Novo Livro
“A Dinâmica da População no Desenvolvimento de Moçambique” / Manuel de Azevedo Antunes. Lisboa: Ed. CPES – Centro de Pesquisa e Estudos Sociais da ULHT – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2015; O design da capa é de Ana Moutinho.
O autor é natural da ex aldeia comunitária Vilarinho da Furna. Como pessoa chega a ser desconcertante pela simplicidade e boa disposição. Valores que só se encontram em figuras de invulgar padrão humano e cultural. Estas palavras podem parecer laudatórias e de conveniência. Contudo trata-se apenas de uma constatação verificada ao longo de mais de duas décadas.
Conheci o professor Manuel Antunes nas lides da Museologia. Desde o primeiro dia em que contactámos pressenti algo de notável na simplicidade e nobreza de caráter. Em princípio ainda pensei que se tratasse apenas de mais uma pessoa bem-disposta mas, com o tempo e a análise da sua obra, vi que a simplicidade se ajustava com o saber que transcende o mero conhecimento da cultura académica.
Uma aldeia grande e antiga (como era Vilarinho da Furna) é parecida a uma Universidade, mais pelo saber do que pelo conhecimento. Na aldeia partilhava-se cultura e informação através das artes e ofícios, escola, serviço religioso, junta de freguesia, associações de interesses comunitários; nomeadamente na gestão dos baldios, gados, produtos da terra, festas e resolução de conflitos.
Foi neste cadinho, técnico e cultural, de aldeia comunitária que o professor Manuel Antunes começou a desenvolver o seu saber e personalidade.
Com vária obra publicada, refletida na Sociologia, Demografia, Ciência Política, Ciências da Computação, Informação e Museologia. Três formaturas e um doutoramento; passou por universidades de Lisboa e Paris (a Sorbonne), onde adquiriu um curriculum académico notável, como estudante.
Já como professor e formador passou pela Guiné Bissau, Universidades de Lisboa; de Eduardo Mondlane no Maputo – Moçambique, onde também iniciou os trabalhos que viriam a ser publicados na sua tese de doutoramento.Muitas outras, obras e artigos, publicou.
Sobre a última obra, editada em 2015 "A Dinâmica da População no Desenvolvimento de Moçambique” vou tecer aqui umas ligeiras notas:
Brilhantemente apresentada/moderada “pelo amigo comum – o professor Carlos Carranca na Galeria Tintos e Tintas, Avenida Duque d`Ávila, 120, Lisboa, no dia 29 de outubro.
A edição tem 545 páginas, uma feliz capicua e um volume considerável para um trabalho que levou vários anos com investigações em Arquivos, Universidades e muita pesquisa no terreno junto das pessoas e localidades moçambicanas.
O termo população que entra logo no título, não acontece por acaso. Note-se que o autor dedica a página 7, exclusivamente para a expressão e abold:
«Ao Povo de Moçambique»
Nesta obra de desconstrução de algumas ideias feitas, abordam-se novas pistas com o saber, de experiência feito, pela vivência e envolvimento com a Terra e as Populações. O autor parte, certamente, da experiência comunitária a que assistiu nos tempos de infância e juventude em Vilarinho - aldeia que, infelizmente, não sobreviveu à voragem do progresso energético.
Analisa não só o conceito e realidade do desenvolvimento, enquanto crescimento económico tradicional, cuja temática é conhecida dos manuais de economia mas acrescenta-lhe um ponto importante. E fá-lo com inovação, tendo desenvolvido novos métodos de abordagem e computação, com indicadores e índices, de socialização/educação, saúde, demografia e a relação com o “bem-estar da população, em harmonia com a natureza”.
A obra tem a curiosidade de começar na página zero (0), e não 1 (um), e tem também uma parte zero. Referiu o autor na sua apresentação que o zero introduzido aquando da numeração árabe é muito importante, pois tanto o zero, como a restante numeração árabe, pós romana, trouxeram a possibilidade de quantificar e analisar conjuntos de dados que seria difícil ou mesmo impossível com a numeração precedente. Tal atitude da parte do autor deve-se, possivelmente, à consideração pelo contributo dos povos árabes que, também, passaram por Moçambique.
Descreve vários termos e conceitos, às vezes desconstruindo certos tipos ideográficos, como exemplo a “palavra civilização, mais ou menos eivada de preconceitos etnocentristas” (cf. p. 90-91)
Os apresentadores versaram sobre o que pode ser considerada a informação entrelinhas e sobre o contexto da investigação e realização, por exemplo de que a obra não teria sido possível se o autor não tivesse estado vários anos em Moçambique, na investigação e ensino, depois da independência.
Trata-se de um caso de estudo interessante dos pontos de vista: da geografia humana, recursos naturais, economia e cultura. A finalidade é o estudo relacionado com o desenvolvimento das populações, tendo em conta a meta para a sustentabilidade.
Contudo, o autor finaliza com a expressão de que “Moçambique continua nas encruzilhadas do desenvolvimento.” (cf. p. 433), significando que, face às condições atuais e de globalização crescente, Moçambique ainda tem de recorrer à economia baseada na exploração de produtos e energias não renováveis.
Apresenta uma obra que estudou, social e cientificamente, a contemporaneidade de Moçambique e lança perspetivas de futuro, onde a felicidade das populações e a sustentabilidade da Terra, Pessoas e recursos podem desenvolver-se em harmonia.
Uma nota já fora do contexto da obra. Penso que o autor na realização deste livro também foi influenciado pela Nova Museologia, Social e Comunitária levada a cabo pelo Movimento Internacional para uma Nova Museologia e pela Universidade Lusófona, onde o professor Manuel Antunes tem dado ao longo de cerca de três décadas um importante contributo e assistido a muitas jornadas de formação nas autarquias de Portugal e no exterior.
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Fontes:
ANTUNES, Manuel de Azevedo - A Dinâmica da População no Desenvolvimento de Moçambique. Lisboa: Ed. CPES – Centro de Pesquisa e Estudos Sociais da ULHT – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2015 ;
Em linha: curricular: http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=7878867127558492
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