segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

CARDAES DO BAIRRO ALTO DE SÃO ROQUE ENTRE FRATRIMÓNIOS DA NOSSA HERANÇA CULTURAL


001 Silhar no Convento dos Cardaes. Será produto da mão de artífice nacional ou holandês, e porquê?
Estamos, em meu entender, num dos sítios referenciais de Lisboa pela carga (que também é cargo e encargo), de marcas presentes, atinentes à nossa História, como povo: pioneiro, bandeirante, acolhedor e solidário, mas também, com defeitos, ou parcos de informação, a começar por nós próprios.
No caso, em destaque dos Cardaes, do Bairro Alto de São Roque, ou das Mercês e envolvência, foram tomadas opções históricas: fratrimoniais, artísticas, políticas e de gestão que nos orgulham. De modo que, podemos na atualidade admirar, reflectir, questionar e fruir tudo isto.

002 E este será holandês ou português. Porquê?
Entre a escolha do local do Convento (“estar juntos”) dos Cardaes, os seus estilos, com destaque para o barroco; as duas opções de padrões de azulejaria - uma opção estrangeira, no caso, holandês, e outra nacional, que não só têm diferenças, como, de certo modo, se complementam.
Não poderemos, depois de ter refletido, afirmar onde está o melhor padrão, o melhor modelo, a melhor arte, a melhor mensagem que estes dois tipos de herança cultural azulejar nos proporcionam e continuarão a oferecer bons motivos de visita. Apesar de tudo, é possível estabelecer comparações e, cada apreciador, na sua livre expressão, destacará as suas próprias opiniões ou a crítica, documentalmente sustentada.
Não é só este tipo de arte azulejar que nos leva a admirar e a refletir. É, outrossim: a arquitetura, a pintura, os embutidos, a talha “cintilante” que no templo/capela ou igreja contrastam com a simplicidade dos demais espaços do convento. É, também, a escultura, peças várias; os espaços, mais ou menos vazios, ou mais ou menos cheios, de bens; e de gente: que aqui vem ou reside, trabalha, descansa ou é aqui assistida social e fratrimonialmente.
Teremos, certamente, tempo e oportunidade para questionar, embora nem sempre possamos obter as melhores respostas. Questionar, p. exemplo:
-Qual o percurso para chegar até aqui, com esta dedicação e preservação para podermos fruir desta herança cultural?
-Como foi possível preservar todos estes Bens materiais e imateriais, tendo os mesmos passado por vendavais de instabilidade, não só a telúrica mas, sobretudo, os abalos sociais e políticos que atravessaram a nossa História e, particularmente, a História Conventual?
Com base nesta seleção de motivos iremos brevemente visitar o Convento dos Cardaes. Desde já desejamos um percurso agradável para fruir das melhores oportunidades; de preferência com algum doce conventual - lavor das irmãs, dos colaboradores/as e continuadores/as desta singular marca de Lisboa e Portugal.
Tags: Bairro Alto, Convento dos Cardaes, Herança Cultural, Fratrimónio, História, Lisboa, Portugal, Príncipe Real
181 AA Cumprir a Terra fich CONVENTO Cardaes Bairro Alto Príncipe Real Fratrimónio

sábado, 3 de fevereiro de 2018

UM CONVENTO SUI GENERIS






                       A Visitar Brevemente








001 Postigo da Roda do Convento

Quando D. Afonso Henriques concorda, na Invicta, com a participação dos Cavaleiros da Ordem de Santiago em prosseguir a Reconquista, não poderia prever todos acontecimentos que se seguiriam.

A Ordem de Santiago desviara a sua atenção da “libertação” do Médio Oriente. Compromete-se a acompanhar o então jovem e candidato a rei de Portugal. Face às dificuldades, Afonso reúne com as cúpulas dos Cavaleiros. Estes comprometem-se, caso ganhem a Princesa do Tejo, a respeitar as populações, quaisquer que fossem as suas origens

A então al-Lixbûnâ (1) demora a cair uns intermináveis 111 dias. Vejam só a capicua que haveria de dar sorte aos Reconquistadores. No entanto, o tempo de espera e de luta para recuperar a cidade, terá irritado ou feito esquecer as boas negociações quanto ao tratamento a dar às populações “conquistadas”.

-------(1)al-Lixbûnâ ou al-Ulixbûnâ, composição do nome que deriva do herói “Ulisses” combinando elementos gregos e árabes.

Na fúria dos embates e na ganância dos produtos (despojos de guerra), não se destrinça entre o bem e o mal, entre civilidade e barbárie. É, então, que à revelia das negociações se ultrapassam os bons sensos e, consequentemente, vem ao de cima a “fera diabólica” que permanece no ser humano, não sei desde que origens, nem até quando. Esperemos, contudo, e acreditamos, que a “fera” não seja extensível a todos os Homens, nem em todos os tempos.

Os conquistadores ultrapassam barreiras de compromissos e mandam para o Lete, o humanismo cristão. Porque é preciso continuar as conquistas, os cavaleiros são, mesmo assim, perdoados e até “premiados”, não só com o produto do saque imediato, isto é dos bens móveis. Afonso dá-lhes terras e títulos. As mulheres e filhas dos Cavaleiros de Santiago ficam em Lisboa. Recebem comendas e vão residir em Santos, atual bairro da Madragoa, num “Convento” onde as mulheres se acolhem gozando da proteção dos Santos Mártires de Lisboa (Máxima, Júlia e Veríssimo) que ao tempo do imperador Diocleciano (284-305) haviam sido sacrificados por não renegarem a fé cristã. As memórias destes santos haviam-se preservado durante séculos na comunidade moçárabe e foram, no após Reconquista, recordadas pelos moçárabes locais e pelas comendadeiras, inclusivamente dando o nome à zona (Santos) e ao Convento.

Séculos passados, já no tempo dos Descobrimentos, o espaço conventual de Santos é cobiçado, inclusivamente, pelo rei D. Manuel que vem para aqui residir, “alugando” as edificações do “convento” (hoje embaixada de França), deixando contudo a igreja para o serviço do culto público. As comendadeiras são remetidas para os lados da Graça / Barbadinhos. Não se sabe ao certo o local exato que foram ocupar, até que o Convento de Santos-o-Novo ficasse construído e apetrechado.

 


002 Fachada, nicho de São José e portaria nº 123

D. Luísa de Távora (2) pertence a estas famílias dos Cavaleiros de Santiago e pôde recolher-se, após a morte do marido Luís Francisco de Oliveira e Miranda (3) no Cenóbio das Comendadeiras de Santos-O-Novo, como era tradição.

-------(2)Isso mesmo, a família dos Távoras que viria a ser perseguida pelo Marquês em conivência com o rei D. José que “lava as mãos” e deixa ao Marquês o “serviço sujo” de perseguição e extinção dos Távoras.

D. Luísa de Távora, filha de Álvaro Pires de Távora, senhor do Mogadouro; neta de Mariana Coutinho e Rui Lourenço de Távora, 1º vice-rei da Índia.

-------(3)Luís Francisco de Oliveira e Miranda, senhor de terras em Mogadouro, Macedo de Cavaleiros, Patameira e Almada

A riqueza e influência de D. Luísa de Távora eram consideráveis. Imbuída na fé; ou por desejar mais autonomia, ou ainda por eventuais desideratos de liderança, resolve construir um Convento próprio para onde transitaria. Com ela vai um séquito de irmãs religiosas que ingressam no Cenóbio dos Cardais, numa zona agreste onde ainda havia cardos, hoje Rua de O Século.

Dá-se a este Convento o nome popular de “Convento dos Cardaes“ (de Cardos), dedicado a Nossa Senhora da Conceição na peugada da Ordem das Carmelitas Descalças, devotas da vida e das memórias de Santa Teresa d`Ávila e São João da Cruz, nos duros tempos que prosseguem a Reforma da Igreja.

Os diferendos entre Católicos e Protestantes; a transição da justiça senhorial e privada para novos paradigmas, onde o poder real, o poder público e o poder eclesial se confundem; por vezes se aliam, outras se atropelam, são o pano de fundo dos choques, acordos e desacordos, guerras, justiças ou injustiças inquisitoriais e outros acontecimentos da época.

É no seguimento a estes acontecimentos; ao primado cristão e preceitos católicos que se seguirá toda uma prática devocional; uma herança cultural e material que deixam marcas evidentes no edifício dos Cardaes e na arte móvel que: por milagre, sorte, tacto, inteligência, ou o que quiserem, se preservou do tempo, da ambição e da cobiça de liberais e republicanos da I República ou até dos sem ideologia. O Convento dos Cardaes adaptou-se, mudando de designação para Associação de Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos, entre a prometida e, em parte cumprida, extinção oficial dos Conventos em 1832, a morte da última irmã e a retoma das perseguições pós 1910.

Hoje continua a funcionar como espaço conventual e assistencial; como museu, espaço de exposições temporárias, em colaboração com populações e artistas locais (qual nova e social museologia), onde por vezes a exposição do belo, levado do exterior e em locais delimitados, ultrapassa certos e tradicionais preconceitos.

003 Convento dos Cardaes - Expo de Artista local - Natércia Pinto, no espaço do locutório, 2007

Em nossa opinião, nenhuma outra instituição em Portugal, conseguiu uma semelhante preservação de bens culturais; eis porque é importante conhecer os Cardaes. É este interessante testemunho: de mentalidades e de sensibilidades estéticas; de um programa arquitetónico e de recheio, de assistência e colaboração com as populações; e ainda de apuramento do gosto na arte da doçaria conventual que iremos visitar; um resultado não imaginado ao tempo da instituição do Convento, muito menos na altura da Reconquista e dos Cavaleiros de Ordem de Santiago de Espada.

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Fontes:

VIEIRA, Irmã Ana Maria; RAPOSO, Teresa et al. O Convento dos Cardaes: Veios da Memória. Losboa: Quetzal Editores, 2013

 Em linha acedidas em 03.02.2018:

 

--ANCIÃES, Alfredo Ramos

62 Atalaiahttp://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/02/62-al-andalus-portugal-atalaia-almourol.html ;


68.SANTOS-O-VELHO - http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/06/68-santos-o-velho.html  http://museologiaporto.ning.com/profiles/blogs/67-santos-o-velho


69.MADRAGOA SANTOS E ENVOLVÊNCIAS - http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/06/69-madragoa-santos-e-envolvencias.html  http://museologiaporto.ning.com/profiles/blogs/69-madragoa-santos-e-envolv-ncias


70.DAS COMENDADEIRAS DE SANTOS AO REAL PALÁCIO E EMBAIXADA DE FRANÇA -  http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/06/70-das-comendadeiras-de-santos-ao-real.html  http://museologiaporto.ning.com/profiles/blogs/70-das-comendadeiras-de-santos-ao-real-pal-cio-e-embaixada-de  


http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/10/104-uma-visita-lisboa-em-tempo-de-santos.html  


71.SANTOS / MADRAGOA QUESTIONAR A HISTÓRIA E O PATRIMÓNIO -  http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/06/71-santos-madragoa-questionar-historia.html   http://museologiaporto.ning.com/profiles/blogs/71-santos-madragoa-questionar-a-hist-ria-e-o-patrim-nio


 -Câmara Municipal de Lisboa, et al. – Igreja de Santos-o-Velho in http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/igreja-de-santos-o-velho

--Evangelho Quotidiano, et al. Santos Mártires de Lisboa inhttp://evangelhoquotidiano.org/main.php?language=PT&module=saintfeast&id=11618&fd=0

-Moisão, Cristina - Santos-o-Velho - Período Romano: Histórias e lendas inhttp://lisboaantiga.blogspot.pt/2012/11/santos-o-velho-periodo-romano-historias.html


-Moisão, Cristina - Santos-o-Velho - Período Romano: Histórias e lendas inhttp://lisboaantiga.blogspot.pt/2012/11/santos-o-velho-periodo-romano-historias.html

-Público; Canelas, Lucinda (texto); Cruz, Dário (fotos) - O embaixador de Paris é um conservador de património em Lisboa in http://www.publico.pt/temas/jornal/o-embaixador-de-paris-e-um-conservador-de-patrimonio-em-lisboa-23861634


-République Française et al. – Ministère des Affaires Étrangères et du Dévelopement International -Fim da missão em Portugal do Embaixador Pascal Teixeira da Silva (12.09.2013) in http://www.ambafrance-pt.org/Fim-da-missao-em-Portugal-do

--Wiki et al --


-D. José Maria da Piedade de Lancastre e Távora (1819–1870) - Lista dos condes de Vila Nova de Portimão in https://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_de_Vila_Nova_de_Portim%C3%A3o


-João Antunes (1643, +1712, arquiteto da Corte) inhttps://pt.wikipedia.org/wiki/João_Antunes 

-João Antunes (arquiteto) in https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Antunes

-Marcos da Cruz (pintor 1610, Lisboa +1683) in

-Marcos Cruz ou Marcos da Cruz (pintor 1610, Lisboa +1683) inhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Marcos_da_Cruz
180 AA Cumprir a Terra