A Literatura,
tradicionalmente reduzida a livros, geralmente nas formas de romances, novelas,
contos e poesia é atualmente insuficiente.
Bob Dylan
compõe e interpreta há mais de 50 anos, sendo que a poesia em música, além de
poesia, também é literatura.
Umberto
Eco, o autor do célebre “Nome da Rosa” é pela inovação. Eco foi providencial e
precoce em relação à postura e à análise acerca da cultura popular.
Nesta
ótica, Eco referiu-se, há cinquenta anos atrás, aos “apocalípticos” e aos “integrados”
Com a
palavra integrados Eco refere-se aos que
aceitam a cultura popular e “ponto final”.
Quanto
aos apocalípticos Eco considera aqueles
que imaginam “o fim do mundo” quanto à aceitação e desenvolvimento da cultura
popular. Trata-se, além do mais, de uma atitude egoísta, ensimesmada, fechada.
Vem a
propósito, devido ao inesperado Nobel da literatura atribuído a Bob Dylon - uma
figura que se desenvolve na cultura popular, na crítica através do recurso à poesia
e à música.
“Segundo
a Real Academia Sueca, a escolha de Bob Dylon para a atribuição do prémio este
ano de 2016 deve-se, ao facto de ter criado novas formas de expressão poéticas no
quadro da grande tradição da música americana […] e inglesa”. (In A Bola,
14.10.2016, p. 43).
A
canção “soprando ao vento” é sintomática da intervenção de cidadania por um
amante da paz. Alguém que, desde muito cedo, se preocupou com o terrível
flagelo das guerras. Tê-lo ouvido, não só pela melodia da música poderia ter
evitado intervenções que têm custado centenas de milhares de vidas, muitas das
quais apenas pela ganância do dinheiro e vontade de hegemonia a qualquer preço.
Crítico,
sociólogo e jornalista Eduardo Cintra Torres analisa o tema da atribuição do
Nobel a Dylon, referindo-se aos “conservadores […]: “Para estes [..] o Nobel
deveria ser sempre atribuído dentro dos mesmos cânones […]”.
Na
tradição dos conservadores há uma “elite de criadores”; “[…] as letras de Bob
Dylon possuem um inegável valor literário. De resto, a música e a poesia estão
ligadas desde a Antiguidade, desde os rapsodos
gregos” (cf. VALE, Francisco, cit. por SILVA, José Mário in Expresso 15.10.2016)
“A
elite ressentida não assimila que a literatura e as artes se devem analisar e
apreciar de acordo com critérios de qualidade […]” e não pelo preconceito da
exclusiva tradição. (cf. TORRES, C.M. 16.10.2016)
&
“SOPRANDO
AO VENTO
“Quantas
estradas um homem / precisa de andar / Antes que possam chamá-lo de homem? /
Quanto mares uma gaivota branca precisará sobrevoar / Antes que ela possa
dormir na areia? / Sim, quantas balas de canhão / precisarão voar / Até serem
para sempre banidas? //
A
resposta meu amigo, está soprando ao vento / A resposta está soprando ao vento
/ Sim, e quantos anos uma montanha / pode existir / Antes que ela seja
dissolvida pelo mar? / Sim, e quantos anos algumas pessoas / podem existir /
Até que sejam permitidas a serem livres? / Sim. E quantas vezes um homem pode /
virar a sua cabeça / E fingir que ele simplesmente não vê? //
A
resposta, meu amigo, / está soprando ao vento / A resposta está soprando ao
vento / Sim, e quantas vezes um homem / precisará olhar para cima / Antes que
ele possa olhar para o céu? / Sim, e quantas orelhas um homem / precisará ter /
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar? / Sim, e quantas mortes ele causará
/ até saber / Que pessoas demais morreram //
A
resposta, meu amigo, / está soprando ao vento / A resposta está soprando ao
vento”.
Tags: fratrimónio, literatura, música, poesia, prémio NobelCanção, 1963 in https://www.youtube.com/watch?v=mF4xDcw_7jc ; Tradução de `Blowin in the Wind´ em fontes várias, incluindo em C.M. Suplemento Domingo, p. 45 )
Fontes:
-ARAÚJO, Miguel – Eu estava-me nas tintas para as letras in Suplemento Domingo do Correio da manhã, Semana de 16.10.2016 a 22.10.2016
-DYLON, Bob - Blowin in The Wind Bob Dylan; Tradução / Tema de Lígia. Trilha
Sonora de Sete Vidas; Lyrics Video in https://www.youtube.com/watch?v=mF4xDcw_7jc;
-SILVA,
José Mário – Toda a gente fala do Nobel
para Dylan (menos o próprio) in Semanário Expresso, 15.10.2016
-TORRES,
Eduardo Cintra – Nem todos mudam com o
tempo in Correio da Manhã, 16.10.2016
Trata-se de um fratrimónio envolvido numa visão proactiva para a paz no mundo que é essencialmente pneuma, turbulência e luz.
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