domingo, 28 de outubro de 2012


CASTANHAS DA BEIRALTÍSSIMA E PATRIMÓNIO ENVOLVENTE
 

“Quentes e boas – Boas e quentes”  são as castanhas de Penedono e  Sernancelhe. Esta segunda localidade tem como slogan “Sernancelhe – capital da castanha”. Um dia referi este slogan, junto do Dr. Rui Bastos, ex Presidente da Casa do Concelho de Penedono. Ele respondeu-me imediatamente – “mas as castanhas de Penedono são melhores”.

Penedono e Sernancelhe (concelhos do Douro Sul, distrito de Viseu) têm a particularidade de produzir, provavelmente as castanhas mais doces e saborosas de Portugal e do mundo.

A par deste galardão, os dois concelhos da Beira interior têm um património apreciável. Deixo aqui apenas umas ligeiras referências de nomes de família e de monumentos históricos.

Consta que Penedono foi o berço do “Magriço” – Álvaro Gonçalves Coutinho. Esta figura da História terá nascido num primitivo palácio da família Fonseca  Coutinhos (1) ou no castelo da mesma vila, de que seu pai Gonçalo Vasques Coutinho foi alcaide, bem como do castelo de Trancoso, localidade a que pertenceu Penedono e que também reivindica o nascimento de Magriço.

O Magriço deu origem à denominação dos bravos jogadores que em 1966 disputaram o campeonato de futebol mundial em Inglaterra, obtendo para Portugal o melhor resultado de sempre (3º lugar), nesta modalidade. O mesmo Magriço, também conhecido como o “Capitão dos Doze de Inglaterra” vem referido nos Lusíadas de Luís de Camões, canto I - estrofe 12:  

«Por estes vos darei um Nuno fero / Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço / Um Egas e um Dom Fuas, que de Homero / A cítara para eles só cobiço / Pois pelos Doze Pares dar-vos quero / Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço / Dou-vos também aquele ilustre Gama / Que para si Eneias toma a fama ».

No canto VI – estrofes 38 a 41 faz-se a preparação para o episódio Magriço/Doze de Inglaterra e mais concretamente nas estrofes 42 a 69,  Camões desenvolve o feito cavalheiresco com referências ao Magriço de que citamos a estrofe 53, como exemplo:

 «Já do seu rei tomado têm licença / Para partir do Douro celebrado / Aqueles que escolhidos por sentença / Foram do Duque Inglês experimentado / Não há na companhia diferença / De cavaleiro, destro ou esforçado / Mas um só, que Magriço se dizia / Destarte fala à companhia [...] » (sublinhados nossos)

Quanto a Sernancelhe, destaco a sua igreja matriz, templo românico, que conta com uma publicação recente da autoria do monsenhor Cândido Azevedo. Sernancelhe (concelho) é também a terra que viu nascer o escritor Aquilino Ribeiro, que conta com um cenotáfio em sua memória no panteão nacional de Santa Clara – Lisboa.

Natural do concelho de Sernancelhe será, também, o missionário, comerciante, diplomata, político e historiador – João Rodrigues (o tçuzzu em japonês ou intérprete, em português), autor da primeira Gramática da Língua Japonesa e História da Igreja no Japão.

Na imagem anexa pode ver-se a medalha com a figura do castelo de Penedono, editada por altura do V aniversário da Casa do Concelho. O recipiente é uma cestinha de artesanato local da freguesia da Beselga – Penedono, feita de junça, isto é, um tipo específico de palha colhida no planalto e serras de Trancoso. Nesta vila histórica – medieval casou o rei D. Dinis com a raínha D. Isabel de Aragão (a raínha santa, filha de D. Pedro de Aragão e de D. Constança).

Esta micro-região de Sernancelhe, Penedono e Trancoso faz parte da “Beiraltíssima” como lhe chamou o prof. José Hermano  Saraiva. A festa anual da castanha em Sernancelhe tem lugar na vila durante três dias nos finais de Outubro. Também na Casa de Penedono, em Lisboa ou Almada realiza-se uma festa/convívio, com castanhas, vinho e animação, por volta do dia de São Martinho no mês de Novembro.

A gastronomia da micro-região Beiraltíssima, também conhecida por Terras do Demo ou de Magriço é excelente, motivo para uma visita. Durante o Outono podemos encontrar castanhas de qualidade impar e apreciar os ares puros, bem como os patrimónios: natural, artesanal, edificado e imaterial.
 
(1)   Segundo  o Dr. Artur Lambert da Fonseca que realizou uma genealogia e se considera descendente dos antepassados de Álvaro Gonçalves Coutinho “O Magriço”,  genealogia que eu próprio vi em sua casa de Fonte Arcada - Penafiel; os Coutinhos antes de entrarem no Couto de Leomil, Penedono e Trancoso, teriam como apelido o patronímico de Fonseca.  Há, porém, quem alegue que o patronímico era Rodrigues.
Fontes:
- Os Lusíadas / Luís de Camões, José Hermano Saraiva, José António Lima e Henrique Monteiro. Edição Expesso, com o apoio do Grupo Totta, em 10 volumes, [Lisboa]: 2003, Trata-se de uma obra com descrição em português actual. Nela consta o episódio de O Magriço e Os Doze de Inglaterra nos cantos e estrofes acima referidos.

- Camões. Os Doze de Inglaterra. Episódio do Canto VI de Os Lusíadas. Paráfrase, Ilustrações e Estudo do Torneio Medieval / Luís de Camões, Jorge Tavares. Porto: Lello & Irmão - Editores, 1985.

- O Magriço in http://tradicional2.blogs.sapo.pt/1056.html, acedido em 28.10.2012

- O Magriço, Bandarra e Trancoso in http://bandarra-bandurra.blogspot.pt/2011/08/magrico-nasceu-em-trancoso.html?showComment=1351444468247,  acedido em 28.10.2012

- Penedono in http://www.cm-penedono.pt/noticia.php?id=301, acedido em 28.10.2012

- Trancoso in http://www.cm-trancoso.pt/concelho/Paginas/Historia.aspx, acedido em 28.10.2012

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