segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

03 MUSEU DE COMUNICAÇÕES: RELAÇÃO COM OS PATRIMÓNIOS LOCAIS E OS MEDIA

"O mensageiro anuncia - "a ordem será reposta": Cada um, segundo a suas responsabilidades obterá o que lhe conferem os seus merecimentos" (cf. Mal 2,17 - 3,5).
 
          Poderão fazer parte dum futuro Museu Nacional dos Media e das Comunicações os seguintes exemplares de acervos civis, militares, públicos e de culto, designadamente: documentação e instrumentos ligados à escrita - antiga e moderna, em quaisquer dos suportes: pedra, argila, papiro, papel, madeira …; inscrições epigráficas e paleográficas, cartas comuns, comerciais, diplomáticas, de amizade, de guerra e de amor; bilhetes-postais, aerogramas, boas-festas, cartões de felicitações e telefónicos, selos, vinhetas e outras marcas de porte e entrega; arte ligada às comunicações, equipamentos de transporte  do correio tradicional e novos meios eletrónicos.

          Igualmente de interesse são as imagens, desde os sinais de fumo aos espécimes de percussão, telegrafia semafórica (1) e elétrica; sítios, toponímias, edifícios, equipamentos de telefonia, rádio, televisão, dados, transmissão, documentação descritiva e técnica e das ciências de comunicação, incluindo semiologia.

          Só uma pequena parte dos locais emblemáticos das comunicações estão musealizados. Vários estão na memória das populações e/ou nas toponímias. Podem ser objeto de musealização, especialmente em cooperação entre entidades, como as Autarquias, Ministérios, Empresas, Agência Nacional para Cultura Científica e Tecnológica - Ciência Viva, Fundações, Museu das Comunicações e da Imprensa.

          Alguns topónimos, edificações e equipamento móvel merecem preservação e tratamento. É pertinente estudar, integrar peças e documentos, marcas relacionadas com as antigas funções de comunicação e informação através da criação de um núcleo de museu nos Açores, outro na Madeira e um Museu Nacional das Comunicações. O objetivo é valorizar os patrimónios, inventariar, integrar em rede, pôr todos estes acervos em diálogo/comunicação, divulgar, conservar e propor classificação. Junto apresentamos alguns exemplos, entre outros, que poderão fazer parte mas, para já, referimos os que poderão vir a ser tratados por:

 

Um Núcleo de Museu Nacional das Comunicações nos Açores

          Tratará os itens acima referidos, bem como:

          Os Caminhos do Facho: na Horta, Praia da Vitória e Santa Maria;

          Os Picos do Facho: na Graciosa, Santa Maria, Monte Brasil de Angra do Heroísmo;

          A Estrada do Facho em Praia da Vitória.

          O posto de sinais ou posto semafórico no alto do Pico do Facho do Monte Brasil-Angra do Heroísmo-Ilha Terceira encontra-se dotado com réplicas de equipamentos, constituindo um exemplo para vários outros locais onde existiu e/ou existe património idêntico.

 

Um Núcleo de Museu Nacional das Comunicações na Madeira

          Tratará os itens referidos no primeiro e segundo parágrafos deste artigo e os abaixo indicados:

          Os Caminhos do Facho: em Câmara de Lobos, Porto Santo e Ribeira Brava;

          O Monte do Facho no Machico;

          Os Picos do Facho: no Machico, Porto Santo e Funchal;

          Os Miradouros do Pico do Facho: em Porto Santo e Machico;

          A Estrada do Facho em Câmara de Lobos;

          A Rua do Pico do Facho em Porto Santo.

 

Uma Sede de Museu Nacional no Continente

          Trabalhará com os itens tradicionais de correios, filatelia, escrita, imprensa e telecomunicações e outros patrimónios indicados no primeiro e segundo parágrafos deste artigo, bem como se ocupará de locais, toponímias e edificações espalhados pelo território continental, dos quais destacamos -

          Os Montes do Facho: em Barcelos, Foz do Arelho (com miradouro), Santo Tirso, São Martinho do Porto – Alcobaça (com miradouro), Vila Nova de Famalicão, Melgaço, Lama – Barcelos (datando da época romana), Braga e Roriz;

          Os Montes de Vigia: em Vila Nova de Mil Fontes, Serpa, Odemira e Beja;

          As Torres de Vigia: em Penamacor, Palmela, Monte de Santa Quitéria em Felgueiras, Peniche, Oliveira de Frades, Quinta das Lapas em Torres Vedras (inclui legendas em latim, pelo que demonstra mais um atrativo) e torres de vigia inseridas nos castelos;

          A Ponta da Vigia no local arqueológico de Torres Vedras, também utilizado nas comunicações semafóricas.

          Vários Montes de vigia e do facho foram cristianizados com a denominação de santos e a construção de capelas ou ermidas, outros apresentam caminhos e trilhos de percursos pedonais e BTT. Em Vila Nova de Famalicão foi construído um parque de aerogeradores elétricos que podem conviver com a preservação e musealização do sítio outrora ao serviço das comunicações.

          Nossa Senhora do Facho e Monte do Facho na Serra de Oliveira - Barcelos, onde outrora existira uma Citânia. Neste local construíram uma capela a nossa Senhora representada com um facho de luz na mão direita. A devoção a Nossa Senhora levou à organização de festas, romarias e ao cumprimento de promessas. “Nossa Senhora do Facho, / Mãe de Jesus, Homem Deus. / Atende, dá bom despacho /Ao clamor dos filhos teus”. (2)

          Caminhos do Facho: em Afife, São Lourenço do Douro - Marco de Canaveses, Frende - Baião, Pardilhó - Murtosa, Vila Flor, Seixas - Viana do Castelo, São Martinho do Porto, denotando que por ali perto existiram sítios e equipamentos de comunicação.

          Estradas do Facho: em Santana – Sesimbra e São Martinho do Porto - Alcobaça.

          Ruas do Monte do facho: em Caldas da Rainha, Penafiel, Santo Tirso;

          Monte da Luz em Leixões onde funcionou um antigo farol e capela com estação semafórica, telegráfica elétrica e telefonia (3).          Faróis da linha de costa de Portugal continental e ilhas. Outrora foram ocupados por guardas e oficiais antes da automatização e digitalização. A Direção Geral de Faróis / Marinha tem-se ocupado da preservação dos edifícios e equipamentos mas o seu trabalho seria mais divulgado e fruído se integrado num Museu Nacional das Comunicações. 

          O Farol de Santa Marta em Cascais foi em boa hora musealizado em resultado de protocolo entre a Direção de Faróis/Marinha e a Câmara Municipal de Cascais. É um exemplo de sucesso de musealização de farol.

          “Talegre ou Telegre” na Serra do Sirigo - Penedono onde existe um marco geodésico. Tudo indica que o sítio serviu outrora como relé de telecomunicações semafóricas.  

          Torre de Vigia da Quinta das Lapas em Torres Vedras. Preserva parte da torre com legendas em latim, o que demonstra a antiguidade e raridade que se crê datar do século XVIII ou anterior.

          Serra do Facho e Miradouro do Facho na Praia da Vitória – Ilha Terceira - Açores

          Rota do Facho em Macedo de Cavaleiros. Tal como o nome indica, esteve ao serviço das telecomunicações semafóricas. O antigo lugar do facho acabou por denominar este percurso entre Carrapatas e a Serra de Bornes.

          Torre de Vigia de Peniche (4). Trata-se de um núcleo de observação e comunicação entre a Península do Baleal, Nazaré, Berlengas, farol do Cabo Carvoeiro, Consolação, Cabo da Roca e Serra de Sintra. Ainda se mantém uma construção, com uma área de cerca de 300 m2, incluindo torre e edificações associadas em relativo bom estado de conservação.

          Centros emissores de radio e teledifusão e sua envolvente. Alguns destes centros recetores/retransmissores incluem edifícios para os equipamentos e para serviço de controlo e oficinas. Alguns dos edifícios serviram de habitação para guardas/técnicos, especialmente antes do controlo à distância e digitalização. A Estação Terrena de Satélites de Alfouvar – Sintra e os Centros Emissores de Monsanto-Lisboa e Trevim-Lousã têm sido objeto de curiosidade da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica – Ciência Viva onde os visitantes mostram muito interesse em adquirir conhecimento. Existem ainda outros centros recetores/retransmissores, geralmente nas serras de Portugal, que despertam interesse, inclusivamente na vista e interpretação da paisagem.   

          O estudo do termo Almenara leva-nos a uma das teorias que remete para a origem da denominação da freguesia do Lumiar – Lisboa. Baseia-se no termo árabe al – menara ou almenara (5) que significa “o sítio da luz, lanterna, farol, facho e/ou torre onde se acendia o facho” para transmitir/comunicar à distância. Daí terá evoluído para Lumiar, representativo de lugar de luzes. Na Idade Média, o Lumiar era percorrido por linhas de água em comunicação com o Tejo. Tudo parece indicar que nos pontos altos havia postos de comunicação com o mar e a costa (6). Aliás, o escudo do brasão desta freguesia é composto por uma série de fachos e um galhardete, representativos das comunicações semafóricas/visuais. Outras teorias podem ser consideradas na significação do brasão. Porém, aquela teoria é a que se nos apresenta com mais consistência.

          De época recente, existe uma rede nacional de postos de vigia ao serviço da Direção Geral de Florestas com equipamento de observação e telecomunicações. Também de época relativamente recente existe uma rede nacional de postos de vigia do Instituto Geográfico Português com equipamento de observação e telecomunicações. Algumas destas estações/postos de vigia podem ser musealizadas ou no mínimo serão fornecedores de informação e aparelhos de interesse museológico, após a retirada do serviço.

 

Patrimónios relacionados com as Linhas de Torres

          Designadas Linhas de Torres ou de Torres Vedras, por aí terem começado, encontramos alguns postos de sinais telegráficos para-musealizados, podendo ser apreciados in-situ e/ou nos museus municipais de Torres, Bucelas, Loures, Mafra, Biblioteca de Sobral de Monte Agraço, Biblioteca e coleções museológicas de Arruda dos Vinhos, Museu e Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira. Estes municípios, museus e bibliotecas estão integrados no projeto PILT – Plataforma Intermunicipal para as Linhas de Torres. Um futuro Museu Nacional das Comunicações poderá ter como recurso uma rede local de informação e comunicação que ponha todos os núcleos de comunicações em relação.

São de destacar, desde já, os locais base, de comunicação semafórica destas Linhas:

- O Centro de Interpretação das Linhas de Torres e do Forte do Alqueidão (Concelho de Sobral do Monte Agraço), com observatório de paisagem, marcas, desenhos e indicação de distâncias entre fortes com comunicação semafórica/visual;

- A Ermida e Serra do Socorro (Mafra) com observatório de paisagem, área de exposição sobre a história local e das comunicações das Linhas de Torres, marcas e réplicas de telégrafos semafóricos;

- Forte de São Vicente, Castelo e Museu Municipal Leonel Trindade com importante núcleo das Linhas de Torres e comunicações do concelho;

- Monte Grandela - Montachique (Loures) onde existiu um forte e um telégrafo semafórico, cerca do atual marco geodésico e posto de observação da paisagem;

- Museu da Vinha e do Vinho de Bucelas, contendo um núcleo de interpretação das Linhas de Torres associado;

- Torreões dos castelos de Lisboa e de Abrantes, entre outros postos de retransmissão com interesse, para núcleos museológicos das comunicações e observatório da paisagem.

          Embora não muito desenvolvidos na temática das comunicações, é todavia de louvar o esforço daquelas autarquias, museus e bibliotecas no trabalho já realizado. Há cerca de 20 anos não havia quase nada na temática das comunicações que cativasse os turistas nacionais e estrangeiros, especialmente os ingleses, sempre muito interessados por tudo o que respeita às Linhas de Torres ou defesa de Lisboa.   

         Todas estas marcas, conhecimentos, saberes, toponímias e equipamentos merecem estudo, valorização e exposição num Museu Nacional dos Media e das Comunicações. O Turismo e o desenvolvimento do nível de vida e cultural das populações serão os beneficiários.

 

Notas:

(1) Entendemos como telegrafia semafórica, a transmissão de informação e comunicação e o registo da informação, usando como meios, aparelhos ou equipamento de tecnologia pré-elétrica (ou não elétrica). As designadas telegrafias: visual e ótica, constituem, em nosso entender, subdivisões de telegrafia semafórica. Cf. Etimologia de semáforo e semafórico em http://letratura.blogspot.pt/2006/02/etimologia-semforo.html, acedido em 30.1.2014 e monografia A hereditariedade em face da educação / Octavio Domingues – São Paulo – Rio: Editora Proprietária Comp. Melhoramentos de S. Paulo, s. d. (col. Bibliotheca da Educação, vol. VI), p. 151


(3) Cf. Entrada/link “Estação Semafórica e Telegráfica do Monte da Luz em Leixões”. Este edifício ainda se encontra no local, embora com algumas alterações e está classificado como Imóvel de Interesse Municipal, um dos primeiros a ser construído como farol e estação semafórica, registando diversas memórias.

 


(5) Cf. dic. http://www.priberam.pt/dlpo/almenara, acedido em 24.1.2014).

(6) Cf. Nova Monografia do Lumiar / Rosa Maria Trindade César Ferreira e Fernando Afonso de Andrade e Lemos, 2009

Fontes bibliográficas:

-Anciães, Alfredo Ramos; Janeira, Ana Luísa (coord), et all. “A comunicação à distância que conseguem”. in Agenda 2001. Os nossos avós. Lisboa: Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 2000. Formato livro com textos e imagens de património;  O mundo das colecções dos nossos encantos:  “Quando os objectos falam das telecomunicações”. Porto Alegre: Episteme / Revista nº 21, suplemento especial, jan./jun. 2005, págs 129-143. Com o apoio do CICTSUL Universidade de Lisboa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados, Grupo Interdisciplinar em Filosofia e História das Ciências e Câmara Municipal de Montemor-o-Novo. Anexo ao livro um CD “Verbi Gratia” nº 20. Especial sobre Coleccionismo da revista Episteme uma revista brasileira de filosofia e história das ciências.

-Domingues, Octavio - A Hereditariedade em face da educação. São Paulo/Rio: Editora Proprietária Comp. Melhoramentos de S. Paulo, s. d. (col. Bibliotheca da Educação, vol. VI). Para o conceito de biophoros e e por analogia - semaphoros ou semáforos.

-Direcção de Faróis da Marinha Portuguesa - Faróis de Portugal. S. L.: Ed. Ciência Viva, Agência Nacional para a Cultura Científica e tecnológica, 2003

-Louro, Maria Regina ; Vilhena, João Francisco - Faróis de Portugal. Lisboa: Gradiva – Publicações, Ldª, 1995 

Fontes em linha:

-Centros recetores e retransmissores de radiodifusão e teledifusão:  http://www.cienciaviva.pt/veraocv/engenharia/eng2008/index.asp?accao=showactivconcelho&id_concelho=462,  acedido em 3.2.2014



-Etimologia de semáforo e semafórico em http://letratura.blogspot.pt/2006/02/etimologia-semforo.html, acedido em 30.1.2014


-Nossa Senhora do Facho – Monte do Facho – Barcelos - http://jornaloliveira.blogspot.pt/2007/06/senhora-do-facho.html, acedido em 29.1.2014

-Plano de Atividades 2013 do Instituto Português do Mar e da Atmosfera - http://www.ipma.pt/export/sites/ipma/bin/docs/institucionais/plano_actividades_ipma_2013.pdf, acedido em 28.1.2014


Posted: segunda-feira, 3 de Fevereiro de 2014 1:04 por AlfredoRamosAnciaes Editar

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