segunda-feira, 22 de abril de 2013

OS DIAS DA TERRA


Mais do que o reconhecimento pela Organização das Nações unidas (ONU) é necessário que reconheçamos que o dia da Terra deve ser lembrado todos os dias, por cada um de nós.

Somos poluidores. Podemos evitar desperdícios, fazer escolhas e seleções para o que já não queremos, depositar o que já não nos serve em locais próprios. De outro modo pagaremos, nós e os nossos sucessores.  
 
Feita a parte de cada um, cabe exigir aos poderes políticos que legislem, regulem, fiscalizem e penalizem infratores. Num mundo de concorrências não é tão fácil como pode parecer um Estado tomar as melhores opções para a Terra, logo para nós próprios e para todos os seres.

Em boa parte, as melhores soluções para a Terra dão trabalho e custam caro, daí a utilização de velhas tecnologias poluentes e o recurso ao que está mais acessível a nível de preços.

Contudo, a preservação das espécies, do homem incluído, merecem a atenção com vista à redução de danos. Se ao comprarmos, e ao utilizarmos materiais e géneros, formos mais conscientes, estaremos a agir em conformidade no plano ético. A retribuição de uma boa conduta em relação à Terra virá, mais cedo ou mais tarde.

Em especial, devemos reparar no que é importado. Se um bem que vem do exterior contribui para o desequilibrio da balança de pagamentos, ao menos que escolhamos o que é menos poluidor, menos prejudicial para a saúde, assumindo esta como um bem pessoal e público.

“FAZER BEM, FAZ BEM”
deverá ser o lema em todos os dias.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A CRIAÇÃO INCLUINDO OS EFÉMEROS HOMEM/MULHER


Olá Luc !

Já não venho a tempo de desejar o bom domingo que passou mas desejo uma boa semana e um bom domingo (próximo).

"As rolas faziam uma festa com os seus arrolhamentos, os melros já deixaram de ser selvagens e já andam nos jardins e não fogem, as árvores começam a pôr as suas folhas. É o milagre da vida a renovar, mas no bicho homem/mulher, tal não acontece, pois andam taciturnos."

Quanto a esta tua belíssima frase respondo, não só com a minha escassa ciência, pois aquela frase merece muito mais. Vou então socorrer-me do meu conterrâneo Aquilino Gomes Ribeiro, aquele de quem Saramago disse que "se Aquilino fosse vivo quem ganhava o prémio Nobel era ele" e eu reafirmo que Aquilino bem o merecia. Porquanto acabou por ganhar ainda mais - um lugar no Panteão Nacional.

Então aqui vai a resposta com ajuda de mestre Aquilino

"Está dito, tudo morre e tudo volta. Reparo que uma força criadora, decerto instilada pelo sol, palpita de modo tão intenso que o sentimento de velhice no homem se torna de uma tristeza funérea e confrangedora. É pena que se não possa regular a VIDA [*] como um relógio, andando com os ponteiros para diante e para trás segundo à nossa conveniência [...]

A Primavera, tantas vezes rebelde ao calendário, rejuvenesce tudo menos no homem. As leis da ciclicidade física assim o mandam. Para o ano, por esta altura, voltarão as aves a cantar. Que chova, que faça sol radioso, com o mundo vegetal pletórico [“superabundante” in dicionário online de português] de seiva ou mais aganado [“aganado” = estanguido, cansado in “dicionário online de português”], à triste planta humana é que nada a afasta da sua carreira para a morte. Será ela [a planta humana] a obra-prima da Criação ou a pior de todas?"

Mais uma vez, uma semana magnífica, lembrando-nos que toda a Criação é uma obra efémera, incluindo os privilégios de que as criaturas usufruem.

[* Capitais minhas]

Abraço

AA

segunda-feira, 25 de março de 2013

 
FELICIDADE É UM PROCESSO E NÃO UM FIM

Um banqueiro encontra um modesto pescador, chegando da faina com o pescado do dia.
- O banqueiro pergunta quanto tempo levou o pescador a capturar aquela quantidade de sardinha.
- Foi rápido- responde o pescador.
-Então porque é que o senhor não dedica mais tempo e apanha ainda mais quantidade de pescado!
- Não necessito, este chega para viver!
- E o que faz você com tanto tempo livre?
- Descanso, brinco com os filhos, levo-os à escola, vou à vila e bebo um vinho com os amigos, acompanhado com um petisco. E ainda toco guitarra para animar o grupo. Tenho uma vida descontraída!
O banqueiro insiste que sabe muito de finanças e de gestão e pode fazer com que o pescador pesque muito mais, tenha a sua própria frota de barcos, fábrica para preparar o peixe, uma empresa distribuidora, trabalhadores por sua conta e sem necessidade de intermediários.
- Assim controlará toda a cadeia.
- E quanto tempo pode isso tudo demorar. – pergunta o pescador.
-Aí uns quinze ou vinte anos e, no final pode vender as ações das empresas para, então, frequentar á vontade a tasca, o café, o clube, beber o seu vinho e tocar guitarra entre os amigos.
- Mas isso é o que eu já tenho agora!
Uma economia conjugada com o ágape e o bodo, precisa-se. Quando um franciscano foi eleito para liderar a maior ou das maiores organizações humanitárias é, possivelmente, a altura de se desenvolverem mudanças significativas nas sociedades para um mundo mais igualitário, embora as conjunturas europeias pareçam indicar o contrário.
Obs. Texto inspirado em PPS adaptado de Cristina Säenz Enríquez, recebido em 25.3.2013
Uma Páscoa feliz

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Marcas Patrimoniais em Carnide e Luz de Lisboa


 
PREPARAÇÃO DE UMA VISITA


Conta-se que Pedro Martins (Pero Martiz na grafia original) natural de Carnide, onde faleceu em 14 de Março de 1466 (segundo George Cardoso, em Agiológio Lusitano) esteve prisioneiro no Norte de África. Possivelmente capturado, não se sabe ao certo se no âmbito do desastre de Tanger (1437) ou se capturado por piratas em qualquer viagem que tenha feito ao Algarve, de onde sua mulher era natural. Na sequência desta captura, e como não houve resgate, Pedro Martins – homem religioso, só já esperava por um qualquer milagre. Teve algumas vezes a aparição e intercessão duma Senhora envolta em luz que, no cárcere, lhe prometeu que o libertaria das amarras e o faria regressar a Carnide onde trataria de edificar uma Capela em seu nome, nas bandas da Fonte do Machado, onde encontraria uma imagem escondida. A Capela foi edificada e classificada na categoria de Ermida. Subjaz, em parte, nos alicerces da actual Igreja da Luz e é visitável em determinadas circunstâncias.

 


Começou assim o culto à Senhora da Luz que veio a sobrepor-se (ou impor-se ?) ao culto do Espírito Santo e contribuir para o esmorecimento deste, até o esquecimento, não obstante ter sido venerado e estimado em Carnide durante mais de 3 séculos. Falaremos, pois, na origem do culto ao Espírito Santo com fontes bíblicas, na sua autonomização/divinização e expansão, a partir do Pentecostes, e da entrada em Alenquer, Carnide, encosta do Castelo de Lisboa e tantos outros locais de Portugal, acabando por esvanecer-se, em parte também, devido à “concorrência” de outras santidades.


Falaremos da origem do culto a Nossa Senhora da Luz, da Purificação ou da Candelária com raizes em Israel mas sendo igualmente um fenómeno de divulgação quase exclusivo da portugalidade.


Abordaremos motivações para o apoio ao culto mariano e outros santos, a que não serão alheios  factores como os ligados à Contra-Reforma e ao Concílio de Trento. E ainda a popularidade do culto, festas e folias à volta do Espírito Santo que, em muitos casos, deixou de agradar ao clero, bem como ao poder político. Tal popularidade e manifestações à volta do Espírito Santo tornaram-se perigosas (ou, pelo menos, pensaram ser perniciosas) para a manutenção da ordem, como veremos. Daí a extinsão ou apagamento destas manifestações em Portugal continental, acabando por se salvarem nos Açores e no Brasil onde, longe da corte e do clero mais “ortodoxo”, sobreviveram, não obstante algumas proibições conhecidas e a retirada de apoios do clero nos espaços de culto, nas procisões e nas folias.


Este culto em Carnide leva-nos ainda a falar das teorias milenaristas do cisterciense Joaquim de Fiori mas também das suas raizes judaicas, bandarristas (de Bandarra – célebre sapateiro de Trancoso, de que há marcas em Carnide), do padre António Vieira, de Fernando Pessoa, António Quadros e Agostinho da Silva, que não se cansava em falar no século XIII, idade por excelência do culto ao Espírito Santo e na ideia de que o Homem não nasceu com a finalidade de trabalhar.


Tal como aconteceu com o culto de Nossa Senhora da Luz, o culto do Divino Espírito Santo (hoje em dia alterado), também é um fenómeno de divulgação mundial, essencialmente a partir de Portugal. Aproveita-se para uma breves palavras sobre o modo como o conceito de Espírito Santo evoluiu até ser considerado Deus, a par do Pai e do Filho, com identidade e vontade própria e sobre o modo como este culto chegou a Portugal.  


Falaremos também da monumentalidade que existiu em Carnide até 1755 e teceremos ligeiras palavras sobre outros patrimónios construídos após o  Terramoto. Apontaremos os vários conventos ou casas religiosas e as novas funções que desempenham. Veremos  marcas deixadas pelo Correio-Mor e outras dos correios e telecomunicações ao tempo do Estado Novo.


Falaremos ainda na infanta D. Maria (1521 - 1577) filha do rei D. Manuel I, uma das infantas mais ricas e mais belas do mundo de então; apresentaremos algumas poesias de Camões (que se pensa ter frequentado Carnide) motivadas pelo amor impossível ou interditado à mesma infanta que repousa na capela-mor da Igreja. Abordaremos as marcas rurais deixadas na toponímia, tais como azinhagas, quintas, arqueologia e aquitectura, bem como a urbanização com a passagem de Carnide para o Município de Belém (1852 - 1885).


Enfim,  teremos uma palavra em relação à gestão autárquica nas últimas décadas, bem como sobre a restauração e a animação num espaço histórico que sendo alfacinha está tão perto e tão longe de Lisboa. Perto fisicamente, e, longe do ponto de vista psicológico, remetendo-nos para uma certa raiz de ruralidade que os poderes locais têm acautelado como marcas de valorização e de identidade.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

EM CARNIDE: DA ANUNCIAÇÃO AO NASCIMENTO


 Nesta quadra apetece-me tecer umas palavras acerca de duas imagens do retábulo do altar-mor da igreja de Nossa Senhora da Luz.


O estudo e divulgação de todo o retábulo do altar-mor, seria um trabalho longo e extravasaria o título aqui atribuído: “da anunciação ao nascimento”. Daí que tivéssemos selecionado só os dois quadros citados.

Trata-se de painéis ao estilo renascença/maneirista atribuídos a Francisco Venegas, castelhano, chamado “o meu pintor” por Filipe II e/ou a Diogo Teixeira, português, datados por volta de 1590. Nesta obra são evidentes os saberes histórico-religiosos e o talento artístico, possivelmente dons do Espírito Santo que teve culto durante décadas em Carnide e acabou por ser absorvido pelo culto a Nossa Senhora da Luz (*).
Voltando aos dois quadros, junto apresentamos um possível contexto histórico:

1 - Quadro ao fundo, do lado direito “Anunciação do Anjo Gabriel a Maria”. A temática corresponde ao 1º dos mistérios gozosos: O Anjo anuncia a Maria que ela será mãe do filho de Deus.

Esta é a uma das primeiras imagens e episódios da história do cristianismo. Representa um momento crucial da humanidade, coincidindo com o início do declínio do império romano tal como transparece no seguinte extrato:

«Maria, exemplo de mãe e serva do Senhor! Obediente aos mandamentos religiosos, inspirada pelo Espírito Santo, dissera o seu "SIM" para abrigar em seu ventre o Salvador do Mundo – Jesus Cristo, o Messias. Sabia, entretanto, antecipadamente, da caminhada crucial que atravessaria naquele contexto opressivo e excludente do império romano. Mas confiante, o consagrava, o entregava, com amor incondicional».

“Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus […]. Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra». E o anjo retirou-se de junto dela”. (Cf http://www.tuespetrus.org/?page_id=688); http://liturgiadiariacomentada.blogspot.pt/2011/02/apresentacao-do-menino-jesus-ao-templo.html, acedidos em 30.11.2012 ; (Lc 1,26-38 ; Mt 1,18-25).

2 - Quadro do lado direito, por cima do anterior – “Nascimento de Jesus”. Corresponde ao 3º mistério gozoso: “Jesus nasce numa gruta, em Belém. Antes que o menino nascesse José […] que era um homem justo e não queria difamá-la [a sua esposa Maria], resolveu deixá-la secretamente. Andando ele a pensar nisto eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, e lhe disse: «José filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e pôr-Lhe-ás o nome de Jesus; porque ele salvará o povo dos seus pecados» ” (Mt 1,19-21).

“E quando eles ali chegaram [vindos em viagem para serem recenseados], completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoira, por não haver lugar para eles na hospedaria. Na mesma região, encontravam-se uns pastores, que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. O anjo do senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu em volta deles, e tiveram muito medo. Disse-lhes o anjo: «Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo. Hoje na cidade de David, nasceu-vos um salvador […]»”(Lc 2,6-11)
 
Na envolvência arquitetónica deste quadro pode ver-se, ao fundo, algumas colunas clássicas. Característica do estilo renascença/maneirismo. É evidente que no local simples e rústico em que consta ter nascido Jesus, não havia arquitetura clássica, trata-se, pois, duma recriação ao gosto, dos pintores, patrocinadores e sociedade da época (finais do século XVI). As personagens ao redor do Menino Jesus são sua mãe, pai "adotivo" e, possivelmente, os pastores que vieram, em primeiro lugar, para o visitar e adorar segundo a interpretação das escrituras ditas sagradas.

(*) Há, em nosso entender, várias outras razões para que vários locais de culto ao Espírito Santo tenham sido extintos, quer em Carnide, quer noutras partes de Portugal e da Europa. Mas para explicar essas razões teríamos de recuar ao Concílio de Trento, à Reforma e Contra-reforma religiosas e à particularidade ideológica, tipo judaica e messiânica, com que o culto se instalou na Europa nos séculos XIII e XIV, tendo-se tornado demasiado popular para os gostos dos poderes civis e religiosos.

Fontes:
-Imagem do retábulo in O Santuário da Luz – Glória de Carnide / António de Sousa Araújo. Lisboa, Edição da Paróquia de Carnide, 1977
-Evangelhos: Mateus - 1,18-25 ; 1,19-21;  2,1-12 . Lucas - 1,26-38 ; 2,1-20 ; 2,6-11
-Fontes em linha www:
-http://www.tuespetrus.org/?page_id=688), acedido em 30.11.2012.
-http://liturgiadiariacomentada.blogspot.pt/2011/02/apresentacao-do-menino-jesus-ao-templo.html, acedido em 03.112.2012.
- Encíclica «Redemptoris Mater», §§ 7, 10 «Salve, ó cheia de graça» - João Paulo II (1920-2005) in Evangelho Quotidiano, http://mail.sapo.pt/webmail/imp/message-dimp.php?ajaxui=1&mailbox=SU5CT1g&uid=42361&uniq=1354981804565, acedido em 08.12.2012)

domingo, 28 de outubro de 2012


CASTANHAS DA BEIRALTÍSSIMA E PATRIMÓNIO ENVOLVENTE
 

“Quentes e boas – Boas e quentes”  são as castanhas de Penedono e  Sernancelhe. Esta segunda localidade tem como slogan “Sernancelhe – capital da castanha”. Um dia referi este slogan, junto do Dr. Rui Bastos, ex Presidente da Casa do Concelho de Penedono. Ele respondeu-me imediatamente – “mas as castanhas de Penedono são melhores”.

Penedono e Sernancelhe (concelhos do Douro Sul, distrito de Viseu) têm a particularidade de produzir, provavelmente as castanhas mais doces e saborosas de Portugal e do mundo.

A par deste galardão, os dois concelhos da Beira interior têm um património apreciável. Deixo aqui apenas umas ligeiras referências de nomes de família e de monumentos históricos.

Consta que Penedono foi o berço do “Magriço” – Álvaro Gonçalves Coutinho. Esta figura da História terá nascido num primitivo palácio da família Fonseca  Coutinhos (1) ou no castelo da mesma vila, de que seu pai Gonçalo Vasques Coutinho foi alcaide, bem como do castelo de Trancoso, localidade a que pertenceu Penedono e que também reivindica o nascimento de Magriço.

O Magriço deu origem à denominação dos bravos jogadores que em 1966 disputaram o campeonato de futebol mundial em Inglaterra, obtendo para Portugal o melhor resultado de sempre (3º lugar), nesta modalidade. O mesmo Magriço, também conhecido como o “Capitão dos Doze de Inglaterra” vem referido nos Lusíadas de Luís de Camões, canto I - estrofe 12:  

«Por estes vos darei um Nuno fero / Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço / Um Egas e um Dom Fuas, que de Homero / A cítara para eles só cobiço / Pois pelos Doze Pares dar-vos quero / Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço / Dou-vos também aquele ilustre Gama / Que para si Eneias toma a fama ».

No canto VI – estrofes 38 a 41 faz-se a preparação para o episódio Magriço/Doze de Inglaterra e mais concretamente nas estrofes 42 a 69,  Camões desenvolve o feito cavalheiresco com referências ao Magriço de que citamos a estrofe 53, como exemplo:

 «Já do seu rei tomado têm licença / Para partir do Douro celebrado / Aqueles que escolhidos por sentença / Foram do Duque Inglês experimentado / Não há na companhia diferença / De cavaleiro, destro ou esforçado / Mas um só, que Magriço se dizia / Destarte fala à companhia [...] » (sublinhados nossos)

Quanto a Sernancelhe, destaco a sua igreja matriz, templo românico, que conta com uma publicação recente da autoria do monsenhor Cândido Azevedo. Sernancelhe (concelho) é também a terra que viu nascer o escritor Aquilino Ribeiro, que conta com um cenotáfio em sua memória no panteão nacional de Santa Clara – Lisboa.

Natural do concelho de Sernancelhe será, também, o missionário, comerciante, diplomata, político e historiador – João Rodrigues (o tçuzzu em japonês ou intérprete, em português), autor da primeira Gramática da Língua Japonesa e História da Igreja no Japão.

Na imagem anexa pode ver-se a medalha com a figura do castelo de Penedono, editada por altura do V aniversário da Casa do Concelho. O recipiente é uma cestinha de artesanato local da freguesia da Beselga – Penedono, feita de junça, isto é, um tipo específico de palha colhida no planalto e serras de Trancoso. Nesta vila histórica – medieval casou o rei D. Dinis com a raínha D. Isabel de Aragão (a raínha santa, filha de D. Pedro de Aragão e de D. Constança).

Esta micro-região de Sernancelhe, Penedono e Trancoso faz parte da “Beiraltíssima” como lhe chamou o prof. José Hermano  Saraiva. A festa anual da castanha em Sernancelhe tem lugar na vila durante três dias nos finais de Outubro. Também na Casa de Penedono, em Lisboa ou Almada realiza-se uma festa/convívio, com castanhas, vinho e animação, por volta do dia de São Martinho no mês de Novembro.

A gastronomia da micro-região Beiraltíssima, também conhecida por Terras do Demo ou de Magriço é excelente, motivo para uma visita. Durante o Outono podemos encontrar castanhas de qualidade impar e apreciar os ares puros, bem como os patrimónios: natural, artesanal, edificado e imaterial.
 
(1)   Segundo  o Dr. Artur Lambert da Fonseca que realizou uma genealogia e se considera descendente dos antepassados de Álvaro Gonçalves Coutinho “O Magriço”,  genealogia que eu próprio vi em sua casa de Fonte Arcada - Penafiel; os Coutinhos antes de entrarem no Couto de Leomil, Penedono e Trancoso, teriam como apelido o patronímico de Fonseca.  Há, porém, quem alegue que o patronímico era Rodrigues.
Fontes:
- Os Lusíadas / Luís de Camões, José Hermano Saraiva, José António Lima e Henrique Monteiro. Edição Expesso, com o apoio do Grupo Totta, em 10 volumes, [Lisboa]: 2003, Trata-se de uma obra com descrição em português actual. Nela consta o episódio de O Magriço e Os Doze de Inglaterra nos cantos e estrofes acima referidos.

- Camões. Os Doze de Inglaterra. Episódio do Canto VI de Os Lusíadas. Paráfrase, Ilustrações e Estudo do Torneio Medieval / Luís de Camões, Jorge Tavares. Porto: Lello & Irmão - Editores, 1985.

- O Magriço in http://tradicional2.blogs.sapo.pt/1056.html, acedido em 28.10.2012

- O Magriço, Bandarra e Trancoso in http://bandarra-bandurra.blogspot.pt/2011/08/magrico-nasceu-em-trancoso.html?showComment=1351444468247,  acedido em 28.10.2012

- Penedono in http://www.cm-penedono.pt/noticia.php?id=301, acedido em 28.10.2012

- Trancoso in http://www.cm-trancoso.pt/concelho/Paginas/Historia.aspx, acedido em 28.10.2012

sábado, 6 de outubro de 2012


A TERMINOLOGIA DA LUZ - O BRASÃO DE CARNIDE - FONTE ERMIDA E IGREJA


Imagem do brasão. Gentileza do sítio da Junta de Freguesia

O brasão de armas espelha a história de Carnide. A barretina representa o Colégio Militar, os dois pimenteiros representam terra de hortas e agricultura e o cântaro vermelho evocará a VIDA e a FONTE local sobre a qual foi erguida a ermida e a igreja. As três torres lembram a antiguidade deste termo de Lisboa, elevada a freguesia e paróquia.

A flor-de-lis está tradicionalmente associada à simbologia religiosa. Este símbolo representa a Trindade e O Espirito Santo que teve no próprio Largo da LUZ o local de culto na ERMIDA, antes da Reforma do Concílio de Trento e depois na IGREJA DA LUZ construída sobre a Ermida. A flor-de-lis também representa o anjo Gabriel como comunicador e anunciador a Maria de que iria dar à LUZ o Deus Filho.

 

Portal da Antiga Ermida, ainda existente, sob a Igreja da Luz

A terminologia da LUZ aparece no anúncio da Encarnação pelo anjo Gabriel a Maria, o que pode ser constatado na iconografia maneirista de Francisco Venegas e/ou Diogo Teixeira patente no retábulo do altar-mor da capela-mor da IGREJA da LUZ.

«Hás-de conceber no teu seio e dar à LUZ um filho, ao qual porás o nome de Jesus» (Lucas 1:31, segundo a aparição do anjo S. Gabriel à mãe de Cristo).

 
Contudo, a terminologia da LUZ evoluiu. Jesus é a verdadeira FONTE de LUZ. Ele resplandece através de Sua mãe e dos homens e mulheres de esperança:



«Eu sou a LUZ do mundo» disse Jesus. «Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a LUZ da vida» (Jo 8, 12). «Jesus [é a ] Palavra viva que ILUMINA e dá sentido à nossa humanidade […]. O mundo precisa de esperança e LUZ; de homens e mulheres que sejam LUZEIROS de esperança […]» (Revista Audácia, Novembro 2011, p.13-14).


 
Fonte milagrosa de Nª Srª da Luz, antiga fonte da Machada, remodelada. Foto obtida no último dia das festividades de Setembro 30.09-2012

Só em 1885 Carnide foi definitivamente considerada parte do espaço urbano da cidade de Lisboa, o que demonstra a função predominantemente rural como retiro de nobres e burgueses da capital e local de culto, primeiro do Espirito Santo que tinha lugar na Ermida de Carnide e depois deu lugar ao culto de Nª Srª da Luz na Igreja implantada sobre a Ermida, ao estilo renascença/maneirista, igreja esta que ficou amputada após o terramoto de 1755. Mesmo no que resta, a Igreja da Luz permanece um monumento valioso e atrativo na capela-mor e no espaço adjacente.
 
Celebra-se todos os anos a festa de Nª Srª da Luz no dia 9 de Setembro, porém, ao estilo tradicional a evocação das festividades estende-se por todo o mês de Setembro. Quem passar pelo Largo da Luz pode prestar culto na Igreja e no Largo pode fazer compras de artesanato ou deliciar-se nas barraquinhas de petiscos.

 
Santuário de Nº Srª da Luz, ou o que resta dele
A terminologia da LUZ encontra-se disseminada pelas freguesias de Carnide, Benfica e S. Domingos de Benfica onde se encontra o estádio da LUZ. Note-se que, o estádio de um dos maiores clubes do mundo (Sport Lisboa e Benfica) designa-se estádio da LUZ, denominação derivada do culto a Nª Sª da LUZ existente na proximidade, no Largo da LUZ, Carnide.
 
 
Brasão da Infanta D. Maria de Portugal na fachada sul da igreja, junto à milagrosa fonte
 
 
Imagem da infanta D. Maria de Portugal com cerca de 20 anos de idade. Fonte: Cortesia de montalvoeascienciasdonossotempo & Fundação Oriente/JDACT
Antigo Hospital da Luz
Cruz da Ordem de Cristo e imagem de Nª Senhora da Luz
Legenda do portal do antigo Hospital da Luz.
A parte inferior foi modificada e nela foi colocada uma nova legenda referente ao novo proprietário do edifício

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Nesta foto tirada no arquipélago de Bazaruto, na costa centro oriental de Moçambique em 2005, encontro-me eu - ex. 1º Cabo Anciães e dois meninos que faziam questão em me acompanhar, independentemente de lhes dar algo ou não. 

A população desta ilha, embora pouco habitada, é muito amável. Vivem essencialmente da pesca e recolha de marisco na costa. Algumas pessoas estão empregadas nos dois hoteis: Indigo Bay Island Resort e Pestana Resort Hotel (de gestão portuguesa, este segundo), inseridos na paisagem protegida. Outra ilha mais pequena associada a esta é a ilha de Santa Carolina onde ainda vi algumas estruturas em decadência do tempo em que para ali ía descansar alguma população de ex "colonos" portugueses para aliviarem o stress da vida quotidiana. Vi ainda um piano que já não debitava som que pudesse fazer música. As paredes da casa estavam meio esburacadas com as próprias ondas do mar. Havia a média de uma praia para cada família. A areia é finíssima e muito limpa e as águas desta costa do Índico são geralmente muito pacíficas, como pode ver-se na foto. É um autêntico paraíso para relax. Quando cheguei à ilha os recepcionistas do Pestana Hotel, incluindo a população local, cobriram-me com uma coroa de flores; tinham duas toalhas para me limpar o suor, uma com perfume; água, espumante e bolachas.

Quando estive em ambiente de guerrilha, entre 1971 e finais de 1973 não fazia a mínima ideia de que um dia iria voltar a Moçambique nas circunstâncias que acima descrevi. DEUS ajudou-me. Se puder voltarei para abraçar aquele povo e aquela terra, incluindo Lourenço Marques (Maputo), Beira e Gorongoza. Gostaria também de revisitar a zona de Dôa e aldeamentos, onde fiz a comissão militar. Um abraço e que não faltem sonhos e recursos, embora este tempo de crise e troycas ande nebulado. Esperemos que venha uma espécie de milagre que nos salve. Vamos fazer tudo para merecermos o milagre.
 
Um abraço para os meus amigos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O CONVENTO DO ESPINHEIRO & ÉVORA





                             
                
Situa-se a 2 minutos de Évora e mantém o ambiente de retiro e sentimento de devoção a Nossa Senhora do Espinheiro que consta ter aqui aparecido a um pastor. A história deste Monumento remonta ao século XV. Está atualmente convertido em unidade hoteleira, turística e religiosa através da sua linda igreja.

Texto o fotos do A. deste blog. Revisão de MA