No século VIII a.C. já se fazia uso de cristais naturais que permitiam ampliar a visão.
Nos inícios do século XI, há cerca de mil anos, o Árabe Ibn al-Haytham escreve um tratado em sete volumes sobre a ótica e a luz. Estamos, pois, nos alvores da ciência que levará até ás telegrafias e telecomunicações modernas.
Por volta do século XIII começa a utilização de cristais moldados / lapidados permitindo aumentar a visão e a nitidez dos objetos usados como sinais. Daí aos telescópios (do grego "tele" = longe + “scopio” = observar) por vezes também designados teodolitos, monóculos, óculos, foi um crescendo na evolução do aperfeiçoamento e do conhecimentos das tecnologias óticas.
Em 1608, aparece o nome do
neerlandês Hans Lippershey que se torna não num simples artesão de peças únicas, mas sim num "fabricante" de lentes de peças em série; na altura
concebidas para fins bélicos, antes mesmo da adoção à astronomia e às telecomunicações.
Logo no ano seguinte (1609) aparece o nome de Galileu Galilei utilizando estes instrumentos visuais adotados na astronomia. Daí em diante o uso das lentes de aumento é uma realidade. No século XVIII esta tecnologia usada para ver/espreitar/espiar ao longe, desperta curiosidades.
Porém, até aqui, estamos no domínio praticamente exclusivo da receção. Ora receber, não é o mesmo que telegrafar/comunicar. Recebendo, estamos apenas a captar sinais e informação. Não há ainda "feedback", isto é, uma "reação" / resposta e contra-resposta imediata. Não há, pois, telecomunicação propriamente dita, embora haja ciência e pronúncios de comunicação.
No século XVII em que a ciência desperta com mais intensidade, eis que surge um dos precursores do telégrafo. Foi, seguramente, o físico e astrónomo inglês – Sir Robert Hooke, que no século XVII terá sido “le premier à faire un exposé clair et cohérent de la télégraphie visuele (dans un discours prononcé en 1684 à la Royal Sociéty […]” (1). Robert Hooke chega a apresentar vários detalhes das suas experiências.
Contudo, era ainda cedo para pôr em funcionamento um telégrafo. Ninguém fazia ideia da aplicação que viria a ter a telegrafia, e a sociedade também não estava preparada para inventos que, na altura, mais pareciam mais curiosidade particular do que hipotéticos recursos com aplicação prática na Sociedade.
Em França surgem os telégrafos visuais (não-elétricos) dos irmãos Chappe auxiliados pela óptica.
Em Portugal são os telégrafos visuais inovados por Francisco António Ciera, natural de Lisboa, com imagens ampliadas por telescópios, também chamados óculos de marinha por serem utilizados por esta Arma Militar.
Logo no ano seguinte (1609) aparece o nome de Galileu Galilei utilizando estes instrumentos visuais adotados na astronomia. Daí em diante o uso das lentes de aumento é uma realidade. No século XVIII esta tecnologia usada para ver/espreitar/espiar ao longe, desperta curiosidades.
Porém, até aqui, estamos no domínio praticamente exclusivo da receção. Ora receber, não é o mesmo que telegrafar/comunicar. Recebendo, estamos apenas a captar sinais e informação. Não há ainda "feedback", isto é, uma "reação" / resposta e contra-resposta imediata. Não há, pois, telecomunicação propriamente dita, embora haja ciência e pronúncios de comunicação.
No século XVII em que a ciência desperta com mais intensidade, eis que surge um dos precursores do telégrafo. Foi, seguramente, o físico e astrónomo inglês – Sir Robert Hooke, que no século XVII terá sido “le premier à faire un exposé clair et cohérent de la télégraphie visuele (dans un discours prononcé en 1684 à la Royal Sociéty […]” (1). Robert Hooke chega a apresentar vários detalhes das suas experiências.
Contudo, era ainda cedo para pôr em funcionamento um telégrafo. Ninguém fazia ideia da aplicação que viria a ter a telegrafia, e a sociedade também não estava preparada para inventos que, na altura, mais pareciam mais curiosidade particular do que hipotéticos recursos com aplicação prática na Sociedade.
Em França surgem os telégrafos visuais (não-elétricos) dos irmãos Chappe auxiliados pela óptica.
Em Portugal são os telégrafos visuais inovados por Francisco António Ciera, natural de Lisboa, com imagens ampliadas por telescópios, também chamados óculos de marinha por serem utilizados por esta Arma Militar.
Quando
a França, pós 1789, necessita de comunicações rápidas e seguras, estando cercada
das forças que se opunham à Revolução, tais como: a Inglaterra, Países Baixos,
Prússia, Áustria e Espanha, essa situação incentiva o abade Claude Chappe com
o auxílio de seus irmãos, a dedicar-se, a partir de 1790, à tarefa de conceber
e experimentar o telégrafo que fica conhecido pelo nome desta família.
Em 1794
Claude Chappe obtem autorização para instalar uma rede de equipamentos
relativos ao seu invento. A primeira notícia que se lhe refere designa-o por
“télégraphie aerien” (telegrafia aérea) (2). Essa notícia é publicada na
Gazeta Nacional de Paris (24.3.1792).
Um sobrinho de Claude Chappe apresenta o invento à Assembleia Legislativa, evidenciando as vantagens do sistema. A Assembleia examina este novo serviço de telecomunicação e concluu na sessão legislativa de 1.4.1793, do seguinte modo:
Um sobrinho de Claude Chappe apresenta o invento à Assembleia Legislativa, evidenciando as vantagens do sistema. A Assembleia examina este novo serviço de telecomunicação e concluu na sessão legislativa de 1.4.1793, do seguinte modo:
“Dans tous
les temps, on na senti la necessité d`um moyen rapide et sûr de correspondre à
de grandes distances. C`est surtout dans les guerres de terre e de mer qu`il
importe de faire connaître rapidement les événements [et…] de transmettre des ordes
[…]» (3).
(imagem
e legenda in expo e ciclo de colóquis do
250º aniversário do nascimento de Francisco António Ciera, em Torres Vedras, 2013)
As
circunstâncias, em França, urge para uma tomada de posições de defesa e ao
recurso de novas tácticas e técnicas aplicadas na guerra. No contexto de
pressão das potências europeias à França revolucionária que ameaçava as
legitimidades monárquicas, aprova-se a entrada em serviço de uma rede de telecomunicação
com telégrafos visuais (também conhecidos por telégrafos aéreos, como vimos
acima) e ainda designados por telégrafos semafóricos e telégrafos ópticos em outras descrições.
Quando
Robespierre e outros dirigentes visualizam a demonstração do telégrafo, em 1793, reconhecem,
nesta tecnologia, o valor potencial deste aparelho na guerra contra a Grã-Bretanha, a Holanda e a
Prússia – e logo no ano seguinte passam a utilizar este equipamento (4).
Os
irmãos Chappe trabalham com devoção no projecto, mas ao cabo de dois anos,
estando já instalado um engenho na praça de L´Etoile, em Paris, este mesmo
engenho foi destruído por uma turba, persuadidos de que o sistema se tratava de
um meio de telecomunicação com o rei que, ao momento, se encontrava detido,
dada a situação revolucionária. Os trabalhos não terão parado por muito tempo,
uma vez que temos a indicação de, ainda em 1793 ter sido Claude Chappe nomeado
engenheiro e encarregado de instalar uma cadeia de estações telegráficas que
iriam de Paris até Lille, distando várias centenas de quilómetros, linha esta inaugurada em 1894, daí a capicua do 222º
anos, em 2006/2017, que aqui se evoca.
De aí em diante constroem-se
torres e aproveitaram-se edifícios altos pré-existentes, tais como: atalaias, torres de castelos, torres de igrejas, entre outros equipamentos.
No alto dessas construções (penso que foi daí que derivou o conceito/designação de telegrafia aérea) instala-se um poste vertical com uma barra horizontal, à maneira de cruz, mas movendo-se os braços sobre eixos, sendo os braços accionados por cordas.
No alto dessas construções (penso que foi daí que derivou o conceito/designação de telegrafia aérea) instala-se um poste vertical com uma barra horizontal, à maneira de cruz, mas movendo-se os braços sobre eixos, sendo os braços accionados por cordas.
Os
postos da cadeia destes telégrafos, situados numa média de 10 a 12 km, entre
si, possibilitam a recepção dos sinais visuais com o auxílio de um monóculo
ou binóculo de aumento, como acima vimos. Penso derivar daí o conceito/designação de telegrafia
óptica.
O
telégrafo visual de Chappe era considerado na época muito rápido.
«[…] Un
signal a été transmis à Plymouth puis renvoyé (à Londres) em trois minutes, ce
qui pour le traject télégraphic utilisé represente un parcours d`au moins 500
milles. […] La vitesse de transmission a été de 170 milles à la minute […] c`est-à-dire
[…] une rapidité absolument extraordinaire! (5).
Em
Portugal o telégrafo visual de Claude Chappe não nos parece ter sido adoptado. A
França napoleónica invade Portugal por três vezes, sendo que na primeira (1808)
chegam mesmo a estabelecer um Governo em Lisboa e publicam leis, durante os
meses que estiveram entre nós. Poderiam os invasores ter pensado em introduzir o sistema
telegráfico. Não parece que o tenham feito. Uma das causas deve ter sido a
dificuldade de trazerem ou construírem pesadas estruturas durante as campanhas.
Esta distração dos franceses, em relação a Portugal foi um erro dos invasores, do nosso ponte de vista. Com mais visão técnica, ingleses e portugueses adotaram, por altura da terceira invasão, mais que um sistema telegráfico. Dois sistemas portugueses são introduzidos como alternativos ao sistema introduzido pelos ingleses. Os telégrafos portugueses de Francisco António Ciera, por serem mais leves e de transmissão e recepção dos sinais mais fácil e mais rápida são os preferidos.
Esta distração dos franceses, em relação a Portugal foi um erro dos invasores, do nosso ponte de vista. Com mais visão técnica, ingleses e portugueses adotaram, por altura da terceira invasão, mais que um sistema telegráfico. Dois sistemas portugueses são introduzidos como alternativos ao sistema introduzido pelos ingleses. Os telégrafos portugueses de Francisco António Ciera, por serem mais leves e de transmissão e recepção dos sinais mais fácil e mais rápida são os preferidos.
(imagem
e legenda in expo e ciclo de colóquis do
250º aniversário do nascimento de Francisco António Ciera, em Torres Vedras, 2013)
Em nota
de conclusão. As guerras da França com outros países aguçaram o engenho das
tecnologias de comunicação. As forças francesas, por serem constituídas essencialmente
de unidades móveis, contra posições essencialmente fixas e recentemente apetrechadas
com sistemas de comunicação à distância, mais ligeiros do que o sistema de
Chappe, vieram dar mais possibilidades de coordenação e informação entre as
tropas locais, como aconteceu nas linhas de Torres Vedras. As tecnologias de telecomunicação
são doravante uma arma indispensável.
As lutas de confronto físico directo começam a ser alongadas, tal como as comunicações face-a-face dão lugar a comunicações à distância.
As lutas de confronto físico directo começam a ser alongadas, tal como as comunicações face-a-face dão lugar a comunicações à distância.
Não
deixa de ser irónico. A França que mais se destacara, construindo as primeiras
redes de telecomunicações, dignas desse nome, e a primeira linha de grande extensão de Paris a
Lille (inaugurada em 1894), começa a ser derrotada em Portugal com o auxílio também das telecomunicações,
entretanto desenvolvidas pelos opositores, nomeadamente os telégrafos portugueses, os mais leves e, em nossa opinião, mais fáceis de operar.
Notas:
1-O sublinhado é nosso; Sobre Robert Hook: Du Sémaphore au Satellite. Ed. L` Union
International des Télécommunications. Genève, 1965, p 11. V. ainda https://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Hooke
: “He [Robert Hook] built some of the earliest Gregorian telescopes and observed the rotations
of Mars and Jupiter [...] He investigated the phenomenon of refraction,
deducing the wave theory of light, [...]”.
(2)Telegrafia visual no sentido
da transmissão e recepção de sinais vistos à distância, entre postos
transmissores e retransmissores.
(3)ETENAUD, Alfred – La
Télégraphie Électric. Montpelier: Centrale du Midi, Ricateau, Hamelin et Cie.,
1872, p. VII
(4)Cf. READERS`s Digest de
Portugal. Lisboa, 1983, p. 312
(5)UIT – União Internacional de Telecomunicações et al.
- Du Sémaphore au Satellite, ob. cit., p. 16
Fontes:
-ANCIÃES, Alfredo Ramos – Investigação
e Organização da Telegrafia do Museu dos CTT. Seminário de Biblioteconomia e
Arquivologia. Lisboa: Universidade Autónoma de Lisboa – Luís de Camões,
1987/1988, 85 pp. ------- -Patrimónios
& Comunicações. Colóquio temático promovido pela C.M.Lisboa, et al.: Utopias na Viragem do Milénio, 1999
-ETENAUD, Alfred – La Télégraphie Électric en France et en
Algerie, Depuis son Origine Jusqu`au 1er. Janvier 1872 Précedée d`une Notice
Sur la Télégraphie Aérienne. Montpelier: Centrale du Midi, Ricateau,
Hamelin et Cie., 1872. Disponível no CDI da Fundação Portuguesa das
Comunicações, Lisboa e também em linha.
V. entrada infra
-VARÃO, Isabel – Telegrafia Visual: Uma Tecnologia do Séc. XIX? Códice, nº 12. Lisboa: Fundação Portuguesa das Comunicações, 2003, p. 55. ------- – Os Telégrafos Antes do Telégrafo: Apontamentos. Códice, nº 10. Lisboa: Fundação Portuguesa das Comunicações, 2002, p. 55-62
-VARÃO, Isabel – Telegrafia Visual: Uma Tecnologia do Séc. XIX? Códice, nº 12. Lisboa: Fundação Portuguesa das Comunicações, 2003, p. 55. ------- – Os Telégrafos Antes do Telégrafo: Apontamentos. Códice, nº 10. Lisboa: Fundação Portuguesa das Comunicações, 2002, p. 55-62
Em linha -
-ADDPCTV, et
al – Uma Figura a Lembrar: Francisco António
Ciera
http://linhasdetorres.blogspot.pt/2014/11/uma-figura-lembrar-francisco-antonio.html
-AFONSO, Aniceto (Cor); ALVES, C (MGen); CANAVILHAS, J.
Manuel (Cor); DIAS, J. Martins (Cor); ALVES, J. Martins (Cor); CASTRO, Pinto de
(Cor); FERNANDES, M. Cruz (Cor); SILVA (Sarg) -
História das Transmissões Militares https://historiadastransmissoes.wordpress.com/category/historia/page/7/
-ANCIÃES, Alfredo Ramos – Telegrafia Tradicional Não-Eléctrica e o Luso Contrubuto
de Francisco António Ciera http://cumpriraterra.blogspot.pt/2015/01/30-telegrafia-nao-eletrica-e-o-luso.html
-CANAVILHAS, J. Manuel (Cor); O Posto de
Sinais do Monte Brasil, Angra do Heroísmo, Ilha Terceira - https://historiadastransmissoes.wordpress.com/2012/01/31/o-posto-de-sinais-do-monte-brasil-angra-do-heroismo-ilha-terceira/
-CRIATIVE Commons, et
al - Telégrafo Óptico de Claude
Chappe https://pt.wikipedia.org/wiki/Claude_Chappe ------- Robert Hooke https://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Hooke
-ETENAUD, Alfred – La Télégraphie Électric en France et en
Algerie, Depuis son Origine Jusqu`au 1er. Janvier 1872 Précedée d`une Notice
Sur la Télégraphie Aérienne. Montpelier: Centrale du Midi, Ricateau,
Hamelin et Cie., 1872 https://books.google.pt/books?id=mtYOAwAAQBAJ&pg=PA3&lpg=PA3&dq=Alfred+Etenaud+La+T%C3%A9l%C3%A9graphie&source=bl&ots=og30HCvs8D&sig=SgURRbA4F5kpRIM4VUNKsjFzSWw&hl=pt-PT&sa=X&ved=0ahUKEwjE7uWfxZjOAhXMWxQKHbBdDGUQ6AEIIzAB#v=onepage&q=Alfred%20Etenaud%20La%20T%C3%A9l%C3%A9graphie&f=false
-LIMA, Pedroso (MGen) - A Comemoração
dos 250 Anos do Nascimento de Francisco António Ciera em 2014 https://historiadastransmissoes.wordpress.com/2015/10/28/a-evolucao-do-conhecimento-da-telegrafia-otica-na-ultima-decada/
-METRONEWS, et al -
250.º Aniversário do Nascimento de
Francisco Ciera Está a Ser Comemorado em Torres Vedras, promovido pela
C.M.Torres Vedras et al. http://www.metronews.com.pt/2013/10/01/250-o-aniversario-do-nascimento-de-francisco-ciera-esta-a-ser-comemorado-em-torres-vedras/
-UIT União Internacional de Telecomunicações; MICHAELIS, R. Anthony; GROSS,
Gerard C. et al – Du Sémaphore au Satellite. Genève, 1965; disponível
também em linha - http://www.itu.int/dms_pub/itu-s/oth/02/0B/S020B0000094E24PDFF.PDF
-UNICAMP.Br et al – Semáforo
Óptico de Claude Chappe http://www.dsif.fee.unicamp.br/~moschim/cursos/history/chappe.htm ------- - Gregorian
Telescope https://en.wikipedia.org/wiki/Gregorian_telescope
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