Uma frase de Mia
Couto recebida recentemente na plataforma facebook parece-me correta. Porém, e
ainda segundo a minha opinião, há algo que não conjuga na realidade actual,
nomeadamente, quando Mia Couto refere: "Nunca
o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação [...] Nunca houve tanta
estrada. E nunca nos vistamos tão pouco."
Certo. Nunca
houve tanta estrada. A mensagem que Mia Couto pretende passar vai no sentido de
que as estradas são apenas aproveitadas para evasão, fuga, ir e vir de
fim-de-semana, de férias, transportar produtos, tantas vezes supérfluos para
uma vida saudável e regrada.
Estradas e
caminhos cada vez servem menos para irmos visitar o Próximo, que pode ser um
familiar, um amigo, um prisioneiro. Em relação a outros meios e tecnologias de
comunicação: correio, telefone, televisão, nets, estes funcionam apenas como
suportes que nos possibilitam comunicar, ou não, sendo que o acto de comunicar
significa pôr em acção algo de comum.
Comun(ic)ação,
não é o mesmo que transmissão ou informação; é algo que (co)move/envolve as
partes: pessoa(s) e tudo o que vive. Pode até tratar-se de comunicação em
relação a um animal, doméstico ou selvagem, ou mesmo em relação a uma planta,
implicando respostas, a que vulgarmente chamamos "feedbacks".
Se apenas vejo
um filme, espectáculo, um programa de televisão; se clico no facebook, envio
mensagens sem retorno, faço um passeio ou uma viagem, sem troca de sinais e
mensagens com envolvimento; então apenas estou a entreter-me, posso até estar a
cultivar-me, passar tempo, informar ou informar-me, mas não estou propriamente
a comunicar.
Se os ruídos
impedem a comunicação, isso significará que, provavelmente, preciso de adoptar
medidas, quiçá radicais, de med(it)ação; o que aconteceu em tempos históricos,
com semelhanças à actualidade, pelas comunidades monásticas. É sobre este tema
que irei desenvolver em próximo post sobre os finais do Mundo Romano, a entrada
de emigrantes, refugiados ou invasores, a que vulgarmente chamamos Bárbaros e
que aqui, não são referidos com qualquer sentido pejorativo.
Vou tentar
compreender esta Europa, que parece estar a modificar-se, também por causa da
chegada de novos povos e em semelhança com a desintegração do ex-Império Romano
do Ocidente no tempo de S. Bento, um filho do Império, que viria a ser
reconhecido por Padroeiro deste velho Continente. Os ensinamentos e Regras,
estabelecidas por S. Bento, talvez devam ser recordados; não para pormos todo o
seu pensamento em acção como num decalque a papel químico. A visão do insigne
pensador beneditino, poderá ser útil, depois de tantas leis, ideologias e
teorias póstumas.
Depois de
tanto ruído nos meios que utilizamos, um ponto de ordem, segundo as máximas de
S. Bento "Ora et Labora", não será despiciente. Meditação,
organização, refexão, comunicação e acolhimento condigno do nosso Próximo
constituirão um eixo paralelo ao “Ora et Labora” para uma nova modernidade, uma
nova Europa.
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