas
culturais de tipo judeo-cristão e árabe.
Por todas estas razões e mais
as que, certamente, com mais tempo, poderia elencar convém que este importante
vetor cultural seja urgentemente protegido, como merecido e como desejável.
Sabe a muito pouco e não chega
o que se tem feito nas últimas cinco a seis décadas, embora seja de reconhecer
e de louvar quem efetivamente preservou, mediante tanta indiferença, em relação
ao viver saloio e aos seus patrimónios materiais e imateriais, também ditos
intangíveis.
Notas:
(1)MARTINS, 2016, p.1
Fontes:
ANCIÃES, Alfredo Ramos, et al. - Turismo e Museologia em Bucelas / Loures. Âmbito de pós-graduação
em Museologia Social do Instituto Superior de Matemáticas e Gestão / Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 1994
MARTINS, Henrique; Comissão
Organizadora – Sintra Rural. A Comunidade
de Alvarinhos e a Cultura Saloia. Comemoração dos 60 Anos da 1ª Exposição
Etnográfica Saloia do Concelho de Sintra. Jornadas Europeias do Património.
S.L.; S.D., 2016
TOMÉ, Artur Manuel et al. – “Exposição Etnográfica Saloia; Aldeias em Festa” in Jornal de Sintra,
ano XXIII, 16 de setembro de 1956
SEBASTIÃO, João Carlos – “Viagem pelo Mundo Saloio de Alvarinhos. I
Exposição Etnográfica Realizou-se Há 60 Anos” – Jornal da Região - Sintra,
distribuído com o Expresso, 21 a 27 de setembro de 2016, p. 1
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