sexta-feira, 17 de novembro de 2017

LINHAS DE TORRES NO RESCALDO DA REVOLUÇÃO LIBERAL (I)



Nota prévia: A historiografia romântica e liberal, bem como a materialista / estruturalista, baseadas no culto dos heróis imperiais elevam ao pódio a figura de Napoleão. Esse romantismo velado pelo decurso do tempo numa imagem etérea consignada também pelos biógrafos e retratistas ao serviço de uma ideologia ou de uma conceção patriarcal e burguesa que se revê nos negócios e no ter mais do que no ser. Repare-se que até o nome termina em leão (Napo)leão. Este patronímico ajuda a criar um falso conceito, ou pelo menos questionável, sobre a figura de Bonaparte que só em parte é boa - Bona(parte).

É preciso ser ideologicamente irresponsável e insensível, junto do povo, sobretudo depois das lições de Trafalgar e das duas primeiras invasões à Península Ibérica, com dezenas de milhares de mortos, feridos e estropiados, insistindo sempre, mandando a pé e/ou a cavalo para a morte quase certa os seus concidadãos.

Note-se que a deserção das fileiras é punida com a pena de morte e que fugindo, os soldados têm pela frente vidas miseráveis, de sacrifício ou mesmo de morte. Ainda assim, muitos militares tentam e outros conseguem a fuga. Releve-se que os sacrifícios dos soldados são imensos e que só numa única batalha, uma das últimas, já de regresso e fuga, morrem em Toulouse, abril de 1814 milhares de militares; muitos cavalos perecem e perde-se um sem número de equipamento.

Napoleão não é bom Imperador, nem bom herói, ele sacrifica os outros, sacrifica Portugal, Espanha, França, entre outros povos, até às dezenas de milhares de vidas inocentes.

E o que traz de novo? No campo da cultura, a instituição dos museus públicos; o realce da noção de cidadão e alguns direitos no campo social que não compensam um crescente liberalismo económico, anticlerical, anti senhorial de família alargada, passando cada um ao desenrasque-se, deixando os pobres ainda mais pobres e desprotegidos.

Num patamar de perdas entre países; Portugal, por exemplo, ainda não recuperou Olivença, perdida por causa das investidas napoleónicas, nem recuperou vidas e um imenso património móvel que lhe foi, na altura, saqueado. No entanto a historiografia de tipo imperialista, de culto do herói romântico, continua na mente das pessoas e até nas escolas.

Figuras paternalistas e patrimoniais devem dar lugar a uma sociedade fratrimonial e matrizmonial, porque o Homem, em sua dignidade deve estar primeiro do que o homem na diminuta dimensão de cidadão encartado de contribuinte.

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As Linhas de Torres estão ligadas à terceira invasão francesa à Península Ibérica (Linhas de Torres), onde o general Massena, comandante do exército napoleónico, chega em Outubro de 1810. Ingleses e portugueses esperam por esta invasão e daí a decisão de construírem as linhas de defesa chamadas Linhas de Torres, a fim de bloquearem o acesso do inimigo à capital e permitirem a fuga do exército inglês em caso de extrema necessidade.

As Linhas de Torres são construídas em tempo recorde, mesmo a nível mundial, no espaço de alguns meses. As duas Linhas mais avançadas, considerando as invasões vindas do Norte ou de Leste são:

Primeira linha que passa por Torres Vedras (daí o nome) e se estende do Tejo (Alverca), Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Foz do rio Sisandro (Atlântico).

Segunda linha começa um pouco mais a jusante, também no Tejo (Póvoa de Santa Iria), Bucelas, Montachique, Lousa, Mafra, Ericeira e Ribamar.

Outras linhas têm sido pontualmente referidas nas envolventes do Forte de São Julião da Barra, estendendo-se, possivelmente entre várias localidades, até ao Alto de Barcarena, Queluz, Pontinha, Lumiar, Ameixoeira, Sacavém e no lado sul do Tejo, na envolvência de Almada; contudo não há ainda um contorno bem delineado da dimensão desta última estrutura. Neste âmbito, crê-se que a atribuição do nome à Alameda das Linhas de Torres no Lumiar tenha por base a proximidade de uma destas linhas ou deve-se ao caminho de acesso de Lisboa para as Linhas de Torres (1ª e 2ª) às quais era preciso aceder com regularidade.

Com tudo isto, convém estabebelecer algumas questões prévias e breves considerações:

-Quem foi efetivamente Napoleão Bonaparte?

Natural da Córsega, nasce apenas um ano após esta Ilha se ter transferido da República de Génova para a França. Pertence à antiga nobreza italiana, ou melhor genovesa. Frequenta a Escola Militar em Paris onde estuda estratégia militar e artilharia. Poucos anos após, um homem de baixa estatura mas de grandes ambições e sobretudo muito obstinado sobe, imerecidamente, em nosso entender, a general apenas com 27 anos.

-Que ambiente mental, cultural e político encontra?

Tudo, ou quase tudo, a Revolução de 1789 despoleta. Aos 35 anos Napoleão é Imperador de todos os franceses. Há quem o considere monarca iluminado por tentar e, em parte, conseguir aplicar as ideias do movimento filosófico do iluminismo.

Este obstinado constata que os Ingleses são os dominadores dos mercados e territórios. Várias figuras portuguesas veem com bons olhos o liberalismo da altura. O magnífico compositor Marcos Portugal é um desses intelectuais pró-franceses, melhor dizendo, pró-liberal que atua, de muito bom grado, para os generais e tropas francesas. Depois com a expulsão dos franceses, é acusado de jacobino e obrigado a ir-se juntar à corte no Rio de Janeiro, pois em Portugal, sem o seu séquito, não tem público para a música erudita.

(cont. em poste II subsequente)  

Palavras-chave: Invasão Peninsular, Linhas de Torres, Napoleão Bonaparte, Revolução Francesa

Fontes:

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173 AA Cumprir a Terra

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