segunda-feira, 24 de setembro de 2018

MUSEUS E ORGANIZAÇÕES COM MEMÓRIAS - PARA QUE SERVEM ?


Caso concreto, partindo do artigo de 22 de setembro de 2018 no jornal Expresso, Henrique Monteiro faz comentário à visita oficial do primeiro-ministro português a Angola. Como é sabido pelos Media, as relações entre Portugal / Angola andaram tensas e controversas nos últimos tempos. Pessoas e negócios foram afetados por causa de melindres de justiça, intenção de condução do processo de investigação e eventual julgamento em Portugal. Estava em causa, alegada corrupção praticada por um ex-vice-presidente do Governo Angolano – Manuel Vicente.

A instituição museu e consequentemente a imagem que se faz dele, serviu ao primeiro-ministro português para desbloquear o ambiente crispado e delicado entre os dois Governos.

A frase de descompressão e reatamento amistoso foi proporcionada exatamente com a citação de uma das tradicionais funções do museu:

O primeiro-ministro de Portugal, António Costa sai-se sorridentemente com a frase: «O passado ficou no museu».

Nesta peugada o museu serviu ainda a Henrique Monteiro para intitular o seu artigo:

«ANGOLA: PARA QUE SERVE UM MUSEU?» (cf. imagens infra).

O jornalista não se limita ao título e à frase proferida por António Costa e acrescenta:

«Acontece que os museus existem, não para esquecermos o passado mas para aprendermos com ele; por exemplo, a não sermos colonialistas, neocolonialistas, ou lambe-botas (citando a mãe do chefe do Governo) […]. Há milhares de razões para estarmos atentos

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Aproveitámos aqui para focar algumas das vantagens e funções dos museus e organizações afins, as quais servem:

-Como no caso supra, para transferir as memórias para uma espécie de limbo, sem que signifique esquecimento ou destruição. Remetendo as memórias para o museu e/ou arquivos, sabemos que não precisamos andar a memorizar permanentemente acontecimentos, só pelo receio de os esqueceremos. O facto de sabermos que as memórias se encontram preservadas dá-nos alguma tranquilidade e garantia, pelo motivo de as mesmas memórias poderem ser recuperadas e reeditadas. As memórias negativas servirão como chamada de atenção de comportamentos que não devemos repetir. Quanto às memórias positivas, estas serão apresentadas como acontecimentos e factores de amizade e sucessos.

Os museus e organizações com memórias encarregam-se, pois, de:

-Salvaguardar, preservar, conservar, restaurar, catalogar, indexar, organizar, seriar, colecionar, arrumar, informar, animar e comunicar. É o que se poderá chamar de memórias institucionalizadas e confiadas, fora das nossas casas e cérebros, por incapacidade de memorização, espaço físico, tempo e conhecimentos para nós próprios podermos guardar memórias, bens culturais e bens de prova testemunhal.

Referindo algumas das modalidades de serviço que se encarregam da gestão dos bens culturais, de lazer, de entretenimento e prova:

1)arquivologia; 2) museologia; 3)biblioteconomia; 4) jornalismo;

2.1)desdobrando aqui apenas o contributo da museologia, este serviço pode exercer-se de forma:

a)amadora e ancestral como no tempo do museion;

b)de forma amadora e tradicional como no tempo dos gabinetes de curiosidades;
c)de forma amadora/colecionista desde a Renascença até à actualidade;

d)de forma funcional e pública, como no seguimento das revoluções e dos poderes partilhados (não absolutos) quando as memórias patrimoniais e culturais passam a ser propriedade da Nação;

e)de forma democrática e social (museologia social) que pode ser do tipo: e1) associativo (associações locais, cooperativas, fundações) e do tipo público-participativo entre Autarquias, para-Regiões, Governos e Cidadãos. 

Parabéns aos apreciadores de museus / museologias e organizações com memórias.



Tags.: arquivologia, biblioteconomia, cultura, jornalismo, museologia, participação, política