quinta-feira, 30 de junho de 2016

58. DA LUZ E DA RÁDIO: CISTER ALCOBAÇA PORTU|G(RA)AL

58. DA LUZ E DA RÁDIO: CISTER ALCOBAÇA PORTU|G(RA)AL


       Entre 2015 e 2016 comemoram-se 80 anos de radiodifusão pública em Portugal. O evento de oito décadas da Rádio e de 9 séculos da Ordem de Cister não podiam passar ao de leve, como acontecimentos banais.

       O destino, a sorte, ou o acaso, fizeram com que participasse na pré-avaliação e pré-informatização da coleção de radiodifusão que, em boa hora, José Madeira Neves recolheu e cuidou; a Câmara Municipal adquiriu e preservou.

Imagens 1 e 2. Recorte do cartão gentileza do Sr. José Madeira Neves; Dir. Museu das Comunicações - Cristina Weber e Câmara Municipal de Alcobaça

       Em 1098 nasce em Cister, Dijon – França uma nova comunidade religiosa (1). Após cerca de dezassete anos, Bernardo instala-se num outro sítio, ermo de gente, e que viria a ser conhecido por Claraval. Tudo indicando que este nome vem de “Clara Vallis”, vale claro ou vale da luz, conotado com um significado bíblico e/ou religioso, à semelhança do que aconteceria com a Luz de Benfica / Carnide, em Portugal (2).

       É no “vale claro” ou vale da luz, próximo de Cister, que a comunidade se desenvolve, pese embora a intenção inicial de São Bernardo ser apenas a de se retirar para meditar, orar, levar uma vida simples e frugal que a Ordem de Cluny já não estaria nas melhores condições de proporcionar.  
Imagem 3. Convento de Alcobaça

       Contudo a nova Ordem de Cister atraiu, desde o início, grande adesão de membros e visibilidade. Fruto das condições e da História é solicitada para povoar, defender, desenvolver e até conquistar ou reconquistar (3).

       Hoje em dia há várias terras que adotam a designação Terras de Cister com base no património edificado e cultural; arroteamentos, secagem de pântanos, obras de hidráulica, metalurgia, mineração, piscicultura e comunicações, entre outras obras. 

Imagem 4. Rio Alcôa que poderá estar na origem do nome Alcobaça


       A Ordem de Cister desenvolveu os correios para intercâmbio entre os vários locais de implantação; caminhos e pontes foram melhorados, nomeadamente para as visitas: regulares e pontuais das redes de conventos no âmbito nacional, peninsular e europeu.

       Alcobaça pertencia à Casa-Mãe de Cister e torna-se, ela própria no século XVI, como Casa-Mãe da Ordem em Portugal. Nesta linha de pensamento é pertinente, na atualidade, alargar as transmissões e as comunicações no espaço e no tempo, expondo documentos e memórias que as rádios da região e a imprensa podem trazer à colação.

       Há quem diga que nada acontece por acaso e, neste aparte, é oportuno trazer o caso da concretização, a breve trecho, da abertura dum espaço museológico de rádio e comunicações em Alcobaça.

       Em meu entender o novo museu da rádio deverá alargar a exposição a outros patrimónios, que não só da rádio. Para lá dos equipamentos radioelétricos e musicais, poderá expor e divulgar a toponímia, incluindo marcas na paisagem, inclusive sobre a telegrafia visual com fachos de luz, como na localidade do Facho, Celas, Alcobaça; bem como o percurso dos correios monacais, as cartas e os textos de história local; as tecnologias da escrita, até às estações de rádios e imprensa atuais da região.

Imagem 5. Antiga Casa Vazão, onde será instalado o novo Museu de Alcobaça

Como nasceu o projeto do museu da rádio em Alcobaça?

       Resultou, em primeira instância, do labor de um colecionista e técnico, o Sr. José Madeira Neves que recolheu, colecionou e preservou durante anos um acervo que denominou “Espólio Colecção Madeira Neves – Casa das Máquinas Falantes”. A Autarquia foi sensível ao trabalho meticuloso do munícipe, adquiriu o acervo, fez uma pré-avaliação, peça a peça, e registou a informação em base de dados, dando-lhe uma mais-valia.

      Um Museu da Luz Rádio Pessoas e Comunicações (4) pode plasmar estas valências. A coleção tem, desde já, um espólio que inclui peças de música, telefonia, telégrafo, fonógrafos, rolos de cera, altifalantes, amplificadores, recetores, incluindo do tipo militar, televisões, gravadores e leitores de bobinas de fita, cabina/locutório, máquinas fotográficas clássicas, leitores óticos, entre outros espécimes.

       Este acervo terá nascido com uma primeira ideia de coleção de recetores de radiodifusão, evoluindo para o conceito de “máquinas falantes”. Em 2016 poderá ver a luz do dia já com um conceito mais abrangente na ótica das tecnologias, comunicações, cultura musical e entretenimento. Terá um olhar especial para os patrimónios do universo cisterciense, mormente das trinta e cinco casas da Ordem que contámos só no espaço nacional (5). Demonstrará que o desenvolvimento dos correios e as comunicações terrestres, muito ficou a dever aos monges brancos, porque os mosteiros mantinham comunicações entre si, especialmente entre a Casa-Mãe e as associadas (6).

       A exposição será instalada na Rua Araújo Guimarães, envolvência do Jardim do Amor, do Arco de Cister e do Mosteiro. Há que dar vida a estes acervos, envolvendo o tecido humano e cultural, nomeadamente o comércio, associações musicais e etnográficas, entre outras organizações, porque todas usam e são produtoras de património e comunicações.

       Não basta ter um sonho, é preciso trabalhar em cima dele para que o sucesso seja uma realidade. 

        Espera-se que em 2016 este acervo possa ser apreciado em boas condições de leitura e interpretação. 

       Sucessos mil ao novo museu da luz, rádio, pessoas e comunicações.


Um Bom Natal

Com a Luz e a Estrela,

De Belém a Éfeso, Meca, Oriente, Europa, Cister, Claraval,

 África, Ásia, Austrália, Américas

Alcobaça, Portugal


Aprecie esta estrela de cinco pontas que brilha com a luz do sol, da lua e dos candeeiros. Não gasta energia. É produto nacional e de modestos calceteiros portugueses. É simples, deixa-se pisar e é duradoura. Para lá desta ligeira descrição contem diversos significados que deixo ao critério de quem a vê. Com ela desejo, felicidades e venturas mil.

 
       Tags: Alcobaça, Comunicações, História local, Museologia Social, Museu da Rádio, Terras de Cister, Portugal

 Notas:

       (1) Ordens religiosas são comunidades que podem ser de leigos ou clérigos, contudo, consagrados. Usam vestes características. Nos seus hábitos diários entram rotinas: levantar, orar, trabalhar/cuidar, retiro/reflexão/reclusão, recreio/comunicação, deitar. Existem quatro tipos de ordens religiosas: a) Monásticas: com homens ou mulheres, vivendo na comunidade dos mosteiros. Os Cistercienses, entre vários outros, estão inseridos nesta classificação; b)Mendicantes: com homens ou mulheres que vivem agrupados em comunidades de conventos, contudo têm uma vida menos isolada do que outros monges. Atuam ativamente no mundo secular, em obras com os pobres necessitados, serviço religioso de missas, procissões evangelização, etc. Os Franciscanos e Dominicanos, entre outros, pertencem a esta classificação; (c)Regrantes: são ordens de cónegos. Ex. de Santo Agostinho; d) Regulares: são os clérigos consagrados, vivendo em comunidade. Ajudam o clero secular nas paróquias, nas atividades da liturgia (missas), nos vários sacramentos e exercem a evangelização. Exemplo, os Jesuítas e os frades crúzios.

       (2) Repare-se que também o Mosteiro de Nossa Senhora da Luz de Carnide – Lisboa esteve na alçada dos monges cisterciences (no caso, de Seiça, concelho da Figueira da Foz), só em fase posterior o Mosteiro de Nossa Senhora da Luz passou para a órbita da Ordem de Cristo de Tomar.

       (3) São Bernardo, cognominado de Claraval, esteve pontualmente envolvido na ideologia das cruzadas. Quando analisadas de modo descontextualizado, as cruzadas parecem ter sido um erro histórico. No entanto devemos olhar para as raízes e o desenvolvimento do processo da Reconquista que teve como resultado o desabrochar de Portugal e o desenvolvimento do comércio entre o Ocidente e o Oriente. As cruzadas foram uma reação ao processo de expulsão e acantonamento forçado a que estiveram sujeitas as populações refugiadas nas regiões montanhosas, sobretudo das Astúrias. Hoje em dia, ambas as civilizações: de raiz islâmica e cristã deviam pedir mutuamente perdão porque ambas prevaricaram em invasões e barbarismos. O reinício de uma nova Era de mútua aceitação, paz e prosperidade é preciso.

       (4) Esta é uma das designações possíveis que aqui incluímos - Museu da Luz Rádio Pessoas e Comunicações. Será mais abrangente do que apenas um museu baseado na mera referência técnica dos aparelhos de rádio. Cabe, porém, aos responsáveis uma designação que seja o mais consensual possível entre autarcas e população.

       (5) Datas aproximadas do início do funcionamento destas comunidades religiosas cistercienses nos seguintes locais. O “H” significa Homens e o “M” Mulheres:

- Lafões (H) 1138
- Tarouca (H) 1143
- Sever (H) 1144
- Alcobaça (H) 1153
- Salzedas (H) 1156
- São Pedro das Águias (H) 1170
- Santa Maria de Aguiar (H) 1174
- Tomarães (H) 1172
- Fiães (H)1175
- Stª Maria de Bouro (H) 1174
- Maceira Dão (H) 1188
- Seiça (H) 1195;
- Stª Maria da Júnias (H) 1209;
- Stª Maria de Ermelo (H) 1250;
- Stª Maria da Estrela (H) 1220;
- S. Paulo de Frades ou de Almaziva (H) 1221;
- Colégio do Espírito Santo ou de S. Bernardo (H) 1550;
- Nª Srª do Desterro (M) 1590
- Colégio de Nª Srª da Conceição de Alcobaça (H) 1648
- Lorvão (H) 1206
- Stª Maria de Celas (M) 1214
- Arouca (M) 1223
- Stª Maria de Cós (M) 1249
- S. Salvador de Bouças (M)
- S. Bento de Cástris, Évora (M) 1275
- Stª Maria de Almoster (M) 1278
- S. Dinis, Odivelas (M) 1295
- S. Bento de Xabregas (H) 1492)
- S. João de Vale Madeiro (M) 1530
- S. Bernardo ou Nª Srª da Conceição de Portalegre (M) 1530
- S. Bernardo de Tavira ou Nª Srª da Piedade de Tavira (M) 1530
- Nª Srª da Nazaré do Mocambo (M) 1653
- Tabosa de Sernancelhe (M) 1692
- Nª Srª do Desterro (H) 1763 (reconstrução)
- Real Misericórdia de Nª Srª da Nazaré, Setúbal (M) 1771
(cf.  Mapa e lista de Mosteiros Cistercienses em Portugal “Ordem de Cister. Herança cultural em Portugal e na Europa” -http://www.snpcultura.org/ordem_cister_heranca_cultural_portugal_europa.html, aced. 7.12.2015)

       (6)Após o encerramento forçado, por altura do Regime Liberal, tudo parece indicar que há vontades e condições para algumas destas comunidades cistercienses se voltarem a instalar em Portugal. 

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Fontes:
- Anciães, Alfredo Ramos; Câmara Municipal de Alcobaça  -  Avaliação da coleção de recetores de rádio, telégrafos, amplificadores, altifalantes, telefones, microfones e televisão. Sintra / Alcobaça, 2007

- Franco, José Eduardo – O Esplendor da Austeridade. Lisboa: INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2011. “Tema: História, Antropologia, Sociologia, Economia e Política”, Portugal; Terras de Cister.

Documentos em linha -

- Anciães, Alfredo Ramos -  Museu de Comunicações: Relação com os Patrimónios Locais e os Media -http://comunidade.sol.pt/blogs/alfredoramosanciaes/archive/2014/02/03/PARA-UM-MUSEU-NACIONAL-DAS-COMUNICA_C700D500_ES.aspx

- Anciães, Alfredo Ramos -   Museu de Comunicações: Relação com Turismo Economia Identidade e Museologia -http://comunidade.sol.pt/blogs/alfredoramosanciaes/archive/2014/02/16/COMUNICA_C700D500_ES-E-DESCOBERTAS.aspx

- Anciães, Alfredo Ramos - TSF e Rádio Pública no Antes de 25 de Abril 1974 -  http://comunidade.sol.pt/blogs/alfredoramosanciaes/default.aspx?p=4



- Alcobaça ganha Museu da Rádio / Sara Vieira / Sociedade /Partilhar / Twitter Facebook  / 17:23 - 05 Outubro 2015 05 Out, 2015 /


- Câmara de Alcobaça adquire lojas armazéns Vazão para instalar o futuro museu da rádio -http://www.pportodosmuseus.pt/2015/10/06/camara-de-alcobaca-adquire-lojas-armazens-vazao-para-instalar-o-futuro-museu-da-radio/




- Museu da rádio será instalado nos antigos armazéns Vazão - http://www.oalcoa.com/museu-da-radio-sera-instalado-nos-antigos-armazens-vazao/
- Museu das Rádio em Alcobaça - http://www.regiaodeleir

- Ordem de Cister. Herança cultural em Portugal e na Europa -http://www.snpcultura.org/ordem_cister_heranca_cultural_portugal_europa.html

Imagens: -
        1 a 2. José Madeira Neves, Dir. Museu das Comunicações - Cristina Weber; Câmara Municipal de Alcobaça;
        3 a 6. Arq. pessoal AA


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