sábado, 15 de outubro de 2016

101 SOBRE AS ORIGENS DA EXPLICAÇÃO DO MUNDO


Uma outra capicua: post nº 101 ---
As palavras: Museion  Musa  Música  Museologia  Muso

Têm o mesmo radical, porque estarão associadas ao Museion.

Quando os filósofos gregos iniciam as suas reflexões contribuindo para a formação educacional da Paideia, já o Museion existia como instituição informal.
Presume-se mesmo que terá sido uma das primeiras instituições, para lá da família, a ter existência.
De modo que ao Museion terão recorrido os filósofos da antiguidade e pessoas ligadas ao processo de cidadania, cultura, ciência, artes da governação, defesa/guerra e do bem público.

Como instituição de preservação, conservação, representação e exposição de saberes terá sido frequentada por Platão, pois este filósofo «[…] identifica a sabedoria com a felicidade [contudo Platão não vivia apenas no mundo ideal e das ideias - passe o que parece ser um pleonasmo - pois ele]  acredita na desigualdade das inclinações dos homens para a prática da virtude; uns se contentariam com a coragem, outros com a temperança; poucos, no entanto, buscariam à virtude perfeita. Esses possuiriam o germe divino da sabedoria.» (cf. PIMENTA, Felipe – Filosofia e Literatura  https://felipepimenta.com/2013/04/03/resumo-da-filosofia-de-platao-teoria-das-ideias-mundo-sensivel-e-psicologia/ )

É precisamente no Museion, à procura desse «germe divino da sabedora» que os pensadores e cidadãos buscam inspiração.
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Consta que, na Grécia Antiga e Pré-Clássica, uma personagem mitológica do género masculino andava de Terra em Terra levando música, poesia e aconselhamento.

Essa personagem mitológica - o Museion relaciona-se com os deuses da mitologia, refletindo os saberes que nos chegam, essencialmente, por via lendária.
“O mito é o nada que é tudo” (Fernando Pessoa) (1) que permite versar sobre a natureza, o homem e o mundo.
(1)Trata-se de um aforismo (pensamento) que funciona como uma regra, ou um princípio validado pelo tempo.

Pessoa faz uso dessa cultura clássica, baseada nas lendas, na mitologia e na filosofia, de que o Museion e a Museologia se servem para ajudar a reflectir.

«A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Occidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
[/…]

Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Occidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.» (in Mensagem, texto original, p. 15)

Na página 19 da mesma obra - «Mensagem» Pessoa recorre de forma explícita ao fundo cultural que enformou os primeiros saberes de que temos “ressonâncias”, inclusivamente na origem da denominação de Lisboa. E recorre a:

«ULYSSES
O mytho é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mytho brilhante e muso[ 2]
[2]*muso = que inspira o bem-querer … cf.  https://pt.wiktionary.org/wiki/muso)]

[/…]
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundal-a decorre. […]»
[Mensagem, grafia/texto original, p. 19]

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Consta que Museion era parente ou próximo do deus Orpheu, médico, poeta e filho de Calíope (precisamente a musa da boa voz) e de Apolo (deus da luz e do sol);
Orpheu, filho de Calíope, um dos mais dotados deuses, inclusivamente na música. Quando Orfeu atua com a sua lira, as aves e os animais selvagens param para escutar. As árvores debruçam seus ramos para se deleitarem com os sons. E com a música Orpheu cura doenças.

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Na transição da Idade Pré Clássica para a Clássica, já encontramos a palavra Museion associada a uma Instituição e a um edifício - a casa das musas, o sítio onde residem as nove musas, representantes dos saberes e das inspirações; Museion este, que vem acolher também a representação dos 12 deuses no Olimpo. (cf.  https://pt.wikipedia.org/wiki/Deuses_ol%C3%ADmpicos )

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As nove Musas são filhas de duas personagens mitológicas relevantes na Instituição museística. Trata-se do pai Zeus, também pai de outros deuses muito divulgados (3) e da mãe Mnemosine, a deusa da memória.

(3)Exemplo de outros deuses e/ou personagens mitológicas, entre as mais conhecidas: Apolo (luz e sol);   Ártemis (vida selvagem, caça, lua, magia), filha de Zeus, irmã de Apolo é Diana em Roma);   Hermes (filho de Zeus, estradas e viagens, mensageiro dos deuses et al, patrono dos ladrões, diplomatas, comerciantes, astronomia, eloquência e guia das almas para o reino de Hades);   Ulisses (Ulisses em Roma; Odisseu – Grécia, personagem da Ilíada e da Odisseia escrita por Homero, principal na Guerra de Troia);   Perséfone (Filha de Zeus - ervas, flores, frutos, perfumes, agricultura, estações do ano);   Héracles (Hércules em romano, semideus, filho de Zeus), podia usar a força mesmo contra a natureza);   Neptuno (fontes, correntes de água, terramotos, mar, inspirado em Poseidon, grego) ;   Vénus (no panteão romano, Afrodite no panteão grego, representam o amor e a beleza);   Marte, romano (guerra e agricultura);   Helena de Tróia (filha de Zeus, mulher mais bela, protegida por Odisseu (Ulisses em romano) casou-se com Menelau, rei de Esparta).

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Sobre as nove musas do Museion  sítio de culto e preservação das artes e ciências.
 
A primeira das musas é:

1.Calíope evocada nos Lusíadas. É a musa da boa voz, protetora e inspiradora da poesia épica a quem Camões recorre quando se sente sem inspiração;

(continua em próximo artigo)

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