sexta-feira, 31 de julho de 2015

49. "ALGARVE D`ALÉM MAR" - ANOTAÇÕES DE UMA VIAGEM




Marrocos, tal como Portugal, têm uma localização relativamente privilegiada no novo mundo em globalização. Ambos são países de entrada e de saída, pelo Mediterrâneo e pelo Atlântico.
 
 



 






A distância aérea de Lisboa a Casablanca é de apenas 594 km, com voos diretos de cerca de uma hora ou pouco mais. E se considerarmos a distância aérea entre Faro e Marrocos, via Ceuta, podemos alcançar África e vice-versa em apenas duzentos e tais quilómetros, sensivelmente a mesma distância de Lisboa ao Porto.

O percurso também pode ser realizado de carro, tendo apenas de permeio o estreito de Gibraltar. Esperamos que um dia, no presente século, a travessia possa ser feita por rodovia ou ferrovia através de túnel submarino entre a Península Ibérica e África.

Sobre o Guia que acompanhou a família da Associação Beselguense das Terras do Demo e de Magriço:

De nome Jamal, culto, formado em filologia e estudos hispano-árabes, expressando-se muito bem em castelhano, sabendo usar alguns termos em português. Compreendia quase tudo o que dizíamos na lingua lusa. Perguntei-lhe o que achava da situação atual de relações exteriores e dos conflitos entre o mundo árabe e o cristão ou entre o mundo árabe e o dito mundo ocidental, ao que me respondeu:

-“A raiz dos problemas no Próximo e Médio Oriente e em algumas outras partes do mundo, envolvendo extremistas e o Exército Islâmico, está na política americana dos Bushes, em especial do Bush filho. Eles foram-se meter com o Iraque, vindos de longe. Não estavam sequer em causa reivindicações de territórios ou delimitações de fronteiras. Foi uma agressão gratuita ao mundo islâmico. Estamos todos a pagar a fatura dessa política. O nosso Rei e o Povo marroquino não querem aqui disputas destas influências negativas”.

Marrocos e Portugal:

Somos os mais característicos filhos do “Al Andaluz”, que significa o Ocidente ou Península Ibérica, quando o povo de civilização árabe se fixou em parte da Europa do Sul, África do Norte, Península Arábica, Médio Oriente/Ásia Ocidental.

Acrescentei que Marrocos é, do ponto de vista geofísico, mais ocidental que Portugal Continental, temos a mesma hora oficial e uma herança comum de séculos. Utilizamos alguns milhares de vocábulos com a mesma raiz árabe; as mulheres portuguesas usavam, na quase totalidade, até há poucas décadas, um adereço a envolver a cabeça. Atualmente o lenço ainda é uma peça de distinção nos trajes etnográficos. Temos um espólio de lendas mouras de mulheres de encanto e de tesouros escondidos, deixados pelos mouros, mas a tradição considera, ao mesmo tempo, que a descoberta desses tesouros pode envolver maldição.

O distintivo do Estado marroquino apresenta alguns paralelos com o português do Estado Novo. Nós tínhamos como divisa “Deus, Pátria e Família”, aliado a um modelo de Concordata com a Santa Sé. Por seu lado, o povo marroquino tem um modelo centrado em Deus(ALÁ), Pátria e Rei. Não obstante a islamização da sociedade, o Rei é a melhor garantia da paz e relações com o mundo ocidental. Ele preside diretamente ao Ministério de Assuntos Islâmicos, um órgão estatal da maior importância. A tolerância recíproca com povos que respeitam o islão são uma caraterística deste país que soube democratizar o poder com uma revisão pacífica da Constituição em 2011.
 







Durante as viagens e a estadia ocorreram três casos que nos impressionaram:

1-Numa das ruelas da Medina de Fez, plena de vendedores e turistas, fizemos uma compra paga com 50  €uros. Por lapso, deram-nos o troco apenas até cinco euros. Com a confusão de pagar em moeda europeia, e receber a demasia em divisa local, não reparámos no lapso. E não é que o jovem vendedor, ao aperceber-se, passados alguns minutos, “furou” entre a multidão à procura da pessoa que fez a compra, para desfazer o engano e devolver o dinheiro recebido em excesso!

2-Outro conterrâneo deu conta que lhe faltava a carteira onde tinha documentos importantes e algum dinheiro. Após várias buscas descobriram que a carteira não tinha ficado no quarto do hotel. Tinha sim ficado perdida no 4x4 que nos levara até ao deserto de Merzouga-Erfoud. Passado um dia, a carteira foi achada e devolvida ao proprietário que entretanto já se encontrava noutra cidade e hotel a várias centenas de quilómetros.

3-Nos últimos momentos, em subida para o autocarro que nos levaria ao aeroporto de regresso a Lisboa, verificámos a falta de um relógio de estimação. Falámos  com o Guia, que nos deu autorização para voltar à receção e pedir que nos deixasse ir rapidamente ao quarto do hotel. A rececionista atendeu-nos cordialmente e  informou-nos que já haviam ido ao quarto, nada tendo encontrado. Pelo sim pelo não, entregou-nos, delicadamente, um cartão com os contactos do hotel para telefonarmos posteriormente. Eles devolveriam o achado se fosse encontrado. Já em Portugal verificámos que a pulseira do relógio se havia aberto aquando do transporte das malas e caído para dentro de um saco de mão.

Em conclusão: Os objetos perdidos ou esquecidos foram recuperados, contando com a honestidade e amabilidade das pessoas com quem comunicámos.  A história de “Ali Babá e dos 40 ladrões” do mundo árabe e islâmico não parece condizer com o povo que encontrámos. Nada se extraviou e o percurso foi pleno de experiências e conhecimentos.

P.S. Em próximo post abordaremos, em pequenas notas, outros pontos de vista: traje, tradição, animais domésticos, projetos, arte, política, religião, simbologias, relações com Portugal, factos históricos e a lenda que deu origem à devoção e ao santuário de Nossa Senhora da Luz de Carnide-Lisboa, expandindo-se por outras partes do mundo tendo, porém, começado em Marrocos.

 

 







  

1 comentário:

  1. Temos um espólio de lendas mouras de mulheres de encanto e de tesouros escondidos ...

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