Uma questão de Organização
Palavras-Chave:
barbarismo, Bento de Núrsia, Escolástica, Europa, Império, matriz, Roma
Pensamos
que uma das razões do quase desconhecimento de Escolástica e Bento se deve ao
politicamente correto das igrejas, Estado e ensino. O sistema de ensino, ele
próprio dependente das políticas de Estado e Governos, não arrisca a ir mais
além nos conteúdos. Estas Organizações têm receio em ser mal interpretadas, sobretudo
após a separação dos poderes entre Igreja/ Santa Sé e Estado. Idem através das relações
com Povos de outras matrizes culturais que não a matriz tipicamente ocidental.
Assim,
igrejas, seminários e escolas vivem um certo equilíbrio e distanciamento, o que
influencia as pessoas, os estudantes e os investigadores. Grosso modo não se ousa
desenvolver teses sobre que espécie de Europa existiria sem o embrião de
organização e ensino, criado e implementado por Bento e sua irmã Escolástica.
Estes
irmãos gémeos arriscaram criar uma nova forma de ação comunitária e de educação,
replicada milhares de vezes pelo espaço europeu.
O
movimento prosseguido através das práticas e Regras de São Bento promoveu uma ideia
de salvação, não só de almas, como de sustentação de vidas em carências
múltiplas pela falta de segurança e de apoio resultante das invasões bárbaras e
da decadência do Império Romano.
A
história das comunidades conventuais, iniciada com Bento de Núrsia e Escolástica
tem mais de 1500 anos de existência (cerca de 498 a 2019).
Consideramos aqui cinco pilares
essenciais para percebermos a contribuição que o legado de Bento e Escolástica nos
deixaram; a saber:
I-Oração,
II-Trabalho, III-Ação comunitária, IV-Educação, V-Expansão
Sem
a lenta revolução beneditina, certamente, não haveria Europa, tal como a
conhecemos; esta Europa que está em crise mas, ainda assim, é hoje em dia
apetecível por gentes de outras geografias; um espaço que veio a “dar mundos ao
mundo” e um espaço a que Gilberto Freyre acrescenta com a seguinte frase: «O mundo que o português criou».
Sem
prosápias civilizacionais, pensamos que o Mundo poderia estar mais equilibrado:
1 em riquezas, 2 em segurança e 3 em respeito pelo ambiente.
Arriscamos
referir cinco marcos históricos para
o nascimento e evolução da Europa e para o Mundo, sobretudo o mundo de tradição
ocidental europeia:
I-Criação
de um modelo sociocomunitário por Bento de Núrsia, após a queda de Roma em
setembro do ano 476. As Regras que Bento vai criar são, em boa parte,
decalcadas nas escrituras bíblicas, já então disponíveis e traduzidas para
latim por São Jerónimo (*).
…………………………..
(*) «Por
volta do ano 374, ele [São Jerónimo] foi para a Palestina, onde estudou
hebraico e a interpretação da Bíblia. Inspirado por Deus, traduziu todos os
livros da Bíblia para o latim, cuja tradução denominou-se “Vulgata, pois o
latim era a língua universalmente falada na época»
Bento
interpretou que o Mundo Ocidental de fim de ciclo imperial romano, tal como o conheceu
não tinha qualquer interesse nem viabilidade. Ao criar do início os Conventos na
parte ocidental da Europa e redigir o documento organizado em 7 pontos:
Título
: «REGRA MONÁSTICA
Índice: [1]PRÓLOGO, [2]COMEÇA O TEXTO DA REGRA, [3]OS INTRUMENTOS DAS BOAS
OBRAS, [4]OBEDIÊNCIA E SILÊNCIO, [5]HUMILDADE, [6]ORAÇÃO. POBREZA. RECEPÇÃO
SOLICITUDE PARA COM OS IRMÃOS. ORDENAÇÃO DO ABADE. DISPOSIÇÕES DIVERSAS e [7]CONCLUSÃO»).
Regras
estas que seriam a disciplina dos conventos, masculinos e femininos. Da teoria
e prática da “Regra Monástica” vai nascer uma organização social - religiosa
que vai ter, paulatinamente, reflexos e aplicações na vida dos povos europeus e
na expansão para outros continentes.
II-Clóvis,
o primeiro rei franco convertido, através da sua esposa, é contemporâneo de Bento.
Reconhece o valor da organização beneditina e incentiva o seu aproveitamento: Pela
prática, pela fé, pelas necessidades de segurança, pela economia e pelo rumo. Os conventos
beneditinos vão replicar-se pelo mundo ocidental então conhecido.
III-Carlos
Magno, já no século oitavo, pensa novamente recriar o império romano do
ocidente. Tarde demais. No entanto também reconhece na organização conventual baseada
nas regras
de Bento de Núrsia, uma importante estrutura e incentiva a prossecução e a difusão
entre as comunidades.
IV-Já
no século onze, o Conde D. Henrique de Borgonha e o seu filho D. Afonso
Henriques vêm assumir o comando de um movimento de autonomia e conquista ou reconquista
(depende dos pontos de vista). Um novo País está prestes a surgir. O
reconhecimento como reino vem a ser feito pelo Papa, até porque: quer o Conde
D. Henrique, quer o seu filho incorporam nas suas tropas o contributo de ordens
monásticas, algumas tornadas religiosas-militares e religiosas-hospitalárias.
V-A
expansão para lá do território peninsular começa a torna-se com alguma
evidência com D. Dinis que reconverte a Ordem Templária na Ordem de Cristo e inicia
programas de fomento da marinha, matas para madeira, construção naval e agricultura.
Com
o apoio e organização conventual, os Estados Peninsulares e da Europa laçam-se
nos descobrimentos, achamentos, relações comerciais e sociais com os povos. Estas
ações vão resultar na globalização.
Em nota de conclusão:
Os contributos de Bento e Escolástica são quase desconhecidos porque há uma
separação pela Concordata e um certo afastamento de práticas e de pontos de
vista, evitando os Estados laicos uma coabitação e um alinhamento convergente
de ideias com as comunidades religiosas. Jogam pelo dito politicamente correcto.
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