A Visitar Brevemente
001 Postigo
da Roda do Convento
Quando D. Afonso Henriques concorda, na
Invicta, com a participação dos Cavaleiros da Ordem de Santiago em prosseguir a Reconquista, não poderia prever todos acontecimentos que se
seguiriam.
A Ordem de Santiago desviara a sua
atenção da “libertação” do Médio Oriente. Compromete-se a acompanhar o então jovem
e candidato a rei de Portugal. Face às dificuldades, Afonso reúne com as cúpulas
dos Cavaleiros. Estes comprometem-se, caso ganhem a
Princesa do Tejo, a respeitar as populações, quaisquer que fossem as suas origens
A então al-Lixbûnâ (1) demora a cair
uns intermináveis 111 dias. Vejam só a capicua que haveria de dar sorte aos Reconquistadores.
No entanto, o tempo de espera e de luta para recuperar a cidade, terá irritado ou
feito esquecer as boas negociações quanto ao tratamento a dar às populações “conquistadas”.
-------(1)al-Lixbûnâ ou al-Ulixbûnâ,
composição do nome que deriva do herói “Ulisses” combinando elementos gregos e
árabes.
Na fúria dos embates e na ganância
dos produtos (despojos de guerra), não se destrinça entre o bem e o mal, entre civilidade
e barbárie. É, então, que à revelia das negociações se ultrapassam os bons sensos
e, consequentemente, vem ao de cima a “fera diabólica” que permanece no ser
humano, não sei desde que origens, nem até quando. Esperemos, contudo, e acreditamos,
que a “fera” não seja extensível a todos os Homens, nem em todos os tempos.
Os conquistadores ultrapassam barreiras
de compromissos e mandam para o Lete, o humanismo cristão. Porque é preciso
continuar as conquistas, os cavaleiros são, mesmo assim, perdoados e até “premiados”,
não só com o produto do saque imediato, isto é dos bens móveis. Afonso dá-lhes
terras e títulos. As mulheres e filhas dos Cavaleiros de Santiago ficam em
Lisboa. Recebem comendas e vão residir em Santos, atual bairro da Madragoa, num
“Convento” onde as mulheres se acolhem gozando da proteção dos Santos Mártires
de Lisboa (Máxima, Júlia e Veríssimo) que ao tempo do imperador Diocleciano
(284-305) haviam sido sacrificados por não renegarem a fé cristã. As memórias
destes santos haviam-se preservado durante séculos na comunidade moçárabe e foram,
no após Reconquista, recordadas pelos moçárabes locais e pelas comendadeiras,
inclusivamente dando o nome à zona (Santos) e ao Convento.
Séculos passados, já no tempo dos
Descobrimentos, o espaço conventual de Santos é cobiçado, inclusivamente, pelo rei
D. Manuel que vem para aqui residir, “alugando” as edificações do “convento”
(hoje embaixada de França), deixando contudo a igreja para o serviço do culto
público. As comendadeiras são remetidas para os lados da Graça / Barbadinhos. Não
se sabe ao certo o local exato que foram ocupar, até que o Convento de Santos-o-Novo
ficasse construído e apetrechado.
002 Fachada,
nicho de São José e portaria nº 123
D. Luísa de Távora (2) pertence a
estas famílias dos Cavaleiros de Santiago e pôde recolher-se, após a morte do marido
Luís Francisco de Oliveira e Miranda (3) no Cenóbio das Comendadeiras de
Santos-O-Novo, como era tradição.
-------(2)Isso mesmo, a família dos
Távoras que viria a ser perseguida pelo Marquês em conivência com o rei D. José
que “lava as mãos” e deixa ao Marquês o “serviço sujo” de perseguição e
extinção dos Távoras.
D. Luísa de Távora, filha de Álvaro
Pires de Távora, senhor do Mogadouro; neta de Mariana Coutinho e Rui Lourenço
de Távora, 1º vice-rei da Índia.
-------(3)Luís Francisco de Oliveira
e Miranda, senhor de terras em Mogadouro, Macedo de Cavaleiros, Patameira e
Almada
A riqueza e influência de D. Luísa de
Távora eram consideráveis. Imbuída na fé; ou por desejar mais autonomia, ou ainda
por eventuais desideratos de liderança, resolve construir um Convento próprio para
onde transitaria. Com ela vai um séquito de irmãs religiosas que ingressam no Cenóbio
dos Cardais, numa zona agreste onde ainda havia cardos, hoje Rua de O Século.
Dá-se a este Convento o nome popular
de “Convento dos Cardaes“ (de Cardos),
dedicado a Nossa Senhora da Conceição na
peugada da Ordem das Carmelitas Descalças,
devotas da vida e das memórias de Santa Teresa d`Ávila e São João da Cruz, nos duros
tempos que prosseguem a Reforma da Igreja.
Os diferendos entre Católicos e
Protestantes; a transição da justiça senhorial e privada para novos paradigmas,
onde o poder real, o poder público e o poder eclesial se confundem; por vezes
se aliam, outras se atropelam, são o pano de fundo dos choques, acordos e
desacordos, guerras, justiças ou injustiças inquisitoriais e outros
acontecimentos da época.
É no seguimento a estes acontecimentos;
ao primado cristão e preceitos católicos que se seguirá toda uma prática
devocional; uma herança cultural e material que deixam marcas evidentes no edifício
dos Cardaes e na arte móvel que: por milagre, sorte, tacto, inteligência, ou
o que quiserem, se preservou do tempo, da ambição e da cobiça de liberais e republicanos
da I República ou até dos sem ideologia. O Convento dos Cardaes adaptou-se,
mudando de designação para Associação de
Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos, entre a prometida e, em parte
cumprida, extinção oficial dos Conventos em 1832, a morte da última irmã e a
retoma das perseguições pós 1910.
Hoje continua a funcionar como espaço conventual e
assistencial; como museu, espaço de exposições temporárias, em colaboração com populações
e artistas locais (qual nova e social museologia), onde por vezes a exposição do belo, levado do exterior e em locais
delimitados, ultrapassa certos e tradicionais preconceitos.
003 Convento
dos Cardaes - Expo de Artista local - Natércia Pinto, no espaço do locutório, 2007
Em nossa opinião, nenhuma outra instituição
em Portugal, conseguiu uma semelhante preservação de bens culturais; eis porque
é importante conhecer os Cardaes. É este interessante testemunho: de mentalidades
e de sensibilidades estéticas; de um programa arquitetónico e de recheio,
de assistência e colaboração com as populações; e ainda de apuramento do gosto na
arte da doçaria conventual que iremos visitar; um resultado não imaginado ao tempo da instituição do Convento, muito menos na altura da Reconquista e dos Cavaleiros de Ordem de Santiago de Espada.
..............................
Fontes:
VIEIRA, Irmã Ana Maria;
RAPOSO, Teresa et al. O Convento dos
Cardaes: Veios da Memória. Losboa: Quetzal Editores, 2013
Em linha acedidas
em 03.02.2018:
--ANCIÃES, Alfredo Ramos
62 Atalaia … http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/02/62-al-andalus-portugal-atalaia-almourol.html ;
68.SANTOS-O-VELHO - http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/06/68-santos-o-velho.html http://museologiaporto.ning.com/profiles/blogs/67-santos-o-velho
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http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/10/104-uma-visita-lisboa-em-tempo-de-santos.html
71.SANTOS / MADRAGOA QUESTIONAR A HISTÓRIA E O PATRIMÓNIO - http://cumpriraterra.blogspot.pt/2016/06/71-santos-madragoa-questionar-historia.html http://museologiaporto.ning.com/profiles/blogs/71-santos-madragoa-questionar-a-hist-ria-e-o-patrim-nio
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+1683) in
-Marcos
Cruz ou Marcos da Cruz (pintor
1610, Lisboa +1683) inhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Marcos_da_Cruz
180 AA Cumprir a Terra
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