Nota prévia:
Apresenta-se
neste pequeno esboço o que é um Novo Museu
com uma concepção democrática, participada e integral. Esta Organização teve
início à volta dos anos 70 do século XX. Antes desses tempos já havia museus
novos. Como hoje há museus com arquitectura e “bilhete de identidade” novos;
contudo não são Novos Museus.
Atente-se que o adjectivo Novo, no
caso do museu democrático e participado pelas populações aparece antes do susbstantivo
Museu; ao passo que: o museu novo pode ser tradicional ou mesmo
velho; ou porque é restrito nos acessos, nas participações e fruições, ou
porque tem um problema comunicacional.
Definições e
acções do novo museu
O
Novo Museu é uma organização duradoura com
um conjunto de recursos e patrimónios de interesse comunitário; que actua num
território e numa comunidade envolvente e participativa. É uma instituição que inspira
e vela pelo Bem Comum para que todos sejam mais: fruidores, conhecedores,
actores e cogestores. Guarda, propõe a salvaguarda legislativa, preserva,
valoriza e
prossegue ideais de “fratrimónios” (o bem do “aqui e agora” (a). Organiza, projecta, produz e expõe. Tem em conta que os processos são: uma forma sublime
de produção e de economia social; de documentação e comunicação, virados para a fruição da população, públicos e memórias
futuras.
………………..
(a)Curta definição de fratrimónio: «uma herança que se constrói e se partilha aqui e agora». Chagas, in “tomada
de posse de novos corpos sociais do MINOM. Rio de Janeiro, 10.8.2016”
De notar que repeti o termo comunicação e sublinhei os termos população participativa porque sem estes recursos não há Novo Museu. Este Novo
Museu pode até ter poucas peças em sede (no sentido de ajuntamento ou colecção
tradicional) ou não ter mesmo estas peças (embora seja preferível contar com um
bom acervo e em bom estado e que esse acervo não seja um encargo demasiado para
a comunidade). Mesmo com poucas peças podemos estar perante um Novo Museu que
cumpre os requisitos de defesa das populações, dos patrimónios e fratrimónios;
que comunica, formal e informalmente, com permanência ou com muita regularidade,
os processos, as mensagens e, também, a comunicação dos afetos fratrimoniais (b).
…………….
(b)Com este semi
neologismo - afetos fratrimoniais – expressão
baseada na raiz de frater/irmão,
destaco a afinidade/proximidade de laços entre a população e/ou participantes
do Novo Museu.
Este Novo Museu tem ou pode ter públicos, além da
comunidade participante?
Pode e é desejável que os tenha. Mais uma
vez destaco o valor da comunicação:
formal e informal, consubstanciada nos planos e estratégias do marketing social
e das relações públicas para chamar e acender a chama entre os participantes e os
públicos.
7(sete) pontos para o desenvolvimento do Novo Museu
Postos estes requisitos, apresento um
conjunto de sete pontos que o Novo Museu prosseguirá com maior ou menor
relevância, conforme a vocação específica das populações e dos patrimónios que
tem à sua guarda:
1-Na
vertente da História ou do património imaterial, também dito
não-tangível ou intangível. Pode, por exemplo, processar e preservar informação
e documentação de feitos relevantes realizados no território da comunidade ou no
exterior. Processa e preserva referências, relativas ao folclor, bandas,
grupos, língua(s), pronúncia(s). dialecto(s); o que remete, para os patrimónios
tangíveis: peças etnográficas, peças soltas ou móveis, edifícios, vias de
comunicação, estruturas económicas, que poderão constituir um património e colecções
materiais.
2-Na
vertente da estória: Oral ou escrita, um mero conto, uma imaginação e
uma criação descritiva que tenha a ver com uma ou mais pessoas. No entanto há
alguns autores que recomendam apenas o uso do termo História e não estória. É o
caso de Maria Celeste Ramilo do ISCTE-IUL que apresenta: O Aurélio - Novo Dicionário da Língua Portuguesa: «[…] Recomenda-se apenas a grafia história,
tanto no sentido de ciência histórica, quanto no de narrativa de ficção, conto
popular, e demais acepções». Também o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea,
da Academia das Ciências de Lisboa, só indica o termo História; Contudo no
Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa, já aparece a palavra estória como
uma «narrativa de cunho popular e
tradicional» remetendo a percepção para o «inglês "story"» com o significado de «narrativa em prosa ou verso, fictícia ou
não, com o propósito de divertir e/ou instruir o ouvinte ou o leitor […] Talvez por decalque do inglês […] a palavra estória
seja utilizada como sinónimo de narração
curta, pequena historieta de entretenimento». A estória pode, também ganhar o valor de fratrimónio e este, por sua vez, pode
projectar-se/tornar-se em património. Na descrição estórica, também estamos no
domínio do património imaterial, o qual pode remeter-nos para patrimónios
materiais. A estória pode interessar ao museu como processo de animação,
informação, educação, entretenimento, educação e comunicação entre a comunidade
e públicos.
3-Na
vertente da população (a nossa gente,
porque se presume irmanada no valor fratrimonial)
A
população faz parte do novo museu, inclusivamente para uma gestão participada. Longe
dos tempos em que as próprias pessoas eram expostas como objectos. Exemplo: no
século XIX e na primeira metade do século XX chegaram-se a expor pessoas, a par
com peças da vida material e etnográfica (exemplo: a “Exposição do Mundo
Português”, 1940). Hoje, nem no modelo tradicional, nem no novo museu, faz
sentido falar em exposição de pessoas. Contudo apresentam-se as pessoas e grupos
e expõem-se os testemunhos materiais. Um rancho folclórico apresenta-se
geralmente com os testemunhos materiais nos trajes, adornos, peças de trabalho
e produtos do seu labor. A dança é um património imaterial, bem como os discursos comunicacionais ao
apresentarem ou representarem ao vivo os seus testemunhos.
4-Marcas/vestígios identitários e
representativos de uma população/território(c)
com os seus eventos e organizações: grupos, bandas, teatro, escolas, empresas,
igrejas; elementos de arte e arquitectura(d);
marcos rodoviários, sinaléticas e topónimos antigos; logótipos/brasões; território/freguesia;
avenidas, ruas, pracetas, bairros; Unidade de Saúde Familiar Mactamã, seu
logótipo e respectiva relação com a freguesia; claraboias, mães d` água; linhas
d` água/ribeiras; marcos com ou sem legendas (desde que testemunhem informação
relevante; estações: ferro e rodoviárias; estações e objectos arqueológicos; fontes,
chafarizes, minas, bicas, poços com história e/ou de interesse comunitário,
edifícios comunitários e outros com memória; monumentos, parques, jardins, estufa,
horto, hortas, ruas, calçadas, signos/sinais nos espaços públicos e nas fachadas
de edifícios, árvores, aves, animais; jardins e sítios relevantes (onde nos
divertimos, inspiramos, refrescamos, comunicamos), equipamentos desportivos...
………………………….
(c)Neste caso aplico aqui o ponto 4 a um território concreto, o da União
das Freguesias de Massamá e Monte Abraão, e sua envolvência, com quem teve e/ou
tem relações de proximidade.
(d)Arte e arquitectura foram como que “dois gémeos siameses”, contudo diferenciados.
Cf. http://portalarquitetonico.com.br/arquitetura-e-arte-da-historia-a-problematica-contemporanea/
[acedido em 01.09.2016].
5-Peças: de vestuário, de
adereço, de utilidades várias, de colecção, ou únicas, desde que testemunhem
vivências, formas didáticas e culturais.
6-Ideias relevantes, estudos e monografias de interesse para a comunidade sob o ponto de vista
económico, conforto, conhecimento e cultura.
7-Processos da concepção à realização - exemplo: como
se faz um objecto, como se produz, cria, ensaia um grupo folclórico, canto
coral, banda de música, grupo teatral, museu e outros; como se criam e
desenvolvem formas de vida: fauna e flora, incluindo espécies migratórias, espécies
urbanas e campestres, sendo que os processos são, de hoje em dia, cada vez mais
valorizados, muselizados e comunicados, especialmente nos novos museus.
Posta
a definição e acção sumária do Novo Museu, deixo ainda a interessante e sintética
definição do ICOM – International Council of Museums, «O museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e
do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga,
comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio
envolvente com fins de educação, estudo e deleite.»
Em
conclusão, o Novo Museu adquire e
processa patrimónios e fratrimónios (materiais e imateriais), preserva, conserva, expõe e comunica com permanência. Prossegue ideais de vocação
integral. Não exclui, ajuda nas oportunidades; respeita opções pessoais de cultura
e de fé, raízes e tradições; mexe com a comunidade, incentiva, activa memórias. Ajuda
a fruir e fluir a vida.
Caro amigo Alfredo Anciães
ResponderEliminarApreciei ler, até porque o conceito, não será novo para mim, porém a definição é. O que considero importante do ponto de vista memorial. Nesse sentido, fico a saber que no meu saudoso blog "mitalia" fiz muitas recolhas, que tive a felicidade de passar, para o "MUNDO E VIDA", este do Blogspot. Uma dessa recolhas "ENCONTRO COM O CRIME, será numa Antologia, cujo título é "É DA BAHIA AO BOMBARRAL, será lançada com grande pompa no Bombarral (16/10( e na Baiha. A Antologia é do Brasil e pelo menos, virão 8 brasileiros/as. O crime é do principio do século XX, contado ainda por quem o observou, durante uma caminhada de Peniche ao Bombarral.
Tenho material de recolha, que elevar a livro. No fundo os meus dois primeiros livros, são recolhas, vividas, já que não têm o mínimo de fição.
Como disse apreciei a boa lição museológica.
Abraço
Obrigado Caro Amigo Daniel. Parabéns pelas recolhas. O mundo do crime não é bem a minha praia, contudo, vindo do Daniel e porque não é propriamente ficção; terei curiosidade em ler. O brigado ainda, pelas palavras que me dedica de "boa lição museológica". Como sei que o Daniel tem uma vasta experiência de vida nas organizações de comunicações e museológicas, é com prazer que recebo o incentivo.
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