Que as comunicações a teu mando
Dos Açores até ao Minho
Percorram o bom caminho
Para Portugal valorizar,
Comunicar, quiçá alumiar,
Fazendo jus e glória
A séculos da nossa História.
Desde o interesse da Altice Group na PT SGPS onde Armando Pereira tem uma participação de relevo, achei possível e curial a compra e aliança entre capitais, tecnologias e recursos humanos lusos e franceses. Na impossibilidade de recuperarmos a PT para a esfera pública; que ela fique em mãos de países e de gente com proximidades, com a qual mantemos fortes relações económicas e sem complexos históricos de parte a parte, não obstante as guerras peninsulares de inícios do século XIX.
Para lá da relação de confiança entres os dois países, o protagonista Armando Pereira é um homem prático que subiu a pulso, “comeu o pão que o diabo amassou”. Creio que é um amigo da terra natal, de Portugal e de França. Estará interessado em que a ex PT SGPS, agora denominada Pharol SGPS SA, tenha sucesso. Sabemos que as ações da bolsa não têm valorizado. Mas se a situação anterior se mantivesse, cremos que o resultado seria pior. Haja esperança e confiança e os bons resultados poderão aparecer.
Deixo aqui algumas notas históricas sobre os precedentes da Empresa para que o orgulho, no bom sentido, seja de novo exaltado. Vem isto a preceito da nova empresa se chamar PHarol, o que, em certo sentido, é uma visão sobre as origens; visão essa, projetada no futuro, porque não há futuro sem um bom alicerce no passado.
A História organizada das comunicações, de interesse público, tem origem nos Pharoes (faróis na grafia atual). O 2º Director-Geral dos Correios e 1º Director-Geral dos Correios, Telegraphos e Pharoes – Guilhermino Augusto de Barros escreve no seu relatório e memória histórica de 1889 que “O seculo XVI, em que a nossa glória de navegadores tocou o apogeu, marca, segundo parece, a epocha provável da iniciação do alumiamento de alguns pontos da costa do continente portuguez”. (1).
Sabemos que o início da atividade documentada dos Faróis, em Portugal, precedeu cerca de quatro anos a entrada dos Correios públicos. “A primeira noticia que temos de pharoes refere-se a 1515”. BARROS refere como fonte a “Chronologia da Piedade” por fr. Manuel de Monforte, pág. 194 a 197, 200, 201 a 214:
“Parece que o primeiro pharol da costa de Portugal foi construído no Cabo de S. Vicente. D. Fernando Coutinho, bispo do Algarve, levado, talvez, d`estes impulsos de humanidade, mandou construir uma torre de pharol no convento de S. Vicente ao cabo do mesmo nome […]” (2).
Por esta altura os Faróis ainda eram rudimentares, não possuíam lentes de aumento e a iluminação não era elétrica. Funcionavam com combustíveis tradicionais: lenha, cebo e azeite. Mas foi o início de uma atividade que nunca mais cessou e também do ponto de vista tecnológico. Em princípio, eram as irmandades que se ocupavam dos Faróis, por questões de humanidade, para evitar naufrágios e acidentes.
Farol de Santa Marta, Cascais, hoje ativo, também musealizado e animado
Em fase posterior são entregues à Marinha portuguesa. Depois passam para os Correios Telegraphos e Pharoes; novamente para a Marinha e, um dia, no futuro, quem sabe se não serão geridos pela atividade privada, tal como acontece com os correios e as telecomunicações, cujas atividades eram estatais. Contudo, a convicção e tradição era de que os correios e as telecomunicações nunca poderiam passar para a esfera privada por constituírem um poder e também um perigo para a inviolabilidade das correspondências.
Em 1520, D. Manuel cria o ofício de Correio-mor. Em 1525 o cargo é ocupado, já no reinado de D. João III. Por razões de falta de dinheiros públicos, tal como na atualidade, este ofício foi privatizado e vendido por Filipe II em 1606 ao Correio-Mor Luís Gomes da Matta, a título hereditário. Luís Gomes da Matta era de família de origem judia com imensa riqueza. Esta família vem de Espanha, onde utilizava o apelido de Coronel. Terá sido expulsa de Espanha pelos reis católicos. Com a mudança de identidade vemos, pois, a comunidade judia a mudar de nomes adotando, frequentemente, termos e nomes relativos à Natureza. É o caso de Matta, Pereira, etc. (cf. PT.Chabad.Org). Porém, em:
1797. O poder régio vem reivindicar, novamente, os negócios e o controlo das comunicações. É já com D. Maria I que o Estado expropria o Ofício do Correio, através de Alvará régio, a Manuel José da Maternidade da Mata de Sousa Coutinho indemnizando o proprietário. É então que o Correio passa para a dependência do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Vem isto, também, a propósito da gestão dos faróis, hoje à responsabilidade da Marinha Portuguesa. E pomos a questão: Quem sabe se, um dia, a administração, gestão e, quiçá, o equipamento não serão vendidos aos empresários da PHArol, ou outros concorrentes; especialmente quando a Marinha Portuguesa tiver de patrulhar com eficácia e eficiência a costa e o imenso mar que o novo mapa português nos atribui com uma das maiores áreas e recursos a nível mundial?
1798. Um novo Alvará regula os Correios Marítimos para o território do Brasil, bem como os transportes: Diligências postais e passageiros entre Lisboa e Coimbra.
1809. É introduzida a telegrafia visual, também dita óptica, na sequência da Guerra Peninsular. É ainda a Marinha que funciona com este equipamento, auxiliada pelas forças inglesas, por via das invasões francesas.
1821. Tem início o Correio Marítimo, entre Portugal Continental, Madeira e Açores.
1830. São iniciadas as Reais Diligências da Posta, entre Aldeia Galega (Montijo) e Badajoz com vista às comunicações postais com Espanha.
1832. O Telégrafo visual é instalado nos Açores, na sequência do estacionamento do Exército Liberal.
1844. Realiza-se uma Convenção Postal entre Portugal e França.
1850. Convenção Postal entre Portugal e Espanha.
1852. É criada a Direcção Geral de Correios e Postas do Reino no novo Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, presidido por António Maria Fontes Pereira de Melo.
1855. Têm início as carreiras da Malaposta para correio e passageiros; primeiro entre Lisboa e Coimbra, estendendo-se depois até ao Porto. Neste mesmo ano tem início a Telegrafia Elétrica.
Carteiro. Cerca de 1855. Ed. ex-Museu dos CTT atual Museu das Comunicações. Aguarela de Luís Jardim Portela, 1962
1863. Começam a circular as ambulâncias ferroviárias postais de transporte, organização e entrega de malas de correio.
1870. Têm início as primeiras mensagens por cabo telegráfico submarino entre Portugal (Carcavelos) e Inglaterra (Porthcurno).
1874. É Criada a União Postal Universal em Berna/Suíça para regular a atividade postal entre os países.
1879. Estabelecem-se as primeiras conversações de telefonia com telefones construídos e inovados por portugueses, entre Lisboa, Bom Sucesso, Barreiro e Setúbal sobre as linhas telegráficas, únicas vias de telecomunicações elétricas existentes na altura.
1880. Dá-se a fusão das Direcções Gerais: Correios e Telégrafos/Faróis, sob a dependência do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria.
1882. Os telefones precursores, então existentes, ponto a ponto, são integrados nas duas primeiras redes: a de Lisboa e a do Porto, sob a gestão da empresa concessionária - The Edison Gower Bell Telephone of Europe. Começa também a funcionar o primeiro locutório, denominado Estação Garret na casa Havaneza, ao Chiado.
1887. A The Edison Gower Bell Telephone of Europe de Londres a funcionar em Lisboa e no Porto é adquirida pela The Anglo-Portuguese Telephone Company. Começa então a “nacionalização” das telecomunicações.
1911. Com a mudança de regime – monárquico para o republicano fazem-se reformas. Cria-se a Administração-geral dos Correios e Telégrafos (AGCT). Ao mesmo tempo dá-se-lhe autonomia administrativa e financeira. É a primeira vez que surge esta sigla, passando a representar a atividade de Correios, Telégrafos e Fiscalização das Indústrias Eléctricas. O telefone ainda não é referenciado na sigla, embora a exploração das primeiras redes date de 1882.
Boletineiro (distribuidor de telegramas), 1912. Ed. ex-Museu dos CTT atual Museu das Comunicações. Aguarela de Luís Jardim Portela, 1962
1925.Constituição da CPRM - Companhia Portuguesa Rádio Marconi para fazer face à necessidade de comunicar entre o disperso Império português e na cena internacional.
1936. É a vez da Madeira a operar com a telegrafia visual.
1937. Surge a sigla CTT – Correios Telégrafos e Telefones e durante várias décadas chama-se, abreviadamente, CTF`s às Estações dos CTT que desempenham serviços de correio, telégrafo e telefone.
1966. A Marconi em Portugal torna-se efetivamente em CPRM – Companhia Portuguesa Rádio Marconi através da nacionalização de 51% do capital.
1967. A APT - Anglo Portuguese Telephone dá origem aos TLP – Telefones de Lisboa e Porto, tornando-se a Companhia efetivamente nacional através do resgate efetuado pelo Estado português.
1969. A Administração Geral dos CTT transformam-se em – CTT EP - Empresa Pública de Correios e Telecomunicações de Portugal.
1983. Criação da Telepac para comutação e transmissão de dados.
1987. No centro histórico de Carnide é instalada a primeira estação de comutação digital dos TLP.
1989. Os TLP – Telefones de Lisboa e Porto transformam-se em TLP – Telefones de Lisboa e Porto, SA - Sociedade Anónima;
1989. As estações centrais dos CTT e TLP incluem a tecnologia para o serviço de Telebip (telemensagens) parecendo, na altura, uma tecnologia e serviço a ser expandido mas que a introdução dos operadores móveis TMN e Telecel, apenas dois anos após, vêm “determinar” o declínio da Telemensagem/Telebip
1991. O Estado português licencia A TMN – Telefones Móveis Nacionais e a congénere Telecel para exploração dos serviços GSM (Global System for Mobile Telecomunications).
1992. A TMN inicia os seus serviços de telefonia móvel (GSM).
1992. Cria-se a Sociedade Gestora de Participações Sociais do sector empresarial do Estado, denominada Comunicações Nacionais, SA;
Os CTT - Empresa Pública; e a Comunicações Nacionais, SA dão origem aos CTT - SA e à Telecom Portugal SA, passando a existir duas empresas por cisão dos serviços CTT.
1993. Início da TV Cabo na Madeira e Açores.
1994. Fusão das empresas Telecom Portugal SA, Telefones de Lisboa e Porto, SA e Teledifusora de Portugal SA, resultando na empresa Portugal Telecom, SA. Começa a funcionar a TV Cabo;
1994. Dá-se a fusão das empresas Telecom Portugal, SA com os TLP - Telefones de Lisboa e Porto, SA, com a Teledifusora de Portugal, SA na única denominação de Portugal Telecom, SA;
1994. Disponibilização do serviço Internet pela Telepac;
1995. O portal Sapo – Serviço de Apontadores Portugueses é fundado na Universidade de Aveiro.
1995-2000. A Portugal Telecom é privatizada em 5 fases.
2007. Surge na Portugal Telecom o projeto MEO para os produtos: Televisão, internet, telefonia fixa e telemóvel.
2008. A MEO entra ao serviço através do sistema IPTV (internet protocol television) em cabos de cobre.
2009. A Meo opera pelo sistema FTTH (fiber-to-the-home) em cabos de fibra ótica.
2014. A PT SGPS e a Oi acordam sobre um Memorando de Entendimento para a constituição dum Grupo de dimensão internacional. Mas eis que surge a crise e a problemática financeira ligada à Rioforte - sociedade de investimentos do Grupo Espírito Santo envolvida com a PT SGPS e a Oi, o que faz abortar os projetos de Telecomunicações entre o Brasil e Portugal
2014/2015. Acabam as empresas/marcas PT Comunicações e a TMN com o nascimento da MEO - Serviços de Comunicações e Multimédia.
2015. A Portugal Telecom/PT Portugal funde a PT Comunicações com a MEO – Serviços de Comunicações e Multimédia, resultando na designação de MEO-Serviços de Comunicações e Multimédia, SA;
2015. A PT Portugal torna-se numa subsidiária da Altice Group.
Em Portugal surge com o nome de PHarol, sendo Armando Pereira, o Presidente do Conselho de Administração, natural de Guilhofrei, concelho de Vieira do Minho e detentor de cerca de 30% do Grupo Altice.
Em conclusão, verifica-se através da mini cronologia aqui apresentada que a empresa de telecomunicações PHarol tem importantes antecedentes históricos. Primeiro os serviços eram explorados pelo Estado; depois por Empresas públicas, SA e por SGPS.
Armando Pereira não saberá de telecomunicações mas tudo parece indicar que tem bom senso no difícil contexto que tem pela frente. É um homem da Europa, português e francês por adoção. Esperamos que a Altice Group e a PHarol desenvolvam prestígio, tecnologias e negócios, fazendo jus à longa história das comunicações de Portugal.
Notas:
(1) BARROS: 1889, p.13
(2) Ibid, p.14
Tags: CTT, Correios, História, Pharol, Portugal-Telecom, PT, PT-Portugal, Telecomunicações
Fontes:
-ANCIÃES, Alfredo. “Allô Lisboa”. Lisboa: FPC Códice Ano VII Série II, 2004, págs 36-45.
-ANCIÃES, Alfredo; SALDANHA, Júlia, VARÃO, Isabel, et al. - Cronologia Postal e de Telecomunicações. Lisboa: CDI, Património Postal e de Telecomunicações da Fundação Portuguesa das Comunicações, 1990`s-2010.
-ALMEIDA, Joel; ANCIÃES, Alfredo; CORDEIRO, Ricardo; MOUTA, Margarida; SALDANHA, Júlia, SANTOS, Alva; VARÃO, Isabel, WEBER, Cristina – Comunicar na República. 100 Anos de Inovação e Tecnologia. Lisboa: Dupladesign; Fundação Portuguesa das Comunicações, [2010].
-BARROS, Guilhermino Augusto de - Relatório do Director Geral dos Correios, Telegraphos e Semaphoros relativo ao anno de 1889 precedido pela continuação da História dos Correios até ao fim de 1888 e de uma memoria historica acerca da telegrafia visual, electrica, terrestre, maritima, telephonica e semaphorica, desde o seu estabelecimento em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional, 1891.- Título do livro / relatório com 201 páginas, reeditado, composto e impresso por: G7 – Artes Gráficas, Ldª. Lisboa, 1992.
-BARROS, Guilhermino Augusto de; Direcção Geral dos Correios – Relatório Postal do Anno economico de 1877-1878 precedido de uma memoria historica relativa aos correios portuguezes desde o tempo de D. Manuel até aos nossos dias. Lisboa: Lallemant Frères, Typ. Fornecedores da Casa de Bragança, 1879.
Em linha:
-A nossa História –
-Sobrenomes judaicos - http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1525027/jewish/Sob...
-Anciães, Alfredo – Minhas memórias –
-MEO-Serviços de Comunicações e Multimédia, SA - https://pt.wikipedia.org/wiki/Meo
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