terça-feira, 12 de julho de 2016

80. O NASCIMENTO DA EUROPA


Recorro a Bento de Núrsia, região de Úmbria, Itália, onde terá nascido por volta do ano 480. Filho de uma família romana com qualidade de vida. Impelido pelos novos “ventos” de povos a que também chamam bárbaros, que se deslocam das periferias para o império romano.
 (Divisa Capital do Patriarca da Europa)

Tudo indica que a família do adolescente e futuro São Bento tem, com muita probabilidade, escravos ou servos ao seu serviço. Como nobres romanos das periferias, os pais mandam o filho estudar para a capital. Mas, nessa altura, Roma tinha caído em poder e em dissolução de costumes.

Bento vive tempos únicos. Assiste ao derrube do Império Romano do Ocidente. Ao ver o estado a que chegara o poder do Império reage. Não pega em cavalo e espada, porque isso seria irrelevante perante a invasão de tantos bárbaros por vários cantos do Império. Os senhores estão acostumados a mordomias de servidão, rendas, coliseus, termas e ginásios.

Pelas periferias entram bárbaros, alguns dos quais com autorização, e vêm instalar-se onde se julgam mais seguros ou com melhores possibilidades para viver. O paralelo com a atualidade, não é de todo despiciendo. O Império e as famílias começam a ficar exaustos, amolecidos e com vícios.

O que Bento vê, não lhe agrada. Reage, afasta-se para lugares ermos, para meditar, livre de confusões. Vê e/ou intui de que um fim inédito está para acontecer. Roma que começa a sua expansão em 275, antes da era cristã, cai em 476, passados cerca de 750 anos. Mantem-se o distante império romano do oriente que dura mais 977 anos.

Bento afasta-se de Roma. Vai primeiro para a localidade de Subíaco na região do Lácio, onde reúne discípulos. Transfere-se para a localidade de Montecassino onde funda um mosteiro e escreve as célebres regras para viver em comunidade.

O número 12 é representativo para Bento, talvez pela associação aos 12 apóstolos e às 12 tribos de Israel. Os 12 conventos criados por Bento são habitados por 12 monges. Para seu governo e organização escreve um conjunto de regras, a maioria das quais decalcadas das escrituras bíblicas, Antigo e Novo Testamentos. O modelo é replicado pelo espaço europeu. Bento influencia, não só as comunidades monásticas, bem como a sociedade em transformação, depois da invasão e partilha de terras e poderes com os bárbaros que, paulatinamente, são convertidos ao cristianismo.

As regras influenciam as sociedades, carentes de organização, método e referências de coesão. Daí, o facto de Bento ter sido proposto e reconhecido como padroeiro de várias localidades, ao longo dos séculos; e da Europa, em geral.

Esta similitude de tempos, onde se extingue um modelo de Império e de Poder, pela dissolução de valores e de disciplinas; a chegada de novos povos e a necessidade de uma reorganização cultural, coesão e valores parece-me pertinente para trazer à colação a figura de Bento.

As Regras que Bento cria e/ou adapta não são uma Constituição para todos os povos e panaceias. Contudo a disciplina, a moral, a ética e a religião que das Regras emanam, não serão despiciendas para as populações e as sociedades, carentes em meu entender, de valores e alternativas.

Se o conjunto de valores, preceitos, letras e artes preservados e difundidos estão na base da génese da Europa, herdeira também da romanidade; será, porventura, tempo de novas reflecções, inclusive a partir das ideias de Bento.


Vou, pois, aqui salpicar um resumo de alguns preceitos do Regulamento de Bento, desdobrado em prólogo e divisões:

«Estrutura do mosteiro; arte espiritual; oração; organização; o mosteiro e suas relações com o mundo; renovação da comunidade monástica; porta do mosteiro e clausura; acréscimos e complementos.

Estas divisões desdobram-se em capítulos e regras.

Respigando a regra 1:

Despertar: «Escuta os preceitos do mestre […]. Já é hora de nos libertarmos do sono» (Rom 13,11).

Aviso e paz: «[…] Guarda a tua língua de dizer o mal […] procura a paz e segue-a» (Salmo 33, 13-16).

Simplicidade: «[…]Senhor, quem habitará […] na vossa montanha santa?»: (Salmo 1) […] «É aquele que caminha sem mancha e realiza a justiça […] (Salmo 14, 2-3), aqueles que temendo o Senhor, não se tornam orgulhosos […]»

Da Regra 2:

Discriminação: «Que não seja feita por ele [abade] distinção de pessoas no mosteiro;

Que um, não seja mais amado do que o outro […] ”porque não há em Deus acepção de pessoas” (Rom 2, 11).

Justiça/equidade: «Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça e todas as coisas serão dadas por acréscimo» (Mt 6, 33).

Conselho: «Ninguém no mosteiro […] ouse discutir insolentemente […] Faze tudo com conselho e depois de feito não te arrependerás» (Prov 31,3).

Para outras Regras veja DIAS, Gerardo J. A. Coelho, fontes em linha, infra indicadas.

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Fontes em linha:

-DIAS, Gerardo J. A. Coelho - Regras de São Bento http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2278.pdf

-Wikipédia et al - Ano 275 antes da era cristã: Início das conquistas romanas - https://pt.wikipedia.org/wiki/275_a.C. ; Ano 410 d. C.: Saque de Roma pelos bárbaros Visigodos - https://pt.wikipedia.org/wiki/Saque_de_Roma_(410) ; Ano 476: Invasão de Roma pela tribo germânica, bárbaros Hérulos. - https://pt.wikipedia.org/wiki/Odoacro ; 1453: Invasão de Constantinopla / império romano do oriente pelos otomanos - https://pt.wikipedia.org/wiki/1453 ; S. Bento de Núrsia -  https://pt.wikipedia.org/wiki/Bento_de_N%C3%BArsia

-Santo protetor - São Bento - http://www.santoprotetor.com/sao-bento/

-SPNC - S. Bento: Padroeiro da Europa e da diocese de Bragança-Miranda - http://www.snpcultura.org/sao_bento.html

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