quinta-feira, 7 de julho de 2016

34. MINHAS MEMÓRIAS

Do Museu dos CTT Rés-do-Chão da Rua de D. Estefânia entre Abril de 1983 e Maio de 1985
 
“Senhor:
posto que o capitão-mor desta vossa frota,
e assim os outros capitães escrevam a
Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa
terra nova, que ora nesta navegação se achou,
não deixarei também de dar disso minha conta
a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder,
ainda que --para o bem contar e falar--
o saiba pior que todos fazer” [...] (1)


Neste piso encontravam-se os serviços técnicos de Filatelia e organização de exposições itinerantes, bem como um serviço de documentação.
Seguia-se um pequeno jardim com cerca de 300 m2. Situado nas traseiras do edifício, entre este e o pavilhão da Mala-Posta. Revelava este jardim um interesse didático, como local de introdução ao espaço expositivo do referido pavilhão da Mala-Posta, bem como uma síntese da atividade de transporte do correio via terrestre e via marítima.

Nos quatro painéis de azulejos da fachada do pavilhão, frente ao jardim, podia observar-se um painel com a Nau de Gaspar de Lemos que transportara a célebre Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão oficial que seguia na Armada de Pedro Alvares Cabral, para o rei D. Manuel I. Acto que simbolizava o primeiro transporte de correio a longa distância, do continente americano para Portugal.

Outro painel apresentava a primeira Ambulância Ferroviária Postal Portuguesa. O terceiro painel representava um acto simbólico de idealismo, sonho e realidade. Tratava-se da imagem da “Passarola Voadora” de Bartolomeu Lourenço de Gusmão; prestava homenagem a este português nascido nas Terras de Vera Cruz e funcionava como introdução ao transporte do Correio Aéreo.

Ainda no jardim encontravam-se quatro réplicas de marcos, em pedra, de sinalização de caminhos, nomeadamente para a carruagem da Mala-Posta, cujos locais de fixação eram:
1 – Ota, 2 Castanheira do Ribatejo, 3- Cercal, 4- Caldas da Rainha.
De curiosidade é o facto de esses marcos estarem equipados com relógios de sol que permitiam aos passantes e viajantes informarem-se do decorrer do tempo, em dia de sol. Este pormenor revelava curiosidade, sobretudo nas visitas escolares. (2)

Ao fundo do jardim situava-se o Pavilhão da Mala-Posta. Com as dimensões aproximadas de 11,10x17,30 m2. Neste pavilhão figuravam peças originais, ou seja, as diligências mistas do primeiro transporte público de carreira em Portugal para passageiros e correio. Além desta coleção, estavam presentes alguns quadros de viaturas automóveis, algumas das quais usadas ao tempo da abertura da exposição do pavilhão, em 1975.

Também havia expostos alguns exemplares de fardamentos de carteiros, de várias épocas. Interessante igualmente se revelava um quadro, pintura a óleo, de José Pedro Roque, 1973, onde na realidade incluía quatro cenas correspondentes a quatro momentos da viagem da Mala-Posta e ainda o mapa de Portugal indicando o percurso da Mala-Posta do Carregado até ao Porto, com as respetivas Estações de Muda (3) incluindo as refeições e a pernoita, nalguns casos. Este quadro revelava-se um dos espécimes de maior valor didático do Museu dos CTT, dado apresentar as fases mais importantes do percurso da Mala-Posta. O quadro podia ser comparado com os espécimes autênticos de carruagens da época (primeiro transporte público de carreira para passageiros e correio) e com uma miniatura de Raul Campos, 1954, referente ao edifício da Estação de Muda de Casal dos Carreiros, situada entre Caldas da Rainha e o Cercal.

Obs.: Do Museu dos CTT ...  continua em próximo post

Notas:

(1)Primeiro parágrafo da Carta de Pero Vaz de Caminha, enviada ao rei D. Manuel I aquando do descobrimento da Terra Nova ou de Vera Cruz no dia 1º de Maio de 1500. A divisão métrica/linear é nossa.

(2) Com o encerramento do Museu dos CTT na Estefânia, estes paineis e marcos foram trasladados para o Museu da Fundação Portuguesa das Comunicações na Rua de D. Luís I / Rua do Instituto Industrial.

(3)Estações de Muda eram os edifícios quase standard existentes no percurso para a muda dos cavalos (daí o nome) substituindo os cansados por outros, a fim da viagem poder prosseguir a bom ritmo. Estas Estações serviam também para descanso dos passageiros e algumas para pernoita.
 
Fontes auxiliares:
-ANCIÃES, Alfredo Ramos - O Museu dos CTT. Lisboa: Arquivo UNL, 1988/1989. Disponível também em Arquivo do Grupo dos Amigos do Museu das Comunicações.
-CAMINHA, Pero Vaz de; Biblioteca Nacional in  http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf, acedida em 20.2.2015

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Comentário de Alfredo Ramos Anciães em 24 fevereiro 2015 às 12:22
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Os últimos 20 anos foram, de facto, um boom no desenvolvimento das comunicações, especialmente as telecomunicações e a telemática. Confirma-se o que venho dizendo que as Comunicações estão presentes em quase tudo.

Quase todo o universo comunica: Reino animal, vegetal e quiçá o mineral.

Esta temática poderá levar longe o desenvolvimento do conhecimento e do entendimento. Mais gente precisa-se a trabalhar nestes assuntos e, não só nas tecnologias porque dão lucro.

Ótima semana.

AA
Comentário de Alfredo Ramos Anciães em 23 fevereiro 2015 às 18:43
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“[...] E assim seguimos nosso caminho, por este mar,
de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa,
que foram 21 dias de abril, estando da dita Ilha
obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam,
topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita
quantidade de ervas compridas, a que os mareantes
chamam botelho, assim como outras a que dão
o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte,
pela manhã, topamos aves a que chamam
fura-buxos” [...]. (in Carta de Pero Vaz de Caminha. -  a divisão linear é nossa)

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