Uma outra capicua: post nº 101 ---
As palavras: Museion Musa Música Museologia Muso
As palavras: Museion Musa Música Museologia Muso
Têm o mesmo radical, porque
estarão associadas ao Museion.
Quando
os filósofos gregos iniciam as suas reflexões contribuindo para a formação
educacional da Paideia, já o Museion existia como instituição
informal.
Presume-se mesmo que terá sido uma das primeiras instituições, para
lá da família, a ter existência.
De modo que ao Museion terão recorrido os filósofos da antiguidade e pessoas
ligadas ao processo de cidadania, cultura, ciência, artes da governação, defesa/guerra e do
bem público.
Como
instituição de preservação, conservação, representação e exposição de saberes terá sido frequentada por
Platão, pois este filósofo «[…] identifica a sabedoria com a felicidade [contudo Platão não vivia apenas no
mundo ideal e das ideias - passe o que parece ser um pleonasmo - pois ele] acredita na
desigualdade das inclinações dos homens para a prática da virtude; uns se
contentariam com a coragem, outros com a temperança; poucos, no entanto,
buscariam à virtude perfeita. Esses possuiriam o germe divino da sabedoria.» (cf. PIMENTA, Felipe –
Filosofia e Literatura https://felipepimenta.com/2013/04/03/resumo-da-filosofia-de-platao-teoria-das-ideias-mundo-sensivel-e-psicologia/
)
É
precisamente no Museion, à procura
desse «germe divino da sabedora» que os pensadores e cidadãos
buscam inspiração.
&
Consta
que, na Grécia Antiga e Pré-Clássica, uma personagem mitológica do género
masculino andava de Terra em Terra levando música, poesia e aconselhamento.
Essa personagem mitológica - o Museion relaciona-se com
os deuses da mitologia, refletindo os saberes que nos chegam, essencialmente, por via lendária.
“O mito é o nada que é tudo”
(Fernando Pessoa) (1) que permite versar sobre a natureza, o homem e o mundo.
(1)Trata-se de um aforismo (pensamento) que
funciona como uma regra, ou um princípio validado pelo tempo.
Pessoa
faz uso dessa cultura clássica, baseada nas lendas, na mitologia e na filosofia,
de que o Museion e a Museologia se
servem para ajudar a reflectir.
«A
Europa jaz, posta nos cotovelos:
De
Oriente a Occidente jaz, fitando,E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
[/…]
Fita,
com olhar sphyngico e fatal,
O
Occidente, futuro do passado.O rosto com que fita é Portugal.» (in Mensagem, texto original, p. 15)
Na
página 19 da mesma obra - «Mensagem» Pessoa recorre de forma explícita ao
fundo cultural que enformou os primeiros saberes de que temos “ressonâncias”,
inclusivamente na origem da denominação de Lisboa. E recorre a:
«ULYSSES
O mytho
é o nada que é tudo.O mesmo sol que abre os céus
É um mytho brilhante e muso[ 2]
[2]*muso = que inspira o bem-querer … cf. https://pt.wiktionary.org/wiki/muso)]
[/…]
Assim a
lenda se escorreA entrar na realidade,
E a fecundal-a decorre. […]»
[Mensagem, grafia/texto original, p. 19]
&
Consta
que Museion era parente ou próximo do deus Orpheu, médico, poeta e filho de
Calíope (precisamente
a musa da boa voz) e de Apolo (deus da luz e do sol);
Orpheu,
filho de Calíope, um dos mais dotados deuses, inclusivamente na música. Quando Orfeu
atua com a sua lira, as aves e os animais selvagens param para escutar. As
árvores debruçam seus ramos para se deleitarem com os sons. E com a música Orpheu
cura doenças.
&
Na transição
da Idade Pré Clássica para a Clássica, já encontramos a palavra Museion associada a uma Instituição e a um
edifício - a casa das musas, o sítio
onde residem as nove musas, representantes dos saberes e
das inspirações; Museion este, que
vem acolher também a representação dos 12 deuses no Olimpo. (cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Deuses_ol%C3%ADmpicos
)
&
As nove
Musas são filhas de duas personagens mitológicas
relevantes na Instituição museística. Trata-se do pai Zeus, também pai de
outros deuses muito divulgados (3) e da mãe Mnemosine, a deusa da
memória.
(3)Exemplo de outros deuses e/ou personagens
mitológicas, entre as mais conhecidas: Apolo
(luz e sol); Ártemis
(vida selvagem, caça, lua, magia), filha de Zeus, irmã de Apolo é Diana em
Roma); Hermes
(filho de Zeus, estradas e viagens, mensageiro dos deuses et al, patrono dos ladrões, diplomatas, comerciantes, astronomia,
eloquência e guia das almas para o reino de Hades); Ulisses (Ulisses em Roma; Odisseu –
Grécia, personagem da Ilíada e da Odisseia escrita por Homero, principal na Guerra de Troia); Perséfone (Filha de Zeus - ervas, flores, frutos, perfumes, agricultura,
estações do ano); Héracles (Hércules em romano, semideus,
filho de Zeus), podia usar a força mesmo contra a natureza); Neptuno (fontes, correntes de água,
terramotos, mar, inspirado em Poseidon, grego)
; Vénus (no panteão romano, Afrodite no panteão grego, representam o amor e a beleza);
Marte, romano (guerra e agricultura); Helena de Tróia (filha de Zeus, mulher
mais bela, protegida por Odisseu (Ulisses em romano) casou-se com Menelau, rei
de Esparta).
&
Sobre as
nove musas do Museion sítio de culto e preservação das artes e ciências.
1.Calíope
evocada nos Lusíadas. É a musa da boa voz, protetora e inspiradora da poesia épica a
quem Camões recorre quando se sente sem inspiração;
(continua em próximo artigo)
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